Hoje, preciso de você



Havia algo diferente naquela manhã. Não poderia ser o clima, estava tão frio, ou talvez até mais frio, do que os últimos dias. Tudo se devia ao fato de ser véspera de Natal. Acordei extremamente feliz, algo me dizia que aquele dia seria diferente, inesquecível. Ainda era cedo, apenas mamãe devia estar acordada. Estirada em minha cama encontrava-se Fleur, ou melhor, Fleuma. Mamãe sempre bajulava os hóspedes, mesmo que eles lhe dessem nos nervos.


                Decidi levantar do fino colchão em qual estava deitada. Rapidamente me troquei. Desci as escadas em direção à cozinha, o único lugar da casa onde se ouviam ruídos.


                - Ah Gina! Acordou cedo, me ajude aqui. Estou tão atarefada com a ceia de hoje à noite. – o dia nem havia começado direito e mamãe já aparentava estar exausta. – Já ia me esquecendo, essa manhã, quando acordei, havia uma coruja na janela. Trouxe uma carta para você.


                Sobre a mesa encontrava-se um pequeno envelope. Peguei-o. Logo reconheci a caligrafia, no verso do envelope confirmei minhas suspeitas. Dino Thomas.


                - Quem é este garoto? Rony me contou que você estava namorando, é ele? – mamãe parecia incrivelmente excitada, para minha total surpresa.


                - Não, não estou namorando! – num súbito momento de raiva, peguei a carta de Dino e lancei-a na lareira. Aquele garoto não me importava mais, aliás, nunca havia me importado.


                - Gina, o que aconteceu? Você poderia pelo menos ter lido o que ele escreveu.


                - Imagino que devia estar carregada de asneiras, é só isso que ele sabe fazer. – minha relação com Dino estava desgastada desde o dia em que começou, maldito dia. Agora eu sabia que estar com alguém de qual não gosto não me traria felicidade. Naquele momento decidi que terminaria com Dino assim que nos encontrássemos novamente.


                - Gina, aquéle seu colchon serrr tan mazio. – Fleur vinha entrando pela cozinha. – Gui já acordeuu?


                - Não, ainda está dormindo. – mamãe respondeu secamente.


                Atrás da Fleuma vinham Fred e Jorge.


                - Bom dia, moças lindas do meu coração. – Fred olhou para Fleur, para mim e depois para mamãe. – Sim mamãe, você também é linda. – Fred repetiu, enquanto mamãe ria encabulada.


                - Fred acordou apaixonado hoje. A propósito, Fleur, você ainda não cansou do Gui? Me diga uma coisa, você ainda consegue ver o rosto dele escondido atrás dos cabelos? – Fleur não sabia se ria ou se dava uns tapas em Jorge. – Você merece coisa melhor, olhe para mim, sou perfeito para você.


                - Ah Jorge, você acha que ela vai querer alguma coisa com um cara feio como você. Fica comigo Fleurzinha, serei seu príncipe, minha princesa. – agora era a vez de Fred declarar-se.


                Estavamos todos rolando de tanto rir, até mamãe havia se entregando, não poderia ser melhor. Estava enganada.


                - Posso saber o que significa isso? – Gui sorrateiramente havia chegado à cozinha.


                - Fred e Jorge colocaram a Fleur numa situação complicada. Eles querem saber qual dos dois é mais bonito. – respondi.


                - Acho mais fácil descobrir qual é o mais feio. Deixe-me ver. Fred tem o cabelo ruivo, Jorge também. O nariz é idêntico. E as sardas então. Por Merlin, acho que eles são iguais.


                - É verdade, até parecem gêmeos. – entrei na bricadeira de Gui.


                - Mamãe, eu e Jorge somos gêmeos e você não nos contou? – Fred olhava seriamente para mamãe.


                - Eu? Gêmeo dessa coisa feia aí? De onde vocês tiraram isso?


                - Calma Jorge, poderia ser pior. Imagina se você fosse gêmeo do Rony. – a tirada de Fred foi genial. Mamãe soltou uma sonora gargalhada, mas logo se envergonhou.


                - Já chega por hoje. Ainda bem que acordaram. Fred e Jorge, arrumem o pátio, e Gina e Fleur, cuidam da decoração.


                Odiava quando mamãe me dava tarefas ao lado da Fleum. Juntei toda a decoração que usávamos todos os anos, e fomos, eu e Fleur, decorando a casa e o pátio. Pelo menos ela podia usar magia, o que facilitava em muito as coisas. Fiquei na expectativa de ver Harry, algo me dizia que precisava falar com ele. E precisava ser hoje.


A manhã passou rapidamente, e foi só no almoço em que pude ver o garoto que há tantos anos preenchia meus sonhos. Hoje ele estava mais bonito que o habitual, seus cabelos despenteados pendiam sobre seus olhos verde-brilhantes, protegidos pelos óculos. Sua cicatriz em forma de raio não era visível naquele momento. Minha única vontade era pular em cima dele e beijá-lo, como se nada mais existisse. Controlei-me. Ocupei minha mente com outros pensamentos, aquela não era a hora certa.


Durante o almoço, diversas vezes, percebi que Harry lançava olhares a mim. Em uma dessas vezes, levantei meu olhar do prato e o encarei também, por poucos segundos Harry sustentou seu olhar, depois desviou. Hermione um dia me disse que deveria me declarar a Harry. Será que ele também estava apaixonado por mim? Estava ficando eufórica demais, não podia encher-me de esperanças tão cedo. Falaria com Harry sim, mas precisava ser forte, caso Harry não correspondesse meu amor.


                Após o almoço me dediquei a enfeitar a árvore de natal. Capturei um gnomo no jardim e o vesti de anjo, coloquei-o no topo da árvore. A não ser por este misero detalhe a árvore havia ficado ótima. Mesmo assim Rony não perdeu a oportunidade de me caçoar.


                - Que anjo mais lindo este que você colocou lá em cima, hein Gina?


                - Sim, é a cara da Lílá. – Só faltou Harry se deitar no chão de tanto rir.


                Terminei cedo os últimos preparativos. Estava tudo pronto para a ceia. Apenas mamãe ainda estava na cozinha, os outros todos já estavam se arrumando. Tive que admitir que Fleuma estava linda, entrei no meu quarto e ela estava com um curto vestido azul celeste. Rony terá um enfarte quando a ver assim.


                - Ah Gina querrida, preciss de su opinion. Batom begé ou vermel? – Fleur segurava em cada uma de suas mãos um batom.


                - Deixe me ver, vermelho. – na verdade achava o vermelho ridículo, extremamente contrastante com o azul do vestido.


                - Tem razon o vermel é magnific.


                Deixei Fleur com suas dúvidas e fui me banhar. Precisava estar linda. Demorei mas do que o costume para me arrumar. Queria muito usar um vestido curto como o de Fleur, mas sabia que congelaria se o fizesse, no momento tive até pena da minha cunhada.


                - Fleur, você não acha que está muito frio para usar um vestido tão curto. – ela sorriu maliciosamente em resposta.


                - Digue isse a su irman, ele me diss que era pra usarr a vestid curto, que ele iria me esquentarr.


                Seria melhor se eu não tivesse perguntado nada.


                Vesti-me da melhor maneira possível e decidi descer. Fleur ainda estava se maquiando, sua dúvida agora era qual colar usar. Opinei favoravelmente a um que tinha como pingente uma enorme abóbora laranja vibrante.


                Enquanto saia do quarto decidi ir ver se Rony e Harry já estavam prontos, quem sabe encontraria Harry sozinho, enganei-me. Abri a porta do quarto, Harry estava sentado na cama, simples, mas sempre lindo, e para minha surpresa Rony estava só de cuecas de costas para a porta.


                Fechei a porta rapidamente, por sorte nenhum dos dois reparou na minha presença. Desci correndo as escadas. Papai, Gui e Lupin conversavam perto da lareira. Fred e Jorge cochichavam perto dos presentes em baixo da árvore de natal. Mamãe estava na cozinha.


                Juntei-me a Fred e Jorge.


                - O que vocês estão aprontando? – era claro que estavam tramando alguma coisa.


                - Nada não, maninha. – Fred me respondeu. – Imagine, nós aprontando?


                - Você só pode estar ficando doida. – Jorge concluiu.


                Sorri para eles, e recebi sorrisos em retorno. Adorava quando eles aprontavam.


                Passados alguns minutos, Rony e Harry também desceram. E, por último, Fleuma. Quando a vi, não sustentei o riso. Ela vestia o lindo vestido azul celeste, perfeito. Mas, seu batom vermelho e o colar de abóbora davam a impressão que ela havia se vestido para o dia das bruxas. Ela sempre soube se vestir muito bem, mas o nervosismo do primeiro natal com os Weasley a fez perder todo o seu tato com a beleza, e eu confesso que não ajudei nem um pouco. A cereja do bolo foi Fleur escorregar no meio da escada e vir rolando alguns degraus abaixo.  Ela caiu de pernas para o alto, deixando a mostra suas pernas brancas e suas roupas íntimas. Virei-me para o lado oposto e me debrucei em gargalhadas. Ainda consegui ouvir alguns murmúrios. “Non foi nada, imagin. Estou ben” .


                Para distrair um pouco mamãe ligou o rádio e nos fez ouvir Celestina Warbeck , o que fez Fleuma ficar ainda mais irritada.


                - A ceia está pronta. Vamos todos comer e depois abriremos os presentes. – mamãe declarou, exagerando um pouco no tom de vocês. Apesar de tudo ela estava feliz.


                Sentamos todos, papai na ponta da mesa se levantou.


                - Eu sei que não é muito tradicional da nossa família fazer discursos ou falar palavras bonitas. Mas este natal é especial para todos nós, muitos o podem considerar talvez o pior natal de todos, mas não importa. É mais um natal que passamos juntos, e a única coisa que eu peço é que eu possa ainda festejar inúmeros natais como esse, ao lado da minha família e dos meus amigos. À ORDEM.


                Mamãe estava chorando, todos nós havíamos entendido muito bem as palavras de papai. Como membros da Ordem da Fênix e com Você-sabe-quem solto por aí, é impossível prever se estaremos todos juntos no próximo natal.


                Este momento fez com que eu tivesse ainda mais certeza de que aquele dia seria especial. O tempo passa cada vez mais rápido, e tratando-se de Harry Potter, o inimigo número um de Você-sabe-quem, estar vivo até hoje era uma grande vitória. Esta de noite revelaria meu amor.


                Jantamos harmoniosamente. A ceia, como sempre, estava deliciosa. Pousei meus olhos sobre a mulher gordinha no canto oposto da mesa. Ela comia alegremente. Seus olhos, antes lacrimejantes, agora brilhavam. Sem dúvida, estava exultante. Senti vontade de me levantar e abraçar aquela mulher. Segurei meu impulso, ainda teria muito tempo para abraçá-la. Era outra pessoa que precisava demonstrar melhor meu amor. Tantos anos juntas e mesmo assim cabiam nos meus dedos  as vezes em que pronunciei a frase mais linda e impactante que conhecia.


                - Mamãe, eu te amo. – as palavras saíram da minha boca sem que eu percebesse, todos olharam subitamente para mim. Mas não me envergonhei, pelo contrário. A verdade não pode ser motivo de vergonha a ninguém. – Amo todos.


                Uns segundos de silêncio se passaram. Fred tratou de quebrá-lo.


                - Eu só amo a Fleurzinha.


                Explodimos em risos.


                A ceia decorreu tranquilamente. Quando estávamos todos satisfeitos dirigimo-nos aos presentes. Rony foi o primeiro a abrir um pacote.


                - Quem de vocês me mandou este? Está sem nome, apenas destinado a mim.


                Ninguém respondeu a pergunta, eu já imaginava quem o havia mandado, interrompi o que estava fazendo e decidi acompanhar Rony, algo me dizia que não me arrependeria.


                - Uma caixa. – Rony a chacoalhou. – Parece estar vazia.


                Rony a abriu.


                Foi aí que aconteceu. Um estampido rápido ecoou. Uma fumaça vermelha subiu da caixa e formou uma espécie de nuvem sobre o rosto de Rony, ele se sacudia freneticamente. Mas antes que alguém pudesse fazer alguma coisa, a nuvem deixou o rosto repleto de sardas de Rony, mas de brinde deixou duas orelhas grandes, pontiagudas e peludas. A fumaça que antes encobria seu rosto formava agora uma palavra no ar.


                - Burro.


                Tive que me sentar, as lágrimas, fruto das gargalhadas, escorriam em meu rosto. Olhei para os outros e pude perceber que todos também riam, menos um.


                - Não fique brabo, maninho. – Jorge dirigiu-se a Rony.


                - Eu e Jorge cansamos de experimentar os próprios produtos, agradecemos os serviços prestados. Pode ficar com a caixa de presente.  – agora Fred falava.


                - Gemialidades Weasley!


                - Viva o lado bom da vida. – a frase final de Fred não me soava nem um pouco original, mas enfim, mais umas das brincadeiras dos gêmeos Weasley que entravam para história da família.


                Após nos recompormos e Fred e Jorge tranqüilizarem Rony dizendo que as orelhas sumiriam assim que acordasse no próximo dia, voltamos a abrir os presentes.


                - Um suéter. Obrigado mamãe. – Gui agradecia o presente. Sem dúvida um suéter também me esperava dentre os pacotes.


                Encontrei um jogado ao chão, não era grande, mas tinha uma embalagem linda. Peguei-o. Sobre ele lia-se: Para Gina. Com carinho, Harry.         


                Meus olhos procuraram Harry. E para minha surpresa encontraram outros dois olhos olhando para mim. Harry estava me observando, sem dúvida havia visto que eu havia pegado o presente dele.


                Me sobressaltei quando Harry acenou para mim, em direção à cozinha. O que ele poderia querer comigo? Mesmo assim não hesitei em segui-lo.


                Agora estávamos a sós na cozinha, ninguém havia reparado na nossa ausência.


                - Abra-o. – Harry apontou para o presente. Nem me lembrava mais dele. Aqueles olhos verdes sempre me faziam ficar assim.


                - O presente, claro. O que é?- perguntei enquanto rasgava o embrulho.


                - Você verá. – Harry sorria.


                Terminei de desembrulhar o presente e me deparei com uma caixa, poderia ser igual a do presente de Rony, a única diferença é que esta era vermelha. Abri-a.


                Não pude conter minha surpresa e minha total felicidade. Aquele presente só podia significar uma coisa. Um pequeno, mas extremamente vivo, ramo de visco.


                Harry aproximou-se de mim, tirou o visco das minhas mãos e pendurou-o bem acima de nós, em um dos enfeites que eu havia espalhado pela casa.


                - Gina, eu não sou muito bom com estas coisas. Mas não agüentava mais. Precisava abrir meu coração. Eu não sei quando isso começou, só sei que consome meus pensamentos todos os dias. Eu quero estar sempre do lado, eu preciso estar do seu lado.


                As palavras de Harry me deixaram extasiada.


                - Gina, eu te amo. – Harry aproximou-se ainda mais de mim. Vi que era a minha vez de falar. Incrivelmente sabia exatamente o que dizer.


                - Eu também te amo.


                Nem um segundo se passou e o momento que esperei durante anos aconteceu. Meus lábios tocaram os de Harry. Nada mais importava, estava nos braços do homem que eu realmente amava, que protagonizava meus sonhos, preenchia meu coração.


                - Com licença. – as palavras vieram seguidas por alguns tossidos.


                Papai havia entrado na cozinha e pego eu e Harry nos beijando.


                - Papai.


                - Gina, querida. Não se preocupe. Sabe, quando eu sua mãe começamos a namorar tínhamos a mesma idade que vocês. Faço muito gosto nesse namoro. Agora, espero não vê-los mais se beijando as escondidas. Se vocês se amam de verdade, assumam o namoro. Estamos entendidos?


                Harry parecia estar muito nervoso. Agradeci por ter sido papai e não mamãe que havia nos flagrado.


                - Sim, Sr. Weasley.


                Papai saiu lançando olhares de ternura e sorrisos para nós.


                - Gina, seu pai tem razão. Você quer namorar comigo?


                Meu sorriso respondeu a pergunta de Harry.


 

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