Planejando



 


Na manhã seguinte ter aula de Herbologia era tudo que Pettigrew não queria. Sexta feira, um belo dia para dormir e comer, em sua opinião, não ter que escutar uma professora descabelada falando de coisas que ele não tinha a menor idéia sobre o que se referiam. Aliás, porque ele estava cursando aquela matéria inútil? Ele não devia ter entrado nem nessa e muito menos naquela droga de adivinhação. Mas Tiago e Sirius estavam cursando juntamente com Lupin, então ele não poderia ficar de fora, certo?


Errado. Do que adiantava ser da sala deles se Thiago só ficava olhando pra Lílian, Sirius conversando com todos menos ele e Remo atento demais à aula? Ele não sabia. Assim como não sabia o que a professora quis dizer com “escolham uma escrofulária, de preferência a Mimbulus Mimbletonia” e teve que esperar alguém obedecê-la para poder copiá-lo.


-Pettigrew, pode me dizer uma diferença entre a Mimbulus Mimbletonia e as outras escrofulárias? –Pediu a Sra. Sprout.


-Ah... É um... Cacto? –Arriscou Pettigrew se acanhando sob os olhares e corando com as risadinhas.


-Não é uma planta venenosa, Sra. Sprout. –Corrigiu Remo.


-Muito bem Lupin! Não é uma planta venenosa. E alguém pode me dizer...


Pedro se encolheu e tomou a decisão permanente de que não voltaria a responder perguntas de professores. Ignorando a explicação da Professora, Sirius se virou para o amigo:


-Rabicho, como pode ser tão obtuso? –Disse ele rindo-se.


-Ora, eu não sabia, achei melhor responder do que ficar calado. Estava errado? –Perguntou ele inseguro.


-É claro que estava! Até quando já sabemos que você vai se mostrar um estúpido, você consegue nos surpreender. –Disse Severo Snape, entrando na conversa.


-Severo! Como pode ser tão grosseiro? –Perguntou Lílian reprovando-o e fazendo o lábio inferior de Snape tremer de culpa.


-Vocês aí no fundo! –Chamou a Sra. Sprout. –Silêncio.


Lílian lançou um olhar humilde e gentil a Rabicho para tranqüilizá-lo e voltou a prestar atenção na aula. Severo não voltou a olhar para os garotos durante a aula, mesmo com as tentativas desesperadas de Sirius de provocá-lo. Pettigrew resolveu ler sobre o cacto não-venenoso no livro de herbologia enquanto a aula não chegava ao fim.


-Onde está Lyra, Lílian? –Para a surpresa de todos, quem perguntou foi Thiago.


-Ah, ela... Não sei. –Respondeu ela lançando um olhar nervoso a Thiago. Ele se inclinou sobre a mesa e sussurrou para a ruiva.


-Onde ela está?


-Disse que iria ao corujal, –Sussurrou Lílian de volta –mas eu pensei que ela fosse voltar a tempo para a aula.


 


A próxima aula, transfiguração, foi um tédio completo. Eles não praticaram, apenas estudaram a teoria, para a tristeza de muitos. Para outros, a aula foi muito útil já que eles puderam ficar sabendo da mais nova fofoca: Tiago Potter se preocupando com Lyra Dellabatti.  Mas o mais interessante foi que Lyra não apareceu, novamente. Nem na aula seguinte. Ou na depois dessa. E foi por esta razão que Lily, os Marotos e Danielle perderam o jantar para encontra - lá, o que não foi difícil já que ela estava no salão comunal da Grifinória, deitada no peitoril da janela com inúmeros papéis no colo e mais alguns na mão, os que ela lia atentamente.


-Lyra, você está passando bem? Porque não foi às aulas? –Perguntou Lily ao passar pelo quadro da mulher gorda e ver a amiga.


-Olá Lily! –Cumprimentou Lyra alegremente sem despregar os olhos dos papéis, conseqüentemente ela continuou a falar sem saber da presença dos marotos ou de Danielle. –Desculpe, não pude ir às aulas porque quando eu estava indo enviar a carta ao meu irmão eu me lembrei de algo muito interessante que meu avô me disse há anos atrás e que se encaixa perfeitamente no lugar que estamos procurando! Então eu tive que me sentar aqui e tentar confirmar se era mesmo o lugar que eu pensava e para isso usei todas as cartas que eu tenho guardadas...


-Está aí desde a hora que acordou? –Interrompeu Danielle incrédula.


Lyra ergueu os olhos da carta obviamente estranhando a voz de Danielle e claramente arrependida por ter dito tudo aquilo na presença de todos.


-Ah, oi Dany.Oi meninos. –Cumprimentou ela séria e voltou a ler suas cartas em silêncio.


-Lyra, eu fiquei preocupada... –Começou Lílian. –Espera, você nem sequer almoçou?


-Uh-uhm. –Murmurou Lyra.


-Então venha jantar agora antes que desmaie e caia dessa janela, venha, depois você me conta sobre...


-Não estou com fome. –Interrompeu Lyra enquanto virava a carta para ler o verso.


-Mas...


-Não estou com fome Lily. –Repetiu ela com a voz mais dura.


-Então pode conversar conosco um segundo? –Pediu a amiga ruiva gentilmente.


-Ah... –Lyra examinou rosto por rosto. –Ta. O que foi?


-Por que não... Se senta no sofá? –Sugeriu Thiago imediatamente compreendendo que aquele era o momento.


Lyra ergueu uma sobrancelha, mas não questionou. Deixou as cartas encima da mesinha e sentou-se. Sirius também já havia entendido.


-Lyra, -Começou ele se aproximando da garota. –Você lembra a sua promessa? Aquela que você fez na festa da Mansão Vanish logo antes de agente voltar para cá?


-Aham.


-Bem, eu quero saber agora. Ou melhor, nós queremos. –Disse ele apontando para si e para os amigos. Lílian se sentou no outro sofá encarando a amiga enquanto Danielle, Lupin e Pettigrew continuavam confusos.


-Sirius, pelo que eu me lembre eu prometi contar a você, não a todos. Alem do mais, era um acordo, você deveria guardar aquele meu segredo e eu lhe contaria o resto, lembra? Não foi exatamente o que você fez.


-Eu não contei a ninguém! –Mentiu ele.


-Com exceção de Tiago, Lily e Dumbledore! –Disse ela.


-Como sabe disso? –Perguntou Tiago.


-Eu... Tive que lhe contar. –Assumiu Lílian. –Pobrezinha, é um grande segredo que nós revelamos! –Defendeu-se Lílian.


-Mas de que merda vocês estão falando? –Exaltou-se Danielle com uma expressão idêntica a de Rabicho e Aluado. Lílian chegou a abrir a boca para explicar, mas Sirius foi mais rápido e, ignorando os amigos, continuou o discurso.


-Lyra, não venha com essa desculpa. Foi necessário que contássemos e se quer saber, não me arrependo. Você prometeu. Por favor, não me faça descobrir o que ainda não sei sem o seu consentimento. Quanto aos meninos e Danielle, se você me contar eu contarei aos marotos, Pontas contará a Lílian e ela contará a Danielle, então é melhor falar tudo de uma vez.


Os olhos de Lyra e de Sirius se encontraram e os dois se encararam. Ele não iria desviar o olhar, não desta vez. E, pela primeira vez, Lyra cedeu e começou a falar.


-Não confio em você. Não confio no Potter, no Pettigrew, no Lupin e nem mesmo na Dany para esse segredo e admito que foi muito difícil confiá-lo à Lily. Mas, diferente de você Black, eu dei a minha palavra e com ela eu irei cumprir. Você será o fiel do segredo, para poder sentir o peso de tudo isso nos seus ombros para variar. –Respondeu a garota. Ela se levantou e ergueu a varinha, ficou cara a cara com Sirius e então Lupin interveio.


-Lyra, por mais importante que seja, é muito arriscado tornar alguém em um Fiel do Segredo. Sei que é inteligente e uma ótima bruxa, mas seria imprudente e uma tremenda burrice fazer isso. Já confiou em Sirius uma vez, eu sei que ele falhou, mas vale mais a pena dar-lhe outra chance e confiar em nós do que ameaçar o Almofadinhas dessa forma. - A voz sensata de Remo ecoou na mente de Lyra por um momento. Ela olhou nos olhos de Sirius mais uma vez e ele admirou a mudança de cores que ali ocorria: de cinza claro para escuro, tornando-se um pouco azulados antes de alcançarem o preto pleno. Ele sorriu. Adorava aquilo em Lyra. A maioria dos alunos e professores já tinham se acostumado com essa característica única, mas ele ainda se perdia naqueles olhos, acompanhando cada tonalidade e, principalmente quando eles saiam do cinza e adquiriam uma cor viva, admirava-os.


-Está bem. –Ela virou-se para Lupin - Você tem razão Remo. Vou contar tudo a vocês se prometerem, mais uma vez, manter segredo.


Todos assentiram. Lyra se sentou no sofá, Sirius de um lado e Lupin de outro. Danielle se sentou com Lily no outro sofá, Pettigrew no peitoril da janela e Tiago na poltrona à frente. Lyra respirou fundo e começou a falar: explicou inicialmente tudo a Pedro, Remo e Danielle, incluindo a história de sua família, a adesão de seu irmão no grupo de Comensais da Morte, o ocorrido com Lucio Malfoy na Mansão Vanish e as cartas de seu irmão.


-Além dos atos potencialmente terroristas de Você-Sabe-Quem, o que mais havia nas cartas? –Perguntou Lupin.


Foi então que Lyra contou sobre o plano de Voldemort de conseguir o Livro de Merlin e a insistência de seu irmão em saber o mesmo que Lyra sabia sobre o tal livro.


-Lamento acabar com sua fábula Lyra, mas esse livro não existe. –Disse Danielle.


-Ele existe. E eu finalmente sei onde está. –Respondeu Lyra com um sorriso de satisfação.


-Como descobriu? –Perguntou Rabicho surpreso.


-E onde está? –Perguntou Tiago ansioso.


-Há muito tempo meu avô me escolheu para guardar os segredos da família e me nomeou a Fiel do Segredo, mas ele não me contava tudo exatamente como era. Contava-me por meio de histórias ou enigmas. Um dia ele me contou a história de um bruxo que fez de todos os seus descendentes muito mais sábios: ele criou os feitiços e poções. O bruxo era um gênio e conseguiu controlar e direcionar a Magia, o que, mesmo sem a intenção, separou o mundo dos bruxos do mundo dos trouxas. Porém, logo ele percebeu que a magia poderia produzir tanto o bem quanto o mal, por isso ele escreveu um livro de duas partes - a parte da luz e a parte das trevas-. Era como um diário de experiências onde ele anotava todas as suas descobertas, malignas ou benéficas, afinal, ele não era um bruxo das trevas ou da luz, era um bruxo com o conhecimento das duas áreas e usava qualquer uma das duas de acordo com a necessidade.


“Este livro, intitulado “O Livro da Eterna Magia”, ficou conhecido como o Livro Primordial e começou a ser extremamente cobiçado pela sociedade bruxa. Segundo eles, tal conhecimento deveria ser compartilhado e nenhum bruxo ou bruxa tinha o direito de ser egoísta a ponto de guardá-lo apenas para si. O grande bruxo foi caçado, assim como seu livro, então ele teve de se esconder. Na época os lobisomens e criaturas selvagens estavam em alta e ninguém tinha coragem de entrar nas florestas e por esta razão ele construiu seu esconderijo na maior e mais perigosa floresta da região. Protegeu sua nova casa com os mais complexos encantamentos e as mais diversas formas de torná-lo invisível aos olhos trouxas e bruxos. Porém, ele tinha de sair de vez enquanto para buscar mantimentos ou ingredientes para suas experiências.”


“Foi em uma dessas saídas que ele conheceu e salvou a vida de uma jovem bruxa, chamada Morgana. Dizem que eles se apaixonaram no momento em que ele a tirou das garras de um terrível lobisomem e que ele teve de encontrar um meio de guiá-la até seu esconderijo. Foi então que ele criou um mapa, que só poderia ser lido por aquele que buscasse a casa do grande bruxo não com o objetivo de matá-lo ou roubar seu livro, mas por uma razão nobre. Como o amor de Morgana. E por algum tempo ela continuou vendo o bruxo e ele continuou amando-a e revelando-lhe seus segredos. Um dia, ele contou a bruxa sobre o livro e foi nesse dia que a até então chamada “paixão” tornou-se “interesse”, “cobiça”.”


“Morgana não pode mais ler o mapa e nunca mais voltou. O grande bruxo, preocupado, saiu de seu esconderijo para encontrar sua amada, que tinha avisado outros bruxos sobre o paradeiro do bruxo, então ele caiu em uma armadilha. Sabe-se que ele não foi morto por esses bruxos, que com sua inteligência e carisma conquistou a confiança da sociedade bruxa e convenceu-os de que o livro era uma lenda. Entretanto, o livro permaneceu no esconderijo, onde nem o grande bruxo nem Morgana voltaram.”


Lyra levantou-se do sofá sorridente e disse:


-Meus amigos, o grande bruxo se tratava de Merlin. A “região” onde ele viveu é hoje chamada de Inglaterra. A Floresta onde fica o esconderijo não é nada mais que A Floresta Proibida de nossa escola. O mapa de Morgana? –Ela foi até a mesa e ergueu um velho pergaminho, realmente velho, porém inteiro. –E a minha nobre razão? Salvar o mundo das garras de Lorde Voldemort.


Houve um momento de silêncio onde todos encaravam Lyra. Depois, Danielle trocou um olhar com Pettigrew, que parecia ser o único a sentir o mesmo que ela. Então ele soltou uma risadinha e falou:


-Acho que você precisa ir à enfermaria Dellabatti. –Disse Rabicho sorrindo. Porém, Danielle foi a única que riu.


-Seu idiota, acha que estou mentindo? –Perguntou ela.


-Não precisa falar assim Lyra, quer dizer, eu acredito em você, mas você tem que compreender que é uma história meio... Bem, meio “caça-ao-tesouro”. –Disse a Lílian, sempre gentilmente.


-Não entendi. –Disse a morena ainda confusa.


-Você sabe, primeiro uma lenda com perigo e romance, depois um mistério não desvendado, um mapa e ainda por cima um tesouro, que no caso é o livro. O que eu quero dizer é, soa como uma fantasia e não um fato. –Concluiu Evans.


-Eu até concordaria Lily, se não tivesse acontecido isso: - Lyra abriu o pergaminho em suas mãos para exibir aos amigos. A tinta pareceu surgir do nada, assim como no mapa dos marotos, e formou o desenho de uma floresta que tinha início próxima a uma clareira e era incrivelmente densa. Ela contornava um enorme lago e continuava por todo o pergaminho. –Não estão vendo? –Continuou Lyra. –Nesta clareira hoje fica a casa de Hagrid, -apontou ela –e subindo o lago por aqui –Lyra deslizou o dedo indicando um canto do lago  seguindo pelos desenhos de árvore acima dele –chegaríamos ao Salgueiro Lutador. Sem contar que este lago é idêntico ao que fica no floresta negra.


Era incontestável. Era sem dúvida um desenho detalhado da Floresta que circundava o castelo de Hogwarts.


-Mas ele não indica o caminho, é apenas um desenho. –Acrescentou Tiago.


-Não indica porque não estamos na floresta. Sirius, lembra no início do ano, quando você se esbarrou em mim a caminho de encontrar Lupin? Então, eu estava justamente conferindo isso. Quando você entra na floresta ele vai se modificando e mostrando a trilha por onde seguir. Claro que eu na fui até o final da trilha, só pelo início, pois sei que vou precisar de tempo.


-E como vai resolver o problema da falta de tempo? Você não pode simplesmente desaparecer. –Afirmou Sirius.


-Ela vai no Natal. –Explicou Lílian, já tenso conhecimento dessa parte do plano. –Vai dizer à McGonagall que vai passar o natal em casa e quando eles enviarem a carta para informar à família ela vai mandar outra logo em seguida para os pais dizendo que vai ficar aqui no castelo. Então em Hogwarts pensarão que ela está em casa e em casa pensarão que ela está na escola.


-É um bom plano. –Disse Tiago. Lyra sorriu.


-Então quando Minerva nos perguntar, diremos que vamos para casa nas férias de inverno? –Perguntou Sirius para a garota.


-O que? –Lyra começou a falar. –Não Black, eu vou dizer isso a Minerva.


-Nesse caso, eu também direi. –Desafiou Sirius.


-Você não está entendendo. Você não comigo. Nenhum de vocês vai. –Reafirmou Lyra.


-Lyra, é muito perigoso e já disse que você não deveria ir, mas como não nos escuta, vamos com você. –Disse Lílian. Lupin, Black e Potter assentiram enquanto ela dizia, mas a reação de Pettigrew e Dany foi diferente.


-O que? –Surpreenderam-se os dois em uníssono, mas os outros os ignoraram.


-Ha-ha. –Riu-se Lyra. –Até parece. Lily, não mesmo.


-Não estou pedindo, estou te informando. –Respondeu Lílian. Lyra examinou o rosto dela e de Sirius por um momento, não levando-os a sério.


-Vocês só podem estar brincando.


-Não estamos. –Disse Tiago. –Você tem três opções Lyra: ou não vai, ou vai e nós contamos a Dumbledore e aos seus pais ou vamos com você. A escolha é sua.


Lyra ficou boquiaberta por um momento, mas não estava tão surpresa quanto Rabicho e Dany, que não estavam nem um pouco empolgados com a idéia. Então Lyra percebeu que a melhor das três opções era ir acompanhada, pois ela não podia deixar de ir e ninguém poderia ficar sabendo daquilo.


-Se todos vocês forem, vai ser muito mais complicado. –Disse ela, tentando colocar o mínimo de pessoas em risco possível.


-Bem, eu vou de qualquer jeito e a Dany também. –Disse a ruiva. Dany a encarou incrédula, mas não protestou.


-E os marotos não vão deixar três donzelas em perigo rondando por uma floresta tão perigosa. –Disse Sirius com um sorriso maroto nos lábios. Tiago também sorria e confirmou com a cabeça, enquanto Lupin continuou sério e assentiu e Rabicho teve um leve arrepio, mas ele não poderia ficar pra trás nem se quisesse, os outros não deixariam.


-Bem, então acho que vamos ter que começar a planejar tudo isso em breve. –Disse Lyra.

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