The price of The Liberty
N.A.: Não tem como ler essa fic sem ter ouvido essa música aí embaixo pelo menos umavez, ok? ;)
While I roll with the wind bringing distance to everything.
While I sit by the fire and glance at the pouring rain.
(Alexander Rybak - Roll With The Wind)
Os cachos soltos de seu cabelo dourado ondulam de maneira graciosa estimulados pelo vento frio de outono que sopra através deles. Vento este que lambe sua face, deixando as maçãs de seu rosto vermelhas e fazendo com que as fitas de seu vestido voem soltas logo atrás dela.
Em passos lentos, seus pés gelados tocam a areia fina e branca da praia, deixando pegadas por onde ela passa. Em alguns momentos, é possível ouvir o som das gaivotas ao longe, cantando em bandos enquanto pegam peixes no mar e levam para seus ninhos, nos rochedos.
Para ela, a melhor sensação é aquela propiciada pelas caminhadas na praia nas tardes cinzas. É nessas tarde que ela deixa os pensamentos fluírem soltos dentro de sua mente, como cavalos livres que cavalgam pelos campos, sem donos, sem limites e sem prisões. Como errantes, caminhando sem rumo pelo mundo, sem direção e sem lar, sem pertencer a lugar nenhum, já pertencendo a todos os lugares.
“Não”, ela pensa. A idéia de não possuir um lar não a agrada e, interrompendo sua caminhada, a princesa vira-se em direção ao mar. O vento continua brincando com seus cabelos e com seu vestido. Ela fecha os olhos e deixa essa sensação tomar conta do resto de seu corpo. Lar. E logo a imagem do castelo vem em sua cabeça. Pensa na mãe a nas vezes que costumavam passar a madrugada na biblioteca, iluminada pelos archotes, lendo até o sol nascer. Pensa em Harry e em como cresceram juntos dentro daquelas paredes de pedra; como eram tão unidos, tanto quanto seus respectivos pais. Seu pai... O rei. Ela pensa nele e no salão real. Pensa nas reuniões que ali aconteceram e nas decisões que ali foram tomadas. Decisões sobre o reino, sobre o povo e sobre ela.
No mesmo instante, ela vê a imagem dele. Ela abre os olhos, mas ainda sim o rosto permanece inalterado em sua mente. A pele branca e os olhos azuis bondosos. O cabelo ruivo e o sorriso carinhoso. É ele. O príncipe cuja sua mão estava prometida desde o dia do seu nascimento, o homem com quem ela passaria o resto da sua vida, aquele único que deveria ocupar todo seu coração e por quem o resto dos seus dias seria destinado... O estranho que ela havia conhecido há dois dias.
Ele fora bom e educado com ela, isso era fato. A tratara bem e ele e Harry se simpatizaram logo de cara. Era dono de um sorriso meigo, ainda que nervoso, ela pôde notar. Mas não, não era ele. Ele não fizera seu coração bater mais rápido. Ela não se sentiu interessada por ele. Não quis saber seus passatempos nem seus livros favoritos. Não se sentira empolgada com sua companhia, muito menos sentiu o coração descompassar quando o cavalheiro beijou-lhe sua mão. Não, ela soube no momento em que o vira, e no fundo, tinha essa certeza triste desde que fora anunciado a ela que seu noivo já havia sido escolhido a muito: ela, Hermione Jane Granger, não se casaria por amor.
Hermione continuou sua caminhada. Ela percebia que o frio estava se intensificando e que as ondas estavam chegando à praia perto o suficiente para lavarem seus pés e sujarem a bainha de seu vestido, mas isso não a importava. Sua cabeça estava agora nos dias que viriam. No casamento, que aconteceria em questão de um dia, ou menos e em como esse evento mudaria o rumo da sua vida. Pensava nos benefícios que isso traria para seu povo e na alegria que isso proporcionaria a seu pai e sua mãe. E pensava na infelicidade que isso lhe traria. Pensava em como nunca mais passaria noites acesas na biblioteca de seu castelo, tendo Harry ou a mãe como companhia. Pensava que essa provavelmente seria sua última caminhada livre pela praia. Era até possível que ela nunca mais visse os campos de centeio onde, durante toda sua infância, correra livre, na companhia de Harry, ou até mesmo sozinha... Mas aquilo não importava mais, era passado, e ela era nobre, nascera assim, e por isso tinha de cumprir com suas responsabilidades.
Enquanto caminhava, o sol ia se escondendo sob o mar, ou assim parecia para quem assistia o por do sol na praia. Logo ficaria escuro demais para enxergar o caminho de volta e ela se perderia, como já havia acontecido inúmeras vezes. Contudo, dessa vez, não podia se dar ao luxo de isso acontecer. Era muito mais do que uma noite fora do castelo que isso implicaria. Caso se perdesse, os cavaleiros seriam postos a sua procura, e com certeza ela se atrasaria para o casamento que estava para ocorrer logo de manhã. Logo, ignorando a vontade extrema de continuar andando sem olhar para trás até ir longe suficiente para nunca mais ter de voltar, Hermione olha uma última vez para a praia, o horizonte e o mar, dá meia volta e põe se a caminhar de volta para o castelo. Contudo, a princesa não dá três passos quando algo a impede de continuar andando. Um som, para ser mais exato. Ela um som baixo, difícil de ouvir se você não está prestando atenção, mas, por acaso, aquela melodia entrou pelo seu ouvido tão claramente que era impossível ignora-la. Ainda que fosse triste e lento, era um som harmonioso e cheio de sentimento e mesmo sem ver quem estava tocando, era possível perceber que fosse quem fosse, o fazia com a alma.
Ignorando a voz em sua cabeça alertando-a sobre a possível possibilidade dela se perder e sobre seu casamento, que estava a uma noite de acontecer, Hermione volta ao caminho que estava fazendo e começa a procurar pela origem do som.
Não demora muito e logo ao longe ela avista uma fogueira recém acesa. Esta bruxuleava, criando sombras na areia, enquanto a tarde ia se tornando noite e ela ia se aproximando.
Ao chegar mais perto, ela nota quem estava a produzir tal som. Ao lado da fogueira, um jovem tinha um instrumento de cordas apoiado nos ombros em uma das extremidades e com uma das mãos segurava a outra extremidade, enquanto a outra mão o tocava com um pedaço de corda bem fina preso a um pedaço de madeira do mesmo tamanho. Hermione logo reconhece que o instrumento a ser manuseado trata-se de um violino, usado às vezes para animar os banquetes reais. Mas logo sua atenção é desviada do instrumento para quem o toca. O rapaz mantém os olhos fechados, e a princesa o admira enquanto a música continua a ser produzida. Os olhos de Hermione passam pelas vestimentas do rapaz, tipicamente camponesa e se detém em seu rosto pálido. Seus cabelos, de tom louro platinado, se movem displicentes com o vento e seus lábios vermelhos encontram-se entreabertos. Os olhos da princesa se perdem ante a áurea triste e ao mesmo tempo bela que emana do violinista. É quase que possível sentir a dor que ele sente ao tocar aquela melodia triste e, enquanto o olha, Hermione fica se questionando para quem aquela música foi composta.
Contudo, antes do esperado, o som é cessado e o louro abre os olhos. O olhar de Hermione desvia-se para os olhos, agora abertos, e ela percebe a tonalidade azul destes, que ainda encaram o horizonte, sem notar uma segunda presença ali com ele. Mas por pouco tempo. Logo o rapaz desvia sua atenção para o seu redor e quando o faz seu olhar encontra o da princesa e ambos se assustam.
- Quem é você?! O que faz aqui?! – Questiona o garoto. Mesmo assustado com a súbita descoberta da desconhecida companhia, o tom de voz por ele utilizado possui um quê de arrogância, fato logo notado por Hermione.
Entretanto, esta não deixa se intimidar pelo desconhecido. E com leve desdém, retruca.
- Até onde é de meu conhecimento, eu que deveria estar lhe perguntando isso. – diz a princesa, sem desviar o olhar. – Não acha?
O rapaz a encara longa e intensivamente, e Hermione percebe pela mudança de expressão de esnobe para assustado que ele a reconheceu. Entretanto, quase que no mesmo instante seu rosto volta ao normal e ele responde:
- Sem assim você diz, princesa – o tom arrogante permanece – Se me der licença... – e sem terminar a frase, ele dá as costas e começa a caminhar em direção contrária a que Hermione caminhava antes.
Assim que esta percebe a intenção do rapaz, abandonando todo seu porte real, ela pede:
-Não! Não, por favor, não vá. Toque mais uma vez!
No mesmo instante, ele pára de caminhar e volta sua cabeça para a garota a encarando um tanto surpreso, ainda que de maneira esnobe:
- Você quer que eu toque pra você?! A princesa quer realmente que eu toque?
Hermione sorri e caminha em direção a ele:
-Sim, eu gostaria.
Ele a olha por mais alguns segundos, mas logo volta a sua caminhada, concluindo, no mesmo tom de sempre:
- Desculpe, mas os ouvidos da princesa devem estar acostumados com algo mais refinado do que isso.
A garota assiste em silêncio o rapaz se afastar aos poucos e, desapontada, responde:
- Bom, você é quem sabe. Mas não precisa ir embora por minha causa. Volte, quem está de partida sou eu. – E, se afastando da fogueira, pela segunda vez naquele dia ela volta a fazer o caminho em direção ao castelo, agora iluminado apenas pela luz da Lua e das estrelas.
Hermione, no entanto, não caminha muito.
- Muito bem, eu toco mais uma vez, mas posso não ser tão bom como os músicos reais.
A garota volta sorrindo.
- Tenho certeza que nenhum músico real possui inspirações como a que você teve para criar essa música. E fez para uma garota?
O rapaz a encara, surpreso e um tanto quanto revoltado, como se algo que ele guardasse profundamente tivesse acabado de ser descoberto. Ignorando a pergunta da princesa, ele diz.
- Meu nome é Malfoy. Draco Malfoy.
- Sou Herm...
Ele ri, com sarcasmo.
- Como se ninguém soubesse que você é.
Ela ri.
- Se você diz. Pois bem, Malfoy, toque para mim.- Ela diz, enquanto senta próximo à fogueira. Logo em seguida, o rapaz senta ao lado dela, e começa a tocar.
O resultado foi imediato. Enquanto os dedos do rapaz corriam pelo instrumento, deixando os sons saírem, a calmaria ia se instalando dentro de Hermione. Naquele instante, seu casamento pareceu algo tão distante, tão dispensável de preocupações. Sua única vontade era ficar ali ouvindo aquele garoto desconhecido tocar até ela não ter mais com o que se preocupar. Até todos os motivos que a fizeram querer ir embora pra sempre sumissem. Fechando os olhos devagar, ela foi aos poucos deitando sobre a areia, enquanto a música se espalhava pelo ar e preenchia cada canto da mente da princesa.
Quando os últimos acordes foram tocados o som do violino cessou, Hermione ainda permanecia deitada na areia, com os olhos fechados. Foi quando a voz do garoto ao seu lado chegou aos seus ouvidos que ela saiu do estado entorpecente que a música a havia deixado.
- Eu sei o que está para ocorrer amanhã. – Disse Draco. O assunto pegou Hermione de surpresa. Ao lado daquele desconhecido, seu casamento era o último assunto que ela gostaria de ser discutido. Por isso, ante a afirmação do loiro, a princesa permaneceu em silêncio. Visto que não obteria resposta, o violinista insistiu – Porque não está no castelo... Se preparando?
Se preparando. Mas era exatamente isso que ela estava fazendo, não era? Ela estava se preparando para abandonar tudo que ela gostava. Estava se preparando para deixar para trás toda sua vida até agora, onde a partir de amanhã uma nova história sobre ela seria escrita. História essa que guiaria sua vida, mas não seria escrita pela suas mãos. Tentando achar uma resposta para a pergunta do rapaz, Hermione o encarou. Os olhos azuis do violinista retribuíram o olhar. A expressão em seu rosto ainda possuía traços arrogantes, e a princesa concluiu que isso na verdade, era algo do rapaz, era natural dele esse porte esnobe, quase que real. Se não fosse pelas roupas de plebeu, Draco Malfoy seria facilmente confundido com um nobre.
- Você não quer não é?
- Ahn, o que? – a princesa ficara tanto tempo avaliando o rosto do violinista que esquecera que havia uma pergunta no ar esperando para ser respondida.
- O casamento! – disse ele com impaciência – Está estampando em seu rosto que você faria tudo o possível para evitá-lo.
Ante a conclusão de Draco, Hermione começou a avaliar sua situação. Estava em uma praia deserta a um dia de se tornar rainha, já havia anoitecido e não havia meios dela voltar para o castelo sozinha e, ainda por cima estava a discutir seu casamento com completo desconhecido que ela encontrara na praia tocando violino. “Sim” pensou ela “eu já estou fazendo de tudo para evitá-lo...”.
Um riso sarcástico fez a princesa voltar sua atenção no violinista.
- Bom, o silêncio responde muita coisa, não é o que dizem? Sabe – disse ele, levantando e recolhendo seu violino – acredito que o preço a ser pago quando se nasce nobre é a liberdade. – e sem nem se despedir, pôs-se pela segunda vez naquela noite a caminhar para longe dela.
Pega de surpresa pela súbita atitude de Draco, Hermione também se levantou.
-Já vai?! – Era estranho, mas parecia tão errado que ela ficasse longe dele. Naquele pequeno momento que passara ao lado do violinista fora recheado de significado muito mais do que todos seus encontros com seu futuro marido. – Mas...
Sem olhar para trás, o rapaz disse:
- Não está ouvindo o trote dos cavalos na areia? Já estão vindo te buscar...
E parando para prestar atenção, a princesa ouviu. Realmente, estavam a sua procura. Ante o fato de que estava a instantes de voltar para o castelo e encarar seu futuro totalmente infeliz, a princesa quis, como nunca desejou algo antes, correr para longe dos cavalos que estavam se aproximando; tão longe que eles nunca pudessem alcançá-la. “Junto com o violinista e sua música”, concluiu uma voz em sua cabeça. Mas ela sabia que aquilo não era possível. Ela sabia, como ninguém mais, que ela tinha um compromisso a ser cumprido, e que aquilo não tinha conseqüências somente a ela e, pensando nisso, ignorando seus impulsos, a princesa começou mais uma vez a caminhar, vagarosamente em direção ao som dos cavalos. Mas antes que pudesse se afastar o suficiente de Draco, sua voz a atingiu e virando para vê-lo pela última vez, ou assim lhe parecia, ela ainda pôde ouvi-lo dizer:
- Liberdade sempre foi um preço alto demais pra mim, princesa. Mas se você está disposta a pagar... – e lançando um olhar cheio de significados a Hermione, ele voltou a sua caminhada, enquanto pequenos pingos d’água começavam a cair.
***
Nossa, chuva caindo em baldes lá fora enquanto eu termino isso. Ahn, espero realmente que vocês gostem, essa é minha primeira história medieval HP, então, é muito especial pra mim *-* . Tipo, ela surgiu completamente do nada enquanto chovia muito e Alexander Rybak tocava seu violino sem parar no Media Player. (/fato, não tem como ler essa fic sem ouvir Roll With The Wind pelo menos uma vez!) Mas então, me deu uma vontade de continuar essa história sabe. ficaram alguns pontos em aberto que eu gostaria de concluir... O que vocês acham? Por favor, comenteee, porque como eu já disse, coments são meu combustível XD
ME acima de tudo, eu preciso da opinião de vocês leitores/as. :D
Muitos beijos a todos/as. :*
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