Capítulo 2

Acordei  com o alarme do meu celular, era ele que me acordava todos os dias. Peguei o aparelho sem nem abrir os olhos e fiquei apertando qualquer butão até despertador parar de tocar freneticamente. Abri as pálpebras lentamente deixando a luz passar por elas, mas fechei-as muito rapidamente após serem ofuscados pelo sol que já saía pela janela. Pensei compromisso que me aguardava após a aula, sorri para mim mesma, tola.

Que tola mas eu não consigo evitar

 

 

 

Estava entrando no colégio quando ouvi ao longe uma voz me chamar, olhei para todos os lados até localizar o ponto de onde ela saiu. Sorri ao ver uma garota ruiva correndo em minha direção. E logo atrás em passos mais lentos, dois garotos, moreno e ruivo respectivamente, sorrindo de volta pra mim.

- Mione! Preciso falar com você!- Disse a garota um pouco sem fôlego, depois da pequena corrida.

-Fala, Gih!- Disse encorajando-a, embora já tinha idéia  do que poderia ser.

-O Harry...Ele me chamou pra ir a sorveteria depois da aula, disse que tinha uma surpresa para mim!- Seu rosto adquiriu um tom quase tão vermelho quanto os seus cabelos, era estranho vê-la assim, aparentemente tão frágil, bem diferente da Gina que conheço.- Só estou com medo do meu irmão estragar tudo...- O brilho que antes havia em seus olhos pareceram fugir por um instante.

-Não se preocupa com isso, seu irmão já tem o que fazer hoje a tarde, e posso lhe garantir que não vai atrapalhar nada!

-Como assim? Ele vai sair pra algum canto?

-Não...eu marquei com ele de ir na casa de vocês depois da aula...

-Então quer dizer que ontem quando eu sai do quarto vocês realmente se acertaram?- O brilho dos seus olhos voltaram e ela me olhou com uma cara de safada.

-Não! Não...Ele só vai me ensinar a tocar violão...

-Tocar violão...Sei...

-Para de pensar coisas, sua garota da mente poluída!

Nesse ponto da conversa já estávamos falando cochichando, pois os meninos já haviam se aproximado o bastante para poder nos ouvir.

-Oi Harry! Oi Rony!- Falei quando eles chegaram mais perto.

-Oi Mione!- Disse Harry ao se colocar ao lado da futura namorada, mas sem deixar transparecer muita coisa, sorri pra ele ao vê-los próximos, encorajando-o para seguir em frente com seu plano.

-Oi! –disse o ruivo se pondo ao meu lado. –Posso saber do que as duas conversavam tão animadamente até chegarmos?

-Claro que não! Coisas de meninas Ronald! Não se meta! –Falou Gina para o irmão.

     O garoto parecia que ia dar uma reposta a altura para a irmã, mas o sinal tocou na hora em que ele abriu a boca. Peguei-o pelo braço, ignorando o pequeno choque que parecia sair do local em que eu o tocava, tirando-o de lá antes que os dois começassem a brigar no meio do colégio, e deixei- a sós com o moreno para que pudessem se despedir sem que nada os interrompam.

-Vamos para a sala, o sinal já tocou!- Falei tentando focar a atenção dele em mim, mas conseguir evitar de sentir o famoso frio na barriga.

-Mas o Harry ainda está lá!

-Nós vamos guardar um lugar para ele!

-Mas ele está com a minha irmã!

-E o que é que tem?

-Ela é minha irmã!    

-Rony, deixa de besteira e senta logo nessa cadeira!-Disse apontando para as cadeiras ao entrarmos na sala de aula.

    Ele sentou de cara emburrada, mas quando sentei ao seu lado e dei um pequeno sorriso, ele retribuiu.

 

     Ouvi o sinal tocar e guardei minhas coisas lentamente, até perceber a fala de meu amigo.

-Tchau gente, to indo!- Disse Harry sorrindo pra mim.

-Tchau!- Fui abraçar ele, e disse em voz baixa para que só ele pudesse ouvir- Boa sorte.

   Ele me deu um pequeno sorriso, e se virou.

-Já vai cara?

-É, eu tenho uma coisa pra fazer agora depois da aula...-De repente toda a cor que antes havia em seu rosto desapareceu.

-Deixa ele ir Rony, nós também temos o que fazer agora lembra?

-É verdade...,

    O garoto foi embora, e eu continuei a guardar minhas coisas dentro da bolsa enquanto um ruivo me esperava, olhando-me atentamente. Estava colocando a mochila nos ombros quando ouvi o meu celular tocar.

-Alô?

-Mione, é a Gina, eu vou sair com o Harry mas diz pro meu irmão que eu tenho um trabalho pra fazer e fui para a casa da Luna certo?

-Tá Gih, pode deixar que eu falo pra ele!

-Valeu! Beijo.

-Beijo.

     Guardei novamente o celular no meu bolso e virei para o garoto que me fitava ansioso.

-A Gina mandou dizer que foi para a casa da Luna fazer um trabalho, e só volta a noite.

-Então vamos só nós dois para a minha casa mesmo!

    Ele saiu andando na frente enquanto eu seguia. Conversamos sobre vários assuntos enquanto andávamos pelo caminho que nos levava A’Toca , como era chamada a casa dele.

-Mãe! Cheguei com a Hermione!- Disse indo em direção a cozinha onde se encontrava a Sra. Wesley, que ao vê-lo largou o que segurava rapidamente e lhe deu um abraço de sufocar.

-ma...mã..mãe...-Falou sem ar no meio do abraço enquanto eu ria sozinha no lado deles- A senh...senhora...está me suf...sufocando!

-Oh! Me desculpe querido...Onde está a Gina?-Disse enquanto desfazia o abraço rapidamente.

-Ela foi fazer um trabalho na casa da Luna.Mãe trouxe a Hermione para almoçar com a gente.

-Oh! Hermione querida, quanto tempo!- Falou dando-me um abraço daqueles.

-É um prazer revê-la também, Sra. Wesley, mas não faz tanto tempo assim, estive aqui ontem a noite!

-É verdade... É verdade, mas faz tempo que não almoça aqui! Já estava achando que enjoou da minha comida!

-Como poderia? A senhora é a melhor cozinheira que conheço!

-Modéstia sua querida... O almoço já está ficando pronto, porque vocês não sobem enquanto eu termino de arrumar as coisas por aqui?

-Sim senhora!- Disse Rony pegando-me pela mão e saindo em direção a escada.

        Senti como se uma corrente elétrica tivesse atravessado nossas peles no momento em que ele me tocou, olhei para nossas mãos entrelaçadas enquanto andávamos e para seu rosto logo em seguida, ele soltou minha mão rapidamente e murmurou um quase incompreensivelmente “me desculpe”. Percebi que suas orelhas aderindo um familiar tom carmim enquanto eu virava meu rosto para evitar mais confusões. Subimos as várias escadas em silêncio até pararmos na frente de uma porta que eu sabia ser o seu quarto, ele abriu-a e entrou, esperando uns segundos até que eu também entrasse e trancou a porta.

-Pode deixar suas coisas em cima da minha cama.

    Assenti com a cabeça e coloquei minha bolsa em cima do colchão, vi que ao lado havia um pequeno criado mudo com um porta-retrato em cima, observei atentamente as quatro criançinhas sorrindo em minha direção, deviam ter em média de 6 a 7 anos, os dois garotos sentados na frente, uma pequena ruivinha se equilibrando na cacunda do garotinho de óculos que fazia força para segura-la, mas parecia adorar a brincadeira, e do lado deles um  garoto ruivinho sendo abraçado por uma menininha de cabelos castanhos e um pouco cheios, assanhados pelo vento que batia em seus rostos, rindo alegremente. Segurei o retrato com as duas mãos e olhei-o sorrindo, passei os dedos sobre o rosto da garotinha que depois de um tempo viraria o que sou hoje, senti um toque em meu braço e um arrepio subir por toda sua extensão e percebi o dono da foto atrás de mim olhando-a por trás dos meus ombros.

-As vezes sinto falta desse tempo...

-É...ele realmente faz falta.

      Botei o retrato de volta na cômoda e me virei com a intenção de olhar em seus olhos, só não sabia que quando virasse ele estaria tão próximo, tão próximo que eu quase podia ouvir o som de sua respiração se chocando contra a minha, olhei em seus olhos e ele me fitava de um jeito que nunca tinha vista antes. Senti meu corpo mole como se fosse cair a qualquer instante, mas não conseguia mexer um centímetro dele...

-MENINOS! O ALMOÇO TÁ PRONTO!

         Nos afastamos assustados ao ouvir o grito. Ficamos de cabeça baixa enquanto ele tentava abrir a porta para passarmos, quando ele finalmente conseguiu destrancá-la passou e eu fui logo em seguida. Chegamos na cozinha e sentamos na mesa, um em cada lado, longe um do outro, provavelmente ele também estava um pouco assustado com o que ia fazer.

-O que houve meninos? Estão tão pálidos!  Aconteceu alguma coisa?- Perguntou Molly preocupada.

-Não mãe, não aconteceu nada não...não aconteceu nada.

-Certo crianças...Então já podem comer!

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