A Ovelha negra dos Goudin's
Ele continuou encarando a bacia repleta de pensamentos, quem seria Patrick Goudin? Será que ainda estava vivo, seria aquele bilhete muito antigo? Aliás... Alvo já tinha ouvido esse sobrenome, Goudin... Era alguém próximo, o garoto tinha certeza disso, mas não conseguia lembrar exatamente de quem se tratava.
_Se eu não estou enganado, a cabeça de fogo disse para você não demorar aqui _ disse Doni.
_Quem é cabeça de fogo? _ perguntou Alvo.
_Sua mamãe.
_Você adora um apelido, não é mesmo? _disse Alvo irritado _ Escute Doni, eu preciso de um favor seu.
_O que é? _ perguntou o garoto desconfiado _ Você não vai se meter em encrenca de novo, vai?
_Bem...
_Eu sabia! Você já pensou em fazer um seguro de vida mudinho? Um para você e outro pra mim, que vivo te salvando!
_Mas dessa vez você não vai poder vir comigo Doni.
_Porque não?
_Porque você precisa fingir que é eu.
_Fingir que sou você?! Prefiro a morte!
_Eu não tenho tempo para brincadeiras Doni, o plano é o seguinte: Eu vou ficar fora um tempo, você fica aqui no quarto e quando alguém bater na porta, você tenta imitar a minha voz e diz que está no banheiro e que já vai sair.
_Esse é o pior plano que eu já ouvi na vida!
_Você tem alguma idéia melhor? Logo alguém vai vir aqui.
_Para onde você vai?
_Para dentro da penseira.
_Dentro daquela bacia?! Você deve ter batido a cabeça.
_Muito bem, eu conto com você, daqui a pouco eu volto!
_Espere...
Mas Alvo não esperou mais nada, virou-se para o guarda-roupa e enfiou a cabeça no espelho de pensamentos da penseira.
Foi uma sensação muito estranha, seu corpo inteiro foi sugado para dentro do objeto e ele caiu como se estivesse no teto de um cômodo, quando olhou em volta percebeu que se tratava do mesmo quarto que ele estivera a pouco conversando com Doni, ele estava totalmente idêntico, todos os objetos estavam no mesmo lugar que estavam no presente, seria aquela lembrança recente? Quando olhou tudo com mais atenção Alvo se assustou ao perceber que havia alguém na cama, estava tão imóvel e camuflado nos cobertores que havia passado despercebido ao primeiro exame do garoto. Quem estava deitado era um garoto, não devia ser muito mais novo do que Alvo, mas estava com uma aparência terrível: Seu rosto estava cadavérico, com profundas olheiras negras e seus olhos pareciam sem vida; o suor escorria de seu rosto que parecia ser feito de cera; chegando mais perto Alvo pode ouvir que o garoto murmurava frases sem sentido:
_Mãe... O espelho... Tudo acabou... Mãe...
De repente a porta do quarto se abriu, um homem muito alto e forte entrou no quarto, ele estava com uma expressão doentia, seus olhos vidrados não pareciam focar em nada especificamente, enquanto isso um sorriso torto o deixava com uma aparência ainda mais bizarra.
_Você ainda está deitado aí?! _Disse o homem. O garoto lentamente foi voltando a si.
_O que você quer aqui? Deixe-me em paz!
_Ora Patrick, você não devia falar assim com seu pai! _ disse o homem gargalhando enquanto seus olhos reviravam nas órbitas.
_Meu pai?! Você não é meu pai! Você é um demônio!
_E porque você acha isso? _ perguntou o homem que agora girava a cabeça em 360 graus.
_Você matou minha mãe seu desgraçado!
Quando ouviu isso o homem parou de girar o pescoço e seus olhos fixaram o garoto, mesmo sabendo que aquilo era apenas uma lembrança, Alvo realmente sentiu medo da expressão sanguinária que se apoderou do rosto dele.
_Sua mãe! Você ainda está sentindo falta daquela escória! Aquela mulher inútil e imunda?!
_CALE A BOCA! _ gritou o garoto com uma voz medonha, gutural, como se ele tivesse usando o resto de suas forças naquele grito.
_VOCÊ PRECISA APRENDER A ME RESPEITAR! _ berrou o homem descontrolado _ POR BEM OU POR MAL! _ ele foi até a cama e agarrou o pescoço do garoto, apertou-o até suas mãos ficarem brancas; o garoto estava quase perdendo a consciência, vomitava sangue convulsivamente no rosto do seu possível pai que finalmente o soltou. O garoto ficou tossindo por longos minutos, enquanto o homem o olhava satisfeito.
_Espero que você tenha aprendido a lição, mas só por garantia... Vou trazer um amigo para conversar com você...
_NÃO! POR FAVOR!
Mas o homem já havia aberto a porta do quarto e Alvo viu um vulto gigantesco entrando no quarto, o garoto continuava gritando desesperado enquanto o homem gargalhava medonhamente...
De repente tudo ficou negro na frente de Alvo, o garoto demorou para entender o que estava acontecendo, finalmente ele percebeu a lembrança havia acabado e outra já estava começando. Ele agora estava num corredor escuro, ele forçou a vista para conseguir enxergar uma silhueta raquítica a sua frente, Patrick Goudin estava de pé escorado na parede, sua respiração estava asmática, mas o garoto fazia esforço para não fazer barulho. Alvo percebeu que ele estava tentando escutar a conversa que acontecia na sala a frente, ele logo conseguiu discernir a voz do pai do garoto:
_E então Tarank? Você descobriu como fazer?
_Sim Gottard _ respondeu o outro homem com uma voz muito rouca e profunda _ você vai conseguir o que quer.
_Excelente! Eu sabia que podia contar com você.
_Bem... Você conhece meus métodos de trabalho...
_É claro, o que você vai querer em troca?
_No tempo certo eu direi.
_Certo. Então meu filho vai mesmo para Sonserina?
_Sim, o chapéu seletor não será mais problema, eu descobri como engana-lo.
_Fico muito feliz em saber isso, eu tinha certeza que a vergonha de meu filho nunca iria para Sonserina sem uma pequena ajuda...
A lembrança mudou novamente, Alvo se viu agora num cômodo que claramente era em Hogwarts, devido ao clima sombrio, a iluminação esverdeada e a falta de janelas, Alvo logo deduziu que estava na sala comunal de Sonserina, Patrick Goudin estava sentado em uma poltrona a sua frente, havia recuperado um pouco de cor no rosto, mas seu corpo parecia tão frágil como nas lembranças anteriores.
_Olá! Posso me sentar aqui? _ disse um garoto alto de belos olhos verdes e cabelos castanhos indicando a poltrona ao lado da de Patrick.
_Tudo bem.
_A propósito, eu sou Benjamin Shuler.
_Patrick Goudin.
_Muito prazer Patrick... Você não parece muito feliz.
_Não é nada de importante...
_Você não queria vir para Sonserina, não é mesmo? _ disse Benjamin com um olhar penetrante _ Vamos lá, pode falar! Eu também não estou muito satisfeito.
_Não está?
_Não. Minha família inteira é de Corvinal. E a sua?
_Sonserina _ disse Patrick olhando para o chão.
_Mas você é diferente _ Patrick percebeu que não era uma pergunta _ escute: Estar em Sonserina não significa nada.
_Como assim?
_Não interessa a casa em que estamos; nós podemos fazer o que quisermos...
A cena mudou novamente, dessa vez eles estavam no fundo da classe de poções, Benjamin e Patrick que pareciam uns dois anos mais velhos estavam conversando em meio a fumaça azul que subia dos caldeirões.
_Eu posso contar com você Patrick?
_Eu não sei Ben...
_Vamos lá! Você não confia mais em mim?
_Eu acho que você não devia ter se metido com esse Tarank, eu conheço esse... Essa “coisa”, ele é perigoso!
_Foi necessário! Mas você sabe que eu estou bem intencionado e além do mais eu não estou sozinho nisso!
_Eu sei...
_Até mesmo dois membros de Grifinória, a casa que você tanto adora, estão comigo!
_Mas...
_Nós precisamos de sua ajuda Patrick. Eu preciso de você!
Patrick encarou os olhos fixos e determinados do amigo, ele ficou indeciso, parecia estar passando por um grande conflito interno.
_Tudo bem _ disse Patrick resignado _ eu vou ajudar.
_Que ótimo! Eu sabia que podia contar com você!
Houve mais uma mudança de cena, Alvo se perguntava se aquilo ainda iria demorar muito, mas nem pensava em abandonar a aventura agora, estava muito curioso para saber como iria terminar.
Ele agora foi parar num cômodo que lembrava a sala comunal de Sonserina que ele tinha visto a pouco, mas o lugar estava muito diferente...
_Ben! O que foi que você fez?! _ perguntou Patrick que parecia tão desesperado quanto na primeira visão que Alvo teve dele.
_O que foi Patrick? Você não gosta mais de mim?
_Ben... Veja o que aconteceu com você? _ Patrick deu um passo para trás de repulsa e tropeçou em um dos muitos corpos em decomposição que estavam no lugar.
_Você está com medo, Patrick? _ disse Bem se aproximando alguns passos _ Você sabe o que vai acontecer comigo?
_Sim. Você vai morrer!
Benjamin gargalhou demoradamente, uma gargalhada muito parecida com a que o pai de Patrick costumava soltar.
_Você está muito enganado...
Patrick estava agora de volta a sua casa, seu rosto parecia envelhecido, duro feito pedra, incapaz de um sorriso, ele parecia alguém muito mais forte do que era no passado.
Ele caminhou pelo corredor principal e abriu a última porta com um pontapé.
_Olá papai! _ disse ele para Gottard que estava sentado na cama com um livro nas mãos.
_Patrick? _ disse o homem assustado largando o livro sobre uma mesa de canto _ O que aconteceu com você? Eu tenho ouvido certas coisas...
_Nada demais... Eu apenas comecei a seguir seu conselho meu querido pai.
_Que conselho?
_Que às vezes a força bruta é necessária para alcançar os objetivos... CRUCIO!
O velho se contorceu de dor o que parecia deixar Patrick cada vez mais feliz.
_ISSO É PELA MINHA MÃE SEU DESGRAÇADO!
_MUITO BEM! VOCÊ APRENDEU A SER HOMEM NÃO É MESMO?! ENTÃO ME MATE LOGO!
_Eu não vou fazer isso... Vou deixar você morrer pelas mãos do que você mesmo criou. Adeus papai.
Ele deixou o quarto e Alvo o acompanhou, não antes de dar uma olhada no livro que Gottard estava lembro, com espanto Alvo viu que se tratava de um certo livro de capa negra que ele conhecia muito bem...
Patrick desceu as escadas e deu de cara com um homem... Se é que se podia chamar ele assim. A criatura tinha cabeça, braços e tronco de humano, mas sua pele era verde, coberto de feridas e calombos, dois chifres saíam de sua testa e suas pernas eram como de touros.
_Olá Patrick _ disse a criatura com sua voz profunda e gutural.
_Olá Tarank.
_Você está diferente garoto.
_Você continua horrível como sempre.
_E então? Conte-me como foi a aventura de construir o Tirante de Gáia?
_Não terminou nada bem, sabe? Principalmente para seu amiguinho Bem.
_Ah! Agora eu entendo tudo, eu já sei o que fez você mudar... Foi ciúme, ciúme de Bem, você o amava não é mesmo?
_Eu adoraria ficar aqui discutindo isso com você a noite inteira, mas tenho coisas mais importantes a tratar _ completou Patrick indo na direção da porta.
_Não tão rápido _ disse Gottard, ele fez um movimento com a mão e a sala ficou infestada por uma espécie de “cipó” que Alvo não tinha boas lembranças.
_Você acha que isso vai me deter? _ perguntou Patrick explodindo metade da sala com um único aceno de varinha.
Alvo foi parar dessa vez no lado de fora de uma pequena casa com uma chaminé que soltava uma fumaça espessa... Ele conhecia aquele lugar, era a casa em que ele havia encontrado a Chave de Gáia. Patrick abriu a porta da frente e caminhou até o segundo andar, foi até a primeira porta à esquerda e entrou num cômodo minúsculo, havia apenas uma cama de armar e um baú, Patrick abriu o baú, guardou uma pequena caixa dentro dele e seu virou.
_Você quer isso, não é garoto?
Alvo olhou em volta procurando a pessoa com quem ele estava falando... Não havia ninguém...
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