Capítulo 9

Capítulo IX

Flashback – Último semestre do último ano
Local: Drayton Manor High School – aula de Matemática Avançada
Horário: 13:04
Quando: 26/Março – sexta-feira

Lily não sabia por que não estava com vontade de entrar naquela sala, porém algo em seu âmago lhe sussurrava para fazê-lo. Ela tinha pensado muito desde que deixara a escola, na tarde anterior. Jene a achou calada, mas Lily apenas disse que estava cansada. Jene, que por mais que soubesse dos problemas emocionais da amiga, deixou para lá o assunto. Lily mantivera o ar feliz por aquela noite, apenas por consideração à Jene. Não queria que ela desconfiasse de algo de errado. Porque Lily tinha certeza de que tinha alguma coisa muito incoerente ocorrendo entre ela e James. E ela não sabia o que lhe retribuir ou como reagir àquilo. Estava confusa e aflita.

De uma vez por todas, deu o primeiro passo, entrando naquela sala. A professora aguardava os alunos e a maioria dos estudantes já estava sentado das carteiras conversando com os colegas.

Quando ela viu James, automaticamente quis retornar e pôde sentir seu rosto quente. Caminhou lentamente até a mesa conjunta e tentou ignorar a sensação enjoativa em seu estômago.

- Oi – ela disse bem baixo, quase nem querendo que sua voz saísse.

James, que a tinha avistado da porta, acenou com a cabeça e sorriu. Ele não estava envergonhado ou angustiado, pois ansiava por Lily. Esperava que ela não agisse de modo tão tímido, porque ele não saberia muito como explicar as coisas se Lily se retraísse.

- E aí? – ele disse, afastando a cadeira para que ela pudesse sentar, o que a surpreendeu.

- Hum, oi – ela repetiu, de modo ainda mais acanhado. Ajeitou seus materiais e ficou em silêncio.

James, que já tinha pegado o caderno e o estojo, também ficou calado por um tempinho, dando espaço para Lily, caso essa quisesse comentar algo.

Então, imaginando que Lily nunca abriria a boca, caso não fosse estimulada, James suspirou, tomando coragem. Virou-se para a menina, abriu e fechou a boca diversas vezes, tentando pensar por onde começar.

Lily, percebendo que James iria falar algo (provavelmente relacionado à tarde anterior), fingiu não notar nada. Continuou a observar o quadro-negro como se já estivesse em aula.

- Lily? – James chamou.

Lily, sentindo o rubor tingir novamente suas bochechas, tentou ajeitar a franja (como se ela pudesse amenizar algo) e olhou para o menino, de esguelha.

- Humm? – ela perguntou receosa.

- Sei o que deve estar passando por sua cabeça – ele disse.

- James, sem querer ofender, mas não tenho certeza se quero conversar sobre isso. Principalmente aqui – Lily falou hesitante.

- É necessário, okay? Eu preciso explicar que...

Agora Lily o encarava com as sobrancelhas arqueadas, esperando uma boa explicação.

Ela ainda estava corada, mas permanecia com a pose.

James ficou sem palavras. Ela o vigiava de um modo que o estava enlouquecendo. Coçou a cabeça, quase perdido.

-... que – ele gaguejou, perdendo-se. Pigarreou.

- Fale – ela mandou.

- Que foi sem querer – James terminou dizendo, odiando ter mentido.

- Aquilo não me pareceu ter feito sem querer. Você olhou bem para mim antes de me beijar. Como se tivesse planejado aquilo. Por sorte que Kelly não estava ao redor. Por que se estivesse, bem, você sabe – Lily passou o dedo indicador pela garganta, nervosa.

- Eu sei, eu sei. Me perdoe. Eu... não sei o que me fez fazer aquilo.

- James – ela olhou para os lados e, então, se focou severamente no amigo –, se você não começar a ser verdadeiro sobre as coisas que acontecem conosco, não sei como poderei continuar a confiar em você. E sabe que confio muito em você.

James engoliu em seco.

- Você acha que estou mentindo? – James tentou forjar ar de incredulidade.

Lily ficou cética. Não sabia se podia ser cem por cento sincera dessa vez.

- Não tenho certeza – ela confessou.

- Qual é, Lily – James riu.

- O que sei é que amigos não se beijam, okay? Se você está acostumado a beijar suas amigas, fique sabendo que não está autorizado a repetir isso outra vez em mim – Lily falou com ardor.

- Tudo bem, me desculpe.

Ficaram em silêncio. Lily voltou a observar a lousa, e James a fitar o perfil sério de Lily.

- Você não está apaixonado por mim, não é mesmo? – Lily lhe perguntou de supetão.

James se assustou.

Lily olhou para ele, para que analisasse seu rosto.

- Não – ele mentiu.

Lily não teve certeza se sua resposta tinha sido proferida com muita vontade, então, permaneceu cética quando a o que estava rolando entre eles.

- Sabe que se estiver mentindo estará enganando a si mesmo, não sabe? – Lily disse.

- Por que eu estaria apaixonado por você? – James perguntou.

Lily pensou. Não tinha resposta para aquilo. Nada que ela tinha poderia ser chamado de “apaixonante”.

- Não sei – ela abaixou o rosto, falando com consciência.

- Então está resolvido. Você não tem nada que eu queria, sendo assim não estou apaixonado por você.

- É – Lily murmurou, sabendo que aquelas palavras tinham doído. 

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Narrado por: James Potter
Local: Spring Restautant
Horário: 21:33h
Quando: 16/SETEMBRO – quinta-feira

Ela enfim apareceu mais uma vez. Minha reação não foi nem de intensa felicidade nem de alívio. Talvez tivesse sido a mistura dos dois sentimentos. Assim que avistei o vermelho vivo de longe, achei mesmo que nem fosse Lily. Eu conhecia várias meninas ruivas e não tinha a intenção de fazer meu coração bater mais rápido sempre que enxergasse alguma delas. Seria ligeiramente estúpido. Por isso, quando vi aqueles raios solares magnificamente quentes baterem naqueles cabelos lisos, não procurei me alegrar tanto. Mas, quando a menina fez seus passos parecerem mais lentos e direcionados à entrada de meu restaurante, entendi que tinha definitivamente julgado errado meus princípios. E foi por isso que o alívio inundou meu corpo quando constatei que era realmente Lily: ela estava de volta. Talvez não para falar diretamente comigo, mas para jantar. Quero dizer, mais ou menos. Meus clientes mais assíduos jantavam por volta desse horário, mas não podia afirmar que Lily viera para fazer a mesma coisa, afinal, nunca que ela tinha pisado ali depois do almoço (o que apenas ocorrera uma vez).

Lily entrou quase dançando em passos firmes e ondulados. Parecia feliz. Não fazia a menor idéia do por que estava ali. Nenhuma das suposições que imaginei fazia sentido.

Não deveria estar trabalhando? Era isso que me dissera: era uma mulher ocupada.

Por mais que eu quisesse ficar ali no balcão brincando com a minha mente, logo Hannah apareceu na minha frente com um sorriso largo.

- Olha quem está aí – ela indicou com as pontas dos cabelos loiros para Lily.

Revirei os olhos ao mesmo tempo em que deixava escapar um risinho irritante.

- Eu sei. Já vi – eu disse, encarregando-me de pescar alguns cardápios que descansavam no balcãozinho de Hannah.

- Vá lá falar com ela – Hannah sugeriu.

- Irei atendê-la – ressaltei, mas aí percebi que Hannah não estava a fim de me escutar.

- Oh, então seja rápido – Hannah me falou, saindo correndo para uma mesa próxima, para anotar pedidos de outros clientes.

Novamente rolei meus olhos, impaciente. Às vezes detestava o ar mandão de Hannah. Ela mais agia como uma mãe do que como uma amiga. E eu nunca tinha de fato apreciado aquilo. Achava que ela estava mais contra do que a favor de mim.

Lily, então, sentou-se em uma mesa ao lado da janela. Estava com um vestido florido, muito simples.

Caminhei com passos irrequietos até onde ela tinha se sentado. Revolvia a bolsa com pressa e prestava atenção no que se passava do outro lado do vidro; pessoas caminhavam apressadas pela rua e sem intenção de dar a mínima. Lily estava distraída tanto quanto eu estava aflito.

À medida que eu me aproximava dela, o meu coração se acelerava cada vez mais. Caramba, como eu estava agindo feito criança.

- Olá – cumprimentei-a gentilmente, como sempre fazia com todos os outros clientes.

Lily rapidamente ergueu a cabeça, mas não parou de procurar algo em sua bolsa. Não estava surpresa ou enrubescida. Perguntei-me como ela poderia estar tão indiferente.

- Ah, oi – ela sorriu elegantemente, enquanto permanecia com os olhos em mim, fixos.

- Quer alguma sugestão do que pedir? – peguntei.

- O quê? – ela franziu a testa, confusa. Finalmente achou seu Blackberry. Retirou-o da bolsa e colocou-a na cadeira ao lado da sua.

- Um prato. Quer alguma sugestão? – melhorei a pergunta, explicando com delicadeza e com paciência.

- Ah – ela fez, momentaneamente parecendo que tinha voltado à sua lucidez habitual – Não, não – ela sorriu aliviada, como se eu tivesse lhe sugerido matar algum animal – Não é isso. Digo, não vim aqui para isso.

Pestanejei. Então, Lily se locomovera de sua sala do quatro andar até meu restaurante para não comer? O que ela achava? Que podia ocupar uma de minhas mesas para bater papo? Se é que queria bater papo comigo. O que eu duvidava muito, considerando que ela vivia fugindo de mim e que depois daquela manhã em que eu lhe levara mais uma cartela de aspirina não a vira mais.

O que Lily Evans queria comigo, então, por Deus?

Claro que instantaneamente começaram a pipocar possibilidades em minha mente.

Falar com Hannah? Por quê? Não, definitivamente não.

Falar comigo sobre aquela manhã? Por quê? Ela já não tinha me agradecido? É, também não.

Sugerir que eu aparecesse mais vezes em seu apartamento para vê-la de roupão e chinelos? Imaginava que não.

Lily, ali em uma mesa, agindo como se não tivesse tempo nem para respirar, viera para quê, afinal?

- Ah, então... hm, o que deseja? – inquiri displicente.

Lily soltou todo o ar represados nos pulmões e só depois disse:

- Quero que você não pire, okay? Porque quero lhe propor um jantar para conversarmos.

Meu fôlego se esvaiu.

- Como disse?

- Está vendo? Você já está pirando – Lily riu com aborrecimento.

- Não estou – coloquei as palmas das mãos para fora, rindo - Explique-me.

Lily sorriu com paciência, como se fosse uma criança arteira que tivesse levando um sermão dos pais.

- Sábado estarei livre a tarde toda, e achei que pudesse almoçar juntos, ou então tomarmos um lanche – ela me informou com pressa, como se não pretendesse realmente me falar sobre aquilo.

- E por quê?

- Bem, você já foi me visitar duas vezes. E você me ajudou muito.

- E seu namorado?

- O que tem ele? – Lily inclinou a cabeça, pensativa.

- Você não se preocupa com ele?

- Ele não tem nada a ver comigo, nesse aspecto – Lily falou com brutalidade – Ele é meu namorado, mas você é meu amigo. Viu? Vocês não têm nenhuma ligação.

Eu já tinha me tornado amigo de Lily? Uau.

- E aí? Você aceita ou não? – ela me perguntou.

Pensei. Se ela estava me sugerindo um “encontro”, era porque estávamos bem. Talvez não cem por cento, mas com certeza, estávamos bastante satisfeitos com nossas vidas.

- Claro – assenti – A que horas lhe pego?

- Encontramo-nos ao meio-dia e meio no Arancina, okay?

- Tudo bem. É legal da sua parte.

- O que é legal da minha parte? – ela ficou confusa.

- Você sabe. Propor bandeira branca entre nós – expliquei - Ainda, claro, que eu tivesse achado que aquele almoço no mês passado já tinha esse objetivo – murmurei energético.

- Bem, na verdade eu fui àquele almoço praticamente forçada, já este estou indo por espontânea vontade – disse ela - Aliás, achei que isso fosse claro, já que eu o estou convidando – acrescentou com um tom de obviedade.

- Ah, certamente – concordei bobamente.

- Então?

- Então o quê? – devolvi sem entender onde ela queria chegar. “Então” é uma palavra tão pequena que nada transmite.

- Tudo bem, hm, o almoço?

- Claro, Lily – confirmei.

- Ah. Okay. Então, hm, sábado? Porque, bem, como já disse, é um dia meu quase de folga. Claro que terei de ir à Fifteen pela manhã, mas só para acertar uns contratos. A própria Maggie não vai comparecer no sábado. Vai viajar para Oxford com o cachorro.

- Com o cachorro? – suportei a vontade rir.

Lily, por outro lado, soltou uma risadinha divertida.

- Bem, Margareth não é casada. Só tem uma poodle chatinho, que a persegue por toda parte.

- Que... estranho. Ela é chefe de uma revista e não é casada?

- Dizem que Albert Einstein morreu virgem – ela me disse.

Ergui as sobrancelhas. Como ela sabia disso? Com certeza não redigia sobre cientistas de séculos passados. Meninas loirinhas não querem saber sobre a Teoria da Relatividade. Elas só querem... bem, você sabe. Coisas que certamente não interessavam nadinha a Lily, especialmente considerando que eu a conhecia bastante (para uma pessoa que conviveu com ela por seis meses ininterruptos). Eu bem sabia que Lily não tinha a mente das meninas que liam sua coluna. Nem mesmo quando ela tinha a idade dessas garotas tinha a mente tão... hm, fraca. Porque, por Deus, se Hannah, que tinha vinte e um anos, agia como se tivesse quinze de vez em quando, imagine essas meninas de quinze.

Por outro lado, nada tão certo, mas Lily não fazia jus à sua capacidade de antigamente. Quando ela escrevia para o jornal da escola, na época do Ensino Médio, suas matérias eram de verdadeira importância para qualquer um (que realmente se interessasse por leitura, no caso, cinco por cento da escola inteira), no entanto, agora que tinha um emprego fixo que tanto sonhara (tudo bem, ela não queria ficar na Fifteen para sempre, porque almejava ser admitida na Mojo) não parecia em nada com a antiga Lily.

Eu li, okay? A revista, digo. A coluna de Lily do mês anterior. Não queria pensar que eu não tinha achado nada tão grandioso só porque eu era um homem. Porque existiam muitos coordenadores de redações que eram homem e simplesmente mandavam suas jornalistas escreverem sobre moda (coisa que, obviamente, pouco interessa aos homens). Mas eu realmente tinha decidido que não podia ficar com a primeira impressão, porque estaria julgando seu trabalho desnecessária e antecipadamente. E eu bem amava suas palavras no colegial. Eu achava que fosse uns dos únicos populares que se interessavam por suas matérias ativistas e que continham teor de justiça. Claro, Marlene e Dorcas algumas vezes eram vistas carregando jornais da escola, mas nada podia afirmar se estavam se deliciando com as palavras de Lily.

Bem, talvez eu não fosse o tipo de cara que conseguisse enxergar alguma utilidade em ler sobre calcinhas e sutiãs. E, de verdade, por que Lily tinha que escrever sobre aquilo? Ela, por acaso trabalhava em alguma loja que vendesse algum desses produtos? Claro que não. Então, por que fingir que era alguma coisa quando, verdadeiramente, só escrevia sobre calcinhas e sutiãs? Esperava que da próxima vez, não redigisse sobre tal tema. O que tinha acontecido com a política (um assunto tão adorado e criticado por ela?) ou com a matança aos golfinhos? Meninas deveriam aprender sobre cultura, não sobre qual tipo de sutiã serve para seu corpo. Afinal, não é para tal finalidade que existem aquelas mulheres que tiram as medidas das pessoas nas lojas? E duvidava muito que Lily estivesse de fato feliz por escrever sobre um assunto tão pejorativo. Ela era muito mais do que calcinhas e sutiãs, por Deus!

Mas tudo bem. Eu tinha certeza de que da próxima vez eu iria me surpreender (de um modo bom).

Eu não sabia o que lhe dizer depois dessa informação, então o melhor jeito que encontrei para contornar a situação foi rindo. Não era nenhum riso verdadeiro nem forçado, mas era um riso que nada tinha a ver comigo.

- Bem, é melhor eu ir. Tenho que passar no escritório do Max.

- Ah – contive o impulso de lhe perguntar sobre – Tudo bem.

Lily sorriu fracamente, depositou o celular em um dos bolsos da bolsa e se levantou graciosamente da cadeira. Passou os olhos por um instante no restaurante e acenou.

- Ah! – falei, tentando segurá-la ali por mais uns segundos. Ela se virou para mim, curiosa – Eu li a sua coluna.

Lily automaticamente fez sua mão voar para sua franja cuidadosamente feita. Era uma medida de segurança, eu sabia.

Então ela corou ligeiramente.

- Hm, que... ótimo. Achei que você fosse mesmo se prestar para isso – ela me disse com um que de nervosismo, mas aí se apressou: - Olha, eu sei que o assunto não era nada tão grandioso, mas, sério, às vezes eu escrevo sobre doutrinas e sobre o governo.

Comecei a rir. Não pude evitar. Parecia que ela estava se defendendo de uma ofensa.

- Tudo bem. Achei que você continuasse maravilhosa. Na escrita, digo – falei.

Lily, se era possível, ficou ainda mais enrubescida.

- O assunto deste mês é o Mar Morto. Sabe, por causa da salinidade.

- Isso se parece bem mais com você. Você sempre se interessou por assuntos atípicos. Certamente as meninas que lêem sua coluna não se identificarão muito.

Lily mordeu o lábio inferior.

- Achei que esse assunto fosse mais dinâmico do que sobre calcinhas e sutiãs – ela deu de ombros, preocupada.

- Com certeza é – ri baixo.

Ela me acompanhou e logo parou, sorrindo satisfeita.

- Bem, preciso ir – ela me avisou.

- O Max está sem carro? – perguntei.

Ela piscou como se fosse uma criança que não tivesse idéia do por que estávamos discutindo sobre aquilo.

- Não. Nós iremos jantar na casa dos pais dele – falou séria, mas ainda um tanto confusa.

- Ah. Bom proveito. Boa janta – desejei casualmente.

- Obrigada. Para você também – ela disse, achando que fosse melhor não sorrir.

Então, ela tornou a dar as costas para mim e seguiu para a calçada. Fiquei observando seu cabelo de ondular com o vento morno.

- James? – Hannah me chamou.

Eu, que ainda permanecia no mesmo lugar, entre uma mesa e outra, olhei-a com superficialidade.

- Oi – eu disse.

- O Sr. Begninton quer ser atendido por você. Já o coloquei sentado na mesa de sempre. Pode ir lá atendê-lo? – a voz calma de Hannah me açoitava os ouvidos. A voz de Lily era ainda mais doce e não conseguia tirá-la da mente. Suas palavras ainda zanzavam por mim, como se ela ainda estivesse ali conversando comigo.

- Claro – concordei, sem fôlego.

Podia sentir o perfume de café que pairava no ar. Era o cheiro de Lily.

Por que ela nunca conseguia me deixar?

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Narrado por: Lily Evans
Local: Restaurante Arancina
Horário: 13:08h
Quando: 18/SETEMBRO – sábado

Max não estava essencialmente bravo. Esse não era o ponto. Ele apenas não conseguia entender do por que daquilo. Dizia que não estava com ciúmes, mas não esperava que eu o trocasse por James. Bem, como eu poderia imaginar que Max tinha o dia de folga também e que pretendia almoçar comigo? Ele nada tinha me avisado sobre aquilo. E eu não era nenhuma adivinha.

- Max, vou voltar rápido. Você nem vai notar a minha ausência – falei, enquanto tentava procurar o meu brinco de bolinha de cristal no meio dos outros.

- Mas justo hoje, meu bem? – Max perguntou entediado.

- É o meu único sábado livre neste mês, Max.

- Achei que ele tivesse um restaurante perto do prédio da Fifteen. Você já me contou isso. Por que não pode almoçar com ele em um dia de semana?

- Porque meu horário de almoço é apertado. Não dá para relaxar direito e tenho sempre que ficar cuidado o relógio. Você sabe que é estressante almoçar com alguém que toda hora fica consultando o relógio – cutuquei-o. Porque ele bem sabia que odiava quando eu tinha que almoçar com ele no meu horário de almoço da Fifteen.

- Tem razão. Mas volte antes das cinco, certo? Consegui entradas para o musical do Homem-Aranha.

- Max, Homem-Aranha? – meus olhos ficaram descontentes. Por que não de “Amor e Inocência”? O filme já é maravilhoso, com a Anne Hathaway, então imagine o musical. E eu bem tinha queda por musicais.

- Você me disse que gosta da Mary Jane – ele se desculpou.

- No filme. Não no musical. E com certeza não será a Kristen Dunst a Mary Jane. Então de que adianta? – corroborei chateada.

- Poxa Lily, faça um esforço. É um dos primeiros sábados livre que temos desde a ópera.

- Mas por que tenho sempre que acatar as suas decisões? Se eu não quero ir a esse musical, eu não deveria ir – contestei.

- Não estou lhe obrigando a nada, caramba. É só uma noite legal.

- Para mim não é nada legal. Eu sempre achei que o Tobey Maguire tem uma cara de bobão. E aquele último filme que fizeram foi péssimo.

- Nossa, não sabia que você odiava tanto o Homem-Aranha – Max se surpreendeu pra valer.

- Eu não o odeio. Só prefiro coisas menos irreais – expliquei rapidamente, enquanto finalmente enfiava o brinco na orelha. Levantei-me da cama e olhei para meu namorado – Então, como estou?

- Não acredito que você voltou para casa, tomou banho e colocou esse vestido só para almoçar com um amigo. Você nunca fez isso comigo – Max ficou me analisando de cima a baixo com cara de desgosto e decepção.

Tudo bem. O vestido não tinha nada a ver. Não acredito que o Max estava me acusando daquilo tão na cara dura. Meu vestido não era tão espalhafatoso ou provocante para um almoço. Na verdade ele até era bem simples (se desconsiderarmos a estampa). Ele era verde escuro num corte estilo vintage (eu tinha muitos vestidos estilo vintage), que não marcava em lugar nenhum, com estampa de moranguinhos e a barra continha uma rendinha fofa, também verde. O vestido não era muito ruim. Ele era muito fofo. Eu, que sempre tive uma quedinha por coisas fofas, cheias de lacinhos ou flores, o tinha amado. Então, se Max estava com inveja sobre aquilo, bem, eu nada podia fazer. O vestido era novo (tinha comprado na noite de quarta-feira) e não tinha tido oportunidade de usá-lo. Então, o “encontro” com James me pareceu perfeito para experimentá-lo.

E a sapatilha rosa bebê combinava com o tom leve dos moranguinhos.

O que eu podia fazer se não tinha nada tão melhor para vestir? Fora aqueles vestidinhos estilo Taylor Swift, mas eu os preferia para trabalhar.

- Por que eu nunca tinha tanto tempo assim para me arrumar – respondi achando que a desculpa era concebível, uma vez que tinha uma pontinha de verdade – Olhe, pare de agir assim, okay? Nós já vivemos juntos, nós nos vemos todos os dias... já James, bem, eu passei seis anos longe dele. Ele também merece um pouco da minha atenção.

- Você tinha me dito que você nem eram amigos, Lily – Max lembrou-se, contestando.

Não tive tempo de corar.

- Éramos colegas. Conversávamos, essas coisas – expliquei.

- Você está agindo como se ele fosse especial para você.

- Ele é. Ele me ajudou bastante na escola e no começo do mês. Lembra do que lhe contei? Enquanto você esteve fora, ele veio até aqui e foi comprar aspirina para mim.

- Não sei por que você não pôde ir comprar sozinha.

- Max, se você sofresse de tantas dores de cabeça, assim como eu, você saberia – meus olhos se estreitaram.

Ah meu Deus, o Max estava com ciúmes do James! Estava sim! Eu sabia que sim.

- Certo, e esse almoço é para agradecê-lo por conta do remédio? Que bobagem! Por que não liga para ele e agradece pelo telefone? Aposto como ele não iria se importar – lá foi Max mais uma vez falar como uma criancinha tagarela.

- Por que quero conversar com ele. Não quero ficar conversando com ele por telefone, como se fôssemos completos estranhos, uma vez que não somos.

- Ele está a fim de você, só pode – Max constatou e eu tive de arregalar os olhos.

- O quê? Max, pare de fazer suposições! James não está apaixonado por mim. Ele só é gentil e quero retribuir isso.

- Acho que está fazendo demais para um simples cara que foi seu colega há seis anos.

- Tá certo, não quero discutir acerca disso, okay? Vou indo, porque não quero me atrasar – disse eu, apressada.

- Vá lá. Estarei esperando por você – Max me falou com voz arrastada, porque estava de olho na televisão.

Entendendo isso como uma deixa, saí do quarto, procurei as chaves do meu carro e deixou-o sozinho no apartamento.

Não pense que eu não estava nervosa. Claro que estava, tal como qualquer mulher que estivesse prestes a almoçar com uma antiga paixão. Mas eu estava tentando não deixar transparecer meus sentimentos afogados no nervosismo.

Ainda sim, era irrefutável concordar que eu estava ansiosa.

Quando o avistei de longe, meu coração que já estava ansioso começou a bater ainda mais dolorosamente, e eu achei que meu fôlego estivesse se esvaindo por completo.

Com certeza, eu estava tendo algum tipo de ataque que sofria há seis anos. Aquele do tipo Lily Idiota e Apaixonada.

Mas, ei, eu tinha namorado. Não podia sucumbir àquilo. Eu (achava que) era uma mulher forte.

James vestia uma camisa social preta, calça jeans e sapato também social. Estava muito parecido com as vezes que ele fora lá no apartamento para comprar coca diet e aspirina. Estava igualmente lindo. É. Seus cabelos negros lhe caiam sobre seus sobrancelhas e olhos, deixando-o com um ar misterioso.

Como eu queria tê-lo de volta...

Okay, Lily, nada disso.

Ele já foi seu, mas agora nunca mais será. Caras como James que foram rejeitados sem nenhum motivo convincente dificilmente retornam às mulheres que o enxotaram.

Certo, certo. É isso aí. Essa é a mais cristalina verdade.

Por isso eu me levantei para cumprimentá-lo, tentando fortemente não deixar que ele visse o meu sorriso bobo plantado em meus lábios cor de rosa.

- Como está? - perguntei com cuidado, enquanto ele beijava minha face.

Senti-o sorrir em minha pele.

- Ótimo. Hannah ficou no restaurante para que eu pudesse vir até aqui – ele me disse.

- Oh, desculpe-me. Esqueci-me de seu restaurante! – sentindo-me culpada sorri sem graça.

- Que nada. É bom ter uma folga das crianças que tacam comida umas nas outras ou dos velhos que ficam bêbados demais com vinho importado – James me sorriu.

Seu sorrido poderia ter acabado com o meu nervosismo, mas por algum motivo ele só o intensificou.

- Imagino que fique louco lá dentro – falei, rindo.

James também riu, quando se apressou para arredar a cadeira da qual eu me levantara, para que eu pudesse me sentar novamente.

- Obrigada – agradeci, sorrindo.

Ele se ajeitou em sua própria cadeira e olhou para mim com um olhar avaliativo, mas nostálgico.

- Você está linda – ele me disse, fazendo um sinalzinho com o dedo para meu vestido.

E ele nem estava de olho no decote ou nas minhas pernas. Que tipo de homem era aquele?

Ah, sei. O do tipo que já se esqueceu da ex-namorada e que não quer mais nenhuma ligação romântica com ela.

- Hm, obrigada. De novo – soltei um risinho nervoso, tentando não fazer com que meu sorriso não parcesse muito debilitado por seu elogio.

Deus meu! O que estava acontecendo comigo? Eu estava nervosa, era verdade, porém ainda assim, eu me sentia segura, sabe. Como se o tempo não tivesse passado e aquele fosse o meu James, o James de antigamente. E aquele James, eu bem me lembrava, queria me beijar a todo momento. O que quer dizer que aquele não era mais meu James, porque caso fosse, teria se inclinado sobre mim para depositar um beijo fofo em meus lábios. E tudo o que ele fez foi beijar minhas bochechas como um amigo e puxar a cadeira para eu me sentar, como o Max nunca tinha feito.

Pedimos uma pizza (metade napolitana e metade atum), e logo eu estava entregue ao momento. Eu e ele conversamos muito sobre seu restaurante e sobre a Fifteen. Eu, pessoalmente, não apreciava muito discutir sobre trabalho, mas com James parecia um assunto tão ameno... tão normal. Com Max eu nunca poderia me dar ao luxo debater sobre isso, porque Max logo jogaria pedras em mim (figuradamente, claro) e ficaria irritado com o baixo salário que eu recebia.

- Acho que a sua chefe não é a única bipolar. Acho que Hannah também é. Às vezes acho que é TPM, mas aí logo desconsidero sempre que ela acha que é dona do restaurante – James riu enquanto sorvia um tanto de sua água com gás.

Eu estava lhe contando sobre, obviamente, Maggie (nunca que ela era excluída de meus assuntos, porque rendia bastante qualquer tópico relacionado a ela).

Experimentei um pedaço da pizza de atum (eu não era muito chegada aos bichos marinhos, sabe) e logo estávamos bebericando nossos copos, sem ter nadinha no prato ou da travessa.

E foi aí que o papo começou a me desconcertar. Isso porque James quis puxar aquele fiozinho de meu passado que eu tanto lutava para não vir à tona.

Achei, realmente, que uma hora isso seria discutido. Não havia como discordar ou disfarçar. Eu bem sabia. Porém desejava que não fosse tão rapidinho. Eu estava, pela primeira vez desde o nosso reencontro, bastante à vontade em sua presença. Coisa que, se pararmos para analisar, era uma catástrofe de verdade. Eu, Lily Evans, convidando James Potter para um almoço para conversar sobre nossas vidas (fossem elas presente, passado ou futuro)? Não, não mesmo. A Lily de antigamente jamais teria essa audácia. Não somente por conta da timidez, mas também por conta de uma coisa denominada bom-senso. Então, na quinta à noite, quando saí mais cedo do trabalho (um milagre dos céus) e segui para o restaurante de James para chamá-lo para “sair” foi inusitado. Não sei o que tinha sido mais chocante: o fato de eu ter pensado sobre aquilo ou ter feito aquilo. Porque, convenhamos, eu era comprometida, e mulheres comprometidas não saem por aí convidando seu ex para um “encontro” amigável.

E eu não era de me considerar uma mulher fora da lei das relações. Eu até que era bem certinha. Nunca tinha traído Max nem circundava aquele programa do “Diga Sim”, que não impede que você rejeite uma oferta de casamento de um completo estranho que esteja passando por você na rua. Eu só traía o Max mentalmente, quando pensava em James. Mas a mente não é um lugar muito sólido, é? De modo que não achava que aquilo poderia acionar detetives particulares ou colocar em risco o meu namoro.

- Acho bom que estamos mais relaxados hoje, porque acho mesmo que você poderia esclarecer algumas dúvidas que há anos pairam sobre minha cabeça – ele me dirigiu a palavra de modo tão fresco, tão calmo, como se estivéssemos debatendo sobre o clima dos pólos.

Eu, ficando surpresa e não fazendo a mínima idéia a que ele se referia, achei que tivesse a ver com o fato de eu estar na Fifteen e não em qualquer outra revista com mais renome. Considerei que, se Max se incomodava com aquilo, James também poderia estar se perguntando por que eu tinha que acordar às oito da manhã (todos os dias, mesmo nos fins de semana) para ficar fazendo um trabalho mais pobre do que eu jamais fizera. Afinal, homens são homens. Max e James, podia ser, não eram tão diferentes quanto eu os imaginava e os julgava.

- Eu já fui rejeitada pelos caras da Mojo cinco vezes. Não quero tentar mais uma vez para voltar com cara de idiota – eu respondi apressada e, provavelmente, com pedras na mão.

James, então, mudou de expressão. Pareceu ter ficado admirado e surpreso.

- Ah. Entendo – ele disse, bastante devagar, como se estivesse acordando.

- O quê? – eu perguntei, repentinamente, achando que tivesse dito a maior besteira do mundo. Estava me sentindo um índio sem arco e flecha. Ou um ladrão sem armas.

James riu por um momento, o que me fez automaticamente corar.

- Bem, não era nada sobre a Mojo. Porque, bem, se fosse, eu insistiria sobre a minha propensão a seu auxílio. Mas provavelmente você não quer escutar sobre isso – James me falou traquilamente depois que parara de rir.

- Ah. Desculpe. Eu não queria soar como, bem... orgulhosa ou sei lá – minha voz estava pequenina e envergonhada - Mas acho que uma hora consigo sozinha.

- Como, se não quer nem tentar mais uma vez? Sabia que J.k Rowling foi rejeitada mais de dez vezes antes de lançar Harry Potter?

- Bem... – isso me fez lembrar de meu manuscrito guardado em minha gaveta da sala. O meu livro. Que eu apenas o tinha digitado sem ter pensamentos posteriores em envolvê-lo em uma publicação. Talvez eu fosse covarde. Ou meramente uma escritora que não se achava boa o bastante.

- Conversamos sobre a Mojo depois, pode ser? – ele sugeriu com entonação na voz.

- Pode ser – eu ri roucamente.

Então se fez silêncio por alguns segundos. Achei que a coragem dele tivesse se esvaído, mas quando eu ia beber mais um gole da minha tônica, James disse:

- Sei que você sempre fez a coisa certa. Tornar-se jornalista, estar em prol das criancinhas da Angola ou dos ursos polares. Isso eu realmente não nego. Você é boa em fazer ótimas escolhas, no entanto acho que ainda não entendi a sua última.

- Sobre a Fifteen? – perguntei surpresa.

Talvez fosse mania de perseguição. Eu sempre achava que, quando alguém fosse me criticar, o meu emprego seria envolvido de modo massacrante.

- Não – ele respondeu prontamente – Sobre seis anos atrás – ele disse de modo um tanto seco.

Pisquei e percebi que meu coração iria sair voando pela minha boca. Ele começou a pressionar minhas costelas de modo alarmante, fazendo-me quase perder a respiração. Minha boca secou e disse a mim mesma que não estava pronta para fazer esse retrocesso. O quê? Falar sobre a época do Ensino Médio? Mas nem pensar!

Engoli em seco, e minha saliva fez um esforço gigantesco para alcançar o fundo de minha traquéia.

- Ah. Aquilo – eu falei fugitivamente.

- Lily... – ele resmungou, observando-me com atenção e com seriedade.

- Não, James, olhe... não acho que precisamos de fato falar sobre isso.

- Precisamos. Eu preciso.

Mordi meu lábio e meus olhos foram parar em minhas mãos. Eu detestava a sensação de estar deslocada ou constrangida.

“Tudo bem, é só responder. Ele vai se magoar mais uma vez. O que é mais uma vez? Você também já sofreu muito”, foi o que passou por minha cabeça.

- Sabe, eu nunca me senti a altura de ninguém. Sempre foi muito difícil de eu confiar nas pessoas, especialmente em um garoto – comecei comedida.

- Sei disso. Eu bem me lembro da época em que...

Cortei-o:

- E foi você foi o primeiro menino a se interessar por mim.

- É, eu sei qu...

- É difícil estar bem consigo mesma imaginando que o seu namorado poderia estar com uma garota bem melhor do que você.

“E eu ainda sofro disso”, acrescentei para mim mesma.

- Lily, isso não vem ao caso – ele me disse, rapidamente, antes que eu o interviesse mais uma vez – Isso não responde a o que quero saber.

- Eu sei o que quer saber. Quer saber o motivo. E esse é o motivo. Eu tinha lhe dito, na época. Você que não quis entender ou aceitar.

- Meu Deus, como você é...

- O quê? Sou o quê? – desafie-o.

- Bem... estúpida! – ele finalizou.

Eu não soube se meus olhos tinham se arregalado ou se pressionado, de modo bastante perigoso.

- Porque isso não é nada diferente do que tentar imaginar Romeu e Julieta.

- Não, você não está entenden...

- Eu lhe dizia o tempo todo que você era quem eu queria. Lembra-se? Mas acho que você me ignorava.

- Não ignorava, só sabia que não era a verdade.

- Verdade? Como achou que eu pudesse mentir sobre isso?

- Você estava com Kelly. Ela era bem o tipo de menina que todo cara quer conquistar.

- É, mas eu não era “todo cara”. Eu era apenas um cara. E daí se eu não queria seguir os padrões da sociedade idiota da nossa escola?

- Como eu sabia se você não estava apenas brincando comigo? – inquiri.

James se jogou contra o encosto da cadeira, parecendo furioso e decepcionado. Seus lábios estavam unidos em uma linha não muito convidativa.

- Era isso que pensava de mim? Que eu era o lobo na pele de cordeiro? – ele quis saber, irritado.

Olhei para os lados. Aquilo estava indo longe demais.

- Se vamos continuar a conversar sobre isso, vou embora. Não era esse o objetivo do almoço, James.

- Eu não mereço a verdade? Não mereço entender tudo o que você fez para mim?

- E o que você fez a mim? Isso não conta? – meu rosto se franziu. Achei, por um momento, que estava gritando.

- Eu apenas lhe trouxe felicidade e confiança! Achei que isso fosse o suficiente! – ele disse alto.

- Era até demais! Eu não consegui suportar, okay? Você era o menino mais cobiçado da escola e estava saindo com a menina ruiva que nunca ninguém se dera ao trabalho de perguntar seu nome!

- Lily, isso é tão ridículo quanto aqueles romances bestas cujo casal pertence a classes sociais diferentes – James me avisou.

- Eu ainda quero terminar esse almoço de modo civilizado – eu disse, como se não o tivesse escutado.

- Podemos. Mas antes preciso fazer-lhe outra pergunta – ele me disse.

Minha face se contorceu.

- O que é? E se é mais uma vez sob...

- Quer minha ajuda ou não quer? – ele me questionou e notei que seu tom de voz estava extremamente calmo, como se ele não tivesse quase explodido de raiva comigo, segundo antes.

- A respeito a quê? – não entendi e fiz cara feia.

- A respeito da Mojo. Eu realmente conheço um dos editores da Mojo. O Frank. Ele poderia fazer uma entrevista com você.

- Editores não fazem entrevistas!

- Ele é coordenador do departamento de edição.

Achei que esse Frank fosse bom o bastante.

Mas eu não podia aceitar. Eu tinha que batalhar por mim mesma. Não queria depender de James. E se ele esperasse algum tipo de recompensa? Talvez ter uma noite um tanto quanto mais especial comigo? E aquilo estava fora de cogitação!

- Não posso me sucumbir a isso, desculpe-me – falei.

- Tem certeza?

- Absolutamente – afirmei com mais afinco na voz.

E foi aí que o assunto quase morreu, e eu quase quis sair correndo daquele restaurante, antes que James viesse com mais um assunto abominável.

Despedimo-nos precariamente, apenas com um aperto de mão. Ele, logicamente, queria tentar alcançar minhas bochechas de novo, mas eu não estava em condições de receber mais contatos físicos com ele.

James era uma sombra que tinha que se desfazer rapidamente.



____

N/a: oi, meus amores *-* Como eu já tinha escrito, estou viajando, mas consegui escrever esse capítulo (o único que consegui escrever :/) e logo vim aqui postar. Ignorem os erros ortográficos, porque não tive tempo de revisá-lo. Boa semana a todos. Obrigada pelo apoio *-*

Nina H.
 

08/02/2011

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