Pilares de Areia
Helga podia sentir que a paz estava acabando. Ela podia ver, perante seus olhos, o Castelo ruindo. Consequentemente, tudo aquilo que eles criaram cairia por terra.
Godric estava mais sério. Ele conhecia aquela aura de tensão. Como se o ar ao redor deles estivesse se preparando para a Guerra. Ele podia ver-se claramente empunhando a adaga e cortando aquele silêncio, tão denso este já estava.
Howena poderia enxergar mais a frente. Ela via uma divisão, um precipício. Ela via os herdeiros em frentes opostas. Ela sentia a urgência de Helga, via a Guerra de Godric e sabia o que aconteceria.
Salazar poderia dizer que avisara.
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- Eu avisei que acabariam assim! – a voz suave, mas firme de Helga fora ouvida acima de toda a balbúrdia. Ela não mais agüentava de tanto rir. – Avisei que esse duelo não era boa idéia.
- Minha cara Helga, o que há de errado em um singelo duelo de espadas? – indagou Salazar, os olhos verde vivo fixos na espada que acabara de cravar ao lado de uma surpresa cabeça de Godric.
- Nada, Sir Salazar. – respondera, os olhos mel alagadiços com lágrimas de riso. – Apenas nunca vi um duelo de espadas com tantas palavras e trejeitos.
- O fato é que ambos nos fazem rir mais que nos desesperar para presentear o vencedor. – dissera uma voz tão suave quanto água escorrendo no orvalho. Era Rowena.
- Oh, doce Rowena. É isso que pensas de nós? – levantando-se, Godric levara uma mão ao peito em um gesto digno de palcos.
- Penso que são dois Lordes com educação e mentes avançadas demais para dignarem-se a uma brincadeira tão infantil quanto esta. – concluíra com ar de superioridade.
- Ora, Godric, Rowena nos chamou de crianças. Veja do que é capaz essa mente sem limites. – sendo cercada por ambos, Rowena apenas riu. – Eu certamente seria capaz de protagonizar cenas nada infantis com sua permissão, Lady Ravenclaw.
- Deixe de tolices, Salazar. Todos sabem do que és capaz. Certo, Helga? – com um floreio da sofisticada varinha, Rowena afastou os dois de si.
- Absolutamente. – respondera a dos olhos de mel.
- Um motim! – reclamara Slytherin, trazendo a espada junto ao peito. – Sir Gryffindor, não te unas a estas mulheres que apenas sabem proferir impropérios contra a minha figura!
- Certamente não, Sir Slytherin. Certamente não.
Rindo, os quatro entraram no Castelo que construíram juntos. Comemoravam o início da Escola de Magia com alegria e espontaneidade. Havia sido um trabalho árduo, mas erguido com a força bruta da mente brilhante de Rowena, a determinação de Salazar, a coragem de Godric e a honestidade de Helga. Quatro almas distintas, mas capazes de criar um conceito único de confiança. Quatro corações unidos por laços de amizade singular e propósitos comuns. Quatro personalidades convivendo pacificamente. Quatro mentes trabalhando por algo maior.
Um Castelo firmado sob pilares consistentes de confiança e amizade. Uma Fraternidade entre aquelas quatro pessoas, que pretendiam expandir para todos os lugares do mundo. Um sentimento como aquele não deveria ser esquecido jamais.
- Jamais será assim, Salazar! – a voz esganiçada de Helga sobrepôs-se as outras três.
Godric estava a ponto de pegar a espada. Rowena encontrava-se confusa. Helga sentia dor pelo que viria. Salazar estava frustrado.
- Jamais, Helga? Jamais? – explodiu o homem, com tanta fúria que a sala pareceu tremer. – Vocês querem estender o Estudo de Magia àqueles que não tem esse poder inserido no contexto familiar! É absurdo!
- Absurdo é querer impor barreiras ao ensino de Magia! – retrucou Rowena com a mesma fúria.
- Não são barreiras de preconceito, mas de proteção! – ele andava a esmo pela sala, querendo mais que tudo colocar aquela verdade na mente dos outros.
- Proteção? Nós nos protegemos ao impedir jovens nascidos trouxas que, por direito, podem estudar o que têm em sua essência?
- Direito, Godric? – virou-se rapidamente pro outro. – A família deles não é bruxa, Santo Merlin!
- Mas eles têm o dom da Magia, Salazar. Desse modo, estão automaticamente incluídos no corpo de alunos de Hogwarts. – disse Helga.
- Vocês não lêem? – indagou. – Nós vivemos isolados dos trouxas por um motivo! Existe uma razão lógica para os trouxas não saberem da nossa existência. Quando coexistíamos pacificamente, houve uma Guerra. Guerra, Helga!
- Não acontecerá outra vez. Não haverá outra Guerra, Salazar. – disse Godric, num tom persuasivo.
- Sim, haverá! Os nascidos trouxas não serão capazes de manter o segredo, o mundo deles logo saberá de nós. Pode demorar, mas existirá outra Guerra em conseqüência.
- Lave a boca, Slytherin. Pensamentos negativos não trarão prosperidade. – Rowena tentava convencer a si mais que aos outros.
- Rowena, você, de mente sem limites, veja além! Ouça a voz da razão! – pediu Salazar, os olhos verdes implorando por bom senso. – Haverá preconceito. O preconceito traz discórdia, que logo gera conflitos. Merlin, eu posso ver diante de meus olhos uma nova Guerra entre bruxos e não-bruxos.
- Chega, Salazar. Nós vamos permitir que os nascidos trouxas estudem e desfrutem da Magia que é inerente a eles.
Sentença. Não era um pedido, era apenas uma informação.
- Anos atrás, me prometeu que não se juntaria em um motim contra mim, Godric. – a voz dura, os olhos verdes escurecendo-se.
- Não é o caso, Salazar! – gritou o moreno.
- Se não é um motim, não sei como devo denominar! – Salazar poderia ser esperto e persuasivo, mas era tão cabeça dura quanto Godric.
Calmo como um lago. Explosivo como um vulcão. Esse era Salazar Slytherin.
- Lordes. – a voz de Rowena se fez ouvir. – Sempre convivemos pacificamente. Sempre tivemos uma democracia inerente a nossa convivência. – virou-se para Salazar. – Sinto, Salazar, mas estamos em maioria.
A revolta do outro era tão grande que não se podia expressar em palavras. Era um grito mudo, um apelo silencioso, mas nem por isso de intensidade menor.
- Este é meu último aviso. Estou tentando alertá-los para a insanidade que estão a cometer. Permitam apenas os de sangue puro. – falava baixo, nada além de um sussurro. – Haverá discórdia, haverá Guerra se não decidirem assim. É só um dos muitos avisos que já dei. Mas será o último.
As palavras flutuaram sobre a tensão do momento. O ar pareceu mais gelado e o vento, mais cortante. O silêncio desceu sobre eles, querendo sufocá-los.
- O que decidem? – a voz rouca de Salazar parecia uma adaga cortando a seco a tensão do momento.
Os três se entreolharam. Havia apenas uma decisão.
- Hogwarts será para todos, Salazar.
Houve o som de algo se rompendo dentro de cada um deles. Ninguém além dos quatro pôde escutar a ruptura daquela amizade que prometeram ser eterna.
- Que assim seja.
Salazar saiu, levando consigo o pouco de paz que ainda perdurava.
A Fraternidade havia quebrado. Não existia mais quatro – só três. E, de alguma forma, três não era um bom número. Não para eles, que sempre conviveram em quatro; que sempre encontravam soluções e idéias juntos; que se conheciam tão bem como ninguém mais. Eram tão unidos, tão interligados, que chegava ao ponto de o outro conhecê-lo melhor que a si mesmo.
E doía saber que havia acabado. Queimava ter o conhecimento que aquela não havia sido uma decisão conjunta. E eles podiam ver além.
A Escola de Magia construída sobre a base da amizade antes sólida e inquebrantável agora se encontrava sobre pilares de areia.
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Anos mais tarde, eles passaram a crer em Salazar. Não que ele estivesse certo ao querer restringir o ensino da Magia, mas ele tivera a sensibilidade de enxergar algo que os outros não puderam ver.
A inteligência de Rowena a deixara tacanha. A bondade de Helga a deixara cega. A coragem de Godric o fez covarde. E Salazar avisara.
Houve discórdia e, em conseqüência, conflitos. Entre bruxos e não bruxos. Houve exclusão, preconceito. Eles entenderam que Salazar queria apenas preservar a integridade do mundo que aprendera e amar e, respeitando tardiamente esta decisão, decidiram preservar sua Câmara tal e qual ele a deixara ao partir.
Eles gostariam de poder pedir que voltasse. Pedir que compartilhasse daquela amizade novamente. Mas Salazar nunca voltou. Coube aos outros três continuar o legado que ele ajudara a formar.
Coube aos outros três assistir, todos os dias, a lógica errante do companheiro de olhos verdes tornar-se real. E tentar impedir, mesmo que seus intentos se mostrassem falíveis.
E eles podiam sentir, à noite, o verde dos olhos de Salazar sobre eles. Sua voz calma e poderosa sussurrando em seus ouvidos. Eram apenas duas palavras, mas que faziam toda a diferença.
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*AS PALAVRAS SUSSURRADAS QUE
ATERRORIZAVAM OS FUNDADORES*
Eu avisei.
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N/A.: SALAZAR, EU TE AMO! /prontofalei.
Enfim, fanfic feita para o 43° Challenge Relâmpago:
Tema: Amizade
Item obrigatório: Fraternidade
Item opcional: Aviso.
Sim, eu amaaay estar no pódio *________________*
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