Me Faz Querer Morrer



Ele pousou a mão em meu rosto com aquela delicadeza extrema que me irritava profundamente. Não que não fosse linda a maneira como ele me tratava, monitorando cada ação e movimento, mas eu era humana e a falta de intensidade por parte dele quase me fazia perder o interesse. Isso apenas não acontecia porque eu sabia que era egoísta demais para me afastar dele. Sim, egoísta, porque eu queria antes de tudo ser como ele, para que pudéssemos finalmente ter a intensidade que eu almejava tanto e para que pudessemos ficar juntos para sempre.


 


"Me leve, estou viva


Nunca fui uma garota com a mente perversa


Mas tudo parece melhor quando o sol se põe


Eu tive tudo, oportunidades para a eternidade


E eu poderia pertencer à noite"


 


Eu nunca havia sido a garota de mente fraca, que se deixava levar, mas minha submissão quanto às vontades dele podiam ser fruto daquela devoção que eu tinha quanto à pessoa dele. Sim, eu digo pessoa porque não poderia, nem em mil anos, ignorar a humanidade que ainda existia nele. Eu tentava evitar pensar que ele já não pertencia à minha espécie e que um futuro com ele, sendo humana, era impossível. Mas essas eram questões para serem pensadas durante o dia, quando eu ficava sozinha vagando pelo castelo, analisando as oportunidades que eu tinha enquanto o sol insistia em me iluminar. A eternidade estava na minha frente naquele momento, me tentando mesmo sem querer me tentar.


 


"Seus olhos, seus olhos


Eu posso ver em seus olhos


Seus olhos"


 


Eu estava viva, sentindo meu coração bater anormalmente enquanto ele me olhava com os profundos olhos cinzentos cobertos levemente pelos fios lisos e rebeldes do cabelo extremamente claro.


 


"Você me faz querer morrer


Eu nunca serei boa o bastante


Você me faz querer morrer


E tudo o que você ama


Vai queimar na luz


E toda vez que olho em seus olhos


Você me faz querer morrer"


 


Não era besteira e eu sabia muito bem o que dizia: "Você me faz querer morrer." De repente soltei enquanto os olhos profundos ainda estavam guardando em sua fresca memória a imagem cansada e intrigada do meu rosto. Eu sabia que nunca seria boa o bastante e que quanto mais andasse a favor do sol, mais me afastaria dele e daquela noite eterna. É claro que ele me olhou como quem analisava a loucura, mas eu tinha certeza de que quanto mais tempo passasse levando essa vida solitária e almejando algo que ele não queria me dar, mais motivos eu teria pra repitir: "Olhar em seus olhos me faz querer morrer."


 


"Me prove, beba minha alma


Me mostre todas as coisas que eu deveria saber


Quando há uma lua nova em ascensão


Eu tive tudo, oportunidades para a eternidade


E eu poderia pertencer à noite"


 


Eu pouco me importava com o que havia dentro de mim, tanto no plano espiritual quanto no biológico. Eu sabia que a gola baixa e aberta da minha blusa larga o tentava nas mesmas medidas que seus olhos me tentavam à querer morrer. Minha jugular pulsava, convidando-o a provar minha alma, mas ele apenas mordia o lábios inferior muito pálido, voltando a encarar meus olhos. Ele tinha coisas para me contar e eu tinha perguntas a fazer. A grande novidade deveria ser explorada, por mais macabra e dolorosa que esta pudesse ser. Ergui meus olhos para o céu, querendo, sem sucesso me afastar da força atrativa de seus olhos para conseguir argumentar, mas a lua que sumia aos poucos no céu cortava meu tempo, pedindo que eu fosse rápida. De alguma maneira, a noite tinha de acabar.


 


"Eu morreria por você


Eu mentiria por você


Me faz querer morrer


E eu roubaria por você


E eu morreria por você


Me faz querer morrer"


 


Baixei os olhos novamente, buscando sem sucesso uma aproximação maior de seu corpo. Eu podia entender que ele ainda estava fraco e confuso por conta da transformação precoce, mas seus lábios e músculos se apertaram, como se ele lutasse internamente contra alguma coisa. Soltei quase sem pensar, novamente: "Eu morreria por você, Draco". O Malfoy baixou seus olhos, finalmente me liberando daquela hipnóse. O que não era muito útil, já que eu não afastei meus olhos da figura dele. Continuei: "Eu mentiria! Eu roubaria!" Meu tom de voz me deixava com uma aparência extremamente infantil durante aquele discurso apelativo, mesmo assim resolvi dizer mais uma vez: "Eu morreria por você".


 


"Você me faz querer morrer


Eu nunca serei boa o bastante


Você me faz querer morrer


E tudo o que você ama


Vai queimar na luz


E toda vez que olho em seus olhos


Estou queimando na luz


Você me faz querer morrer"


 


Ele ergueu os olhos novamente, mas dessa vez a expressão em seu rosto não era de delicadeza. Suas sobrancelhas claras estavam muito juntas e ele produzia um longo e grave rosnado no fundo de sua garganta. Aquilo não me assustava e ele podia claramente ver isso. Ele trincou os dentes, esticando a mão para tocar meu rosto novamente: "Não deixarei que você queime na luz, Hermione". Eu tremi, quase rosnando também, afinal de que valera meu discurso apelativo e meus riscos ao me permitir ficar sozinha na floresta proibida com um vampiro recém transformado?


 


"E toda a vez que olho em seus olhos


Você me faz querer morrer"


 


A mão dele largou meu rosto deixando um rastro gelado pelo caminho. Eu observei quieta, enquanto ele desaparecia pela floresta proibida em velocidade extrema para meus olhos ainda humanos. Contra minha vontade, é claro. Isso não mudava o que ele era, e muito menos aquilo que ele sentia por mim. Eu não queria me colocar em perigo, mas seus esforços eram vãos, já que, para um humano, a morte era inevitável. E se eu tivesse de estar morrendo para conseguir isso, eu mesma me colocaria naquela situação. Eu sempre fora uma garota centrada e era essa qualidade que me fazia obedecer o que eu sentia, porque afinal, encarar aqueles olhos me fazia querer morrer.







The Pretty Reckless - Make Me Wanna Die

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