Capitulo 2



Na base do precipício ela abriu a chapeleira. Tudo estava seco, graças à cobertura de verniz. Ela tirou uma muda de roupas para Nicky, um manto de casimira, e seu par sobressalente de chinelos.


 


Ela rapidamente tirou a roupa de Nicky, secou-o com seu manto e colocou nele roupas limpas e secas. Ele tinha sido propenso a todo tipo de doenças ao longo da infância e ela não queria que ele apanhasse um resfriado. Ela torceu as saias o melhor que podia, secou os pés e os deslizou para dentro dos sapatos.


 


Ela olhou de relance para o precipício. Ela nunca conseguiria subir o caminho íngreme com a saia arrastando e grudando ao redor das pernas. Com dois alfinetes ela removeu a saia e a anágua subiu, usando apenas a anágua, com os bolsos secretos, que eram atualmente a sua posse mais valiosa.


 


Ela amarrou a saia e a anágua bem altas nas pernas, como tinha visto um pescador fazer. O vento glacial bateu em sua pele molhada. “Agora, rumo à subida”, ela disse e ergueu a mala de viagem.


 


Nicky olhou fixamente para o precipício. “Nós realmente temos que subir até lá em cima?”, não era nenhuma maravilha ele parecer amedrontado com a ideia. Ela podia ver o topo através de uma luz lânguida iluminando a escuridão—uma mudança de textura, em vez de sombra.


 


“Sim, mas o homem disse que havia um caminho, lembra?”, Gina tentou manter a fúria longe da voz. Os precipícios eram enormes e muito íngremes—largá-los lá tinha sido mais do que ultrajante, tinha sido criminoso, devido às pernas de Nicky!


 


Eles foram escalando, Nicky na frente, para que Gina pudesse ajudá-lo caso ele tropeçasse. O grande peso da mala de viagem logo fez as palmas das mãos dela queimarem. Rajadas de vento os chicoteava.


 


“Fique longe da extremidade!”, ela gritava para Nicky a todo instante. O caminho era assustadoramente estreito em alguns lugares: na escuridão era apavorante.


 


“Eu posso ver o topo, mamãe!”, ele disse depois do que parecera ter sido uma eternidade.


 


Gina parou para respirar, esfriando as palmas em chamas contra a saia molhada, e olhando para cima. Quase lá. Ainda bem! Ela deu um suspiro enorme de alívio. Com alguma sorte eles não estariam longe de Lulworth.


 


 


Harry Potter circundava o precipício num galope. O caminho estreito mal era visível e ainda assim Harry não diminuiu a velocidade de seu passo. Um passo em falso poderia mandá-los além da extremidade, mas ambos, cavaleiro e cavalo, conheciam bem o caminho. Eles tinham montaram lá quase todas as noites pelas últimas semanas.


 


O ar salgado e frio entrava em seus pulmões. A tempestade estava se aproximando, rapidamente.


 


Trojan de repente quebrou seu passo largo. Harry olhou para cima. “O que diabo—”


 


Uma criança apareceu em seu caminho, olhando fixamente para ele e apavorado. Cavalo e cavaleiro estavam quase sobre ele. Não havia tempo para parar, nenhum lugar para manobrar. De um lado as pedras laterais se erguiam abruptamente no meio de arbustos irregulares, do outro um mergulho para a morte certa nas pedras abaixo.


 


“Saia do caminho!”, Harry gritou. Ele puxou as rédeas, os músculos de Trojan se comprimindo no esforço em diminuir a velocidade o suficiente para parar antes da criança ser pisoteada.


 


O pequeno menino não se moveu, estava petrificado pelo medo. Não havia tempo para pensar, apenas para reagir. “Abaixe-se!”, Harry gritou enquanto se preparava para saltar com seu cavalo sobre a criança.


 


Enquanto Trojan se elevava, saltando alto em obediência cega ao comando das mãos do seu mestre, uma mulher surgiu de lugar nenhuma e com um grito se jogou sobre a criança. Era muito tarde — o cavalo já estava no ar, passando sem acertar, Harry desejou, ambas as mulher e a criança. Ele tinha sentido uma pancada enquanto voava? Aconteceu tão rápido que ele não podia estar certo.


 


Ele se jogou do cavalo ainda em movimento e correu de volta. Ele podia ouvir algo colidindo precipício abaixo, enviando pedras e mais pedras para baixo. Ele pediu a Deus que não fosse a mulher. A criança, ele estava certo, tinha ido em outra direção, para longe da extremidade.


 


Na escuridão ele podia apenas perceber uma forma feminina deitada bem na extremidade do precipício. Graças a Deus que não tinha sido ela que ele tinha ouvido caindo. Mas se ela tivesse se movido alguns poucos centímetros…


 


Ele estava a três passos quando ela começou a se mexer. Antes que ele pudesse alcançá-la, ela se moveu, tentado ficar de pé, e deslizou na direção da extremidade.


 


Harry se lançou para frente, agarrando um punhado de roupa molhada, e a arrastou de volta. Roupa molhada? “Fique quieta”, ele gritou. “Não se mova”.


 


“Onde está—?”, ela rebateu as mãos dele para longe e ficou de pé, procurando freneticamente. “Nicky! Nicky!”, ela gritou.


 


“Não se mova!”, ele nitidamente ordenou. “Você está bem na extremidade do precipício”.


 


Ela olhava fixamente e horrorizada, para o precipício. “Nicky!” Ela respirou. Ela se balançou para frente, estudando o local.


 


“Ele não caiu”, Harry disse firmemente, trazendo-a de volta novamente. “Se Nicky for um menino pequeno, ele está bem”.


 


“C-como você sabe?”, ela estava gaguejando, quase sem voz.


 


“Eu o vi correr por esse caminho”. Harry apontou para o caminho além.


 


“Correr? Oh Deus, ele deve ter ficado apavorado. E se ele cair do precipício com essa escuridão!”, ela começou a andar na direção que ele tinha apontado. “Niiicky!”


 


“Ele está bem, tenho certeza”, ele começou com uma voz calmante.


 


Niiicky!”, ela gritou novamente.


 


“Eu estou aqui, mamãe”. A voz veio da escuridão. “A chapeleira tinha desaparecido. Eu fui atrás dela”.


 


“Oh, Nicky! Eu estava tão preocupada”. A mulher passou por Harry e envolveu a criança em um abraço úmido.


 


“Mamãe, você está toda molhada!”, o menino disse com uma risada que soou como um soluço e ela deu um passo para trás. Ela acariciou o cabelo do menino suavemente.


 


“Você está bem, querido? Aquele cavalo repugnante não te chutou, não é?”.


 


“Não, ele saltou por cima de mim—como se estivesse voando, como um Pégaso. Mas você me empurrou, mamãe, e foi nessa hora que eu a soltei”. O menino ergueu a chapeleira. “Tinha rolado. Estava indo para a beira do precipício, mas eu a parei”.


 


“Como você é inteligente”, ela disse a ele, tremendo, começando a se recuperar do susto. “Eu não suponho que você tenha visto meu chinelo, também, não é? Eu o soltei em algum lugar”. Ela estava tremendo muito, Harry viu. Frio, reação, ou ambos.


 


“Eu te disse que ele estava bem”, Harry disse.


 


Ela se virou para ele em fúria. “Não fale comigo! Se você tivesse tocado em um fio de cabelo dele com o seu comportamento criminalmente irresponsável, eu iria—eu iria—” a voz desafinou e ela abraçou o menino convulsivamente.


 


Ela deu uma respiração funda, rota e disse estremecendo, “você está bêbado? Creio que está, saltando com um cavalo sobre a cabeça de uma criança! O fato de meu filho estar bem não é graças a você ou àquela criatura!”.


 


“Eu não estou bêbado. Se estivesse, não conseguiria ter reagido com tal rapidez—” Harry respirou fundo e tentou se acalmar. Ele disse em um tom deliberadamente calmo, “Olhe, o menino está perfeitamente a salvo e—”


 


“Salvo! Você quase o matou!”.


 


“Senhora, eu arrisquei a mim e o meu cavalo para não machucá-lo”, ele disse com um pouco de aspereza. “Eu normalmente não uso meninos e pequenas mulheres para praticar saltos. Ele apareceu de repente, vindo de lugar nenhum, e de pé, parado, bem no meu caminho—”


 


“Com aquela grande e repugnante besta voando na direção dele, ele provavelmente estava muito apavorado para se mover!”


 


“A coisa sensata a fazer—”


 


Sensata? Você espera que uma criança possa pensar claramente quando um homem está montando e vindo diretamente na direção dele? Ele é só um menininho!”, ela abraçou a criança novamente.


 


“Eu não estava montando na direção dele! Ele estava no meio do caminho—e numa hora em que a maioria dos meninos pequenos deviam estar na cama. E não havia tempo suficiente para parar—”


 


“Porque você estava montando como um diabo!”.


 


“Isso mesmo. Nas minhas terras”.


 


“Entendo”. Ela respirou fundo, fazendo um esforço visível para tentar manter a compostura. “Eu… entendo. Percebi que estamos invadindo suas terras. Nesse caso, não devo te aborrecer ainda mais. Boa noite”.


 


Harry franziu o cenho. A lua estava ainda atrás das nuvens, mas ele podia vê-la bem o suficiente para notar que ela estava esfregando um ombro. “Você está ferida”.


 


“Uma pequena contusão”, ela admitiu.


 


“Você está certa de que não é pior do que isto?”.


 


“Não, não é sério. O ombro já estava dolorido de carregar a mala”.


 


Harry procurou. “Que mala?”.


 


“Deve… deve estar por aqui, em algum lugar. Eu a puxei a porcaria da distância toda desde a praia. É pesada como chumbo”.


 


Eles todos olharam mas não havia nenhum sinal de uma mala de viagem pesada-como-chumbo.


 


“Deve estar aqui”, ela disse. “Não podia ter desaparecido como a chapeleira”.


 


“Ahh”, disse Harry. Ele sentiu desânimo ao pensar onde o mala de viagem estava. “Acho que ela caiu da extremidade quando você, hmm, se abaixou”.


 


“Oh não!”, ela exclamou. “Talvez ela não tenha caído longe”. Ela começou a ir adiante, mas Harry a parou.


 


“Eu vou olhar”, ele disse a ela. “Meus nervos não aguentam mais ver vocês se aproximando da extremidade do desfiladeiro”. Ele avançou e perscrutou abaixo através da penumbra.


 


“Talvez tenha ido mais abaixo”, ela iniciou.


 


Ele foi adiante e sua bota encostou em algo pequeno. Que caiu, levando alguns poucos pedregulhos para baixo com ele. “Hm, acho que achei seu chinelo”, ele disse a ela.


 


“Obrigada. Dê-me, por favor”.


 


“Eu, hm, acabei de chutá-lo lá para baixo”.


 


Ela suspirou. “É claro que você chutou”.


 


“Eu recuperarei a mala para você pela manhã”, Harry disse friamente. “O chinelo poderá ser mais difícil de achar”.


 


“Não se importe com isso”, ela disse exaurida. “O chinelo provavelmente estava arruinado e, de qualquer maneira, vou enviar alguém para buscar a minha mala pela manhã”.


 


“Vai enviar de onde?”, Harry perguntou. Não havia nada a quilômetros, apenas a casa dele.


 


Houve um curto silêncio. “De onde nós vamos ficar, ela disse cautelosamente”.


 


“E onde é isto?”.


 


“Isto é da minha conta”, ela disse firmemente. “Obrigada por sua preocupação. Adeus”.


 


Harry admirou a atitude dela. Ela o dispensou como uma pequena duquesa, e nas próprias terras dele. “Eu não vou a lugar algum sem você”, ele a informou. Eles estavam em uma situação desesperadora e ele não conseguiria abandonar uma mulher e uma criança à própria sorte.


 


Ela foi para longe dele, trazendo o menino para perto dela. “Não seja ridículo. Você nem nos conhece. E nós não conhecemos você”.


 


Ela deu um passo para trás… e outro…


 


Ele andou a passos largos adiante e a agarrou quando ela começava a deslizar. Antes que ela soubesse o que estava fazendo, ele colocou ambas as mãos ao redor da cintura dela e a tirou de perto da beira.


 


“Deixe-me—ah”, ela gaguejou, quando ele a soltou. Ela olhou de relance para trás e viu. “Oh… O-obrigada”.


 


“O prazer foi meu. Harry Potter, à sua disposição”. Ele se curvou. “E você é…?”


 


Ela se ajeitou, ereta, lutando desesperadamente por dignidade. “Agradeço sua… ajuda. Mas meu filho e eu estamos muito bem agora, obrigada, adeus”.


 


“São as minhas terras”, Harry lembrou-a suavemente.


 


“Sim. Claro. Nós devemos partir. Venha, Nicky”. Ela tomou a mão da criança e deu três passos para um lado dele. Então ela hesitou e disse com uma angustiante tentativa adicional de manter a dignidade. “Este é o caminho para Lulworth?”.


 


“Sim, é, mas você não vai para Lulworth hoje à noite”.


 


“Nós vamos, sim” ela disse tão certamente quanto uma mulher poderia entre os dentes que batiam como castanholas espanholas.


 


Harry ignorou-a. Ele tomou as rédeas de Trojan e bateu-as ligeiramente no pescoço do cavalo. Ele retirou seu sobretudo da sacola de viagem e tomou a chapeleira do menino.


 


“O que você está fazendo? Esta é minha chapeleira”, ela disse. “Devolva de uma vez!”.


 


Harry amarrou a chapeleira na sela, pôs o sobretudo e ofereceu a mão para ela. “Vamos”.


 


Ela pressionou as costas contra as pedras na parte de trás do caminho. “Eu não irei!”, ela deu uma olhada apavorada para o cavalo e com uma voz diferente disse, “não posso!”.


 


Ele encolheu os ombros e colocou o menino sobre uma saliência sobre o caminho.


 


“Deixe-o ir!”, em desespero ela jogou um punho contra Harry, mas ele o pegou facilmente.


 


Ela ergueu a mão para acertá-lo e ele a segurou. Naquele momento a lua saiu detrás das nuvens, iluminando o topo do precipício—e o rosto da mulher—com uma luz clara e prateada.


 


Harry já tinha perdido o ar mais de uma dúzia de vezes. Todas as vezes ele achava que estava morrendo.


 


Ele já tinha levado um coice de um cavalo na cabeça uma vez. E isso o tinha deixado com a cabeça confusa durante um tempo.


 


E algumas vezes na vida ele tinha estado tão bêbado que tinha perdido a noção do tempo e do espaço.


 


Vendo o rosto dela sob o luar era como sentir todas essas coisas juntas. E mais. A respiração de Harry parou. Ele se esqueceu de como fazia para falar. Era incapaz de pensar. Ele apenas podia olhar. E olhar. E olhar.


 


Ela tinha o rosto mais doce que ele já tinha visto, redondo, doce e triste de certa maneira… apropriado, emoldurado por uma nuvem escura formada pelos cabelos ondulados. Um anjo que tinha descido à Terra. Com a boca mais perfeita para se beijar no mundo.


 


Ela devolveu o olhar dele. Os olhos dela eram bonitos, ele pensou, olhos nos quais um homem poderia se afogar alegremente. Ele se perguntou qual seria a cor deles.


 


“Solte-me nesse instante!”, o anjo falou de repente, e a respiração de Harry voltou com um grande sopro de ar. O anjo era muito, muito humano. E estava muito, muito assustado.


 


Ele segurou o punho cerrado, quase no nível de seus olhos. “Isso”, Harry agitou o punho direito dela um pouco, “teria te machucado mais do que me machucado”. Ele virou o punho cerrado dela para cima e explicou. “Está vendo onde está seu polegar? Se você tivesse batido na minha cabeça, ele teria ficado contundido, talvez tivesse até quebrado. Eu tenho uma cabeça muito dura”.


 


Ela fez uma carranca em dúvida. As táticas dele a estavam confundindo. Como ele pretendia. Tensão ainda vibrava pelo corpo pequeno e arredondado dela, mas ela estava escutando.


 


“Da próxima que vez você for esmurrar alguém—qualquer um—algum pobre e inocente homem que, acidentalmente, passe com o cavalo acima de você na escuridão e te salve várias vezes de um precipício, por exemplo—faça assim com o punho”. Ele a mostrou, arrumando seus dedos. “E bata com toda a firmeza— acerte de baixo para cima o nariz do cara”. Ele olhou para ela abaixo e acrescentou, “ou o queixo dele, se você for muito pequena para alcançar o nariz dele”.


 


Os olhos dela se estreitaram. “Eu não sou pequena”.


 


“Não, claro que não”, ele solenemente a assegurou. “Melhor ainda”. Ele se curvou, pegou uma pedra e apertou-a contra a palma a mão. “Se você bater num homem com isto, realmente será de grande valia. Tenha certeza de que ela é grande o suficiente para se encaixar na palma da sua mão e que você possa apertá-la bem, mas ela não pode ser pequena a ponto dos seus dedos se fecharem ao redor dela. Bata no homem com a pedra, não com a sua mão. Da próxima vez em que estiver temendo pela própria vida, lembre-se da pedra”. Ele soltou as mãos dela e deu um passo para trás.


 


Ela segurava a pedra firmemente, olhando fixamente para ele com uma suspeita confusa.


 


Harry reprimiu um sorriso. A expressão no rosto dela era inestimável. As táticas de surpresa sempre tinham sido seu forte.


 


“Você sabe que eu não vou te machucar ou o machucar menino. Então apenas seja sensata e monte no meu cavalo”.


 


“Eu—eu não gosto de cavalos. Eu prefiro caminhar”.


 


“Não seja ridícula, são oito quilômetros e há uma tempestade se formando”.


 


“Eu não me importo. Já caminhei distâncias muito maiores do que oito quilômetros antes”.


 


“Não na escuridão, dentro de uma tempestade e com apenas um sapato”, ele a lembrou. “Venha, senhora, eu te erguerei”.


 


Ela se defendeu dele com uma mão. “Não, não, eu não posso!”.


 


Ela estava genuinamente assustada, Harry percebeu.


 


“Está tudo bem, Trojan é um cavalo muito gentil. Não há nenhuma necessidade de ficar assustada—”


 


“Eu não estou assustada!”.


 


“Claro que não está”, Harry concordou. Ela estava apavorada. “Não se preocupe, eu te segurarei e você ficará segura. Eu apenas vou te erguer —”


 


“Você não fará nada disso!”.


 


“É a sua última palavra?”.


 


Ela deu a ele um pequeno e firme aceno com a cabeça. “É”.


 


 “Excelente”, Harry disse e antes que ela percebesse, ele a tinha erguido pela cintura e sentado-a lateralmente sobre o cavalo. Trojan, abençoado seja, tinha permanecido parado como uma estátua. Quase com o mesmo movimento, Harry se sentou atrás dela e a abraçou firmemente ao redor da cintura antes que ela pudesse saltar do cavalo. Ela fez um som baixo, abafado.


 


Na mão ela ainda tinha a pedra que ele tinha dado a ela. Ela ergueu o punho e o balançou, cheia de indecisão. Harry esperou.


 


Trojan bateu os cascos e começou a se mover agitado.


 


Ela ofegou e soltou a pedra. O braço livre dela se debatia desesperadamente, tocou a crina de Trojan, recuou, e então ela procurou no escuro algo para se agarrar. Ela achou a coxa de Harry. E a agarrou bem firme.


 


Ele ofereceu a mão para o menino que observava infeliz, sobre a borda rochosa. “Vamos, Nicky, tome minha mão”.


 


A criança hesitou. Ambos estavam muito assustados com Trojan, Harry percebeu.


 


“Eu prometo que você não cairá. Apenas pegue a minha mão e eu te jogarei para trás de mim”.


 


Novamente o menino agitou a cabeça.


 


“N-Nicky não sabe montar”, ela disse a ele por entre os dentes trincados.


 


Harry pacientemente disse, “eu não estou pedindo a ele para fazer isso. Eu conduzirei. Tudo o que ele tem que fazer é se sentar atrás de mim e se segurar”.


 


“Eu não sei montar, também”. A mão dela o agarrou ainda mais firmemente.


 


“Eu sei. Estou te mantendo segura, não é?”, ele apertou a cintura dela suavemente. Ela estava se sentando tão rigidamente que ela poderia se partir ao meio. “Eu o manterei seguro, também”.


 


Ela disse com a voz agitada, “se uma das suas mãos está me segurando e a outra é para Nicky, quem vai guiar o cavalo?”.


 


“Eu irei. Com as minhas coxas”.


 


“Suas o quê?”, um leve ultraje apareceu através do terror dela.


 


Ele sorriu para si mesmo. Ela obviamente não tinha ideia que estava se agarrando à coxa dele com todas as forças. “As minhas coxas são muito fortes, e ele é um cavalo muito bem treinado. Agora vamos, Nicky, a chuva já está quase sobre nós. Suba”.


 


Enquanto ele falava, várias gotas grandes de chuva começavam a cair. “Venha, Nicky”, ela disse afinal.


 


Com dúvidas óbvias, a criança indecisamente se esticou e pegou o braço de Harry.


 


“Bom menino. Agora ponha seu pé esquerdo sobre a minha bota aqui e quando eu disser, salte e jogue a perna direita sobre o cavalo, para trás de mim. Você estará perfeitamente seguro. Eu não te deixarei cair”. O menino obedeceu, fechando os olhos e fazendo um pulo cego só com a fé. Em um segundo ele estava acomodado atrás de Harry sobre Trojan.


 


“Agora erga meu casaco sobre você quando a chuva começar, para que não fique molhado. Você pode se segurar no meu cinto ou na minha cintura, em qual achar melhor”, Harry disse a ele. Ele sentiu o casaco se elevar, então dois pequenos braços envolveram sua cintura em um aperto convulsivo.


 


Harry cutucou o cavalo Trojan que se moveu enquanto a chuva começava. A mulher e o menino se embrenharam em Harry como a dona morte faria.


 


Gotas glaciais de chuva batiam no rosto de Harry e adentravam seu casaco. Ele estava com frio, molhado e deveria se sentir miserável.


 


Em vez disso, ele sorria amplamente, de repente alegre. Até uma hora atrás sua vida se estendia diante dele, como uma extensão infinita sem sentido e fácil. Uma sentença de prisão perpétua de tranquilidade.


 


Agora, de repente—abençoadamente!—Ele tinha um problema, uma dificuldade, um problema. E ele estava sentado rígida e inflexivelmente em seus braços como um pequeno e molhado pedaço de madeira, os olhos fechados, contraídos com força, segurando sua coxa como se nunca mais fosse soltá-la; o pequeno problema dele.


 


E Harry achava que assim estava perfeito


 


 


(...)


 


 


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