Capítulo único
Levantou os olhos para ter certeza de quem se aproximava. Não que o perfume dele já não o tivesse denunciado. Fez sinal para que se sentasse ao seu lado e baixou os olhos de novo. Ele suspirou, e sentou. O perfume só fez ficar mais forte a intensidade de tê-lo sentado ao seu lado. Ficaram um tempo calados, olhando o lago que refletia as luzes do pôr-do-sol.
- Por que eu acho que você anda fugindo de mim?
- Quem sabe porque eu ando fugindo de você. Mas não parece adiantar muito. – acrescentou, acenando que ele estava ali.
Ele riu baixinho pelo nariz. Ela o observava pelo canto dos olhos. Ele estava sentado e se apoiando nos joelhos, as pernas muito grandes meio dobradas. Os cabelos bem curtos num tom de verde fosforescente que berrava com a luz batendo nele. O semblante sério, olhando para a grama, enquanto brincava distraidamente de arrancá-la.
- O que você tanto olha em mim? – ele disse sem mudar de posição.
- Acho que seu cabelo ta me cegando hoje.
- Quer que eu fique loiro como você? – e balançando a cabeça, seus cabelos assumiram essa cor.
- Você ao menos sabe seu tom natural?
- Iguais ao do meu pai. Não gosto de deixá-los normais muito tempo.
- Então deixe-o colorido. Não gosto quando copia o meu.
- Só a madame pode ter esse cabelo, é? – ela se arrepiou ao sentir a mão dele percorrendo seu cabelo.
Ele percebeu, e deixou a mão ali, brincando com as mechas platinadas, mas mudou a cor do seu próprio para um verde não tão chocante quanto o anterior. Ela olhava-o pensativa.
- Quando éramos crianças, você estava sempre ruivo.
- Eu gostava de parecer com a minha segunda família. Queria fazer parte dela de verdade. Mas eu descobri que talvez tenha um porque eu não ser parte dela.
Ele esperou que ela perguntasse qual era esse porque, mas ela apenas puxou seus cabelos para longe das mãos dele, e se levantou, sacudindo a grama das vestes.
- Vic, eu...
- Estou indo tomar um banho antes de o jantar ser servido. Te vejo mais tarde Teddy.
- Ah, certo. Eu vou ficar mais um pouco aqui. Aproveitar esse tempo menos frio... – mas a garota já ia longe, antes mesmo que ele erguesse o olhar para ela.
Victoire subiu como um raio até a torre da Grifinória, ignorou os Weasleys do salão comunal a chamando e foi direto ao dormitório. Separou suas roupas e entrou no chuveiro. As lágrimas de nervoso começaram a cair junto com as primeiras gotas de água, e logo tornaram-se um choro quase histérico. Desligou o chuveiro assim que conseguiu se acalmar e se enrolou na toalha.
- Mais calma?
- Oi Molly. – Molly Weasley estava sentada em um dos vasos sanitários, com as pernas cruzadas e um ar professoral muito parecido com o de seu pai Percy. – Por que eu não me assusto de ver você aqui?
- Elladora me deixou entrar e disse que você a ignorou no quarto, do mesmo jeito que nos ignorou lá embaixo.
- Você sabe que eu...
- Se refugia no banheiro sempre que precisa pensar? É, eu sei. Mas o que aconteceu?
- Oh, só o costumeiro stress de sempre. O quinto ano está acabando comigo. Você pode estar achando o quarto difícil, mas a tendência é só piorar. Esses malditos NOMs!!!
- Nem vem rogando praga!
- É só a verdade! Até o professor Longbottom anda carrasco. Chega uma hora em que a gente simplesmente... cansa.
- Tudo bem então. Já cansei de ficar te vendo de toalha. Vista-se que a gente desce para jantar. Estou ali fora te esperando. Vou tentar roubar os cadernos antigos de Ilana para eu estudar.
- Sonha que ela vai te dar, sonha... Faz meses que você pede e nada.
- Vencer pelo cansaço!
Dois meses depois...
- Lucy! Para de gracinha! Está ridículo isso já. Vou contar para mamãe.
- Molly, não se mete.
- Eu me meto nisso sim.
- Vamos lá, vocês duas. Parem com isso. Fred você também.
- Você não pode mandar na gente, Victoire!
- Há, errado Fred. – acrescentou uma voz vinda das escadas. – Seus pais disseram para nós ficarmos de olho em vocês, e que vocês deviam obedecer os primos mais velhos.
- Isso, Teddy, obrigada. – Molly agradeceu a ajuda, mas Victoire pareceu não gostar. – Já basta a Nique ter ficado de castigo.
Os mais novos se separaram na mesma hora e se afastaram para longe das portas de saída. Molly grudou num dos braços de Teddy, e saiu puxando-o para os jardins. Victoire seguiu-os cruzando os braços e fechando a cara.
- Ora essa, apressa esse passo Vic!
- Aqui, vem cá. – Teddy puxou-a, descruzando seus braços, e passou o braço livre por seus ombros. – Desamarra essa cara, anda. Você quase consegue ficar feia assim.
- Vai pastar Teddy. – Victoire tirou os braços dele de seus ombros sem a menor cerimônia, ou mesmo sem a menor gentileza e cruzou os braços de novo. – Só estou indo porque preciso de tinta, e umas penas. Passo para beber uma cerveja amanteigada e volto. Ainda há muito o que estudar.
- Ela sabe que não vai conseguir se safar tão fácil assim, mas deixa ela acreditando nisso. É nosso último passeio a Hogsmeade este ano. Não dá para não aproveitar.
- Pensando assim, é meu último passeio a Hogsmeade como aluno. Não que eu ainda não venha escondido até o fim do ano letivo, mas oficialmente isto acaba aqui. E você tem os NOMs, mas eu tenho os NIEMs e estou aproveitando.
Teddy gesticulava enquanto avançavam até o vilarejo. Alguns colegas de sétimo ano passaram chamando o garoto a fazer algo provavelmente proibido, e ele seguiu com eles. As garotas continuaram andando devagar, conversando ocasionalmente com alguns amigos aqui e ali. Depois de comprarem as tais penas que Victoire precisava, seguiram para a loja de doces e depois para a loja de logros que tio George montara para fazer concorrência à Zonko’s e que ia muito bem, obrigada. Enfim, sentaram-se numa mesa no Três Vassouras, um pouco a frente da porta.
- Finalmente posso relaxar um pouco. – Molly espalhou as sacolas no chão ao redor de sua cadeira.
- Vou pegar bebidas para nós. Espera ai.
- Vic, posso te perguntar uma coisa? – Molly perguntou antes mesmo que a prima deixasse as garrafas em cima da mesa.
- Vai adiantar se eu disser não?
- Por que você foi grossa com o Teddy? Você estava de excelente humor até ele aparecer.
- Ah... Sei lá. Eu ando meio afastada dele, é estranho quando ele chega com intimidades.
- Intimidades??? Ele só nos fez o favor de escorraçar os garotos!
- Não foi isso. Não sei dizer bem o que foi. Só... Não ando me sentindo bem perto dele.
- Sabe o que eu acho? Que você está sentindo saudades antecipadas dele. – Victoire se engasgou com a bebida. – Eita, respira menina!
- Como assim? Saudades de que?
- Ah, é que ele vai embora depois desse ano. Vai começar a trabalhar e tudo o mais. E vocês sempre foram ligados, por serem os mais velhos.
- Ele não é nosso primo.
- Mas é quase! Tio Harry sempre o levou para todo canto! E você sempre pode confiar nele. Lembro que você ficou arrasada quando ele recebeu a carta de Hogwarts.
- Mas eu era criança! Era o primeiro conhecido a vir para cá, eu queria vir também!
- Invente as desculpas que quiser. Continuo achando que você está se afastando dele agora para não sofrer ano que vem sem ele aqui.
- Talvez, pode ser. Se você diz.
- Molly, Molly, vem comigo. – Uma garota entrou esbaforida no bar, acenando loucamente para Molly, e tentando arrastá-la de sua cadeira.
- Que foi criatura?
- A Lucy... Está lá na rua encrencando com o primo de vocês. De novo.
- Melhor ir lá, Molly. Eu vou ficar beeem aqui. Chega de separar esses dois para mim. – Molly lançou-lhe um olhar exasperado, mas seguiu a garota porta afora.
A loira ficou sentada, brincando com a garrafa, enquanto esperava a prima voltar. Todas as outras amigas haviam ficado estudando no castelo. Sentiu de repente um perfume familiar encher suas narinas, e pouco depois uma cadeira sendo arrastada do seu lado.
- Oi de novo.
- Você não tinha dito oi da primeira vez.
- Faz tempo que a gente não conversa. Ando sentindo falta de você.
- Nós dois estamos muito ocupados. Isso acontece.
- Vic, nós não trocamos mais que 10 palavras nos úiltimos, sei lá, dois meses!
- Eu disse, tenho estado ocupada. Você também deveria estar.
- Por que você está brigando comigo?
- Não estou brigando. Estou só falando que não tenho tido tempo. Tão difícil assim acreditar, Teddy? Depois os Corvinais são inteligentes...
- Ah, sim. Se fosse assim, você deveria ter coragem de falar comigo, como uma boa grifinória. Nem pense em discordar, eu quero que me escute. – Ele interrompeu o muxoxo da garota. – Não era para termos deixado... ahm... “aquilo” atrapalhar nossa amizade. Concordamos que foi...
- Eu sei disso. Não precisa me lembrar.
- Mas desde então, você não fala mais comigo!
- Desculpe se você me entendeu mal, Teddy. Ao me concentrar nos estudos, não foi pensando em te magoar. E cadê essa Molly??
- Ah sim. Ela pediu para avisar que estava levando Lucy e Fred de volta para o castelo. Devo acrescentar que eles estavam meio transfigurados.
- Ela me largou todas essas sacolas? Perfeito! Eu estava só esperando ela para voltar! As garotas estão me esperando!
- Você sabe bem que elas não devem estar te esperando, mas se quiser, eu te ajudo a carregar as coisas de volta ao castelo.
- Mas vai voltar cedo assim? Não precisa, eu dou um jeito.
- Nah, para ser honesto, já cansei dessas visitas escolares ao povoado. Vem, eu carrego estas.
- Obrigada então.
No trem, de volta para casa.
- Anda, ninguém vai descobrir! Você é menor que eu, consegue passar desapercebida!
- Ok, ok, senhor “eu-sou-grande-e-musculoso-demais”. Eu pego então. Mas você devia convocar com magia!
- Como se sua avó não colocasse feitiços para não conseguirmos convocar essas coisas ilegais! Mesmo se acontecer qualquer coisa, amanhã estamos embarcando de volta. Eles não vão fazer nada.
- Já to indo Teddy. Fica de olho.
Victoire saiu do quarto de Teddy, tomando cuidado para não chutar nada nem tropeçar em algum brinquedo pelo caminho escuro.Os últimos adultos tinham ido se deitar, e os dois jovens estavam esperando a oportunidade para surrupiar uma das garrafas de bebida do vovô Arthur. Foi mais fácil do ela havia imaginado, e em três minutos estava de volta ao quarto, com a garrafa escondida nas vestes.
- Vai lá Teddy, abre aí. Vamos ver se é tão bom assim.
- Estou dizendo. Esse aqui não deixa ressaca. De jeito nenhum. E me surpreende você nunca ter bebido na vida.
- Eu sou uma moça boa, recatada e delicada. Não fico pelos cantos bebendo. É você que está me corrompendo!
- Você é recatada? Nem sei o que é perversão então. Você já beijou mais garotos do que eu sou capaz de contar.
- Mentiroso! Foram poucos, e eles eram namorados!
- Que você trocava a cada mês.
- Chega, me dá isso aqui.
E Victoire pegou a garrafa recém aberta das mãos de Teddy e deu um loooongo gole. Ele riu, e também bebeu um grande gole.Em menos de uma hora, a maior parte de garrafa já havia sido esvaziada.
- Então, corrompida o suficiente?
- Eu? – a garota abriu os braços e se deitou na cama, totalmente embriagada. – Eu sinto como se minha cabeça não fizesse mais parte do meu corpo, ela está leve, leve.
- Hehe, Victoire Weasley curtindo seu primeiro porre.
- Vai dizer que você não está nem um pouquinho bêbado?
- Ah, eu estou. Não tanto quanto você
- Sem graça. – Victoire tentou se sentar novamente a muito custo. – Seria realmente bom se isso não der ressaca mesmo.
- Ressaca não dá, mas você vai ficar com olheiras enormes! O efeito colateral. Elas não desaparecem por uma semana.
- Teddy, devo lhe apresentar a maquiagem!
- Vocês garotas tem essa vantagem.
- Garotos podem usar maquiagem. Não que você precise exatamente, sua pele é tão lisinha... – ela levantou uma das mãos e acariciou o rosto do rapaz. Mas com isso perdeu o equilíbrio e caiu de volta na cama. – Hihihi...
- Chiu, Vic, vai acordar a casa. Chega de bebidas para você hoje. Já foi uma boa iniciação. – ela parou de rir, e ele virou mais um gole.
- E você ainda pode, é?
- Sou mais resistente.
- Que horas são? Está me dando um sono!
- Sei sei. Quer ajuda para voltar para seu quarto?
- Não. Eu vou dormir bem aqui. – disse batendo no colchão da cama de Teddy, e escalando até chegar à cabeceira.
- Eu durmo onde?
- Aqui também. Vem, deita. Está na hora de crianças levadas irem dormir.
- Isso não ta certo, Vic.
- Eu vou acabar acordando a chata da Dominique, e ela vai querer nos denunciar. Deixa de ser chato e vem.
O garoto levantou as sobrancelhas em incredulidade, mas ela continuou chamando a deitar até que ele cedeu. A cama era pequena, e os dois dividiam o mesmo travesseiro. Estavam muito próximos, e sorriam embriagados. Após alguns minutos se olhando, Teddy por fim beijou Victoire, e ela o beijou de volta, docemente.
- Boa noite para você também, Teddy. – e se aconchegou nele para dormir. Ele a abraçou de volta, mas demorou um pouco mais para dormir.
Acordaram com a luz que entrava pela janela, e pela intensidade, não era mais tão cedo assim. Teddy acordou primeiro, e cutucou a outra. Ela sorriu e se espreguiçou por um momento, antes de deixar os braços caírem molemente. Saltou da cama, olhando assustada para o quarto.
- Oh não, oh não, oh não. – levantou as mãos à cabeça e começou a andar pelo quarto.
- Por acaso você se lembra que dormiu aqui, certo? Que estava bêbada demais para ir para seu quarto? – Teddy a observava com um rosto ilegível.
- Eu lembro, eu lembro. Oh Merlin, isso não foi certo, não foi, não foi.
- Hei, você quem disse que nunca havia bebido!
- Não isso, eu digo, eu lembro de...
- De a gente se beijar?
- Isso não foi certo, não foi, não foi. Você é meu primo.
- Não, eu não sou. E você sempre gosta muito bem de frisar isso. – seu semblante ficava cada vez mais sério, enquanto via a garota ruir diante de seus olhos. – Você devia voltar para seu quarto antes que vejam que você dormiu aqui. E cubra essas olheiras.
Ela saiu meio desacorçoada pela porta e quase bateu no tio ao virar para subir a escada. Harry olhou-a desconfiado, mas ela apenas murmurou um bom dia baixinho e subiu correndo até o banheiro. O resto da manhã foi corrido, enquanto todos se arrumavam para levarem os garotos até a estação King Cross. Não houve tempo de Victoire e Teddy se encontrarem mais do que duas vezes correndo pelos corredores antes de embarcarem até a estação. Já no trem, ele a arrastou até um compartimento vazio.
- Tio Harry veio falar comigo.
- Oh não. Ai Merlin, não.
- Não foi nada demais. Ele disse que demos sorte de ter sido ele a te ver saindo do meu quarto com as maiores olheiras do mundo.
- Sorte seria não ter encontrado ninguém.
- De qualquer forma, quando ele me perguntou porque você estava no meu quarto, disse apenas que havíamos ficado conversando até tarde e que você pegou no sono por ali. Não acho que ele tenha acreditado, porque alguém saiu correndo quando o viu.
- Ah, e a culpa é minha então?
- Na verdade, ele só disse que não era aconselhável que fizéssemos isso de novo, que seu pai surtaria se soubesse. Dois adolescentes de sexo oposto não devem ficar sozinhos em um quarto fechado.
- Que vergonha. Teddy, o que a gente fez?
- Se você preferir assim, a gente não fez nada. Podemos continuar como se nada tivesse acontecido. Ninguém aqui encheu a cara ontem.
- Não, ninguém jamais roubou bebida do vovô. Eu não dormi na sua cama. A gente não se beijou.
- A gente não se beijou. – Teddy confirmou, mas uma nuvem cobriu seus olhos, e suas olheiras de repente pareceram mais escuras.
- VIC! Vamos! Estamos quase chegando! Quer ficar aqui nesse banheiro até setembro?
- Calma, Ella. Estava só me arrumando.
- Nem você leva tanto tempo para se arrumar Victoire. Ficou toda distraída depois que pegamos Teddy se agarrando com aquela Lufa.
- Oras, não é que eu exatamente goste de ver pessoas se agarrando.
- Ainda está triste por não ter dado certo com o Charlie?
- Charlie? Ah, talvez sim. Mas tenho o verão para esquecer disso. Nada que o mar não seja capaz de levar.
- Por sinal, esqueci de contar! Meus pais disseram que poderei ir passar uns dias com você!
- Como você pode esquecer de contar isso! Elladora, eu só estava esperando você confirmar!
- Eles me disseram semana passada. Disseram que deixariam pois “eu preciso espairecer depois dos NOM’s”. Olha, o trem está parando. Vamos pegar nossas coisas, corre!
As duas garotas correram até a cabine, desviando de alguns alunos que já estavam se dirigindo aos corredores. Se despediram ali mesmo, quando a irmã de Elladora passou chamando-a. As outras garotas da cabine já não estavam lá. Victoire ainda se atrapalhou um pouco antes de conseguir juntar suas coisas e sair. Acabou esbarrando em alguém ao evitar que seu malão caísse quando forçou a saída da cabine.
- Malzes aí!
- Oi Vic!
- Ah, oi Teddy! Não vi que era você!
- Ei, vocês ai! Vamos andando, tem gente querendo ir para casa!
- Anda Teddy. Ainda precisamos combinar quando vamos poder sair nessa semana!
Só então Victoire percebeu que uma garota puxava Teddy pela mão. Era a garota com quem ele estivera atracado horas antes numa cabine ao fundo do trem. Algo estranho se mexeu novamente dentro dela, como se algum ser estivesse tentando cavar um buraco em seu estômago a unhadas. Mas não pode nem pensar no assunto, pois foi sendo empurrada pelos alunos que estavam atrás, até descer na plataforma e correr para abraçar a mãe.
No Natal daquele ano.
- Dominique, sai logo desse banheiro que eu preciso tomar banho!
- Só depois que eu terminar Lucy! Espera, sua chata!
- Você vai ver só quando eu contar para o tio Bill! – Lucy saiu correndo do quarto, rindo para Molly e Victoire que estavam nas camas mais próximas à porta.
- Até hoje eu não entendi como nossas irmãs ainda não se mataram.
- Passando mais tempo planejando matar o Fred. – respondeu Dominique, ao sair do banheiro para o quarto, secando os cabelos com a toalha. – Não dá para ficarmos nos provocando quando ele faz isso com mais perfeição.
- Nique, as vezes vocês pedem, né?
- Mas é aí que mora a diversão! Agora eu vou até o papai fazer minha melhor cara de santa. E dizer para o tio Percy que a Lucy anda inventando coisas sobre mim. Oi Rox, oi Rose.
- Ei garotas! Finalmente vocês apareceram. Acho que agora só falta o tio Harry chegar.
- James me disse que eles só mais tarde, na hora do jantar. Tia Ginny está deixando-os de castigo por terem quase matado o gato de uma vizinha. Enfim, passamos para dizer que vovó está chamando.
- Obrigada Rox. Estamos descendo já.
As primas calçaram os sapatos e desceram logo atrás das duas primeiras. Vovó Molly estava colocando todos para ajudar a arrumar o almoço: eram tigelas para lá e para cá, talheres voando perigosamente, gente se esbarrando e um burburinho de conversas diversas. Por fim conseguiram organizar a mesa – não cabiam todos sentados à mesa da cozinha há muito tempo, então apenas dispunham a comida e os pratos na mesa, e iam comer na sala, onde se espalhavam no chão e nos sofás. Estavam todos já comendo quando um barulho veio da porta dos fundos e uma menininha ruiva apareceu correndo e abraçando o avô.
- Lily! Meu bem, quem te trouxe? Sua mãe disse que chegariam só mais tarde.
- Teddy me trouxe vovô.
Ao ouvir a menção ao rapaz, o estômago de Victoire começou a revirar. E o enjôo só piorou quando ele apareceu carregando seu prato de comida, cumprimentando a todos, e sentando logo de frente a ela. Arthur Weasley levou a neta mais nova para fazer seu prato também.
- Teddy, meu querido. Vocês chegaram mais cedo!
- Eu estava na casa do padrinho, ele disse que os meninos ainda iam ficar de castigo, mas perguntou se eu já podia trazer Lily comigo. Tia Ginny não gostou muito não, mas deixou ela vir já.
- Gina as vezes pode ser bem rígida com essas crianças.
- Ah, tio George, mas é que você não viu como a vizinha estava brava com eles. Lógico que ela não entendeu o que tinha acontecido com o gato, mas sabia que os três tinham aprontado.
Logo a conversa se dissipou, e todos voltaram a ficar quietos, apenas apreciando a comida. A maioria repetiu o prato duas vezes. Rony repetiu até Hermione xingá-lo e Angelina teve que impedir o filho de colocar coisas suspeitas no prato de Nique várias vezes. Depois do almoço começaram os preparativos para a ceia. Os adultos se revezaram em cochilar e ajudar, as crianças se dividiram em jogos e outras atividades, indo bisbilhotar a cozinha vez ou outra. Depois de ter evitado Teddy disfarçadamente por umas três horas, Victoire se viu ao lado dele, observando a partida entre Roxanne e Louis.
- E aí, quem ganha?
- Eu sempre vou torcer pelo meu irmão, óbvio, mas Rox aprendeu a jogar com tio Rony. Vai ser uma partida demorada.
- Ei garotada, a próxima partida é minha e da Vic. Chamem a gente quando conseguirem acabar ai, beleza? – os jogadores apenas acenaram um ok. – Vamos dar uma volta?
- Você vai voltar a conversar comigo?
- Eu nunca disse que não estava conversando com você.
- Mas também não respondeu mais minhas cartas desde o fim de setembro quando discordou do meu namoro com o McGregor.
- Ainda acho ele um sonserino babaca.
- Não é não. O Alan é um ótimo namorado, você se surpreenderia. – Haviam saído pela porta dos fundos e sentado num dos bancos cobertos pela neve, após Teddy secá-la com um feitiço. – Realmente não entendi sua cisma com ele.
- Oras, eu só queria entender o que demais ele pode ter que tenha te atraído.
- Além de ser um excelente jogador de quadribol e um ás em poções, que me ajuda com os deveres?
- Você consegue isso com um amigo.
- Eu nunca questionei o que você viu na sem sal da Nicole Gilberts.
- Ela é uma boa companheira. Não exige demais, é carinhosa...
- Mas você põe a frente o fato de ela não ser exigente? Você está com ela por que é fácil?
- Nem tudo nessa vida é fácil. Por que eu não poderia escolher isso para ser?
- Que falta de romantismo, Teddy!
- Diz isso a garota que namora um cara porque ele a ajuda em poções.
- Ele não é só isso.
Teddy a olhou com olhos indagadores, mas ela não deu continuidade. Ficaram então por um tempo apenas sentados, brincando com a neve ao redor dos pés. Foi o rapaz quem quebrou o silêncio.
- Você ama ele? – a garota o encarou, erguendo as sobrancelhas, sem conseguir arquitetar uma boa resposta antes que ele continuasse. – É difícil, não é? Não saber responder.
Ela continuou encarando-o, mas logo Hugo chamou-os da porta, dizendo que o tabuleiro estava livre.
No verão seguinte
- Mamãe! Estou saindo! Não me espere para jantar!
- Onde você acha que está indo, Victoire Weasley? – gritou Fleur da cozinha, mas a garota já havia avançado até onde poderia aparatar, e sumido num farfalhar de capa.
Logo que sentiu os pés firmarem no chão sentiu um perfume conhecido invadir suas narinas. Sorriu para Teddy que a esperava e começou a caminhar ao seu lado, em direção à casa do rapaz.
- Achei que não viesse mais.
- Tive que esperar minha mãe ficar ocupada antes de sair. Sabe, ainda estou de castigo por ter ido escondido na festa de Lisa semana passada.
- Oh, verdade. Por que não me disse? Poderia ter vindo aqui outro dia!
- Não é nada demais. De verdade – acrescentou quando o rapaz ergueu as sobrancelhas em incredulidade. – Não é como se eu não fosse maior de idade agora. É ridículo ser colocada de castigo, ter que avisar sempre aonde vou e ser obrigada a voltar sóbria antes da meia noite.
- Quanto você anda bebendo?
- Quem vê o castigo que eles me deram acha que é muito, mas eu nem bebo quase. Aliás, se lembra que foi você quem me deu bebida da primeira vez?
- Ah, mas você quem roubou a garrafa!
- Agora não precisamos mais roubar garrafas... – Vic tirou da capa uma garrafa com conteúdo cristalino, enquanto caminhavam até a porta. – Eu tinha isso guardado no meu guarda-roupa.
Teddy assustou-se com a garrafa. Abriu a porta, fez sinal para que a garota entrasse primeiro e a seguiu. Ela jogou-se no sofá da sala, como se fosse de casa, e colocou a bebida na mesinha de centro.
- Então Teddy, o que você queria me ver?
- Eu preciso conversar sobre uma coisa, e eu confio em você. – a garota olhou-o séria e fez sinal para que continuasse. – Nicole terminou comigo. E eu... não sei o que pensar. Era vovó quem sempre me aconselhava, mas ela não está mais aqui para isso.
- Eu não sei o que sua avó diria, mas eu tomei um pé na bunda a algumas semanas, então o que posso sugerir é esquecer.
- Eu achava tão seguro.
- Bem, poucas coisas são para sempre. Não foi provavelmente culpa sua. Você é um dos melhores caras que eu já tive o prazer de conhecer.
- Não conta, você brinca comigo desde que éramos criancinhas.
- Isso deve significar que conheço você muito bem.
- Pode ser. Mas isso que você trouxe aí, o que é?
- A boa e tradicional vodka trouxa. Algo um pouco mais forte.
Rodadas mais tarde...
- Teddy?
- Uhm?
- Eu sou bonita?
- Bonita? Você sabe que é linda.
- Não, eu sou bonita para você?
- Você é linda, e será de sorte o rapaz que a tiver.
- Teddy?
- Uhm?
- Você amava ela?
- Como assim?
- Você me perguntou isso uma vez. Agora eu te pergunto também.
- Eu não poderia amá-la. Eu não sou capaz de me dividir em dois.
- Por que então você ficou triste?
- Porque agora eu tenho que enfrentar a alternativa mais difícil.
- Teddy?
- Que foi Victoire?
- Você me ama?
- Que pergunta, Victoire!
- Você não respondeu.
- Você é minha amiga. Se não te amasse, não seria.
- Não foi isso que eu perguntei.
- Você me ama por acaso?
Estavam os dois sentados no chão, as almofadas dos sofás espalhadas. Uma garrafa quase vazia entre eles e dois copos cheios. De repente a mão dele estava no joelho da loira à sua frente. Sem mover os olhos dos dele, ela apoiou a mão sobre a dele e levemente a empurrou para cima, para sua coxa. Apoiou a outra mão na almofada em que ele estava sentado e se aproximou.
- Você está bêbada, Vic. – ele disse sem desviar dos límpidos olhos azuis dela.
- Você também está.
- Você vai se arrepender.
- Quem disse?
- Você se arrependeu da outra vez.
- O que não significa que não saiba o que estou fazendo agora... – a cada palavra ela foi se aproximando mais e mais, até que ele pudesse sentir sua respiração batendo-lhe no rosto.
- Isso é tortura.
- E seu perfume não é? Sempre foi.
- Não sei o quanto posso resistir. – seus lábios estavam quase se colando.
- Então não resista.
E ela o beijou. Foi um beijo urgente, com gosto de vontade guardada. Victoire sentiu que podia explodir quando a língua dele encontrou a sua. Podia explodir e seria a pessoa mais feliz do planeta. Gemeu baixinho, ainda colada a ele, quando sentiu a mão dele se mover sobre seu corpo, para dentro da bata que usava. A mão dele sentiu a pele fina dela arder como fogo sob seus dedos, e a necessidade de beijá-la mais, como se o mundo fosse parar caso se separassem. Desceu uma trilha de beijos e mordidas pelo pescoço dela, enquanto ela suspirava baixinho. Beijou-a a trás da orelha de um jeito que a fez derreter, e parou. Se afastaram lentamente, os dois de olhos fechados, como se assim pudessem reter a sensação daquele momento. Encostaram-se lado a lado no sofá, em silêncio. A mão de Teddy encostou em algo molhado no chão, e ele baixou os olhos para ver o que havia acontecido. A garrafa e os copos estavam virados no chão, todo o líquido espalhado.
- Droga. – exclamou baixinho.
Vic estremeceu a seu lado sem que ele percebesse, e se levantou, correndo para o banheiro e se fechando. Levou um tempo antes que o cérebro dele processasse que o que quer que fosse, ele tinha que ir atrás dela. Ouviu-a chorar baixinho, possivelmente encostada na porta. Bateu e chamou-a, mas ela apenas continuou chorando.
- Vic. Por favor. Abre essa porta. Vamos Vic, abre. Estou pedindo. É horrível te ouvir chorando. – pode ouvi-la fungar. – Se acalme a saia aqui. Eu vou ficar te esperando bem aqui. Acho que sentado, porque estou meio bêbado, mas... – ela riu ao ouvir o comentário. – Só... abre essa porta.
Ele escorregou pela parede do corredor em frente ao banheiro e sentou-se no chão. Pouco tempo depois viu a porta se abrir e ela sair, indo sentar-se com ele. Estava com o rosto manchado, mas parecia não chorar mais.
- Não quero que se arrependa disso, Teddy. Eu tenho tanto medo de fazer tudo errado. Tanto medo de isso ser errado. Não é como nenhuma experiência que eu já tenha tido.
- Chiu, Vic. Não é errado. Não pode ser. Eu sinto aqui dentro que isso é o certo a fazer. Esse sentimento tão bom não pode estar enganado.
- Eu sei. É o que estou me dizendo. Mas o que é isso então estranho dentro de mim?
- Pode ser a vodka?
- É, pode será vodka. Tem mais dela?
- Não. Derrubamos no tapete. Está todo manchado.
- Oh. Tem como recuperar?
- Sei lá. Você iria querer continuar bebendo de qualquer forma? Você precisa é comer algo doce.
- Uhm, o que temos aqui?
- Vou procurar. Por que você não se levanta desse chão gelado e vai lavar esse rosto?
Depois de encontrar um último saco de qualquer de alguma coisa açucarada, Teddy foi ajudar Victoire a se recompor.
- Eu devia ir embora. Está tarde. Eu vou ficando mais e mais encrencada. Uhm, isso que você achou é gostoso. O que é?
- Sei lá. Algo que tia Ginny deixou ai.
- Me diga que faz menos de um mês que isso está aqui.
- Não posso garantir.
A loira sorriu, e se tornou urgente que o rapaz a beijasse, que roubasse aqueles lábios para si. Talvez percebendo o olhar sedento dele, ela sorriu mais ainda ao passar os braços ao redor de seu pescoço e beijá-lo suavemente.
- Você está doce.
- Então, seu doce era bom?
- Você tem um gosto bom...
- É?
- É...
E se beijaram de novo. E de novo. Quando Victoire desceu os beijos para o pescoço de Teddy, ele se encostou na parede e puxou-a de encontro ao seu corpo, apertando a cintura fina dela. Sentiu-a reagir, se arrepiando, e voltou a beijá-la, com mais entusiasmo, ela correspondendo mais e mais. Teddy girou seus corpos, desta vez a garota apoiando as costas na parede. Ela agradeceu mentalmente ele ter feito isso, pois quando sentiu a mão dele passeando por seu abdômen, seus joelhos viraram manteiga. Afundou suas mãos nos cabelos dele e acariciou a nuca, enquanto ele beijava toda a extensão de seu pescoço e colo descobertos.
- Isso vai deixar uma marca. – sua voz saiu meio rouca.
- Você não tinha que ir embora? – a voz dele também estava enrouquecida, absolutamente sexy.
- Quer que eu vá?
- Não.
- Então eu vou ficar bem aqui.
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