Pelo Jardim...



Uma coruja bateu o bico na janela do quarto de Helena, era uma coruja negra com um pergaminho enrolado em uma bela fita verde-musgo, ela não precisava pensar muito para saber que vinha dos Slytherin.


Abriu rapidamente o pergaminho e leu as letras meticulosamente elaboradas que diziam:


Cara Helena,


Estou a mandar-te esta carta na esperança de que negues o pedido ao Arthur, venho avisar-te que será a ultima vez que te peço tal coisa, não ousarei importuná-la novamente, mas se te recusares a fazer tal coisa tomarei minhas próprias medidas para impedir que teu casamento ocorra; caso aceites se casar comigo perdoarei os últimos dias e não irei proibir-te de ver o Gryffindor, claro que levarás companhia, mas poderá visitar esta família ocasionalmente.


Ofereço-te uma chance de evitar uma rivalidade maior entre duas famílias, dois fundadores e duas das casas de Hogwarts; espero que entendas a conseqüência de suas ações para não se arrepender depois.


Cordialmente,


Barão Jonh di Siltre Slytherin.


Helena leu a carta pelo menos três vezes, e ficou a imaginar quais “medidas” seriam essas que o barão disse que poderia vir a tomar, decidiu que iria falar com o Arthur antes de tomar qualquer decisão, e também iria pedir um conselho a sua mãe, era algo sábio a se fazer, por assim se decidiu, iria resolver todo este novelo de lã em no máximo um mês.


Abriu o diário a fim de escrever algumas linhas para poder se expressar, antes ela tinha o diário como apenas um objeto, uma forma de narrar tudo o que acontecia nos primeiros anos de Hogwarts, mas, agora, com Natasha tratando-a como a um cachorro ela tinha o diário em altas contas e era como se mandasse cartas para um leitor distante, cujo nome ela desconhecia.


A pena azul percorreu a página acompanhando algumas anotações passadas, e finalmente escreveu:


Dia: Quarto dia do nono mês de 1002


Confesso que não sei mais qual medida tomar, parece que quando minha vida toma algum rumo certo algo acontece e altera todos meus planos, sinto-me em uma barco a mercê do vento, cuja única solução é se pedir para chegar até o destino certo...


Natasha ainda não tornou a falar comigo trata-me com desprezo, ontem não pude suportar mais tantas ironias e comentários maldosos, posso ter sido um pouco rude...


Helena riscou as palavras “um pouco” e prosseguiu


...provavelmente foi mais do que eu pretendia, mas não sei como explicar, a raiva me dominou por completo, tenho medo de que isso possa interferir em algo envolvendo nossas casas, não quero mais uma rivalidade dentro daquelas paredes de pedra, é mais do que posso suportar...


Não sei se devo confessar isso aqui, mas ontem, pouco antes de Natasha aparecer e interromper um belo passeio no jardim, eu me declarei ao Arthur, logo após dele me revelar seus sentimentos, parece que meu coração finalmente pegou as rédeas do meu ser por alguns minutos, a sensação é ótima, o pior é saber que foi desse mesmo jeito que minha irmã se deixou levar e fugiu, sei que não faria o mesmo, eu não chegaria a tal ponto, mas senti como se eu fosse capaz de fazer qualquer coisa por aquele homem...


Será que estou enfeitiçada? É uma possibilidade...


Helena parou de escrever e riu baixo com as ultimas linhas, desde quando ela era tão sentimental e confessava o que passava a um caderno? A resposta surgiu tão rápido quanto a pergunta:


“Desde que meu mundo desabou com um maldito duelo...” pensou vestindo-se rapidamente com um longo e simples vestido vinho, saiu pisando levemente nas escadas para não fazer barulho, era madrugada, mas Helena não sentia um pingo de sono, decidiu caminhar sob a luz do luar e voltar antes que todos naquela casa acordassem.


Passou pela porta sem ser notada até que esbarrou com o Arthur, ambos deram alguns passos para trás Helena quase caiu no chão, mas Arthur a amparou impedindo sua queda, eles trocaram um olhar desconfiado e perguntaram ao mesmo tempo em um tom baixo e autoritário:


- O que você está fazendo aqui?


-Não estava conseguindo dormir e decidi sair para caminhar um pouco – respondeu prontamente Helena e acrescentou em um tom desconfiado – e você?


Arthur deu de ombros e disse:


-Muito no que pensar, praticamente fiz o mesmo que tu fizeste... – falou distraído e depois completou – posso lhe acompanhar?


Helena sorriu e imitou o gesto que o noivo fizera dizendo logo em seguida ironicamente:


-E eu tenho alguma outra opção?


Arthur negou com a cabeça e sorriu dizendo em um tom meio sombrio:


-Com toda a certeza não...


Arthur percebeu então que ainda segurava Helena nos braços, soltou-a de forma que ela não caísse no chão denunciando-os para o resto da casa, Helena sorriu e começou a caminhar sem rumo pelos corredores de flores plantadas a esmo.


“Diga alguma coisa, qualquer coisa...” pensava Arthur


Helena percebeu que havia posto em seu bolso a incomoda carta do barão, Arthur percebeu a inquietação dela e perguntou em um tom calmo:


-Lena... Tem algo a te incomodar?


Helena parou sendo seu ato seguido por Arthur e ficou em silencio se debatendo mentalmente nas opções a frente: contar-lhe ou não sobre a ameaça feita, Helena após muito pensar disse com uma voz temerosa:


-Arth... Estou preocupada com uma carta que recebi ontem à noite...


-Que carta? – perguntou ele.


Helena entregou a carta a Arthur com mãos tremulas, temia não pelo conteúdo em si, mas pela reação do grifinoro, ficou atenta a expressão dele que pouco se alterou enquanto ele lia e relia a folha amassada, depois de algum tempo ele disse:


-Não temo o Jonh, se ele quer uma guerra, ele terá uma guerra...


-Arth isto é loucura! – protestou Helena – Não pensas no futuro?! Isso pode ocasionar algo muito maior é como uma bola de neve – o grifinoro deu de ombros e Helena continuou – não faça isso, temos que pensar nos próximos passos com cuidado, nós podemos evitar muitas conseqüências catastróficas se tivermos o mínimo de cautela...


-Queres desistir do casamento? – perguntou friamente puxando Helena para perto, atraindo o seu olhar, seu rosto passivo e apático disfarçava muito bem todo o seu nervosismo, Helena deixou derramar uma lágrima, Arthur percebeu então o quão pressionada a garota se sentia, já tinha sido difícil para ela ter de arcar com a responsabilidade de ser uma das herdeiras de Hogwarts, agora ele entendia que ela estava tentando evitar muito mais que apenas uma rixa, ele a olhou nos olhos e delicadamente enxugou a lágrima que escapara a corvina – Lena – ele amenizou a voz ao falar – essa rivalidade que a tanto custo tentas evitar, mais dia menos dia explodirá em uma guerra entre as casas, não se sacrifique tanto...


Helena tentou se desviar do olhar dele, não queria que o amigo, noivo e amor da sua vida a visse tão fragilizada, Arthur levantou seu rosto em um gesto delicado e encarando seus olhos, disse:


- Lena, lembra quando eu te disse que tudo no mundo tem ordem, tempo e rumo certo – começou ele e quando Helena acenou afirmativamente continuou – pense no seguinte, eu acho que já lhe disse isso antes, em todo caso irei repetir, imagine uma arvore, onde a cada dia brotam mais e mais folhas, a partir de novos galhos que vão se encontrando, as folhas verdes estão crescendo, absorvendo o máximo que podem do sol, nenhuma folha cai até que esteja seca e sem utilidade para tal planta, claro que estou falando se as coisas ocorressem do modo que deveriam, mas elas não duram muito, entende? E assim as coisas são mantidas, Lena, a vida é curta demais, imprevisível demais, a prova viva é o meu irmão, Natanael, apenas dez anos e lá está ele, em uma cama com uma doença sem solução, sem dia ou previsão de melhora, sem perspectiva...


Helena não pode suportar o olhar de Arthur, que apesar de sua expressão distante e indiferente, eram tristes e vazios quando falava do irmão, ela se deixou levar pela proximidade entre o rosto dos dois, Arthur não podia não beijá-la, então ele o fez, um beijo lento e calmo, de alguma forma ainda apaixonado e cauteloso, eles se afastaram lentamente, rubros e eufóricos, trocaram um olhar que falava por si só.


Ao fundo o sol nascia com um ar risonho, divertido e brincalhão, vinha por detrás de uma nuvem banhando o céu de laranja, dando a lua uma chance para descansar até a próxima noite; Helena começava a pensar que poderia ser mais simples do que jamais imaginara viver nunca pareceu tão gratificante.

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