Olá, Inglaterra
Berlim amanhecia nebulosa, com o céu cinzento e o ar gelado soprando impetuoso. A garota passou os dedos pelo vidro do carro embaçado, limpando-o e permitindo que ela olhasse para o lado de fora do veículo. Uma mulher ria enquanto observava o filho pequeno andar contra o vento forte, que quase desequilibrava o corpo pequenino. Olhou de esguelha para o banco do motorista e suspirou.
Uma mulher ruiva e elegante o guiava. Ainda que não estivesse em contato com o sol, usava óculos brancos de lente escura e aro grosso. Bem vestida, com traços aristocráticos. Virginia Weasley tinha a imagem perfeita, já que além de extremamente bonita, possuía um ar de inteligência inconstestável. Tão perfeita que Anita não conseguia encontrar traços de mãe naquele rosto de boneca.
- Foi bom passar as férias com você. – falou baixo, encarando suas próprias mãos, depositadas sobre os joelhos.
- Os negócios estavam calmos, o que não é comum.
- Mesmo trabalhando, você passa mais tempo comigo do que meu pai quando está de férias... – riu baixinho, na tentativa de se sentir menos deslocada ali.
- Zabine continua sendo um irresponsável. – bufou com frieza, apertando os dedos magros no volante. Virginia odiava lembrar de quando era adolescente e acabara caindo nos galanteios de Blaise.
- Se pensa assim, por que permite que eu more com ele? – olhou para a mãe. Era bem verdade que Gina não tinha o ar maternal esperado para qualquer mulher com filhos, mas iria fazer quase dez anos que Anita morava com o pai e, invariavelmente, sentia falta da mãe.
- Porque eu trabalho.
- Papai também trabalha. – retrucou.
- Eu trabalho mais do que ele. Meu trabalho é importante. Não é fácil ser embaixadora bruxa e ainda ter uma carreira trouxa. – suspirou – Por favor, Anita, não comece....
- Não pode me impedir de sentir sua falta.
- Você veio passar as férias comigo, não veio? Era isso que queria, não era?
- Teria me deixado vir se vovó não tivesse te pedido?
- Mas é claro, você é minha filha. – sorriu amarelo, aproveitando que o semáforo estava amarelo e afagou desajeitadamente os cabelos ruivos da filha.
Anita observou a mão de sua mãe sair de sua cabeça e voltar para o volante assim que o objeto trouxa ficou verde, possibilitando a passagem do carro.
- Ele vai te buscar no aeroporto?
- Não. – observou a mãe virar rapidamente o rosto em sua direção – Tio Rony vai me buscar. Meu pai está na América trabalhando.
Gina riu baixinho e balançou a cabeça para os lados discretamente. E Anita sabia o porquê daquilo: era óbvio que se Blaise Zabine estava nos Estados Unidos não era para trabalhar.
- Então vai ficar na casa da sua avó até o começo das aulas? – a menina assentiu – Mande lembranças para eles.
Anita tornou a assentir, desembarcando do carro assim que Gina o estacionou no estacionamento do aeroporto. De relance, a ruiva menor viu um flash de câmera trouxa. Suspirou e olhou para a mãe.
Gina tinha um pequeno sorriso no rosto enquanto retirava a mala da filha do porta malas do Porshe. Já havia percebido os paparazzi as fotografando.
“Virginia Weasley, âncora do telejornal mais assistido da Alemanha e sua filha no aeroporto em Berlim.” Anita já podia imaginar a manchete e a pose da mãe conversando com as amigas no trabalho, comentando como a garota tinha chances de terminar a escola e entrar para Oxford.
O que fariam se soubessem que a beldade inglesa era uma feiticeira?
- Tenha uma boa viagem. – murmurou depressa para a garota, entregando-lhe a mala e depositando um leve roçar de lábios na testa da mesma.
Anita se apressou em segurar o ombro da mãe e beijá-la demoradamente no rosto. Gina sorriu amarelo e se despediu mais uma vez, entrando no carro e partindo. Provavelmente, inventaria algo quando os paparazzi escrevessem que não acompanhou a filha até o embarque. Algo que a deixasse como uma mãe exemplar.
A garota tomou a alça da mala e a puxou, fazendo as rodinhas deslizarem pelo chão. Assim que saiu do estacionamento e alcançou a entrada do aeroporto, levou a mão até a parte da frente da jaqueta, sentindo o maço de cigarros.
Não parou de andar, procurando o local do check-in, mas continuou pensando no que o povo alemão iria pensar se Anita Weasley fosse vista fumando ali e como ficaria a imagem de sua mãe.
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Valentina revirou os olhos, bufando frustrada. Há mais de quinze minutos que tentava se concentrar no livro, mas o barulho daquela dupla infeliz a perturbava. Fechou o exemplar de “Romeu e Julieta” e levantou-se da mesa que ocupava na varanda da casa, caminhando um pouco e chegando ao jardim.
Suspirou impaciente. Pandora e Josh riam como dois imbecis, ela pelas coisas que ele dizia, ele pelas reações da garota.
- Será que vocês podiam fazer um pouco menos de barulho?! Tô tentando ler!
- A culpa é do seu irmão! – Pandora se defendeu enquanto enxugava os olhos, marejados por conta das risadas.
- A culpa é sua porque ri! – ele tentou manter-se sério, mas sorriu ao notar a face divertida da menina.
- Vocês deviam ter um pouco mais de consideração! Daqui a alguns dias nós vamos para Hogwarts e esse ano eu tenho N.O.M.’s!!!
- Toda essa preocupação é por causa dos N.O.M’s? Se for por isso relaxa. É só você dar uma boa enrolada na hora da prova. Nem te estressa.
- Pandora!
- Nós fizemos isso ano passado, não foi? – olhou para Joseph, que concordou – E os nossos resultados foram bons. Não tão bons quanto os da Cassey, mas foram bons e nós nos divertimos, não nos estressamos, não perdemos cabelo... E você viu como a Sabe-Tudo ficou, né?
- Completamente doida. – lamentou Josh – Como se um zonzóbulo tivesse entrado pelo ouvido dela.
- Zonzóbulo? – Pandora repetiu com ar de riso – Você ainda acredita que isso existe?
- Claro que existe! – fingiu-se se ofendido – Ou você ta duvidando dos meus conhecimentos?
- Quer mesmo que eu responda?
E mais risos. Valentina resmungou e deu as costas aos dois, cujas risadas permaneciam altas.
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- É como eu digo, abra uma exceção e esteja preparado para problemas! – o loiro resmungou enquanto preenchia alguns papeis – Da próxima vez nada de liberar a entrada de artefados sem fiscalização, ok? Não vou mais preencher formulários porquê deixamos caldeirões entrarem no país sem revista!
- Mas Malfoy, eram só dois... E da França, é pertinho... – Harry se defendeu, ajeitando os óculos – Como eu ia saber que tinha mais comerciantes e mais mercadorias!? Como eu ia saber que o homem que nós implorou para o deixarmos entrar sem fiscalização ia contar para os amigos?! Eu não posso prever o futuro!
- Teoricamente, pode sim. Você é um bruxo, não esqueça.
- Pronto, pai. Essa é a última pasta. – Cassey sorriu orgulhosa. Havia conseguido organizar os formulários em pastas mais rápido que o pai e Harry habitualmente conseguiam.
- Obrigado querida. – sorriu – Adoro esses genes Granger.
- Obrigado, Cassey. – Harry também sorriu – Acho que a essa hora Anita já chegou. Ronald ia buscá-la no aeroporto... Quer ir jantar com Pandora e Valentina? As aulas estão quase voltando e vocês não se reúnem todas desde que Anita foi para a Alemanha.
- Posso pai?
- Não sei... Vocês gostam mais da Londres trouxa e lá não se pode usar magia caso algum trouxa engraçadinho se meta a besta.
- Por favor, pai! Talvez se o Tony termine de estudar logo ele possa ir com a gente...
- E se ele não puder, o Joseph pode acompanhá-las. – reforçou Harry.
- Aquele garoto vive no muno da lua! – o loiro retrucou.
- Deixe de ser antiquado, Malfoy! Ninguém vai fazer nada com elas. E caso tentem, o meu bebê resolve. – sorriu largo.
- Genes Parkinson a todo vapor? – riu ao ver o outro assentir. – É, talvez Pandora possa dar conta da situação...
- Então você deixa eu ir!?
- Deixo sim, mas quero você antes das onze em casa, mocinha!
- Certo! – sorriu largo, abraçando o pai – Então eu vou lá no saguão ver se a Anita já chegou!
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- Se importa em ficar aqui? Parece que houve um probleminha nos registros dos dragões...
- Relaxa, tio, pode ir. – sorriu, bocejando em seguida – Vou procurar a secretária do meu pai pra ver se ela tem noticias dele.
- Não arrume confusão, ok?
Anita riu, afirmando com um movimento da cabeça, observando o tio se afastar. Contemplou o imenso saguão do Ministério da Magia. Seu pai sempre a levava para o trabalho consigo quando era pequena. E para não vê-lo rodeado de mulheres, costumava explorar o local.
Afastou tais memórias da cabeça e caminhou até os elevadores de paredes esverdeadas e metálicas. Encostou-se na superfície gelada e suspirou. Saíra da Alemanha de manhã cedinho e já era noite na Inglaterra. Precisava descansar.
Abriu os olhos e deu de cara com Susan Bones e o filho entrando na caixa metálica. Praguejou em pensamento e teve certeza que Adam fizera o mesmo ao observá-lo revirar os olhos.
- Anita! – a mulher sorriu – Já voltou de viagem?! Como foi na Alemanha!?
- Foi bom. – retribuiu o abraço que Susan lhe dava. Apesar de não gostar do filho, gostava da Sra. Bones. Ela lhe dava doces quando Anita era pequena e Blaise a esquecia no Ministério.
- Sua mãe faz um ótimo trabalho em Berlim!
- E eu não posso dizer o mesmo do meu pai... Escapuliu para Vegas de novo?
- Foi um trabalho, querida. Política. – sorriu sem graça.
- Imagino.
- Não vai cumprimentar a sua colega, Adam?
- Ela é do sexto ano, mãe. – retrucou, recebendo um olhar feio por parte de Susan – Oi, Zabine.
- Oi, Bones. – sorriu o mais falsamente que conseguia.
- Bem... Se seu pai voltar antes das aulas começarem, virá aqui me visitar? – A Sra. Bones mudou o rumo da conversa, percebendo o clima cinzento entre os dois adolescentes.
- Virei sim. – sorriu, ignorando o garoto.
- Tenha uma boa noite, querida. – Susan a abraçou mais uma vez, antes de sair do elevador com o filho. Anita agradeceu por ela não ter pedido para o filho se despedir dela com um aperto de mãos ou um abraço.
Dois andares depois, saiu do elevador. Caminhava na direção da sala do pai, quando um ser de cabelos castanhos e fofos lhe enlaçou pelo pescoço.
- ANITA!
- Oi pra você também, Cassey. – riu, retribuindo o abraço apertado. – Senti falta de vocês.
- Nós também! – soltou a amiga – Vai me contar tudo sobre como foi na Alemanha?!
- Não tenho muita coisa pra falar... – sorriu marota – Não perdi tempo falando, se é que me entende.
- Sua pervertida! – riu, estapeando o ombro da amiga – Tio Harry vai levar eu, Pandora e Valentina para jantar na Londres trouxa. Você vai né?! Não vai inventar que ta cansada da viagem e vai dormir, né?
- Não, sua paranóica. – riu – Mas o Tio Harry vai ficar lá?
- Claro que não, sua boba!
- E o seu pai te deixou jantar na Londres trouxa acompanha de três garotas sem nenhum adulto ou um individuo adolescente do sexo masculino?
- Tio Harry o convenceu que nada de ruim pode acontecer com Pandora por perto. – riu – Eu até queria que Tony fosse, mas ele está estudando com o Adam. Ele tá bem preocupado com os N.I.E.M’s que vai ter esse ano.
- Anthony está estudando com o Bones? Nesse instante?
- Tá sim. Você pode não gostar do Adam, mas ele é bem gentil.
- Hm.
- Então, vamos para o saguão comer alguma coisa?
- Não! – segurou depressa a mão da amiga, que ameaçava caminhar para o elevador – Eu quero ir até a sala do meu pai... Falar com a secretária pra ver quando ele volta... Depois a gente desce.
- Certo. – sorriu, puxando a outra pela mão. Anita a acompanhou, torcendo para que Susan e Adam fossem para casa.
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Como está ficando?
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