Capitulo II



- Você ainda não nos contou o que aconteceu na sexta-feira, Mione. – Disse Pansy enquanto sentavam-se à mesa em um café.


– Você só apareceu depois de toda aquela confusão, estávamos ficando preocupadas. – Falou Luna depois de fazer nossos pedidos.


- Hoje já é terça-feira e vocês ainda estão preocupadas com o que aconteceu na semana passada. – Provocou a morena sem conter o riso pela curiosidade das amigas.


- Não ouse nos esconder nenhum detalhe, Hermione. – Brigou Pansy ansiosa.


- Aproveitem então o tempo que ainda me resta, daqui à uma hora e meia tenho que ir para o meu trabalho. – Respondeu começando a contar todos os fatos que aconteceu naquela noite.


Ela relatou tudo como se tivesse acontecido há apenas algumas horas atrás, tudo gravado em sua mente como uma tabuada, tudo tão real e presente que não pode deixar de dizer até mesmo sobre o olhar que viu dele.


Aquele olhar que a seguiu por todo final de semana, a voz que sussurrava e repetia incansavelmente o desejo de querer vê-la novamente. Ainda indagava para si mesma como alguém poderia ser assim. Como, em apenas alguns minutos perto, uma pessoa pudesse ter o poder de lhe tirar a atenção.


O que haveria nele? O que poderia haver escondido dentre aqueles olhos, em certos momentos verdes vivos e em outros escuros e sem vida. Duas pessoas? Duas personalidades diferentes? Ou uma máscara para ocultar seu lado sombrio...


E o que a deixava mais confusa era saber que seu coração ainda tinha esperanças de poder vê-lo novamente. E esperava que ele cumprisse o que havia dito, afinal garantiu ser realmente bom em encontrá-la em meio a tantas outras pessoas.


- É realmente uma estupidez me sentir assim! Ainda não entendo isso. – Confessou confusa. – Quer dizer, nem o conheço, só o vi uma vez e ainda sim no momento mais estranho e rápido que poderia ter acontecido.


- Não acho estranho. – Confessou Luna também.


- Ao menos Luna tem razão algumas vezes Mione. É como ela sempre diz, tudo tem um motivo ou razão para acontecer. – Falou Pansy tomando um gole do café.


- O que um Deus Grego como ele poderia querer com uma humana comum como eu? Se vocês o vissem, realmente toda a descrição de Luna sobre um moreno lindo e de olhos verdes seriam pouca para ele. – Afirmou mantendo o sorriso acanhado.


- Não menospreze sua beleza, amiga. Mas ainda tenho que lhe informar que foi muito BURRA em não deixar que ele o levasse em casa. - Gritou Pansy sem conter a língua ferina.


- Havia acabado de conhecer ele, como poderia entrar num carro conhecendo-o a menos de uma hora? Poderia ser um louco ou psicopata. – Disse calmamente.


- Muitas pessoas fazem muito mais do que uma simples carona nas primeiras horas em que se conhecem, Mione. – Falou Pansy revoltada. – Mesmo esse não sendo o seu caso, claro, porém a psicopata aqui está sendo você em pensar em um garoto que só viu uma vez.


- Eu sei. – Confessou corada.


- Tudo bem, nem tão psicopata assim. Eu posso até estar sonhando com um loiro dos olhos azuis que nunca vi. – Sussurrou baixo.


- Ok! Já contei tudo. – Disse Hermione pegando a bolsa. – Agora tenho mesmo que ir meninas, já está no meu horário. – Concluiu levantando na cadeira. – Nos vemos mais tarde em casa.


Esperou os carros passarem para atravessar a rua, a manhã estava quente e as ruas iam ganhando uma movimentação maior com as pessoas indo para o trabalho e escola.


Gostava de vestir-se sempre com roupas alegres e que representavam seu humor ou estado de espírito. E naquele dia, como no final de semana, estava de verde, uma regata verde com um lenço longo verde e branco na cabeça.


Teria que passar a manha todo em meio a um monte de crianças. Não que elas lhe desagradassem, muito pelo contrário, gostava bastante de tê-las por perto, mas tinha momentos em que elas conseguiam sugar toda sua disposição e energia. Ia sempre preparada para deitar e rolar com elas, contar historia brincar e ensinar tarefas.


Em momentos sentia seu coração encher de emoção e compaixão por ver tantas crianças largadas o dia todo numa creche enquanto seus pais trabalhavam e participavam de suas vidas apenas a noite, deixando todo papel de pais para os funcionários da creche.


Quem sabe com toda essa nova experiência não decidisse um novo curso para faculdade. Pedagogia parecia ser realmente algo que daria certo com ela.


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Apoiou as costas no encosto do banco cruzando os braços e observando toda movimentação. O outono sempre deixava as pessoas mais calmas, o parque era a atração principal de quem procurava serenidade para uma boa caminhada, leitura e lazer.


Não pode deixar de sorrir de lado ao reparar em como as árvores lutavam para florescer as mais diversas espécies de flores que poderiam existir. Até a natureza em si era mais inteligente do que as próprias pessoas que tiravam a própria vida.


Ajeitou os óculos escuros na face acompanhando o movimento de um grupo de jovens que acabava de chegar, julgando pela aparência e pela hora do dia só poderiam estar muito alterados.


– Idiotas. – Murmurou encostando a cabeça. – Lugares certos sempre são os errados. – Sorriu maldosamente seguindo com o olhar o grupo.


Nenhum lugar é bom o bastante para você sentir-se seguro, nem toda a aparência é boa o bastante para ser julgada pelo conteúdo todo.


Colocou-se de pé e com passos calculados começou a andar sem se importar com os olhares que o seguiam. Não era todo dia de sol e em um parque que se deparava com um homem andando com uma roupa esporte fino, calça jeans, camiseta preta e sapato social. Olhares de interesse e curiosidade.


Os viu apressarem o passo em direção a um pequeno bar que havia no final do parque, um lugar quieto e com pouca movimentação.


– Para não dizer uma espelunca. – Falou andando com calma.


O lugar era frio e pouco iluminado, onde pessoas entravam e saiam sem nenhum tipo de restrição, onde todos eram bem vindos e recebidos de braços abertos para aproveitarem e apreciarem o que havia de melhor para oferecer, dependia apenas do gosto de cada um.


Quem se importava com o que você estaria fazendo ali? Contando que você pudesse acompanhá-los nada mais era importante.


Sem olhar para o lado, atravessou o espaço indo de encontro a uma cadeira que ficava afastada de todos, abriu à pequena pochete que levava consigo e começou a tirar alguns fracos de dentro. Algumas pessoas passavam ao seu lado e apenas observavam o que ele estava fazendo, outros disfarçavam e demonstravam olhares de interesse para o novo cliente que havia chegado.


- O que ele trazia? – Sussurrava alguns jovens interessados. – Será que é da boa? – Indagavam sem conter a ansiedade.


Poucos podiam ver seu rosto por estar em um lugar afastado e escuro. – Esse cara só pode ser louco... Óculos escuros aqui dentro. – Disse alguém.


- O que você tem aí? – Perguntou um cara aproximando-se.


O moreno apenas riu de lado ao fitar o estado da pessoa que estava a sua frente, inquieto, ansioso e alterado, sinais simples de uma pessoa que esta totalmente alterada por causa de consumo de drogas.


O que é tão bom? – Indagou em pensamentos concentrando no que fazia. Ficar louco e perder todos os sentidos em busca de adrenalina e loucuras, fazer atos irracionais a procura de uma nova droga que lhe desse uma sensação diferente. Quão burro poderia ser um homem ficando fora de si por algumas horas a mais para depois voltar a si e buscar mais e mais sensações alucinantes?


- O que eu tenho aqui? – Repetiu a pergunta do rapaz.


- Isso, isso, isso. – Respondeu ofegante.


- Realmente é algo que você não deve brincar. – Respondeu entre os dentes, misturando as substancias dos frascos.


- Conta outra, já provamos tudo que existe, duvido que o seu seja tão bom assim! – Gozou uma mulher aproximando da mesa.


- Oh, duvido que tenha provado algo assim, senhorita. – Provocou num sussurro. – É algo que não tem volta. Coisas que crianças não devem brincar.


- Uma alucinação sem volta? – Questionou o rapaz.


- O quão alucinado você já ficou? Até onde você iria pra saciar o prazer que você sente? – Indagou Harry serio enchendo as seringas.


- Quanto é? – Perguntou a menina mordendo a manga da blusa de frio.


- Isso? – Perguntou mostrando o conteúdo nas mãos. – É de graça. – Disse com um sorriso maroto.


- De graça! – Disseram em coro ansioso.


- Mas com uma condição. – Falou mostrando os dentes brancos.


- Qual?


- Esperem até passar o efeito da que vocês estão usando para depois aplicá-la. – Explicou seriamente.


- Por quê? – Questionou a menina bagunçando os cabelos.


- Uma escolha. – Afirmou mostrando o dedo. – Podem ter a escolha de não usarem quando estiverem normais.


- E se não quisermos? – A garota de cabelos extremamente negros apresentava sua total ansiedade pela droga.


- Ofereço apenas a vocês as duas escolhas, a de usar e a de não usar. – Declarou com o riso maléfico. – Todos nós temos escolhas, caminhos a serem seguidos.


- Já fizemos nossas escolhas, apenas de olhar nos fascina. – Afirmou o rapaz fitando as seringas. – É como dar água na boca. – Finalizou.


- Realmente são boas, tão boas que vocês dariam a vida para tê-las nas mãos. – Sussurrou esticando os braços para eles. – Nunca digam que não lhe dei escolhas. – Afirmou levantando-se.


- E se quisermos mais? – Perguntou a moça segurando firmemente a seringa nas mãos.


- Não se preocupe mais cedo ou mais tarde nos encontraremos. O lugar para onde vocês vão... Eu conheço o caminho. – Afirmou saindo.


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A morena andava distraída pelas calçadas passando por diversos prédios e lojas de luxo. Falava ao celular e olhava ao mesmo tempo para o papel que tinha em mãos, um endereço que tentava em vão achar, nunca fora boa nisso ainda mais quando estava sozinha.


- Papai, o senhor tem certeza que é esse endereço mesmo? – Indagou Pansy frustrada.


- Sim minha filha, o endereço é esse mesmo. – Respondeu o homem do outro lado do celular. – Você esta sozinha?


- Sim.


- Cadê seu motorista e o segurança, minha filha? - Questionou ele irritado.


- Não preciso disso papai, por favor, não vamos falar nisso novamente. Estou morando sozinha agora, o senhor tem que me deixar fazer as coisas sozinha. – Pediu emburrada.


- Vejo muito bem o que acontece quando você tentar agir por si própria, não consegue nem achar um endereço, filha. – Soltou sem querer sentindo-se arrependido em seguida. – Não foi...


- Tudo bem pai, o senhor está mesmo certo. – Afirmou a morena cansada. – Vou perguntar algum taxista aqui por perto, eles devem saber.


- Cuidado, Pansy.


- Vou ter, tchau. – Despediu-se desligando o celular e parando no mesmo lugar olhando para o outro lado da rua.


Passou os olhos pelo lugar em busca de algum que pudesse lhe ajudar e sentiu frustrada e impotente por não conseguir achar sozinha um endereço. Passou as mãos pelos curtos cabelos negros e bufou voltando a caminhar sem direção.


- Isso que dá ser uma menina mimada a vida toda. – Murmurou consigo mesma. Quando será que ela conseguiria fazer as coisas funcionarem em sua vida sem a intromissão de seus pais? Sem todo o poder e dinheiro que poderiam comprar tudo, menos sua liberdade e felicidade.


Soube no momento em que conheceu Hermione que toda sua vida havia mudado, naquele dia em que se esbarraram aprendeu que toda sua vida fora de aparência. Soube dar valor em coisas pequenas e verdadeiras ao lado dela, sorrisos e afetos trocados dia a dia que fez com que nascesse uma amizade solida e concreta.


Rocha? Sim, era assim que definia a amizade das duas, forte e resistente a todas as mentiras que poderiam aparecer. Incertezas e dúvidas não eram permitidas na relação delas, sinceridade e amor eram o que completava a amizade que vinha a anos sendo cultivada.


- Bem, já que aquela guria chata não esta aqui, terei que me virar sozinha. – Falou risonha sendo assustada ao mesmo tempo por um homem que vinha correndo rápido.


Virou-se rapidamente quase sendo arremessada no chão quando ele tomou rapidamente sua bolsa de suas mãos.


- Ei, volte aqui. – Gritou correndo atrás do homem. – Ladrão! Alguém me ajude. Seu estúpido, vou lhe matar por atrever-se a roubar minha bolsa.


Tentou apressar o passo mais era inútil, sua sandália de salto não a deixava dar um passo a mais. Foi quando viu o assaltante atravessar a rua correndo e chocando o corpo em um carro esporte.


- Coisa boa. – Disse apressando para chegar mais perto e pegar sua bolsa enquanto o ladrão recuperava do choque. – Não o deixe fugir, ele roubou minha bolsa. – Disse para o rapaz que descia do carro.


- Acho que ele não vai levantar tão cedo. – Disse ele parando em frente ao carro e olhando o ladrão se contorcer no chão.


- Alguém chame a ambulância. – Gritou uma senhora do outro lado da rua.


- Alguém chame a polícia, isso sim, ele é um bandido. – Retrucou Pansy revoltada.


- Chamem os dois. – Afirmou o rapaz com os braços cruzados.


- Obrigada. – Disse a morena ao seu lado.


- Por? – Indagou curioso.


- Por parar ele no momento certo. – Confessou. – Ele bem que mereceu.


- Não tenho duvidas disso, senhorita. – Afirmou com um sorriso charmoso.


- Você poderia... assim... pegar a minha bolsa ali? – Pediu apontando para a bolsa jogava quase em baixo do carro.


- Claro. – Respondeu abaixando devagar e pegando a bolsa. – Aqui está.


- Obrigado novamente. – Agradeceu segurando-a com força. – Acho que seu carro estragou com a pancada.


- Nada que um concerto não arrume. – Respondeu divertido.


- Que bom. Normalmente garotos preocupam-se muito com seus “brinquedinhos”. – Falou acanhada.


- Apego as coisas materiais nunca foi meu forte. – Respondeu olhando-a melhor. – Quer dizer, qualquer tipo de apego. – Sussurrou para si mesmo analisando-a.


Permaneceram em silêncio por alguns minutos apenas vendo a aglomeração de pessoas em volta do local. A morena não deixou de notar mesmo que sorrateiramente em todos os traços do rapaz, alto, forte, loiro e de olhos azuis.


Ele possuía um ar despreocupado e calmo naquele momento, encostado no carro falava ao telefone informando a seguradora sobre o acidente. Tinha um sorriso maroto em todos os momentos, um olhar marcante. Virou o rosto para o lado oposto tentando não demonstrar seu interesse.


Draco desligou o telefone e aproveitou o momento de distração da garota para analisá-la também, esperava realmente que ela continuasse sem saber que ele soube a todo o momento que seu olhar caia sobre ele.


Cabelos curtos? Realmente diferentes, nunca havia apreciado uma mulher de cabelos curtos e extremamente lisos como o dela. Extremamente linda e provocante cheia de vida e um ar de menina sapeca.


- Não me apresentei. Sou Draco. Draco Malfoy. – Cumprimentou buscando as mãos da garota depositando um beijo em cada.


- Oh! Sou Pansy Parkinson. – Respondeu encantada com a atitude do loiro.


- Espero que depois deste incidente possa acompanhá-la até seu destino. – Disse sem solta-la, apenas sentindo a textura de suas mãos finas.


- Bem, estava tentando em vão achar um endereço. – Confessou envergonhada por ter falado aquilo.


- Confesso que sou ótimo em endereços, capaz de achar qualquer lugar. – Afirmou convencido sem parar de mirá-la.


- Bem, eles foram bem rápidos. – Disse vendo os bombeiros e policias chegarem. – Você vai arder no mármore do inferno. – Disse nervosa para o ladrão desacordado.


- Concordo plenamente. – Declarou com um sorriso sorrateiro.


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Para ele nunca fora tão fácil achar uma pessoa, não sendo ela a que mais se diferenciava dentre todas outras. Poderia apenas ter usado a tecnologia e o dinheiro que compra qualquer informação, mas isso apenas teria deixado toda “caça” monótona e desinteressante. Confiava muito mais em seus sentidos e naquele momento eles o deixavam mais atento.


E poderia soar mais irônico vê-la em uma creche? Entre tantas crianças que se destacavam por sua inocência e ingenuidade, confessava que isso não era valido para todas, não nos dias de hoje quando era fácil duvidar até da pequena geração futura.


E lá estava ela, empilhando e amontoando todos os brinquedos que se encontravam espalhados pela enorme sala, que naquele momento estava sendo ocupada apenas por sua presença. Cadernos de desenhos, lápis e tintas estavam em cima de uma mesa, devidamente arrumados e separados por cores e tamanhos. Uma divisória extensa encontrava-se cheia de livros dos mais variados contos e também de historias da literatura infantil.


Ela parecia não notar a presença do moreno que estava encostado na porta da entrada da sala. Notou uma menina pequena abrindo a porta que estava na direção oposta a sua, e logo a viu abraçar as pernas da morena que se assustou imediatamente. A pequena chorava baixinho e puxava Hermione pela mão para mostrar-lhe algo que estava deixando-a com medo.


Sorriu ao vê-la entrando no quarto e deixando a porta aberta, isso lhe dava uma visão melhor do que havia lá dentro. A menininha correu para a cama e deitou-se esperando a morena lhe cobrir e acender o abajur que havia ao lado da cama. Harry não conteve o riso:


- Medo do escuro. – Constatou ao fita-lá fechando os olhinhos e adormecendo logo após receber um beijo estalado na bochecha.


Hermione fechou a porta atrás de si e parou com a mão na maçaneta ao ver Harry rindo ainda escorado na porta com os braços cruzados.


Aquela só poderia ser sua posição preferida, que lhe deixava um ar mais charmoso e sensual, podendo arrancar um suspiro alto de qualquer garota.


– Olá. – Disse ela soltando o ar que estava preso em seus pulmões, não pode deixar de corar ao sentir o olhar que lhe dirigia.


- Então encontrei você. – Disse com um sorriso maroto.


- Sim. – Respondeu ainda parada sem conseguir formular uma frase descente.


- Então é aqui que você trabalha? - Perguntou curioso.


- Temporariamente. – Falou voltando a andar e empurrar alguns brinquedos com o pé para o monte que estava arrumando.


- Temporariamente? – Questionou ainda curioso sem deixar de prestar atenção em todos os seus movimentos, que por mais simples que fossem o deixavam fascinado.


- Bem, é uma longa historia, tenho certeza de que você não quer perder seu tempo ouvindo. – Respondeu sorrindo de forma sincera para ele.


- Estou muito mais interessado do que imagina. – Declarou retirando os óculos do rosto e andando para perto dela.


- Se quiser sentar-se em cima de uma dessas mesinhas tenho certeza de que são mais seguras do que essas pequenas cadeiras. – Disse sorrindo puxando um caixa grande para depositar os brinquedos dentro.


- Não me importo em ajudá-la, isso me parece ser um pouco cansativo. – Falou agachando enquanto entregava em suas mãos alguns objetos para arrumar dentro da caixa.


- Normalmente não é tão cansativo, mas confesso ter dias que eles parecem dispostos a gastarem todas suas energias no período em que fico aqui. É nesse horário que tudo fica mais calmo, eles almoçam e vão dormir e quando acordam há outra pessoa no meu lugar. – Explicou tímida com a atitude dele ao seu lado. Estava simplesmente lindo concentrado em prestar atenção em tudo que ela dizia e também a ajudando a pegar tudo que estava espalhado pelo chão sem deixá-la fazer tanto esforço como abaixar e levantar toda hora.


- Então você fica aqui só na metade do dia? – Perguntou apreciando o contraste do lenço em sua cabeça com o dourados dos seus cabelos.


- Metade do dia e duas vezes na semana. – Respondeu ainda sem saber o porquê de sentir-se tão segura em lhe contar todas aquelas coisas.


- Agora me fale o porquê de ser temporário? – Pediu empurrando a caixa cheia para o canto e sentando na mesinha esperando-a.


- Eu não entendo... Quero dizer, nos conhecemos em um lugar não muito agradável com uma confusão menos ainda e trocamos apenas algumas palavras. – Soltou com as mãos na cintura. – O que poderia haver de tão interessante em mim para fazê-lo ter tanta curiosidade na minha vida? – Questionou ainda assustada com tudo que saiu sem prever.


- Você é a pessoa mais interessante que conheci até hoje desde que cheguei. – Disse ainda serio olhando para seus olhos cheios de vida. – Não duvide disso.


- Você fala como se fosse um experimento cientifico que você precisa decifrar. – Disse frustrada com a possível falta de interesse que ele tinha nela mesma.


- Não fique brava. – Riu divertido com as expressões que ela demonstrava. – Não me leve a mal, mas nunca fui muito bom em conversas assim, mas prometo melhorar com o tempo se você puder ter um pouco de paciência.


- Você é uma pessoa bem persuasiva. – Constatou ela sentindo o coração encher de alegria por ele mencionar a palavra “com o tempo”, quem sabe ele parecia querer vê-la por mais tempo.


- Sou bom no que faço. – Assentiu. – Seu horário já acabou? – Indagou ansioso para poder sair dali com ela.


- Bem... – Começou olhando no relógio. – Sim.


- Que tal almoçarmos juntos? Conheço um lugar que provavelmente lhe agradará.


- Bem...


- Não me de outro fora como na sexta passada. – Disse sem perder o riso charmoso no rosto. – Não sou assim tão desagradável quanto apresento.


- Tudo bem. – Assentiu mordendo os lábios. – Pode esperar até que eu confira se deixei tudo arrumado e pegar minha bolsa?


- Tenho todo tempo do mundo. – Confirmou.


Sua ansiedade não era nada comparada a sua vontade de poder tocá-la naquele momento, seu desejo de provar dos lábios da morena ia além de sua sanidade poderia lhe permitir.


Esperou pacientemente até ela fazer todo seu ritual. Olhar atentamente se as crianças se encontravam em seus devidos lugares, se as luzes estavam apagadas e os armários bem trancados. Despediu-se de todos e pegou sua bolsa para encontrá-lo ao lado de fora encostado no carro esperando-a.


- Pronta. – Disse parando a sua frente.


- Você fica linda com qualquer cor, mas verde combina muito bem com você. – Disse tocando de leve em seu braço.


- Verde combina com seus olhos. – Disse se repreendendo mentalmente pela mancada. – Quer dizer... Você também ficaria muito bem de verde. – Concluiu corada.


Ele sempre gostou de ver o efeito que causava nas pessoas, mas nunca sentiu tanto prazer ao vê-la reagir com ele daquela forma.  E repreendia-se mais e mais para não tocá-la quando estava no auge de sua agonia interna. Eram seus próprios demônios lutando para não o levarem a persuadi-la a fazer algo que aquele anjo de cabelos dourados não queria fazer.


Apenas apreciava a naturalidade de suas palavras e gestos que ficavam gravados um a um em sua mente. O restaurante não era tão longe de onde estavam, dirigiu mais devagar do que o costume enquanto conversaram sobre diversos assuntos.


Hermione começava a se acostumar em lhe contar coisas sobre sua vida, mas ainda sentia receio em contar sobre seu irmão e todas as confusões que sempre se metia fazendo com que muitas vezes tivesse que interferir. Ria quando perguntava algo sobre ele, que desconversava prometendo que depois com tempo contaria tudo que ela gostaria de saber.


O lugar era extremamente aconchegante e calmo, um pouco afastado do centro da cidade o que fazia com que diminuísse todo barulho de carros e pessoas. Harry ajudou-a a descer do carro e colocando a mão em sua cintura conduzindo-a para uma mesa no canto do restaurante.


- Depois desta autobiografia acho que mereço ao menos uma coisinha de você. – Disse com um sorriso esperançoso. – Então...


- Então? – Indagou sem conter o riso interno ao vê-la curiosa.


- Podemos fazer um acordo. – Disse finalmente corada.


- Um acordo. – Repetiu deliciado com a maneira que ela falava e brincava com os lábios. – Antes de fazermos nosso acordo, acho que podemos pedir algo para beber.


- Ok! Um suco pra mim. – Assentiu mostrando no cardápio o sabor que queria.


- O mesmo. – Repetiu para o garçom.


- Você não bebe álcool? – Indagou curiosa.


- Não.


- Fuma? – Continuou.


- Não. – Respondeu com palavras monossílabas.


- Não é tão difícil assim falar de você. – Disse sorridente mostrando as covinhas no delicado rosto. – Mas voltando ao nosso acordo.


- Prometo responder todas as perguntas que você fizer sobre mim...


- Porém... – Insistiu ele ansioso.


- Você terá que me falar pelo menos uma coisa sobre você. – Afirmou tentando manter-se seria.


- Justo. – Assentiu.


- Começando você pode me explicar o porquê de não fumar e beber, jovens normalmente sempre tem algum vício. – Pediu depositando as mãos na mesa e olhando-o atenciosamente.


- Você não tem. – Falou analisando sua expressão.


- Bem, eu não me encaixo muito nos vícios de hoje.


- Não, você não se encaixa mesmo, o que a torna diferente de muitos.


- Diferente como algo bom ou ruim? - Questionou extasiada com o porte físico e o charme que ele possuía apenas sentado tendo uma conversa normal.


- Diferentemente raro, e normalmente tudo que se torna raro, torna-se valioso. – Explicou com calma.


- Obrigada. – Agradeceu corada.


- Você saberia diferenciar vícios bons ou ruins? – Indagou puxando com cuidado as mãos da garota para segura-las entre as suas. – Existem vícios que destroem com o corpo e vícios que acabam com a alma, mas ainda sim são vícios.


- Normalmente são ruins. – Assentiu sentindo o coração acelerado pelo toque de seus dedos.


- Vícios no corpo normalmente podem nos matar mais rápido, fumar, beber e se drogar são alguns deles. – Falou brincando com as mãos dela. – Mas nosso corpo nem sempre tem vícios apenas por isso, tem necessidades e desejos a mais, cabe a nós amenizá-los.


- Então você é bom em controlá-los. – Declarou ela.


- Eles sempre afetam nossa alma, então seria melhor não termos nenhum tipo de vicio. Como também acontece com vícios na nossa alma, se não soubermos manuseá-los tomam conta do nosso corpo.


- Você é tão certo de si e dos seus sentimentos. – Falou ela acostumando-se com o toque quente da mão dele nas suas. – Você nunca fica confuso?


- Confusão é incerteza, gosto de ter a certeza de onde vou e onde piso. – Disse entrelaçando suas mãos enquanto apenas assentia a cabeça em sinal de agradecimento para o garçom que lhes serviam as suas bebidas. – O que estava fazendo sexta-feira passada naquele lugar onde nos encontramos?


- Estava tentando me distrair com minhas amigas e o namorado de uma delas. – Disse simplificando a historia.


- Normalmente quando tentamos nos distrair é que algo de ruim vem acontecendo.


- Nem tudo são flores na vida, nunca te disseram isso não? – Questionou divertida.


- Oh, nunca foi preciso me dizer, eu vejo tudo com meus olhos. Tem haver com seu trabalho temporário? – Perguntou frustrado por tantas hipóteses que estavam passando por sua cabeça.


- Tecnicamente sim. Mas é algo que não quero falar no momento. – Disse tentando ser educada. – Prometo contar-lhe um dia desses.


Fizeram os pedidos e dificilmente no almoço ficaram sem trocar uma frase, Harry gostava excessivamente de poder ouvir a voz dela e de seu sorriso natural e alegre. Mas pode notar que algumas vezes seu olhar denunciava o contrario.


Como um homem poderia num determinado momento ser frio e seco em suas atitudes visando apenas suas metas e um plano a ser seguido deixando de lado tudo que estava a sua volta sem temor, receio e sentimentos para com os outros? E no outro momento demonstrar-se excessivamente capaz de ouvir incansavelmente um doce anjo falar como se nada tivesse ao seu redor.


O que ela estaria fazendo aqui desprotegida e exposta a qualquer pessoa sem escrúpulos capaz de maldades que nunca poderiam passar pela imaginação dela? Que tipo de teste seria esse que o colocara frente a frente com ela?


Até quando ele daria conta apenas de escutar ela falando sem poder tocar? Quando poderia provar que estava completamente errado e confessar que o sabor dela poderia ter excepcionalmente melhor do que poderia imaginar.


E se todo desejo e luxuria que sentir por ela torna-se um vicio, não só para o corpo como para a alma? Ele poderia provar que suas certezas são maiores do que poderia viria pela frente?


De uma coisa ele sabia: Até ter a certeza sobre isso, seu próprio demônio o induziria a saciar seus segredos mais ocultos.



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N/A: Olá pessoas ! Olha eu aqui novamente postando um cap para vocês o/ Espero que gostem realmente desse segundo.
Agradeço de montão a cada comentario, fico realmente lisongeada e animada em continuar quando vejo que estão realmente gostando do que escrevo.
Beijos especiais para minha beta o/\o Mah lindona ! Beijos no S2
Até a proxima :D


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