O Calabouço Das Cinco Voltas
Existem muitos fatores capazes de mexer com a mente humana e altera-la de seu estado normal. Obladi Prudence, grande filósofo bruxo, dissera certa vez: “O amor é o mais forte dos encantamentos, pois não precisa de uma varinha e não existe contra-feitiço”. Outros grandes sábios, diriam que a busca pela riqueza poderia levar o homem a cometer qualquer ato, por mais insano que este pudesse parecer; amor... dinheiro... talvez sejam os dois maiores combustíveis da locomotiva da vida humana, mas quem estivesse em Hogwarts naquela manhã chuvosa de outubro, teria uma visão diferente das coisas.
Todos pareciam respirar quadribol, o lugar parecia prestes a presenciar uma revolução, dada à densa atmosfera do pré-jogo. Desde as primeiras horas da manhã, cornetas, gritos de guerra, manifestações entusiasmadas; eram vistas em todos os corredores e passagens de Hogwarts. Era difícil acreditar que naquela mesma hora, um dia antes, alunos com seus uniformes negros caminhavam serenamente para suas aulas matutinas. O preto já não existia mais, cada aluno trajava as cores de suas respectivas casas, juntamente com os mais extravagantes adereços: broxes que berravam a plenos pulmões, chapéus com mais de um metro de diâmetro e até animais empalhados representando os mascotes das casas com extrema fidelidade.
Todos pareciam ensandecidos pelo quadribol, bem... quase todos.
Um certo garoto magricela, com cabelos pretos e olhos verdes parecia alheio a tudo aquilo. Há alguns dias atrás _ mesmo não sendo um dos maiores admiradores do esporte _ aquele garoto poderia estar também interessado pela partida, mas naquele dia, Alvo Severo Potter tinha outra coisa na cabeça.
Ele estava na mesa de Grifinória na hora do café da manhã junto com os outros alunos, mas parecia distante de todo o movimento que o cercava. O time da casa havia acabado de aparecer e havia sido ovacionado pelos colegas, até mesmo a rixa com Scorpio Malfoy parecia ter sido esquecida, todos queriam apenas uma coisa: a vitória contra Lufa-Lufa.
Alvo percebeu que Scorpio parecia tão nervoso quanto alguém que estava sendo mandado para a forca, o capitão, James Fink, conversava com ele ao pé do ouvido, provavelmente dando-lhe conselhos de última hora.
_Olá, Alvo! _ disse sua prima Dominique que acabara de sentar ao seu lado usando uma espalhafatosa bandeira de Grifinória como camisa _ animado com a partida?
_Hum... é claro!
_Eu também! O castelo está uma loucura! Nunca vi um clima parecido. Molly me disse que esse é o melhor time de Grifinória em muitos anos, então todo mundo muito animado!
_Hum... que bom!
_Você está bem?
_Sim... só um pouco nervoso.
_Sei... _ disse a garota olhando desconfiada para o primo.
Alvo não havia pensado nesse detalhe, como iria despistar os colegas para conseguir esperar o Prof. Dumbledore do saguão de entrada? Certamente pareceria muito suspeito se ele parasse ali e como os alunos não tinham permissão para andar sozinhos pelo castelo...
_VIVA LUFA-LUFA! _ Gritou em coro uma turma de Sonserina que obviamente estava torcendo contra Grifinória. Eles eram liderados por Malwilly, o garoto de cara achatada de quem Alvo não gostava nem um pouco. Alguém no grupo estourou uma “bombinha” que mais pareceu uma bala de canhão, várias pessoas caíram de seus assentos e a prof. Minerva descontou tantos pontos de Sonserina quantos conseguiu pronunciar.
_Ei Malfoy! Você está preparado para passar vergonha na frente da escola inteira? _ disse Malwilly acompanhado de efusivas gargalhadas dos sonserinos. _ Grifinória realmente chegou ao fundo do poço! Precisou apelar para os restos de Sonserina!
Alvo notou que Scorpio parecia abatido com as críticas, mas James Fink não parecia alguém que ia deixar aquilo barato. Num momento Alvo viu o garoto agarrando seu prato de mingau e no instante seguinte o prato estava na cabeça de Malwilly, a partir daí a confusão foi generalizada. Comida voava de todos os lados enquanto a Prof. Minerva berrava tentando por ordem no lugar, era impossível ouvi-la, o salão principal mais parecia um campo de guerra. De repente, aquilo deu uma idéia a Alvo. Ninguém notou quando o garoto foi saindo de fininho do salão principal, aquele era o momento perfeito para esperar o Prof. Dumbledore sem chamar atenção, já que aquela confusão ainda iria longe.
Ele chegou ao saguão de entrada e logo em seguida o professor apareceu.
_Bela presença de espírito, Alvo! _ declarou Dumbledore _ Agora que já despistamos o resto da escola, é chegado o momento de cumprir nossa missão.
Alvo sentiu um arrepio percorrer seu corpo...
_Professor? _ disse Alvo enquanto eles subiam por uma escadaria íngreme que levava ao terceiro andar.
_Sim, Alvo?
_Nós vamos voltar a ala sul do sétimo andar?
_Hum... porque você acha isso?
_Bem, foi lá que nós vimos aquele redemoinho.
_Entendo. Mas nosso trabalho hoje não tem nada haver com aquilo.
_Não? Aonde vamos então, professor?
_Hogwarts é um lugar fascinante, Alvo. Ninguém, por mais tempo que tenha passado aqui conhece todas as suas passagens.
Se aquilo havia sido uma resposta, Alvo continuava tão ignorante quanto antes.
_Vejo que você continua curioso _ disse o professor _ hoje nós iremos encontrar o Gerard.
_Quem é Gerard, professor?
_Ora Alvo! O Gerard é o Gerard. E ele tem algo que nos interessa.
_O que é senhor?
_Como eu disse antes, ninguém conhece todas as passagens de Hogwarts e eu acho que quem está ameaçando a segurança do castelo, descobriu um lugar muito peculiar e para que possamos impedi-los precisamos entrar nesse lugar, é aí que entra Gerard.
_Porque, senhor?
_Porque Gerard tem a chave.
_E ele vai nos entregar, professor?
_Eu não creio que será tão simples.
Eles continuaram andando até chegar num corredor muito sujo que Alvo nunca vira antes, um velho tapete puído estava cobrindo o chão, Dumbledore levantou o tapete e Alvo pode ver um alçapão.
_Chegamos, Alvo.
_Aonde, senhor?
_No alçapão das cinco voltas.
_Gerard está aí dentro?
_Eu tenho esperanças que sim.
_Há quanto tempo ele está aí, professor?
_Essa pergunta eu infelizmente não sei a resposta.
Dumbledore sacou a varinha e a apontou para o cadeado, a fechadura começou a rodar como se uma chave invisível estivesse no lugar, ela deu uma, duas, três, quatro voltas e parou. Dumbledore pareceu levemente surpreso, encarou o alçapão por algum tempo e finalmente declarou:
_Hum... é claro... é a sua vez, Alvo.
_Minha vez?!
_Sim, aponte sua varinha para o cadeado.
O garoto fez isso e no instante seguinte, a fechadura deu mais uma volta.
_Excelente! _ disse o professor _ Agora nós podemos entrar.
Dumbledore levantou o alçapão e a visão eles tiveram fez Alvo abafar um grito. Ele esperava ver uma passagem vertical, já que o alçapão estava no chão do corredor, mas olhando para a sala que estava do outro lado era como se o alçapão estivesse na parede, de um lado o alçapão estava no chão, do outro estava na lateral.
Eles atravessaram a passagem bizarra e Alvo se sentiu zonzo, como se seu corpo estivesse se acostumando a nova gravidade.
Aquele era o lugar mais estranho que Alvo já estivera, tudo parecia muito desproporcional, como se a sala estivesse sendo vista através de um jogo de espelhos, haviam cadeiras com do tamanho de patas de grilo, enquanto seu assento era do tamanho de um capô de carro; flores triangulares postas em vasos que iam se afunilando até ficar da largura de uma agulha e até mesas gigantescas com as pernas apoiadas em aparentes frágeis taças de cristal.
_Como o senhor descobriu este lugar? _ perguntou Alvo que parecia atordoado com tudo que estava vendo.
_Há muitos anos eu venho pesquisando os mistérios de Hogwarts.
_Alguém já esteve aqui, senhor?
_Sim, Alvo. Infelizmente para nós. Agora precisamos encontrar Gerard.
_O senhor tem idéia de onde ele está?
_Ainda não. Olhe dentro daquelas xícaras, por favor.
_Ele é tão pequeno assim?!
_Esqueça todos os conceitos de tamanho e proporção que você conhece Alvo. Este é um lugar diferente.
Alvo então começou a procurar em todos os lugares, por mais absurdo que fosse. Ele olhou as xícaras, balançou guardanapos, até que abriu um saleiro e foi sugado para dentro dele! Já estava com mais de metade do corpo dentro do objeto quando o professor o salvou.
_Tome cuidado Alvo!
O garoto estava lívido, mal conseguia balbuciar uma palavra.
_Isso vai ser mais difícil do que eu pensei _ disse Dumbledore _ nós vamos precisar ir em frente.
O que o professor queria dizer com isso Alvo não sabia e a verdade é que estava assustado demais para perguntar.
_Venha comigo Alvo. E fique atento!
Eles continuaram caminhando em direção a outra extremidade da sala. Alvo achou incrível que apesar do cômodo parecer pequeno, eles estavam demorando uma eternidade para alcançar o outro lado, parecia que quanto mais andavam mais distantes estavam do final.
_Como esse lugar pode ser... assim, professor?
_Existem muitos tipos de magias, Alvo. Magias antigas, que nem sonhamos que existam, muita coisa foi perdida durante os séculos.
_Mas existe um motivo para esse lugar ser assim?
_O que é a realidade, Alvo? O que parece certo para nós pode ser estranho para outra pessoa, isso tudo é muito relativo.
Alvo não havia entendido muito bem a explicação, mas se calou porque eles finalmente chegaram ao final. Naquela parede havia um minúsculo ponto brilhante, algo do tamanho da cabeça de uma agulha.
_Nós precisamos entrar aqui, Alvo.
Isso não surpreendeu o garoto, certamente aquilo poderia ser uma idéia perfeitamente normal naquele lugar.
_Segure minha mão, vamos atravessar juntos.
Dumbledore encostou a cabeça próximo ao ponto de luz e Alvo entendeu que deveria fazer o mesmo, antes que percebessem como, eles haviam atravessado a passagem e se viram aos pés de uma imponente escadaria de mármore que subia até perder de vista.
Eles começaram a subir, mas Alvo teve a sensação de que estava descendo.
_Daqui pra frente, Alvo, nós precisamos... ABAIXE-SE!
Alvo apenas sentiu algo lhe raspando a cabeça e em seguida viu Dumbledore disparando feitiços para todos os lados, um enxame de criaturas voadoras atacava ferozmente o professor, criaturas estranhas... elas lembravam muito garfos com asas.
_Nada gentil _ disse Dumbledore quando eliminou todos os inimigos _ eu realmente não esperava esse tipo de recepção... Vamos em frente, Alvo, não pode faltar muito agora.
Eles continuaram “descendo” escada acima até que se depararam com uma gigantesca porta de carvalho, ela tinha dezenas de figuras geométricas aparentemente desenhadas por um artista sem talento.
_E agora, professor?
_Precisamos entrar.
_O senhor acha que ela está aberta?
_Se assim o fosse, onde estaria a diversão? _ disse Dumbledore com uma piscadela _ Mas eu vou arriscar.
Dumbledore avançou até a porta.
_Alorromora! _ aparentemente o feitiço de destrancar portas não surtiu efeito, pois ela continuou da mesma forma que estava antes. De repente se ouviu um som muito distante que vagarosamente foi se aproximando, lembrava o barulho de engrenagens trabalhando, o som foi aumentando, aumentando, até ficar quase ensurdecedor, Alvo tampou os ouvidos com toda força, mas não adiantava, ele achava que sua cabeça ia explodir... E finalmente tudo parou.
_O que vocês desejam, intrusos? _ disse uma voz grave que aparentemente vinha de lugar nenhum.
_Nós queremos ver Gerard. _ disse Dumbledore.
_O que?! _ disse a voz como se alguém tivesse proferido uma grande ofensa _ Ninguém pode ver Gerard!
_Pois eu tenho algo que lhe interessa!
_E o que seria isso?
_Só direi a Gerard em pessoa.
Houve um instante de silêncio.
_Muito bem! Para entrar você precisam responder uma charada!
Alvo se sentiu aliviado, ele sabia que o professor era muito bom com esse tipo de coisa.
_Se acertarem entram _ continuou a voz _ mas se errarem, terão uma morte terrível! _ Alvo não ficou nada satisfeito _ Querem arriscar?
_Sim _ respondeu Dumbledore com simplicidade.
_Vamos lá: Você tem dois vasos e eu lhe dou mais dois, com quantos vasos você fica?
Essa era a charada?! Alvo teve vontade de rir, ele mesmo poderia ter respondido a pergunta com facilidade, ele olhou para o professor esperando encontrar um sorriso, mas para sua surpresa Dumbledore parecia preocupado, andou de um lado para o outro por vários minutos, às vezes resmungava sozinho e finalmente seus olhos brilharam de satisfação.
_Depende! _ respondeu o professor como quem descobre a formula da Pedra Filosofal.
_Depende do quê?! _ disse a voz misteriosa com ar de surpresa.
_Da distancia que o Tirante de Gáia está dos vasos.
_Correto! _ disse a porta para o espanto de Alvo.
_Podemos entrar agora? _ disse Dumbledore.
_Sim. Como prometido, vocês poderão ver Gerard.
Com um barulho monstruoso, como o de um casco de navio se partindo, a porta se abriu. Se Alvo achava a sala anterior surpreendente, ele não estava preparado para o que vinha a seguir...
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