A carta
A carta
Hermione largou o livro sobre a mesa de canto e foi até a janela, onde uma pequena coruja parecia esperá-la impaciente.
Reconheceu a coruja, era de Harry, Gina havia dado a ele em seu aniversário de 19 anos. Abriu a carta despreocupadamente, mas enquanto seus olhos percorriam o pergaminho, tudo começou a ficar vazio, escuro e frio... Sentiu-se tonta...febril, e precisou apoiar-se na mesa de jantar para não desabar.
Desorientada, subiu as escadas sentindo seu coração cada vez mais apertado, já não podia conter as lágrimas que manchavam seu rosto. Não podia acreditar, não podia ser verdade, simplesmente não podia!
Abriu o armário, tentando controlar os soluços que escapavam em meio ao seu choro descontrolado.
Achou a caixa redonda forrada de veludo e a apertou contra o peito, como se o objeto pudesse reconfortá-la. Ficou com a caixa nas mãos por um tempo, imóvel, enquanto as lágrimas caíam copiosamente.
Em seguida, sem forças, deixou-se desabar no chão, abraçando as próprias pernas, tentando reconfortar a si mesma, sentindo todas as suas forças a abandonarem, e chorou sem reservas...
Depois do que pareceram horas, Hermione ergueu a cabeça que estava apoiada em suas pernas e puxou a caixa que permanecia esquecida ao seu lado para mais perto.
Espalhou as fotos pelo chão do quarto, sentindo mais uma vez aquele nó apertar sua garganta de forma dolorosa.
Eram fotos antigas, em que ela sorria e acenava, fotos de um tempo feliz que não voltaria nunca mais. Fotos dela, Harry, Gina e Rony. Tinham ali também algumas fotos do casamento de Harry e Gina. Os amigos haviam se casado há um ano e alguns meses, mas lhe pareceu que aquele momento havia acontecido há muitos e muitos anos.
Se permitiu sorrir ao notar que Harry tinha conseguido domar os cabelos. Gina estava deslumbrante, o vestido era adornado com pequenos brilhantes transparentes, quase invisíveis, os cabelos ruivos tinham belos cachos nas pontas, e a tiara de rubis contrastava lindamente com o vermelho intenso de suas madeixas.
Desviou os olhos e deparou-se com uma foto tirada na Toca, no natal subseqüente ao fim da guerra contra Voldemort.
Rony a envolvia possessivamente pela cintura e os dois sorriam verdadeiramente felizes. Passou os dedos pelo rosto do ruivo, os olhos dele brilhavam, estavam de um azul cobalto tão intenso. Outro soluço escapou, sem que ela pudesse contê-lo.
Limpou as lágrimas que escorriam novamente pelo seu rosto e andou debilmente até o banheiro.
A imagem no espelho lhe causou piedade. Estava com os olhos inchados, os cabelos bagunçados. A dor que via no próprio reflexo era quase palpável. Lavou o rosto e voltou para a sala da sua casa. Era tarde, o céu já estava escuro.
De repente se deu conta de como era doloroso viver ali, sozinha! Ela tinha escolhido, tinha traçado seu próprio destino! Então, por que aquela estranha sensação de que tinha feito as escolhas erradas a atormentava agora?
Andou pelo cômodo, sentindo o estômago afundar a cada passo que dava. Maneou a cabeça e seus olhos encontraram a carta que Gina havia lhe enviado mais cedo, caída no chão, perto da mesa de jantar, pego-a e a leu novamente, como que para ter certeza de que era real.
Hermione,
Eu realmente não sei o que esta notícia vai significar para você, mas achei que deveria lhe contar antes que recebesse o convite.
Ronald vai casar. Ele disse que mandaria um convite, por isso resolvi escrever, pensei que talvez você fosse gostar ou preferir saber o quanto antes.
Meu irmão não parece realmente feliz, mas está impassível, não quer desistir da idéia de se casar com Lavander.
Espero que esteja tudo bem com você, e que não demore a aparecer, Harry e eu estamos com saudade.
Beijos,
Gina.
Ela suspirou longamente, largando a carta sobre a mesa de canto desolada.
Em que momento tudo havia ficado tão confuso, em que momento ela e Rony haviam se perdido um do outro?
Depois do primeiro beijo, intenso e apaixonado, que trocaram em meio aquela Guerra, ela teve certeza de que ficariam juntos para sempre. Por que não havia sido assim? Por que ela tinha que ser tão intransigente?
Desde que o namoro havia terminado, eles mantinham uma relação cheia de formalismos, em que tentavam ocultar a tensão, o amor e a paixão que nunca deixara de existir.
Quando ele voltou a namorar Lavander, ela teve certeza que havia sido apenas para magoá-la, afinal já tinha dado certo uma vez!
E Rony havia conseguido, fora extremamente doloroso vê-lo com aquela garota fútil e boba mais uma vez. No entanto, casamento era mais do que ela podia suportar...
“Por que Ronald, por quê?” Ela fungou alto, amaldiçoando-se por ainda amá-lo tanto.
Mas se as pessoas achavam que iam vê-la humilhada e triste, estavam muito enganadas, se Rony realmente a convidasse para aquele maldito casamento ela iria. Colocaria um belo vestido, forçaria um sorriso falsamente feliz e chegaria de cabeça erguida.
Mas quem ela queria enganar, afinal? O aperto em seu peito só fazia aumentar, e já sentia-se tonta de tanto chorar. Limpou mais algumas lágrimas que ainda insistiam em cair quando a campainha tocou.
Da forma mais digna que pôde se dirigiu até porta, passando as mãos nos olhos, tentando inutilmente disfarçar as lágrimas, e xingando baixinho quem quer que resolvera chegar naquela fatídica hora.
Sua surpresa foi tal, que não pôde refrear um gritinho baixo.
- Rony. – sua voz estava embargada e ela quis morrer.
- Er... oi. Posso entrar? – perguntou sem jeito, mãos no bolso, cabeça baixa.
Ela quis fechar a porta na cara dele ou então esmurrá-lo até vê-lo sangrar.
Mas ao invés disso, respirou fundo e apenas deu passagem para que ele pudesse entrar. Notou que ele parecia ainda mais bonito do que ela lembrava, os olhos estavam num azul claro, com alguns pontinhos mais escuros, os lábios vermelhos e carnudos, e os cabelos caindo displicentes sobre a testa. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Rony notou os olhos inchados e vermelhos dela, também não pôde deixar de reparar na voz chorosa. Queria dizer algo, mas achou que seria idiota perguntar se estava tudo bem. Era óbvio que nada estava bem!
- Senta, er... eu já volto. – Ela subiu as escadas depressa, precisava lavar o rosto, prender o cabelo e tentar acalmar seu coração que estava a ponto de saltar por sua garganta.
Entrou no banheiro e trancou a porta. Sentou no vaso e ficou ali sem saber o que fazer, tentando inutilmente normalizar sua respiração.
Há meses Rony não aparecia para visitá-la. Desde que haviam terminado o namoro ele não tinha mais ido ali. Certamente viera trazer o maldito convite.
.................
Rony mexia nervosamente nas mãos. Sentou no sofá e logo seus olhos encontraram o pergaminho sobre a mesa de canto. Não tinha o direito de ler, mas não foi capaz de refrear sua curiosidade.
Depois de algum tempo esperando, resolveu subir atrás dela. Precisava fazer Hermione entender seus motivos.
Entrou no quarto ao ver a porta apenas encostada. Seu coração deu solavanco. Há meses não entrava ali.
O quarto todo estava impregnado com o cheiro dela.
As fotos ainda estavam espalhadas pelo chão.
Rony abaixou-se e pegou uma em que ele e Hermione estavam um lado do outro, as mãos roçando timidamente uma na outra. Sorriu a lembrança daquele momento.
- Rony, o que você está fazendo aqui? – questionou irritada.
- Você estava demorando, e... er...
Hermione se aproximou, puxando a foto da mão dele de forma agressiva.
Seus olhos se encontraram, e Rony pôde ver a dor e a magoa nos olhos dela.
- Desculpa, eu não queria invadir seu quarto, nem....
- Tudo bem Ronald, fala logo por que você está aqui? – manter-se indiferente a presença dele e a tudo que estava sentindo tornava-se cada vez mais difícil. Tudo que queria era acabar logo com aquilo.
- Hermione... – ele se aproximou e seu braço roçou no dela, provocando um choque em ambos.
Ela tencionou se afastar, mas Rony foi mais rápido, a puxou pelo braço e a segurou firmemente pela cintura.
Os corpos se chocaram, e Hermione deixou escapar um suspiro de rendição, Rony não perdeu tempo e capturou os lábios dela num beijo cheio de saudade e paixão. Hermione queria resistir, queria afastá-lo, não era certo, Rony ia se casar, ele não tinha o direito de fazer aquilo com ela. Mas não foi capaz de afastá-lo, ao senti-lo invadir sua boca com a língua. Seus dedos se perderam nos cabelos ruivos, os bagunçando e fazendo Rony gemer dentro da sua boca.
Ela o empurrou, apenas quando o ar se fez absurdamente necessário, tentando recobrar sua razão.
- Não! Você não tem esse direito. – bradou humilhada, as malditas lágrimas já estavam ali, escorrendo pelo seu rosto, denunciando seus sentimentos.
- Hermione, escuta...
- Não, Rony, vai embora - virou-se de costas para ele, cruzando os braços firmemente.
- Hermione, eu não vou me casar - disse inesperadamente.
- E quem disse que me importo? – estava sendo patética, já deixara bem claro o quanto se importava.
Ele tentou segurá-la novamente, mas ela se afastou.
- Rony, por favor apenas vá embora.
- Não, eu vim aqui para dizer que ainda te amo e não vou embora até que você diga que não sente mais nada por mim.
Ela o olhou surpresa. Seria mesmo verdade? Ele ainda a amava?
- Pois está perdendo seu tempo. – disse altiva, erguendo o queixo e o encarando com desprezo, mesmo estando com o rosto pateticamente inchado e vermelho.
- Hermione, escuta, eu não vou me casar, nunca amei Lilá e só voltei para ela por que VOCÊ disse que estava saturada do nosso namoro.
Era verdade, havia sido ela quem tinha dado fim ao relacionamento deles, e ainda hoje se perguntava por que havia feito aquilo. Se arrependera no dia seguinte, mas seu orgulho não lhe permitiu procurá-lo e dizer que o amava e que estava mortalmente arrependida.
- Mas você desistiu de mim rápido demais, Ronald. Dizia que me amava, mas sequer tentou uma reconciliação. – disparou magoada.
- Você teria dado o braço a torcer se eu tivesse tentado?
- Você saberia se tivesse tentado!
- Eu estou tentando, Hermione. – Ele se aproximou afastando uma mecha de cabelo que estava caída sobre seu olho.
Hermione ainda o encarava com fúria e desejo mal contido.
- E por que demorou tanto? – Perguntou aos soluços, escondendo o rosto com as mãos, sentindo vergonha de si mesma. Vergonha por ser fraca, vergonha por não ter ido atrás dele no dia seguinte.
- Por que você é assustadora às vezes. – disse sério, mas ela sabia que ele estava tentando fazê-la rir. E quase conseguiu, mas ela se manteve de costas, o rosto escondido pelas mãos. – Hermione, eu te amei desde a primeira vez que coloquei meus olhos em você. Aquela sensação de desconforto, que me inquietava toda a vez que você se aproximava ou dizia algo inteligente já era amor, eu demorei para perceber isso, mas eu já a amava... Com o tempo outras sensações se aliaram a essa, e cada vez se tornava mais evidente a necessidade de ouvir sua voz, mesmo que fosse para me dar bronca, de sentir seu cheiro... Cada gesto, cada olhar, cada sorriso, tudo em você me deixava em um completo estado de torpor. Eu simplesmente não existo sem você.
“Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.”
- Oh Ron. – Hermione jogou-se nos braços do ruivo, deixando-se levar pelo desejo, pela saudade e pelo amor desmedido.
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N/A: Mais uma short do meu casal favorito eternamente.... Espero q tenham curtido...
O texto entre aspas, é um trecho do poema Soneto do amor total de Vinicius de Moraes.
Kisses...
Comentários (4)
Incrivelmente linda... Muito, muito boa, meus sinceros parabéns. Não costumo elogiar qualquer fic... A sua está realemente encantadora e ainda é sobre meu casal favorito da saga
2011-12-01maravilhoso *-* continuuuuuuaa
2011-07-31Ahhhhhh....amei
2011-03-19Simplesmente Lindoo!
2011-03-11