Único
“Querido Almofadinhas,
Obrigada, obrigada, pelo presente de aniversário de Harry! É o favorito dele até agora. Um aninho de idade e já está zunindo por aí numa vassoura de brinquedo; ele parece muito satisfeito consigo mesmo, estou incluindo uma foto para você ver. Você sabe que ela só levanta uns dois pés do chão, mas ele quase matou o gato e quebrou um vaso horrível que Petúnia me mandou no Natal (sem reclamações). É claro que James achou muito engraçado, diz que ele vai ser um grande jogador de Quadribol, mas nós tivemos que afastar todos os enfeites e ter certeza de manter os olhos nele enquanto ele voa...
Lily baixou a pena e passou os olhos pela carta que escrevia. Sentiu um sinistro aperto no coração ao molhar a ponta no tinteiro e riscar o pergaminho novamente. Estava com medo.
Medo.
Ela, James e Harry viviam presos agora, com uma terrível sensação de pavor. Não confiava em Rabicho, algo em seus olhos não lhe transmitia segurança; não havia calor naqueles orbes castanhos e isso a assustava. Mas a sobrevivência de sua família dependia dele, então tratou de controlar suas desconfianças.
Mas seu coração não se aquietou. Lily sabia que havia algo errado, sentia em seu íntimo que coisas ruins estavam para acontecer. Tremeu e borrou a caligrafia bonita. Deus, ela sentia tanto medo.
Medo.
A coragem não é ausência do medo. Quase podia ouvir Alvo Dumbledore proferir tais palavras, a voz retumbante ecoando em sua cabeça. Não, a coragem não é a ausência do medo. Fechou os olhos, forçando-se a acreditar naquilo. Precisava de coragem. Para se proteger. Para proteger seu marido. Para protegê-lo. Procurou-o, girando o corpo para trás, e o encontrou sentado no chão tentando puxar o rabo do gato. Sorriu e o aperto diminuiu um pouco. Ali, naquele menininho, estava a sua coragem. E não havia nada no mundo mais importante que ele.
Suspirou pesadamente e tornou a olhar a carta. Estava pronta. Lily molhou a pena na tinta e riscou o pergaminho pela última vez.
“Amor,
Lily.”
Despachou a carta e fitou a coruja virar um minúsculo pontinho no céu escuro. Era Halloween e ela podia ouvir as crianças correndo pela calçada. Desejou ardentemente um dia ver seu filho correr e pedir doces para os vizinhos, enfiado numa meiga e horripilante fantasia de monstro.
Lily pegou Harry no colo e continuou a mirar as alegres criancinhas correndo. O bebê enrolou uma mecha do cabelo dela numa das pequenas mãozinhas e deitou a cabeça em seu ombro, num ato comum. Mas ela soube claramente, como um arco-íris que surge depois da chuva num dia de sol, que era uma despedida. Beijou o topo dos cabelos desgrenhados do filho, sussurrando uma velha cantiga de ninar.
Fechou os olhos ao sentir o abraço envolvente de James às suas costas. Ele parecia saber o que ela estava pensando, porque murmurou contra o ouvido dela:
- É o fim da jornada, não é?
- Não. – ela respondeu, contendo um soluço. Uma lágrima desceu solitária por sua bochecha rosada. – É apenas o início.
Ela estava certa. Era apenas o início. Nada mais importava, contanto que estivessem juntos e, então, tudo daria certo. Ela e James ficariam juntos, fosse na vida ou na morte, e protegeriam para sempre o que criaram. Lily baixou os olhos e encontrou a réplica dos seus encarando-a; sorriu para o filho e prometeu jamais abandoná-lo. Virou-se de frente para James e o abraçou com força, mantendo Harry entre os dois. Perto do coração.
- Vai ficar tudo bem. – murmurou.
Já não sentia medo.
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N/A: Eu estava há séculos com vontade de escrever uma short fic sobre os últimos momentos de Lily e James. Mas o meu objetivo era criar uma história tipo MUITO DRAMA QUE MATASSE DE CHORAR, só que saiu isso aí. Não é meu melhor trabalho, mas espero que gostem. E COMENTEM!
Beijos enormes,
Liv
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