Regresso



—Capítulo 1—


Regresso


 


      


            Nunca a plataforma 9½ estivera num clima tão triste. Quando a grande locomotiva vermelha parou com um lamento prolongado de seus pistões, um a um, os alunos, em silêncio, começaram a desembarcar. Tão diferente de cada fim de semestre, onde conversas animadas sobre as férias de verão rolavam entre os estudantes, dessa vez um clima lúgubre pairava sobre suas cabeças, como uma pequena nuvem de tempestade. Poucas conversas e muito choro pontilhavam as despedidas. Desejos de cuidado e suplicas para que sempre escrevessem mandando noticias eram proferidos enquanto pais apressados puxavam seus filhos o mais rápido possível.


         Em cada ponto da estação havia um Auror postado, a varinha em mãos, atento a qualquer movimento suspeito. Um funcionário do Ministério da Magia coordenava a saída dos alunos em grupos pequenos para não chamar a atenção dos trouxas que estavam na estação.


         O garoto de longos cabelos negros pisou fora do trem, arrastando o pesado malão com uma gaiola de latão em cima. Era magro, estatura mediana. Seus olhos castanhos fixavam o chão, sem parecer, realmente, prestar atenção em anda. Os sons ao seu redor pareciam zumbidos de uma colméia distante. Mesmo o movimento dos outros estudantes ao seu redor parecia borrões difusos.


         —Pedro? —Uma mão pousou em seu ombro, chamando-o bruscamente de volta à Terra. Virou-se rapidamente para encarar Amanda Gryffindor, uma garota de cabelos negros, presos num rabo de cavalo e olhos bastante azuis. —Você está nos ouvindo?


         —Ahm...não...me desculpe. —Disse o garoto, balançando a cabeça negativamente.


         —Vem cá... —Murmurou Amanda, fazendo um sinal com a cabeça para ela seguir-lo.


         Um tanto resignado, Pedro Ravenclaw acompanhou a amiga, atravessando o mar de alunos que seguiam numa triste procissão rumo à saída. Notou pelo canto do olho que mais quatro ou cinco pessoas seguiam na mesma direção que ele. Por fim, quando chegaram num ponto mais isolado da plataforma, próximo à locomotiva vermelha, eles pararam.


         —O que vamos fazer? —Perguntou Amanda, virando-se para os amigos, com os braços cruzados sobre o peito.


         —Acho que temos que ir para casa, não? —Murmurou Ashley Delacour, uma garota de cabelos loiros, quase platinados, caindo lisos sobre suas costas, olhos bastante azuis e pele branca e delicada.


         —Ninguém aqui vai conseguir pensar direito agora. —Disse Lilá Brown, uma garota de cabelos negros, na altura dos ombros, repicados, com uma franja diagonal e as pontas pintadas de vermelho. Seus olhos cinzentos fixavam a grande locomotiva com um mau-humor mesclado à uma espécie e tristeza. — O velho nem esfriou na sepultura ainda...


         Os sete trocaram um breve olhar antes de desviarem, ligeiramente incomodados. Por fim, quando aquele incômodo silêncio começou a pesar dolorosamente sobre eles, um garoto ruivo, de cabelos despenteados, olhos azuis e sardas pronunciou-se.


         —Como vai ser agora sem o Dumbledore? —Perguntou Chapolim Weasley, encarando o chão. —Não falo apenas sobre sentir falta. Mas ele era o único que Voldemort temia. Não tem como saber o que ele vai fazer agora...


         Os olhares rapidamente se viraram para o rapaz alto, de cabelos e olhos negros e traços mais eslavos. Quando notou que todos lhe olhavam, o garoto recuou, erguendo as mãos em sinal de rendimento.


         —Hey, não olhem para mim! —Exclamou Lucius Krum, dando mais um passo para trás. —Eu não sei de nada!


         —Acho que por enquanto não devemos fazer nada. —Murmurou Liv Whitewoods, uma garota de cabelos ruivos e olhos incrivelmente verdes.


         Mais uma vez o silêncio recaiu sobre o grupo, como uma nuvem de tempestade. Com um muxoxo cansado, Pedro deu as costas ao grupo, arrastando seu malão na direção da saída.


         —Hey! Pedro! —Chamou Amanda, indo até o amigo em passos rápidos, pondo a mão em seu ombro. —Para onde vai?


         —Para onde mais eu posso ir? —Murmurou Pedro, olhando brevemente por cima do ombro. —Não vai adiantar de nada ficar aqui parado.


         E soltou o ombro da mão da garota, seguindo o caminho. Por um instante manteve a mão suspensa no ar, como se ainda pudesse segurar o garoto. Por fim, com um suspiro resignado, recolheu a mão, olhando enquanto ele partia.


         —Mande noticias ao menos. —Pediu num tom baixo. Pedro ergueu a mão, com o polegar em riste, em sinal de positivo, antes de sumir em meio a romaria que seguia para fora da plataforma.


 


 


         A porta do apartamento abriu-se com um rangido alto. Arrastou o malão para o lado de dentro e logo depois a gaiola de latão, empilhando ambos num canto. Empurrou a porta que arrastou-se no chão, fechando com dificuldade. Respirou fundo e secou o suor da testa, o rosto bastante avermelhado.


         O apartamento era pequeno. A sala era separada da cozinha por um balcão. O fogão estava ligeiramente enferrujado e manchado de amarelo pela gordura e pelo gás. A geladeira tinha uma aparência envelhecida e o compressor vazia um estalo estranho de tempos em tempos. Havia uma pequena mesa quadrada, de madeira, no centro, ainda com o prato do café-da-manhã antes de sua partida para Hogwarts, nove meses atrás.


Na sala ainda havia pergaminhos amassados jogados no chão, restos de penas e algumas mudas de roupa deixadas para trás, empilhadas no sofá velho e remendado. Em frente ao sofá havia uma mesa de centro baixa, com varias marcas de copo queimadas em sua superfície e exemplares velhos do Profeta Diário. Encostada na parede contraria ao sofá havia uma TV velha sobre um móvel de aparência antiga e bastante desgastada. Empoleirada sobre a TV havia uma grande coruja macho, de penas negras salpicada de pontinhos brancos.


—Hey amigão. —Murmurou Pedro, indo até a coruja. Esticou o braço em sua direção, no mesmo instante em que a coruja saltava em sua direção, empoleirando-se sobre ele. —Pensei que fosse caçar um pouco.


A coruja piou baixo e abriu as asas. Deu uma bicada carinhosa no braço do dono e saiu voando até o quarto. Com um suspiro demorado, o garoto livrou-se do pesado casaco jeans que usava e largou-se sobre o sofá.


Sua mente transportou-o rapidamente para aquela fatídica noite. Quase podia sentir os cheiros do castelo e a luminosidade calorosa de seus archotes. Fechou os olhos brevemente, sentindo-os arder de leve enquanto as imagens passavam em sua mente.


 


A brisa fria da noite tocava seu rosto suavemente, balançando seus cabelos. O garoto estava sentado no beiral da janela, as pernas dobradas contra o peito. Uma das mãos segurava a varinha, girando-a entre os dedos, enquanto a outra apoiava melhor o corpo.


—Perdeu o sono? —Murmurou alguém, logo atrás dele. Virou o olhar lentamente até encarar os olhos verdes de Liv.


—Estou inquieto. —Respondeu Pedro, olhando por um instante para a garota antes de voltar a olhar o céu estrelado.


—Posso te fazer companhia ou vai me expulsar como da ultima vez? — Disse Liv, com um tom de ironia na voz. Pedro meramente deu de ombros. A ruiva puxou uma cadeira e sentou-se próximo à janela.


—Sabe... —Murmurou Pedro, depois de quase dois minutos em silêncio. —acho que nunca vou entender...


—Do que estamos falando? —Disse Liv, olhando para ele com um olhar ligeiramente interessado.


—Você...eu...o Lucius... —Disse Pedro, ainda com um ar distante. —Fico tentando entender esse...triangulo maluco. Eu tento encontrar respostas, mas tudo o que eu acho são mais perguntas.


—Não é algo fácil de entender. —Falou Liv, olhando para o garoto por um instante antes de desviar o olhar para os próprios pés. — Não sei se chega a ter uma explicação para tudo isso.


—Talvez você seja a aresta principal desse triangulo. —Disse Pedro, virando o olhar para ela, com as sobrancelhas ligeiramente erguidas. Liv encarou o rapaz com um ar curioso. —Você só precisa tomar uma decisão Liv. Eu ou o Lucius. E aceitar que para ter um, tem que abrir mão do outro.


Liv entreabriu os lábios, como se fosse responder, mas sem saber ao certo o que dizer. Ficou encarando o olhar incisivo do garoto e por um instante imaginou se ele não estava tentando entrar em sua mente. Por fim, desviou o olhar para o céu, mordendo suavemente o lábio inferior.


—Não é tão fácil assim. —Respondeu, com um tom de voz vago. Pedro suspirou pesadamente e voltou a olhar para o céu também.


—Então... —Começou o garoto, depois de um minuto em silêncio. —um de nós vai ter que tomar essa decisão. Abrir mão de você para ter uma vida normal.


—O que você quer dizer com isso? —Perguntou Liv, parecendo atônita.


Pedro abriu a boca para responder, mas um lampejo chamou sua atenção. Inclinou seu corpo para frente, seguindo o rastro do feixe verde que cortava o céu. Um enorme crânio verde-esmeralda erguia-se no ar, rumo aos céus. Uma cobra saia de sua boca, como se fosse uma língua, tudo isso envolto por uma nuvem de fumaça verde.


—Ah, merda... —Resmungou o garoto, virando-se rapidamente e saltando para dentro da sala comunal novamente. Liv encolheu-se, quase caindo, para não trombar com o garoto.


—O que está acontecendo?! —Exclamou a ruiva, vendo Pedro precipitar-se na direção da saída, já puxando a varinha do bolso interno das vestes.


—Não saia daqui! —Exclamou o garoto, correndo na direção da saída.


Sem esperar a resposta dela, irrompeu no corredor rapidamente. Ficou um instante parado, como se esperasse ouvir gritos de pânico e agonia. Mas um silêncio aterrador parecia ter se jogado sobre eles. Ficou um instante olhando para todos os lados, meio perdido, antes de voltar a correr. Parava derrapando em cada corredor, tentando sempre manter o ritmo da corrida.


Já sentia a respiração ofegante ao chegar ao sétimo andar, quando finalmente ouviu gritos. Uma verdadeira guerra se instalava na porta da torre de astronomia. Seis Comensais da Morte duelavam ferozmente com alunos de Hogwarts e membros da Ordem da Fênix. Viu de relance Remus Lupin, seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e a metamorfomaga Nymphadora Tonks, ao lado de dois Weasleys e do garoto Longbotton.


—Droga... —Murmurou baixinho, fechando os olhos com força. Concentrou-se na lembrança mais feliz que conseguiu pensar e proferiu o feitiço. —Especto Patronum!


Um facho de luz prateado irrompeu de usa varinha. Uma enorme águia prateada bateu as asas por um instante no ar, antes de parar flutuando à sua frente.


—Avise aos outros que tem Comensais no castelo.


O enorme pássaro balançou a cabeça positivamente e voou à toda velocidade pelo corredor, atravessando a janela e sumindo através das paredes grossas do castelo. Virou-se mais uma vez na direção da luta, já girando a varinha no ar.


Estupefaça!! —Exclamou Pedro, explodindo um feitiço que havia sido lançado pelo comensal da morte que bloqueava a porta. Os outros haviam sumido por completo e havia o corpo de outro largado no chão.


O Comensal loiro e gigantesco seguia bloqueando a entrada da porta. Lançava feitiços para todos os lados, o que obrigava a todos se abaixarem ou usarem feitiços defensivos. Neville e Lupin até conseguiram passar pelo grandalhão, mas havia algum tipo de barreira impedindo o avanço deles.


—Mas que diabos é isso, Ravenclaw? —Murmurou alguém ao seu lado. O garoto virou-se rapidamente para encarar Amanda que vinha ao lado de Chapolim. Os dois vestiam seus roupões e tinham os cabelos ligeiramente despenteados, denunciando que deviam estar dormindo.


—Não sei... —Murmurou Pedro, voltando a olhar para o Comensal que sorria debilmente. Abaixou-se para desviar de um feitiço lançado pelo loiro. —Tinha mais gente com ele...mas sumiram...acho que entraram na Torre...deve haver alguém lá...


Antes que pudessem debater mais sobre o que estava acontecendo, Chapolim e Amanda foram obrigados a sacarem logo suas varinhas e se defenderem da saraiva da de feitiços lançados pelo Comensal. Não demorou muito, Minerva McGonagall havia juntado-se a eles. Com a testa franzida, começou a questionar-se porque nem Dumbledore ou Harry Potter estavam ali. Só parou de pensar nisso quando um vulto negro passou à sua frente como um raio. Deu dois passo para trás, pensando ser um comensal, mas logo viu que era Severus Snape. Observou o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas passar facilmente em meio à confusão e atravessando o bloqueio do Comensal e a barreira que trancava a porta.


—Mas como...? —Começou a falar, mas antes que pudesse terminar, uma nova azaração passou raspando sua orelha direita. Virou-se a tempo de deter uma segunda com o Protego.


Aquilo distraiu sua mente para o fato de que Severus Snape havia passado sem maiores problemas rumo a torre. E ao fato do Comensal nem ter se movido para tentar deter-lo. Os ataques do comensal eram violentos de mais para que ele pensasse em outra coisa. Principalmente quando uma parte do teto desabou, levantando uma grossa camada de poeira.


Foi quando a porta abriu-se de um estampido que sua atenção voltou-se novamente para Snape. O professor saia correndo ao lado de Draco. Gritou algo parecido com “acabou, hora de partir”, mas não parou para falar com ninguém da Ordem. Seguiu em passos rápidos ao lado de Draco Malfoy. Logo atrás iam os outros Comensais da Morte que ele havia visto antes. Ficou um instante paralisado, achando que Snape estava sendo perseguido. Só voltou a reagir ao ver Harry Potter passando rapidamente atrás do grupo.


—Tem algo muito errado nisso... —Murmurou para Amanda assim que passou por ela, enquanto seguia em passos rápidos atrás de Potter e dos outros comensais.


Desviou-se do mar de feitiços que se formava a sua frente e seguiu no encalço deles. Viu quando algo grande e negro saltou sobre Potter, lançando-o ao chão.


Petrificus Totalus! —Bradou Pedro, fazendo o corpo do comensal paralisar-se por completo. —Vai Potter! Rápido!


Sem nem olhar para quem havia lançado o feitiço, Harry levantou-se rapidamente e voltou a sua corrida. Pedro seguia um pouco atrás, tentando desviar dos feitiços que voavam por sobre suas orelhas. Já estava quase alcançando Potter e o restante do grupo quando algo segurou seu tornozelo, fazendo-o cair no chão.


—Onde pensa que vai, garoto? —Perguntou uma voz maldosa à suas costas. Pedro chutou o rosto dele para que ele o soltasse. Levantou-se rapidamente e virou-se para encarar um Comensal pesadão, com um sorriso enviesado e malicioso no rosto.


—Amico Carrow. —Murmurou Pedro, estreitando o olhar como se tentasse avaliar o homem à sua frente. —Você era menos feio no cartaz de procurado.


Com uma gargalhada alta, o Comensal começou a disparar uma série de feitiços não-verbais na direção de Pedro. O garoto conseguiu rebater grande parte, tendo que se atirar no chão para desviar de algumas maldições imperdoáveis. Aproveitou a auto-confiança em excesso do Comensal e quase o pegou desprevenido várias vezes.


—Estupefaça! —Bradou o Comensal.


Protego!! —Rebateu Pedro, fazendo o feitiço ricochetear para longe.Girou rapidamente para aproveitar a guarda baixa do Comensal. —Expeliarmuns! Impedimenta!


Sem chance de se defender, o Comensal viu sua varinha ser arrancada de sua mão e logo seu corpo ser atirado para trás. Pedro ficou um instante olhando para o Comensal, como se temesse voltar a correr e ser atacado pelas costas. Só quando teve certeza de que ele estava desacordado foi que teve confiança para voltar a correr.


Pegou todos os atalhos que conhecia e descia praticamente escorregando pelos corrimões para ganhar mais tempo. Os alunos já se amontoavam nos corredores, assustados. Vários estavam no saguão do castelo, alguns chorando, buscando consolo em abraços amigos. As portas da frente haviam sido arrombadas e havia sangue manchando o chão. Os rubis da ampulheta que marcava os pontos da Grifinória estavam caindo no chão, parecendo gotículas de sangue. Não conseguia enxergar mais Snape, Potter e os outros. Diminuiu o passo ao chegar na soleira, sentindo que não adiantava de nada continuar correndo.


A visão do lado de fora não ajudava a melhorar o animo. A cabana de Hagrid, ao longe, era envolta por uma grande nuvem de fumaça. No pé da torre de Astronomia, uma pequena multidão se reunia numa espécie de circulo. Sentindo-se exausto pela correria, sentou-se nos degraus.


—O que está acontecendo? —Murmurou alguém ao seu lado. Virou o olhar e encarou Ashley, que usava um roupão de seda verde. Seus cabelos sempre lisos caiam de qualquer maneira por sobre seus ombros.


—Comensais da Morte em Hogwarts. —Respondeu Pedro, passando a mão pelo rosto. Só então notou que havia ralado a palma da mão na queda.


Mon Dieu! —Exclamou Ashley, levando a mão até a boca. Sentou-se ao lado do amigo, olhando horrorizada para a coluna de fumaça que erguia-se do que restou da cabana de Hagrid. —Eu sentei sair quando recebi sua mensagem, mas Crabbe e Goyle estavam bloqueando a saída. Eles são burros, mas são resistentes! Só agora consegui deixar-los desacordados.


Pedro olhou para ela por um instante, antes de voltar a olhar para os jardins. Via ao longe o vulto enorme de Hagrid ao lado de alguém – que ele suspeitava ser Harry – aproximar-se do aglomerado que se formava aos pés da Torre de Astronomia. Olhou para o lado à tempo de ver Amanda e Chapolim se aproximando. O ruivo tinha o rosto molhado de lagrimas e não fazia esforço para esconder isso. Amanda também chorava, mas de uma forma mais contida.


—O que aconteceu? —Perguntou Ashley com um tom de voz preocupado.


—Como chegaram aqui antes de mim? —Murmurou Pedro, com um ar curioso.


—Nos livramos rápido do comensal e descemos para chegar ao Snape. Quando chegamos aqui, ele já tinha sumido e aquele maldito comensal loiro já tinha colocado fogo na cabana do Hagrid. —Murmurou Amanda, tentando manter-se impassível, mas havia um ligeiro tremor em sua voz.


—Isso é horrível. —Murmurou Ashley, cobrindo o rosto com as mãos.


—Eu não consigo entender. —Murmurou Pedro, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e o queixo nas mãos. —Comensais invadindo Hogwarts, pessoas sendo atacadas...e onde está o prof. Dumbledore? Se ele tivesse lutado ao nosso lado, teria sido mais fa...


—Dumbledore está morto. —Murmurou Chapolim, a voz saindo fraca e dolorosa.


O silêncio que apoderou-se do grupo parecia solido. Nem a zoeira ao redor parecia quebrar aquele escudo impenetrável que havia caído sobre eles. Ashley ergueu o olhar atônito para o ruivo, enquanto Pedro encarava o amigo, ainda com a boca aberta, o restante da frase entalado em sua garganta. Por fim, quando o escudo foi lentamente se abaixando e os sons ao redor voltaram a rugir em seus ouvidos, foi que conseguiu falar.


—O que você disse? —Perguntou Pedro. Chapolim abaixou o olhar e sentou-se na grama, abraçando os joelhos com força. Amanda abaixou-se ao lado do namorado, encostando a cabeça na dele. Pode ver que ambos chorava muito. Ele mesmo já sentia os olhos arderem e a vista marejar.


—Dumbledore...está...morto. —Repetiu Chapolim, dessa vez entre fortes tremedeiras e soluços.


—O corpo dele está jogado no pé da Torre de Astronomia. —Murmurou Amanda, a voz visivelmente controlada. —Não sei como ou...quem...mas Dumbledore está morto...


 


Afastou a mão da frente dos olhos e deixou o olhar vagar por seu apartamento, sem realmente fixar-se em nada. A ultima frase de sua amiga ainda soava em seus ouvidos. Dumbledore está morto.


Mesmo após os funerais, ele ainda não conseguia acreditar que Dumbledore havia morrido. Para ele, tudo não passava de uma grande piada do diretor e que, no inicio do próximo semestre, o velho diretor estaria no mesmo lugar de antes, com os braços abertos, esperando por eles.


Não...Dumbledore está morto... insistia em dizer aquela voz venenosa que sussurrava em seus ouvidos, fazendo seu sangue gelar. Fechou as mãos com força e abaixou um pouco o rosto, tentando controlar as lagrimas que ameaçavam cair.


Se Dumbledore estava morto, como seria o próximo semestre? Chapolim estava certo. Não era apenas a falta que Dumbledore fazia por sua presença, sua alegria e seu companheirismo. Dumbledore era o único a quem Voldemort tinha medo. Agora sem ele ali, Voldemort não tinha um adversário à altura. Não tinha quem pudesse fazer-lo recuar.


O rufar de asas de sua coruja chamou sua atenção. Esticou o braço para que ela pudesse se empoleirar. Trazia no bico o exemplar mais recente do Profeta Diário.


—É, Chronus. —Disse Pedro, pegando do bico do passado o jornal. —A coisa não tá nada boa para o nosso lado.


A coruja piou baixinho e abriu as asas novamente, erguendo vôo e planando até sua gaiola, onde ficou empoleirada, cutucando alguns restos de comida que estavam no chão. Pedro abriu o jornal e deu uma olhada na primeira página. Era como ele esperava. A noticia mais divulgada era a morte do diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore. A reportagem seguia nas paginas dois e três e havia uma crônica especial na pagina dez, escrita por Elphias Doge.


Não teve coragem de ler o artigo todo. Fechou o jornal num gesto simples e colocou-o novamente sobre a mesa.Ficou olhando a foto do sorridente velho de longas barbas prateadas e oclinhos em forma de meia-lua que piscava alegremente para ele, ali, na foto de capa do Profeta Diário. Abaixou a cabeça e escondeu o rosto entre as mãos, fazendo o que não fazia desde a morte de seus pais.


—Pai nosso que estás no céu...

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