Chapéu Revelador
Capítulo 3: Chapéu Revelador
Helena acordou de madrugada com uma leve batida na janela, levantou-se e com um bocejo abriu a carta que havia acabado de chegar em uma bela coruja marrom, a ave se mostrava quieta com os olhos desconfiados, mas ao mesmo tempo cálidos, entrou voando pela janela com suavidade e pousou perto da escrivaninha olhando diretamente para o diário de Helena.
-Olá Exoni! – cumprimentou a moça – espero que não vá sair por ai contando a todos o que escrevo nesse diário – acrescentou sentando-se a cama e lendo o bilhete em pergaminho amarelado com letras trêmulas:
Cara Helena,
Papai conseguiu melhorar o chapéu.
Chegou a sua vez.
Às sete horas, próximo ao lago.
Responda-me logo,
Arthur
PS: Espero que sua mãe não se importe.
***
Pegando a pena em sua escrivaninha rapidamente escreveu no verso:
Caro Arthur,
Estarei lá.
E ainda chegarei antes de você.
Mamãe não irá se importar.
Até breve,
Helena
PS: Espere uma hora mais conveniente ao mandar bilhetes, eu estava dormindo...
Helena entregou a carta a coruja e a viu partir solenemente sob os primeiros raios da aurora com um vôo suave. Deitou-se novamente e tentou dormir, mas sua cabeça não parava de pensar nos últimos acontecimentos, depois de vários minutos deitada de olhos fechados desistiu e pôs-se a escrever em seu diário:
Dia: vigésimo terceiro dia do oitavo mês de 1002
Não era de meu intuito escrever algo sobre minha vida pessoal, mas parece que esta se enlaça a história de Hogwarts, portanto escreverei algo como um breve resumo, e, depois, contarei os fatos ocorridos nos últimos dias.
Sou a filha mais jovem de Rowena Ravenclaw, tenho 18 anos, minha irmão mais velha, creio que já comentei anteriormente, fugiu com um trouxa há alguns anos, negou a magia e nos deixou, fui criada de uma forma que muitos, creio eu, achariam inadequada para uma jovem em nossa época, minha mãe me ensinou a ler e a escrever, o que espero que não seja grande problema futuramente, algo assim já é visto preconceituosamente, mulheres supostamente não deveriam poder pensar, apenas obedecer, mas ao ser criada por uma bruxa que foi abandonada pelo marido assim que ele descobriu esse fato, me faz ter uma visão privilegiada do mundo.
Apesar de minha idade não me casei ainda, nem havia pensado em tal possibilidade até ontem, quando o barão me pediu em casamento. Nunca havia pensado em Jhon de tal maneira, mas se for necessário vejo que irei ceder, não posso permanecer solteira a vida inteira sem olhares maldosos das outras mulheres, e, nesses tempos sombrios não se pode dar ao luxo de haver inveja e ciúmes circundando sua imagem.
A parte emocional: nunca senti nada pelo Jhon, a não ser amizade e quiçá um amor de irmãos, mas o casamento é um negocio, e, se ele se fizer necessário aceitarei o pedido, não posso negá-lo sem outro pretendente em vista, coisa que não tenho.
Os homens deste período não compreendem o fato de que penso, sou discriminada pelo simples fato de saber, acho isso um absurdo, mas culturalmente as mulheres supostamente não devem pensar, ler, escrever, estudar nada, e, sou sincera, isto me irrita profundamente...
Ainda hoje irei ver o chapéu seletor, Arthur me mandou um bilhete dizendo que seu pai o havia melhorado e me esperava para experimentá-lo...
Helena parou de escrever ao olhar pela janela e perceber que o sol já havia nascido o que significava que ela tinha poucos minutos para se arrumar e ir ao lago.
Escolheu rapidamente um vestido e sem tomar café utilizou da habilidade que havia aprendido graças a sua mãe, se transformou em uma bela águia alva e saiu voando pela janela.
***
- Ela já esta atrasada! – murmurou impacientemente Arthur.
- Calma meu filho, Helena, apesar de toda a inteligência, ainda é uma garota – respondeu Godric.
Ambos usavam roupas vistosas, Godric um manto vermelho bordô com rendas de um ouro envelhecido, seus cabelos castanho-claros já mostravam os primeiros sinais dos fios brancos, seus olhos cinzentos apesar de tristes e distantes ainda mostravam um brilho determinado, ele andava pesadamente próximo a margem do lago negro.
Seu filho possuía traços mais suavizados, seus olhos de um verde vivo raramente deixavam transparecer a tristeza pela qual havia passado, era um homem esbelto com cabelos da mesma tonalidade dos do pai ondulando até um pouco acima da sua orelha.
Arthur rapidamente avistou a bela águia alva descendo do firmamento e disse ao seu pai:
-Ela chegou!
-Como você sabe? – perguntou Godric analisando o filho – Poderia ser qualquer águia branca e não...
Helena voltou a sua forma humana pouco antes de aterrissar no chão interrompendo a fala de Godric com um pouso suave.
- Quem mais se transforma em uma águia branca de olhos azuis que nós conhecemos? – perguntou retoricamente Arthur, animado ao ver Helena.
- Desculpem-me o atraso – falou ela com um olhar baixo.
- Pelo menos você chegou – comentou Arthur apenas para Helena, sem seu pai ouvir acrescentou – Ele não me deixou ver o chapéu ainda, e, não vou negar, estou me roendo por dentro de tanta curiosidade...
- Olá Helena – falou Godric se aproximando dela e dando-a um abraço paternal, ele ajudara muito a mãe de Helena quando seu pai a abandonou, então era como um pai para ela.
- Olá Godric, o Arthur me falou que você melhorou o chapéu seletor – falou ela tentando disfarçar toda sua curiosidade na voz.
- Sim, claro, sua mãe me ajudou bastante me mandando algumas anotações para melhorá-lo, e, por mais que deteste admitir, foram bastante úteis... – ele retirou de um dos bolsos um belo chapéu negro, o tecido ainda intacto com apenas um grande rasgo que abriu-se em uma boca – Se me permite... – comentou e colocou o chapéu sobre seus cabelos loiros.
Da boca antes imóvel saiu uma melodiosa voz, que parecia ser de um grande trovador, dizendo em alto e bom som:
- Muito que pensar criança, tanto a decidir, poderia fazer o mais simples, mas o mais simples não é tão simples assim, não espere muito pode acabar se cansando, vejo tanta inteligência, tantas soluções, mas nenhuma faz sentido para você, não? Quer uma sugestão? Case-se logo, quanto mais cedo melhor...
Helena retirou o chapéu da cabeça e o entregou a Godric tentando fazer uma expressão impassível, mas suas bochechas ruborizaram e seu cabelo agora estava bagunçado; Arthur a olhava incrédulo, o que havia acabado de acontecer, ele havia ouvido direito? Helena, casar?
Helena não esperou muito e saiu caminhando apressadamente pela margem do lago, era difícil para ela receber conselhos, além do mais de um objeto; quando já estava a alguns metros de distancia ouviu a voz de Arthur gritando:
- Helena! Helena, espere! – ele corria atrás dela, seu tipo físico esportivo lhe dava uma vantagem e em poucos segundos ele a havia alcançado e a puxou pelo braço e perguntou, encarando-a com aqueles olhos verdes – O que foi aquilo?
Helena tentou se desvencilhar do puxão que Arthur lhe dera, mas desistiu sabendo perfeitamente que o físico dele dava-lhe uma bela vantagem sobre ela. Inicialmente pensou em mentir, dizer que havia sido um engano, mas desistiu, Arthur a conhecia bem demais ele saberia se ela estivesse mentindo.
- Fui pedida em casamento – falou por fim.
- Por quem? – perguntou ele, disfarçando a incredulidade com uma expressão séria e impassível no rosto.
- Você não irá acreditar, nem eu mesma acreditei na hora – começou Helena, mas ao ver a expressão de Arthur completou rapidamente – Jhon Slytherin, sim, o filho do Salazar – acrescentou ao ver as sobrancelhas juntas dele.
Arthur estava estupefato, de todas as pessoas na face da Terra o filho do fundador da sonserina era a probabilidade mais remota, mais distante que ele poderia imaginar, sem pensar duas vezes perguntou novamente a Helena:
- E o que você disse?
- Que iria pensar... Há muito em jogo para se dizer sim ou não sem antes pensar corretamente... – falou ela e depois acrescentou – Arth, você pode largar meu braço? Estás machucando-me...
Arthur rapidamente a largou e os dois passaram a caminhar confortavelmente, ele não queria demonstrar, mas em seu íntimo respirava aliviado por Helena não ter aceitado a proposta, tudo o que ele menos queria nesse mundo era vê-la casada com um Slytherin, mesmo seus pais se dando razoavelmente bem, os filhos não tinham a mesma amizade, os Gryffindor e os Slytherin se odiavam quase totalmente, viviam competindo e brigando, mas nunca sem machucavam de um modo que seus pais percebessem, Godric e Salazar podiam não ser melhores amigos, mas, assim como Rowena e Helga, não gostavam da idéia de seus herdeiros, os futuros diretores e diretoras de Hogwarts, brigando.
Eles andaram em silencio durante algum tempo, lado a lado, cada um envolto em seus próprios pensamentos.
- Helena – quebrou o silencio timidamente a voz de Arthur – por que você simplesmente não nega o pedido do barão Slytherin?
Helena olhou para ele e arqueou uma sobrancelha como se a resposta fosse algo da mais simples natureza.
- O barão é um homem de influencias Arth, é uma questão delicada negá-lo um pedido, e, nós dois sabemos que os Slytherin quando querem uma coisa, ou uma pessoa, não medem esforços para consegui-la, para negar este pedido eu teria de usar de uma manobra delicada, fazer o Jhon enxergar que não sou a melhor opção para uma baronesa, eu acho que se utilizasse o critério sanguíneo ele logo desistiria, todos sabemos que eu não sou puramente bruxa...
- Mas nenhum de nós... Corrigindo: nem aqueles que são grifinoros ou os lufanos e principalmente os corvinos se importam com o fato de você ser bruxa ou nascida trouxa; menos o maldito Salazar e sua prole... – falou Arthur se esforçando ao máximo para não alterar sua voz, mas notas de amargura e raiva escaparam.
Helena revirou os olhos, era certo que o Salazar não desejava de maneira alguma que os nascidos trouxas fossem educados como bruxos, Hogwarts nem havia sido oficialmente inaugurada e já haviam tantas intrigas em suas bases, para ela era só uma questão de tempo, e não muito, para o fundador sonserino tomar suas próprias medidas, ela já havia dito isso a sua mãe, mas Rowena se negara a escutar.
Ela se sentou em um tronco de uma arvore que havia sido transformado em uma espécie de banco, o Sol já brilhava plenamente em um belo céu azul seu olhar estava longínquo, sua mente voava buscando uma solução simples para um problema delicado.
Arthur,vendo o silencio da amiga, sentou-se ao seu lado e mudou de assunto ele não queria, nem podia, imaginar Helena casada com o mais novo dos Slytherin, ele tinha que fazer alguma coisa, com seus quase 23 anos nunca havia se passado em sua mente a possibilidade de casamento, mas agora ele começava a perceber que estava gostando mais daquela garota do que poderia admitir, e, se essa fosse a única solução para não vê-la casada com o maior de seus inimigos ele se casaria com ela...
- Helena, e se... – começou temeroso escolhendo com cuidado cada palavra – E se...
- Arth, fale logo, se você pensou em uma solução fácil para o meu infortúnio, diga logo
- E se, sei lá, fugíssemos durante algum tempo, até o Jhon se casar com outra bruxa, ai nós voltaríamos – falou por fim, mal acabando de pronunciar a ultima palavra começou a pensar; “Covarde! Covarde! O que seu pai diria? Você consegue derrotar uma besta selvagem, mas não consegue nem ao menos tentar ajudar a garota pela qual você certamente morreria? Tolo! Covar...”
- Não irei deixar minha mãe sozinha – Helena disse com um sorriso abatido, interrompendo os pensamentos de Arthur, ela gostava do Jhon, mas seu coração sempre pertenceu à outra pessoa...
Arthur pegou na mão de Helena e, sem se importar com o anel que ela usava, apesar de saber que era aquele o anel que o barão havia dado-lhe, disse como costumava dizer quando eram menores e a garota sentia falta da irmã que fugira com um cara que lhe havia prometido o mundo, mas então a abraçou e disse com uma voz calma:
-Calma Lena, vai dar tudo certo – ele passou um braço ao redor dela e acrescentou baixinho – nós vamos dar um jeito nisso.
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