A vontade de Hugo
Aos dez anos Hugo já estava ansioso pra ir para Hogwarts a ponto de preocupar os pais com pequenas travessuras.
Hermione tentava preencher o tempo do filho dando aulas de teoria da magia, mas a certa altura parecia não ser o bastante. Então, como Hugo também se interessava por esportes, os pais de Hermione deram ao garoto de presente de natal uma assinatura de TV para que acompanhasse a liga inglesa de futebol. Hugo escolheu o time do Arsenal para torcer.
Rony não via graça no esporte e quem gostava de acompanhar os jogos à frente da TV com Hugo era Harry ou o Sr. Granger; os dois sempre apareciam no dia de algum jogo importante para alegria de Hugo que como todo garoto gostava de torcer aos berros.
Depois de um fim de semana na casa dos avós maternos, onde conheceu crianças trouxas de sua idade na vizinhança, Hugo fez um pedido mais que inusitado aos pais:
– Quero ir para uma escola de trouxas!
– O que? – perguntou Rony surpreso.
– Quero ir pra uma escola de crianças trouxas. – repetiu Hugo.
– E por que você iria querer isso?
– Quero aprender coisas. Quero saber como os carros andam e como a TV funciona; essas coisas.
– Pergunte a sua mãe ou para o vovô Granger.
– Eu quero aprender numa escola de trouxas; vi livros que as crianças usam e as figuras não se mexem. Tem desenhos de árvores e animais e como eles vivem...
– Você é um bruxo, vai pra Hogwarts!
– Vai demorar papai! Eu não quero esperar! Eu quero ir pra escola agora!
– Hermione... – disse Rony obviamente pedindo auxilio.
Hermione estava tão espantada quanto o marido com o pedido do filho.
– Hugo não é permitido a crianças bruxas freqüentarem escola de trouxas.
– Por quê?
– Crianças bruxas vão para Hogwarts e trouxas para escola de trouxas! É assim! – disse Rony ainda sob o efeito do pedido do filho.
Hermione conhecia bem o caçula; sabia que esse simples argumento não o convenceria. Tentou explicar da melhor maneira possível.
– Em algumas famílias mistas como a nossa; algumas crianças vão pra escolas de trouxas, mas só quando fica comprovado que não têm poderes mágicos e você tem Hugo!
– Você vai para Hogwarts – disse Rony – que é onde um bruxo aprende o que tem de aprender. Sua mãe, seus avós podem lhe ensinar coisas de trouxas.
– Não posso ir mesmo?
– Não. Sinto muito filho... – disse Hermione.
Hugo saiu da sala para seu quarto do jeito que cortava o coração de Hermione. De menino agitado e alegre passou a ficar dias quieto lendo ou brincando sozinho. Perdeu um pouco do interesse pelas aulas da manha e Hermione começou a se preocupar.
– Ele é um bruxo Hermione! – disse Rony quando ele e Hermione se preparavam para dormir – não me diga que realmente considerou esse pedido?
– Ele tem um lado trouxa! O meu lado! – exclamou Hermione.
– Você é bruxa. Vive como bruxa. Nunca ligou para coisas trouxas.
– Eu não as ignoro! É importante pra ele saber as raízes da minha família tanto como as da sua!
– O que vai fazer Hermione? Mudar a lei pra satisfazê-lo? Combinamos de não mimá-los... muito.
– Ele gosta de aprender e se interessa por vários assuntos... Como eu era na idade dele. E se Hugo fosse trouxa?
– Seria o primeiro na minha família! O que? Você acha que eu o amaria menos?
– Não, claro que não, mas você tem que aceitar que talvez Hugo seja diferente.
– Isso eu sei e todo mundo já sabe Hermione! Esse moleque... ele vai dar trabalho; não sei... mas sei que vai!
Rony socou o travesseiro e apagou as luzes. Hermione não disse mais nada.
– Acho meu filho perfeito!
– Claro que acha. Ele é a sua cara – riu Rony.
Durante a noite os dois se viraram de um lado pro outro acordados, mas não se falaram até de manhã.
Na tarde do dia seguinte Hermione foi ver os pais e levou Hugo com ela. Quando voltaram encontraram Rony e Harry conversando na sala.
Hugo correu para o colo do tio contando sobre a escola de trouxa que visitara com a mãe e o avô. Contou que pela primeira vez tomou um refrigerante inteirinho.
– Escuta só tio Harry!
O garoto deu um enorme arroto e Harry não se agüentou de tanto rir.
– Não faça mais isso está bem? – disse Hermione querendo parecer zangada.
– Deixa ele Hermione. – disse Harry colocando o sobrinho no chão.
Rony ofereceu uma garrafa de cerveja amanteigada ao cunhado.
– Hermione me contou que Hugo pediu para freqüentar uma escola trouxa. – disse Harry aceitando a bebida.
– Claro que contou... – murmurou Rony emburrado – Harry, você ainda gosta de coisas de trouxas? Sente falta?
– De algumas, mas o mundo da magia me ofereceu muito mais. Eu sou muito mais feliz vivendo como bruxo.
– Não entendo trouxas; o trânsito, aquelas coisas em seus ouvidos. Eles não tiram aquilo pra nada. Não quero meu filho vivendo desse jeito, ninguém deveria viver desse jeito.
– Mas você gosta da casa dos Granger. Do bairro onde moram.
– Já me acostumei. É diferente.
– Rony... Hugo só quer aproveitar tudo dos dois mundos. Se Lily tivesse o mesmo interesse eu não iria me opor.
A verdade é que o mundo trouxa assustava Rony e o deixava inseguro de várias maneiras. Absorto nesses pensamentos Rony não ouviu a conversa entre Harry e Hermione.
O Sr. Granger levou Hugo para visitar a ex-escola de Hermione mais umas três vezes naquela semana. Rony não se manifestou, mas também não demonstrava muito interesse pelas novidades do filho. Hermione não tocava no assunto.
As noites aquela semana continuaram silenciosas entre os dois. O casal estava sendo o que sempre fora: teimoso.
Não demorou muito para uma das preocupações de Rony virasse realidade. O filho acabou conhecendo um ex-colega da mãe. O pai de Hermione sempre mencionava o tal cara quando o casal brigava; só quando Rony e Hermione finalmente ficaram noivos o nome fora esquecido.
Hugo contou ao pai que o sujeito tinha um carro chamado Aston Martin. Embora Rony não soubesse quase nada sobre carros entendeu que o tal carro era do tipo que trouxas gostavam de exibir, ou seja, o tal sujeito era rico. Talvez fosse até bonitão e já era amigo de seu filho. Era necessário agir!
– Vou comprar um carro para sua mãe!
Quando Hermione chegou do trabalho viu um carro novinho na garagem. Hugo e Rony sorriam para ela.
– Surpresa! – disseram juntos.
– É todo seu! O nome dele é Bentley! – disse Rony satisfeito.
– Legal que já vem com nome não é mamãe? Você não precisa pensar muito para escolher!
Hermione ficou perplexa.
– Escolhemos por um catálogo. Disse ao vendedor que só ficaria com ele se pudesse trazê-lo na hora! – disse Rony.
– Não quer dar uma volta mamãe? Eu quero!
– Tome! – Rony entregou a chave para Hermione e a abraçou.
– Não é meu aniversário nem nada! Esse carro vale uma fortuna Rony. Precisamos conversar sobre isso.
Os dois entraram na casa e começaram a dizer ao mesmo tempo:
– Desculpe sobre aquela noite.
– Não me importa que Hugo ou Rose fossem trouxas! Eles são parte de você Hermione!
– Eles são a melhor parte de nós dois!
Os dois começaram rir e se beijaram.
– Não quero que a gente resolva nossos problemas dessa maneira Rony; você não precisava ter me comprado nada.
– Você não gosto do carro? – disse Rony coçando cabeça.
Hermione não resistiu e beijou o marido de novo.
– Não é isso. Você se tem visto a Sra. Twitch?
– Não a algum tempo.
– Você se lembra que contei como ela ajudou meus pais quando recebemos a carta de Hogwarts?
– Tinha me esquecido... – disse Rony franzindo a testa. A Sra. Twitch era a bruxa representante do Ministério da Magia junto aos trouxas.
– Ela deu inicio a um projeto interessante: dar aulas três vezes por semana na minha ex-escola para crianças de famílias mistas. Matérias básicas trouxas e de magia basica para idade de Hugo e eu o matriculei... Vai ser bom até ele embarcar para Hogwarts. Quando contei para você...
– Você me contou?
– Aqui nessa sala! Rony, você não me ouviu?
– Por isso você e seu pai estavam levando Hugo para sua antiga escola?
– Você não me ouviu Ronald?
– Desculpe! Eu estava ocupado sendo um idiota. Mas isso é ótimo! Era isso que eu devia ter dito quando você me contou!
– Achei que você não queria que Hugo aprendesse nada de trouxas e que estava zangado comigo.
– Adoro trouxas! Graças a dois deles tenho você aqui agora. E Hugo será um grande bruxo!
– Ótimo – disse Hermione aliviada e feliz – agora sobre o carro Rony...
– Vai servir para levar Hugo para escola.
– Sim, mas eu não posso chegar lá com um carro desses.
– Ah, não você não vai sozinha! Eu os levarei! Aston Martin que se cuide!
– Do que você esta falando?
– Nada! Vamos dar um volta no Ben?
– Bentley e Aston Martin não são realmente os nomes dos carros Rony. Além disso, eu prefiro que você leve Hugo para casa dos seus pais...
O casal trocou olhares significativos.
– Vou levá-lo já! – disse Rony saindo para a garagem.
Quando Hermione procurou no bolso da calça a chave do carro fechou os olhos já sabendo o que vinha pela frente. Ouviu o ronco do carro e um estrondo.
– Rony! – gritou – Ah, Hugo... Não... o carro novinho!
– Tudo bem... Ele está bem. Vou refazer a porta da garagem. Quer mudar a cor das paredes?
– Não, mas acho que seria bom reforçá-las...
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