Único

Quando o segundo sol chegar
Para realinhar as órbitas
Dos planetas
Derrubando
Com assombro exemplar
O que os astrônomos diriam
Se tratar de um outro cometa...

 

            Nas quartas-feiras, o intervalo entre as aulas de Transfiguração e História da Magia durava exatamente 15 minutos, nem um segundo a mais. Harry e Rony sempre falando em quadribol, ocupados demais com o jogo favorito, não notariam a impaciência que dominava meus atos. Eu fingia caminhar mais devagar enquanto passávamos pelo jardim, por estar lendo algum livro gigantesco ou qualquer coisa parecida, entretanto não era nada disso! Aos 6 minutos do intervalo, o meu mundo era agraciado com um Segundo Sol, ele caminhava pelo jardim em direção a mesma aula que eu. Durante noventa segundos ou menos, todo o rancor, desprezo e ódio que eu sentia eram ofuscados por seu brilho. Continuava sendo meu inimigo, slythterin, puro-sangue, Malfoy, contudo, o calor que irradiava de seu sorriso sarcástico me aquecia, era meu Sol particular, todos os meus planetas se realinhavam, tornando meu dia o exemplo da perfeição. Tudo ficava mais calmo dentro de mim e assim eu seria capaz de agüentar mais uma semana. Suportaria as crises de heroísmo do Harry, o fardo que ele dividia comigo na tentativa de acabar com Voldemort, o desleixo de Rony, a guerra que estava por vir, as mortes, as pequenas vitórias. Eu era o apoio, a melhor amiga e “irmã” do menino-que-sobreviveu, enquanto eu estivesse bem para segurar sua mão, ele estaria forte para seguir sua missão.   

 

 

Eu só queria te contar
Que eu fui lá fora
E vi dois sóis num dia
E a vida que ardia
Sem explicação...

 

 

            Na terceira quarta-feira, após o solstício de verão, o calor castigava os terrenos de Hogwarts, eu me arrastava tentando atravessar o jardim, sozinha, praticamente um milagre, aguardando vê-lo novamente, sua presença enchia minha vida de esperança, pelo menos durante aquele tempo. E foi naquela tarde escaldante, que senti alguém me puxando, jurei que fosse Harry.

Então aconteceu.

Dois Sóis brilharam com intensidade em meu campo de visão, pude sentir a pele exposta pela camisa do uniforme entreaberta, queimando pelo primeiro Sol e o rude toque dos lábios do meu Segundo Sol.

Os lábios não eram gelados como as mãos em minha cintura, pelo contrário, ardia de desejo sobre os meus, como se quisessem comprovar a compatibilidade que ignorávamos. Senti em meio ao acontecido os dentes dele afundarem em meu lábio inferior, mas a dor não veio, e ele provava o sangue que sempre repudiou... Antes do fim, senti meu corpo tremular sobre o dele. E o beijo durou cerca noventa segundos, começou e terminou...

- Pensou que eu nunca notaria Granger? Não tente ler algum livro para tentar desvendar, é perda de tempo! O interesse mútuo por inimigos não está nos livros, é totalmente irracional, sem explicação!

Explicação, não tem
Não tem explicação
Explicação, não tem
Explicação, não tem
Não tem!!

 

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