Depois do começo



Acordei tão assustada que tive certeza que meu coração nunca tinha batido tão rápido antes. Os fios negros de meu cabelo grudaram em meu rosto suado e, irritada, eu afastou-os dali. Droga. O sono já tinha ido embora completamente, como se eu nem tivesse deitado naquela noite. Tudo por causa daquela maldita chuva cheia de trovões. Olhei para o pequeno despertador na mesa de cabeceira - quatro horas da manhã.

Saltei da cama com o cuidado de não fazer muito barulho para não acordar Alya, que dormia na cama ao lado – bem, se ela não havia acordado com os trovões ainda, realmente... Ouvi um rangido leve e meus pés descalços alcançaram o chão com leveza. Desviei da silhueta ressonante da minha irmã caçula e saí pelo corredor.


Ah, a casa era tão silenciosa à noite. Completamente diferente de qualquer outra hora do dia, ainda mais nos feriados. Senti uma espécie de paz, embora uns trovões ensaiassem em algum lugar no céu lá fora muito, muito longe.


Entrei no banheiro com o estado de espírito melhorado e sorri para o meu próprio reflexo no espelho. Então, tinha herdado o sangue celta das gerações passadas. Meu rosto tinha traços inconfundíveis e étnicos, e meus profundos olhos avelãs escondiam uma certa magia.

Bem, eu agradecia por toda aquela genética favorável e amava ter traços diferentes do resto das pessoas. Mas o meu corpo escultural tinha um defeito que só alguém como eu podia reclamar: meio que afastava caras legais. Como se eu fosse só uma forma. Vazia. 

Resmunguei baixinho alguma coisa para mim mesma enquanto olhava para meu próprio pijama de verão, um short amarelo muito curto e a blusa branca cheia de florzinhas. Aquilo deixava muito do meu corpo à mostra.

Mas não deixei esse pensamento afetar meu bom humor repentino. Lavei o rosto e escovei os dentes, com a certeza de que não conseguiria dormir mais um instante sequer. Penteei os cabelos e prendi-os em um rabo de cavalo.


-


A melhor coisa de quando todos falavam ao mesmo tempo, era que ninguém era ouvido, eram apenas um monte de vozes berrando e se misturando formando coisas desconexas e complicadas.

Estar de volta à escola era um grande desafio. Encarar todas aquelas pessoas que com certeza me fariam lembrar de coisas que eu tentava esquecer.


-


- Ela é uma bomba prestes a se detonar, e quando isso acontecer, levará tudo o que puder consigo.

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