Mais que Amor

Gênero: romance
Classificação: K+
Formato: ficlet
Item: Vício Incomum

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Mais que amor

Não era amor.
Nunca foi.
Nunca seria.
Ele gostava de sentir-se desejado, de saciar suas necessidades profanas naquele corpo quente e macio. Ele gostava de beijá-la, de sentir seu sabor e ouvi-la gemer seu nome. Sentia-se forte ao tomar aquele corpo, ao fazê-la sua a cada noite. Sorria quando ela ia embora, sabendo com toda a certeza que ela iria voltar.
Olhando dentro daquele olhos castanhos, agora nublados de prazer, ele sorriu maliciosamente ao vê-la entregar-se ao apogeu outra vez naquela noite. Jamais seria amor, era desejo.

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Não sabia o porquê de entregar-se a ele sem amor. Porque realizar fantasias sobre lençóis de seda negra não era amor – nunca fora e jamais seria.
Ela sentia prazer nos braços dele. Ela sentia regojizo ao mentir aos seus amigos todas as manhãs sobre as marcas que ele deixava em seu corpo e ela esquecia de tirar. Ela gostava de abandonar-se ao êxtase vezes seguidas enquanto sentia, mais que via, o sorriso cínico dele.
Mais que tudo, ela gostava da sensação de sentir transponir as barreiras entre o material e o abstrato. Ela gostava de sentir asas levando-a ao céu todas as noites quando estava sob ele. Ela gostava de sentir-se sem fronteiras, sem limites.
E ela buscava isso todas as noites. E ela sabia que voltaria àquele mesmo lugar ao anoitecer do outro dia, mesmo dando-lhe as costas com a promessa que não voltaria.
Jamais seria amor, era luxúria.

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Sentiam-se agir sob o poder de uma força além deles, algo mais forte, algo que os guiava todas as noites àquela mesma cama, algo que os fazia se saciarem – jamais se amarem – sobre aqueles lençóis negros.
Era algo mais que amor. Porque sentir amor era certo. E eles eram completamente equivocados.

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Já haviam se tornado prisioneiros daquela relação. Já não podiam sair ou desistir. Escolha era algo além deles. Aquela relação já havia perdurado por tanto tempo, e com tanta intensidade, que havia chagado a um ponto onde não havia retorno. Já estava de tal forma presente que impregnara por completo suas vidas e seus corações. Não era certo, mas eles procuravam pelo errado. Eles buscavam aquela relação ao entregar-se sem reservas todas as noites, num ciclo vicioso de prazeres incomuns.

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Era perigoso. E perigo excita. E vicia.
Logo, o restante não importava. Quem ligava para um passeio a Hogsmeade? Era muito mais prazeroso um passeio ao décimo céu. Quem se importava com festas de aniversário e feriados? Eles tinham tudo que precisavam dentro daquelas quatro paredes. Quem realmente se importa com casamentos? Casal nenhum compartilharia daquela insanidade, daquele êxtase.
Logo, nada mais importava. Apenas eles e o prazer. E aquele não-amor, aquele algo mais.

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Então, descobriram não se tratar de amor nenhum. Era algo que rompia as barreiras do desejo e na necessidade. Ultrapassava as fronteiras da razão e discrição.
Era vício.
Eles encontraram-se dependentes daquela relação como um drogado depende do pó. Eles cultivaram aquela dependência, a precisão de estar sempre tocando, de estar sempre sentindo prazer nos braços um do outro.
Eles vinham tentando mover-se, tentando driblar aquele vício, mas era impossível. Já haviam tornado-se prisioneiros daquela droga. Aquela relação era como um ópio feito exclusivamente para eles. Já não havia retorno, não havia solução.
Havia apenas o cultivar daquele vício a cada anoitecer, enquanto tentavam mover-se nas cordas bambas de suas vidas.
Manter o equilíbrio sobre ela é difícil no estado mais sóbrio. Para eles, já se tornara impossível.

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Eles poderiam dizer que buscavam aquela droga todas as noites. E que jamais seria amor. E que aquele algo mais era vício. E que serem completamente dependentes daquela relação não era nenhum problema.

E que aquele era o vício mais prazeroso.

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