Tum, tum, tum...





Run like hell


(Tum, tum, tum)


E o som de passos fez os seus próprios se apressarem. Corra, Peter, corra. Ele está logo atrás de você. E ele quer segurar você pelo colarinho, fazê-lo encarar aquela face deformada e obrigá-lo a fazer... Coisas. Coisas que você não quer fazer, mas você sabe que fará, porque você tem medo de olhar para ele e encarar a morte.


(Tum, tum, tum)


E a noite cai tão rapidamente que você não se apercebe dela até que esteja envolto no abraço frio e escuro; até que as árvores passem a rir de você, porque sabem que você tem medo delas – daquele lugar – e se erguem acima de sua cabeça, como se pudessem sair de seus lugares e devorá-lo assim que você cair como a um delicioso banquete; até que os uivos dos lobos, os pios das corujas, o som de galhos se chocando uns contra os outros... Tudo fica em segundo plano e você só escuta os passos...


(...tum, tum, tum...)


Você sente o suor caindo da face, mas não perde tempo limpando-o. Você tem de sair de perto dele. Correr como se estivesse fugindo do demônio, porque é isso que ele é: um demônio do qual você foge há semanas e você sabe que ele pode pegá-lo quando quiser – porque você é fraco, Peter.


(Tum... Tum... TUM, TUM, TUM!)


CORRA, PETER, CORRA!


E você corre. Cada vez mais rápido, porque o demônio está perto. Se ele pegá-lo, Peter, as coisas que fará! Você não quer cair, você não quer fazer, você não quer desistir... Você quer poder dizer não, quer poder encontrar com ele sem sentir o calor da própria urina a escorrer por suas pernas e molhar as suas calças.


Você quer não ter medo.


Mas você não consegue.


Então, você corre.


(E o demônio ri. Ri de você.)

As lágrimas de medo descem por sua face, riscando seu rosto e depositando seu gosto salgado em sua boca. Seus olhos embaçam e você não pensa, não pensa, não pensa... As árvores tramam contra você, que pode ouvi-las sussurrando planos, rindo da fuga de um rato que é perseguido por um demônio muito maior – um demônio não pensa, nem por um segundo, que não pode pegar aquele rato insignificante... Por um momento você quer poder calá-las, mas elas são muitas, são tão grandes, tão assustadoras.


(Tum, riso, tum, riso.)


E você já não sabe se tem mais medo dos passos cada vez mais próximos, das árvores que confabulam para derrubá-lo ou da risada.


Aquela risada demoníaca, de quem debocha – humilha. De quem sabe que você não passa de um rato sujo e fedido em quem ele pisará assim que suas pernas desistirem de correr e você caia, apenas para que as árvores se unam sobre sua cabeça e o tomem em seus braços rígidos e frios, na boca da noite.


Os passos intercalados por risos podem lembrá-lo da época em que você tinha amigos e podia rir com eles ao invés de ter árvores que riem de você.


E por muitas batidas de seu coração acelerado, você não pensa sobre o que o que te persegue, não ouve o bater de asas próximo a você, não enxerga nenhuma luz, embora muitas do castelo – que está logo depois de algumas daquelas árvores que você não encara, mas que você não vê – estejam acesas.


Você não pensa. Você corre.


Só corre do demônio.


Nem pensa em olhar para trás, por um segundo sequer, e notar que não há nada atrás de você.



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