Inimigo
Analisou seu reflexo no espelho demoradamente.
Uma expressão de puro desagrado apareceu em seu rosto. Seus olhos, por trás das grossas lentes dos óculos que usava, se estreitaram, e críticos, passaram mais uma vez a revista de sua imagem refletida no velho espelho do banheiro das meninas.
- O que é isso no seu nariz? – perguntou uma vozinha em um tom zombateiro, uma voz já familiar. – Vejo que você andou tentando enfeita-lo...
Automaticamente, tocou a ponta do nariz com a mão direita. Uma espinha, grande, amarela, havia nascido ali. Era impossível não nota-la.
O impulso a seguir foi espreme-la. Espreme-la até não sobrar nada, nenhum indício.
- Acho que não vai adiantar muito... – disse a vozinha novamente, sendo desta vez ignorada completamente.
A garota, cuja imagem era refletida no espelho, continuou espremendo, ferozmente, sua espinha, até o sangue começar a escorrer da ponta de seu nariz. Ainda assim, não interrompeu suas ações.
- Ah, agora sim ficou você está linda! – gargalhou a voz.
Lentamente, deixou suas mãos caírem. Aproximou-se mais da superfície lisa do espelho, a sua frente. O aspecto da espinha estava pior. Dessa vez, seus olhos se estreitaram não de raiva, mas por causa das lágrimas que insistiam em brotar, em cair pela sua face, silenciosamente.
- Agora você vai chorar? – a voz perguntou, satisfeita – Isso, chore. Seu rosto vai ficar todo vermelho e seu nariz ainda mais inchado...
As lágrimas correram ainda mais, furiosas. Inutilmente, escondeu o rosto nas mãos, deixando as unhas à mostra.
- E as suas unhas?
Imediatamente, tirou as mãos do rosto e tentou, através das lágrimas, enxergar suas unhas. Concluiu que, como todo o resto, como tudo nela, estavam horríveis.
- Eu não sei como você não está na Grifinória. Tem que ter muita coragem para andar assim... – sentenciou a voz, desdenhosa. – Com esse cabelo, com essa cara...
- Cala a boca! – urrou, atirando no espelho o primeiro objeto que suas mãos tremulas encontraram: uma escova de cabelo.
Uma enorme rachadura apareceu no velho inimigo.
Levemente interessada, percorreu os dedos pelo espelho, analisando o estrago que tinha causado. Cortou um dedo no processo. Observou, por alguns instantes, o dedo que sangrava.
Não era ali que doía.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!