strawberries.



 




 Haviam morangos por toda parte, e isso só podia ser uma grande ironia do destino. Quer dizer, eu odiava morangos. Repugnava saber que na verdade os pontinhos pretos eram a fruta, e as pessoas se deixavam enganar pelo sabor – o qual, se me perguntassem há uma semana, eu diria que não lembrava mais. Mas eu me surpreendi sentindo este gosto na boca de alguém depois disso.


 Na boca de Lílian Evans, para ser mais específico, e isso me aturdiu completamente.


 Eu nunca havia percebido que ela é obcecada por morangos. Suas unhas estão sempre vermelhas, quentes, e o gloss é desse sabor. Foi o primeiro beijo roubado que ela me correspondeu e a única coisa, a única maldita coisa que eu consegui dizer quando nos separamos foi:


 - A sua boca tem gosto de morango.


 O sorriso dela foi gentil. Ainda estou tentando saber se foi gentil do tipo “acabei de beijar um retardado” ou gentil do tipo que me achou “fofo” por dizer aquilo. As bochechas dela ainda estavam coradas de surpresa e eu fiquei mais bobo ainda por isso. Não consegui dizer mais nada além.


 - Eu amo morangos. – ela falou antes de dar as costas e sumir no meio da multidão que alunos que dançavam na pista.


 Cocei a nuca, desconfortável, e olhei para ela do outro lado da sala, riscando um pergaminho, concentrada na aula de Transfiguração. Eu sei que era estúpido me afastar por um motivo tão... estúpido, mas simplesmente não dava. Ela não estava me evitando depois do beijo e isso era maravilhoso – nossa relação não incluía mais brigas ou xingamentos ou frases ofensivas; estávamos conversando muito amigavelmente – quase coloridamente – antes do beijo.


 E isso era uma droga. Guardei meu material antecipadamente ao sinal, e quando ele tocou fui o primeiro a levantar e não esperei os marotos. Eu estava de mau-humor. Não era lua cheia, não havíamos marcado treino, não havia plano algum contra os sonserinos ou Filch, ou à gata dele. E muito menos aos quadros e às estátuas. Então, porque raios eu deveria esperá-los, certo?


 - Hei, veadinho! – ouvi uma voz muito familiar atrás de mim e revirei os olhos. É claro que ele não pode me deixar em paz.


 - Não me enche, Sirius – murmurei quando ele trombou no meu ombro para caminhar ao meu lado.


 - Que bicho te mordeu hoje, cara? É sexta feira, tem festa mais tarde de novo. São tipo, dois fins de semana seguidos de festa, e ainda temos dois tempos livres, ou seja, a tarde e a noite são umas crianças pentelhas!


 - Dá pra parar de falar? Minha cabeça dói. – eu fingi um gemido.


 Tive a impressão de ouvir um suspiro feminino, mas ignorei.


 - É por causa da Lílian? – Remo nos alcançou.


 - E porque seria?


 - Ela me disse que você está todo estranho com ela, Pontas.


 - Eu só estou... Numa fase... Ruim, ok? – perguntei lentamente. Arght, como eu gostaria de ter sido mais grosseiro com eles no começo da nossa amizade pra isso afastá-los agora. Ser grosso com eles, nos dias de hoje, no máximo dava motivo para eles darem risada e continuarem com seus comentários inoportunos.


 Joguei a mochila na grama e deitei na grama sob o sol. Era comecinho de inverno e havia uma brisa gelada dançando entre nós.


 - Você tá pior que o Aluado em dia de lua cheia. Tá pior do que a Dorcas e a Marlene na TPM juntas! – Sirius continuava a me atormentar.


 Ah, céus.


 - Ouvi meu nome, cachorro de uma figa? – Dorcas riu enquanto nos cumprimentava. Sentei na grama para responder ao beijo no rosto.


 Alice vinha em seguida, e as duas sentaram-se com a gente. Segurei o impulso de perguntar pela ruiva, já que eu oficialmente a estava evitando. Isso me fazia sentir mal, mas o que eu poderia fazer? Eram os morangos!


 - Não só a gente, mas aposto que todos os machos alfas dessa escola estão falando de você, coisa linda – Almofadinhas estava fazendo Dorcas dar risada. Porque isso definitivamente não podia ter sido uma cantada.


 - Vocês não tem treino de quadribol hoje? – Alice perguntou, e eu sabia exatamente a resposta que ela esperava.


 - Não, hoje é a Corvinal. Se você se apressar, com sorte ainda vê o Frank sem camisa.


 Ela corou e eu e Remo rimos. É, as coisas estavam melhorando. Estavam melhoran...


 - ... mas daí eu falei pra ele, claro que não, paspalho! Quem você pensa que é nesse uniforme digno de patético e... – era a voz de Marlene que falava. Ah, sim, ela falava. Sempre.


 Lílian estava junto com ela, e quando eu ergui a cabeça para olhá-las nossos olhos se encontraram por um instante. Senti meu coração bater mais rápido. Ah, ruiva. Quando é que eu ia imaginar que um dia uma garota faria isso comigo? Elas haviam trocado o uniforme por roupas trouxas curtas demais para a estação. De onde eu estava, podia ver toda a extensão das pernas de Lil, e ainda de quebra imaginar como seriam aquelas curvas na sua cintura, e subindo mais um pouco e... ah. De novo. Ela notou a maneira como eu a sequei e desviou os olhos, suas bochechas adquirindo tons vermelhos – de morango.


 - Alguém? – ela estendeu um pacotinho transparente na nossa frente.


 Só podia ser brincadeira. Não, só podia, velho. Quando eu vi as frutas vermelhas e carnudas ali no potinho, franzi ligeiramente a testa e vi que ela olhava diretamente para mim, ainda que meus amigos tenham atacado um pouco o pote. Desviei o olhar, ainda intrigado, e passei a fitar o Lago. É claro que aquilo não prendeu minha atenção coisa nenhuma, já que ela estava ali, com aqueles... Morangos. Olhei discretamente para o lado. Lílian havia se sentado ao lado de Marlene, que brigava com Sirius por uma fruta, as pernas retas e entrecruzadas na frente dela distraidamente. Seus cabelos vermelhos estavam presos em um rabo de cavalo, e eu me perdi um pouco naquele pescoço fino e...


 Foi aí que eu vi.


 E tudo se passou como que em câmera lenta. Ela segurou um morango com o indicador e o polegar, molhou no chocolate que alguém conjurou sem que eu percebesse e levou aos lábios. E foi perfeição. Seus lábios carnudos projetaram-se ligeiramente para frente enquanto ela mordia a fruta pela ponta traseira, os olhos sorrindo para alguma coisa engraçada que Sirius havia acabado de dizer sobre Lene.


 Senti um arrepio na espinha e engoli seco. Aquilo estava mexendo com meus instintos completamente. Era um contraste intenso entre desejar e desagradar. Estava me sentindo um covarde – depois de tanto tempo atrás dela, pirando por ela, fazendo loucuras por ela... chegam os malditos morangos.


 Levantei e sacudi a sujeira da grama que havia na minha calça. Os outros estavam conversando tão distraidamente que lançaram meros olhares para mim quando disse que iria subir para o dormitório, pois estava cansado.


 Ainda senti o olhar dela nas minhas costas. Droga, droga, eu precisava agir rápido. Aquilo estava ficando ridículo. Voltei para o salão comunal sem problemas – além de uma dúzia de garotas terceiranistas que insistiram em passar as mãos pelos meus cabelos para saber se era mesmo verdade que eles não paravam sentados. Elas saíram dando risadinhas quando descobriram que era, e eu sorri educadamente, saindo dali rapidamente. Revirei os olhos depois, pensando em como eu tinha sorte de que a minha garota não fosse como essas tietes.


 Ah, eu precisava me resolver com ela. Minha garota estava envolvida com morangos, e isso era um problema.


 



 


 - São mulheres, cerveja e rock’n’roll, brother! – Sirius passou a mão pelo meu ombro, animado, e me estendeu uma garrafinha com a outra mão livre.


 Dei uma risada e um gole na cerveja. Enfiei uma mão em um bolso e olhei à minha volta – é, deu certo. O cachorro sabia mesmo cuidar bem das coisas. A Sala Precisa estava perfeita e, no outro dia, se alguém quisesse saber onde era aquele lugar, não teria idéia alguma.


 A música estava muito alta e do teto baixo saíam umas luzes coloridas que piscavam e dançavam entre os corpos. Já tinha muita gente ali – eu sabia que isso ia acontecer, porque a festa havia começado há pelo menos uma hora e meia. Eu quase havia desistido de ir até que Remo apareceu berrando no meu ouvido.


 - As meninas já chegaram? – perguntei pro Almofadinhas.


 - Ah, já sim. A Marlene já está se atracando com o Diggory. Cara, posso falar? Não tem coisa mais nojenta que ver os dois, sério. Ela é bonita e tudo, e não entendo, simplesm...


 - Quero saber da Lílian, idiota – cortei o papo dele, e ele riu.


 - Ah, ela está por aí se atracando com alguém também.


 - Quê?


 - Brincadeira, sabia que você ia ficar estressadinho.


 - Onde elas estão?


 - Já vai encher a ruiva de novo, cara?


 - Preciso conversar com ela – eu olhei pra ele, e notei quando ele percebeu que era sério.


 - Hm... Tudo bem, não precisa desabrochar a Minerva que há em você. Elas estavam perto dos puffs por ali. É melhor você ficar mesmo esperto, falando nisso.


 - Como assim, Almofas?


 - Muito gavião já veio me perguntar se a ruiva tá disponível. – ele deu uns tapinhas nas minhas costas – E eu não vou mentir só pra ser conveniente, mas ela tá gostosa.


 Suspirei, dando um soco leve no braço dele e começando a andar onde ele tinha apontado. Se o Sirius tinha dito que ela estava gostosa, aquilo não era bom. Quer dizer, era bom demais. Se eu já achava isso normalmente, com todo aquele uniforme enorme, imagine... Imagine... Ah, Céus, Lily.


 Ela estava de costas pra mim, usava um short jeans escuro curto demais e uma bata soltinha, vermelha com listras mais escuras, e uma sandália preta. Sorri pra ela, disfarçando enquanto engolia seco, porque como se lesse meus pensamentos ela se virou e nossos olhos se encontraram.


 - James! – Dorcas foi a primeira que se aproximou e beijou minha bochecha, me abraçando em seguida. Depois cumprimentei Emmeline e a timidez dela quase não me deu vez, mas bem, eu era James Potter, e ela sorriu mesmo assim.


 - Hei, linda – cumprimentei Lílian, me aproximando para beijar seu rosto. Ela pareceu meio hesitante de início em se aproximar totalmente do meu corpo, mas minha mão escorregou para sua cintura, mantendo-a perto por mais tempo que o necessário, e cheirei seu cabelo; e ela corou lindamente. Quando nos afastamos, fiquei perto dela como se ela estivesse me esperando.


 - Então... Chegou só agora? – ela perguntou, sorrindo.


 Os olhos dela brilharam para mim. Esmeraldas perfeitas. Brilharam para mim.


 - Pois é, sabe... Não estava muito a fim de festa hoje.


 Ela deu uma risada e virou a garrafinha nos lábios. Por um segundo a imagem dela mordendo o morango daquele jeito sexy surgiu em minha mente, mas sacudi a cabeça fazendo-a sumir logo depois.


 - Isso é novidade – ela falou, tocando meu braço rapidamente, meio receosa.


 Sorri.


 - Estou sabendo que está bem disputada por uns caras.


 - Ah, cala a boca, James. – Lily revirou os olhos.


 - Sério... Ouvi por aí.


 - De que adianta? – quis saber, levantando os ombros ligeiramente.


 - Como?


 Lily abriu a boca para falar, mas desistiu e sorriu novamente, virando-se para a pista e fazendo um biquinho enquanto seu corpo balançava-se minimamente correspondendo à música. Apenas por aquele movimento, os pêlos da minha nuca se arrepiaram. Cocei ali e ajeitei os óculos no nariz.


 - Antigamente, as pessoas respondiam às perguntas – não me contive, apenas para que ela não me esquecesse ali.


 - Oras, antigamente os garotos não sumiam depois de um beijo, também.


 - Lily, eu...


 - Eu sei, James. Eu não quero te forçar a nada, sabia que isso poderia acontecer. É difícil, mas... Eu entendo. – ela suspirou e, parecendo decidida a algo que eu não tinha idéia, começou a atravessar a pista.


 Então era isso que ela pensava? Que eu tinha dado o fora nela depois do beijo? Mas o que mais ela poderia pensar, afinal? Eu era mesmo um burro de uma figa. Demorei tanto tempo para conseguir aquilo e agora ficava ali, como se estivesse entre uma faca de dois cumes. Ah, não. Eu ia mudar aquilo que ela estava pensando naquela noite, mesmo.


 Foi quando eu percebi que Lil mal chegou ao meio da pista e Gregório McMiller já estava lá para atacar, segurando-a pela cintura ao mesmo tempo em que dizia alguma coisa. Lílian riu. Ela inclinou a cabeça ligeiramente para trás e riu. Isso fez meu sangue ferver nas veias e subir para a cabeça. Virei o resto do conteúdo da garrafinha nos lábios e puxei o primeiro rabo de saia para dançar, lógico que perto deles.


 Era um diabo de música lenta que estava tocando. Eu sabia que ela tinha percebido que eu fizera aquilo por causa da dança deles, e ergueu uma sobrancelha pra mim quando me viu puxar Alicia Young pela cintura e colá-la a mim. Hm, só depois eu percebi que já havia saído com ela, então foi tarde demais. Trinta segundos de dança lenta depois e eu já comecei a sentir os beijos no pescoço, mas isso não estava me excitando em nada. Estava me irritando, na verdade.


 Lílian riu de novo de alguma coisa que o Gregor disse e pousou o queixo no ombro dele, ainda olhando pra mim. Um sorriso torto surgiu nos lábios dela e eu me segurei para não fazer qualquer loucura ali por impulso. Então, educadamente – isso quer dizer, sem falar nada – larguei Alicia e fui até eles.


 - Posso? – perguntei.


 Que se danasse o olhar maligno que recebi daquele idiota. Lily fez que sim com a cabeça quando ele a questionou, e isso deixou claro quem mandava ali. Puxei-a pela cintura, colando seu corpo quente ao meu.


 - Eu estava aqui me perguntando... o que ela estava tentando fazer? Arrancar sua orelha fora ou pedaços do seu pescoço? Ou os dois? – a risada dela foi bem perto do meu pescoço.


 Segurei outro impulso (o de beijá-la), agora bem mais forte, e apenas me deixei ofegar perto do seu cabelo.


 - Você arruma cada uma, James.


 - Sabe, é lindo ouvir meu primeiro nome na sua voz – eu sorri – Repete.


 Ela sorriu e me puxou pelo ombro para dizer em meu ouvido:


 - Você bem que poderia buscar outra cerveja pra gente, James. – então os lábios dela estavam colados ali.


 E a nossa dança parou. Subi as mãos para as costelas dela e segurei outro impulso (ainda o de beijá-la) relativamente maior.


 - Você quer que eu te deixe aqui sozinha, pequena? – perguntei junto ao ouvido dela também, e percebi que ela estremeceu em meus braços.


 - Eu não sei se você viu, mas olha o tanto de gente que há a nossa volta.


 Apertei um pouco a cintura dela, puxando-a mais contra mim, se é que isso era possível.


 - Tudo bem, eu vou buscar. – falei por fim, quando percebi que ela ficou na expectativa.


 Dei de costas e meu corpo pediu dolorosamente o dela de volta, mas eu prossegui. Aquilo havia sido praticamente uma ordem – ou uma dispensa? Não. A questão foi que quando eu cheguei à caixa de bebidas, percebi um tumulto.


 Um puta tumulto.


 E percebi uma outra coisa também. Os gritos da Marlene. Merda, merda... Me enfiei entre as pessoas até chegar na roda. Sirius e Amos estavam se socando como nunca, e por um segundo eu não soube o que fazer. Então no outro segundo eu já havia partido pra cima deles, tentando separá-los, e depois Remo chegou e me ajudou, e tudo ficou bem.


 - Que porra foi essa? – Remo esbravejou – Eu já vou contra as malditas regras deixando vocês fazerem festas aqui e você ainda se mete numa briga idiota, Sirius?! Qual é!


 - Ele me provocou, ok? – ele se defendeu, limpando o filete de sangue que escorria em sua boca – Ele ficava... passando a mão nela e me olhando de um jeito pervertido... mas que merda!


 As pessoas dispersaram e voltaram à festa como se nada tivesse acontecido. A uma altura dessas eu já devia ter esquecido das bebidas de Lily, mas não. Falei muita coisa pra ele, também, que ficou sentado emburrado em um canto até que a Lene viesse conversar com aqueles carinhos todos que os dois trocavam, e aí eu e o Remo saímos de fininho. Na verdade bem descaradamente, mas eles não estavam nem aí. Peguei as cervejas, comentando a estupidez e cegueira de Sirius, e depois disse a ele meu objetivo.


 Remo fez uma careta.


 - Hm, cara – ele apontou para a porta por cima da cabeça das pessoas – Acho que o seu objeto de desejo acaba de vazar.


 Olhei para lá e a porta já estava fechada.


 - Ah, velho, você viu errado – eu ri baixinho – A Lily disse que ia esperar.


 - Em algum lugar bem longe daqui, só se for.


 Olhei pra ele novamente, e de novo para a porta. Tentei procurar por cima das cabeças das pessoas por uma vermelha, mas ninguém parava quieto. Então eu preferi acreditar em Remo e fiz uma expressão de misericórdia pro meu amigo antes de sair da sala.


 E dar de cara com a mais completa escuridão e silêncio. Ótimo, agora não dava mais para voltar, porque nenhum dos Marotos estava comigo. Eu tinha que achá-la – mas o lugar estava como se ninguém passasse por ali há tempos.


 Ok... Fechei os olhos. Aquilo estava funcionando ultimamente e, embora Remo achasse esquisito, eu e Sirius achávamos o máximo. Os sentidos do nosso animago estavam coagindo com os humanos. Suguei lentamente o ar pelas narinas e sim, ela havia passado por ali. O morango, o morango. Agucei os ouvidos. Passos, dois corredores dali... Descendo. Onde diabos aquela ruiva estava indo?


 Comecei a seguir, por todos os corredores e escadarias, até que dei de cara com um quadro de frutas e sorri. Hm, Lily, isso é bem reservado. Cocei a fruta e entrei.


 Ela estava de costas, parecendo discutir com um elfo, pois sua cabeça estava inclinada para beijo para sussurrar:


 - ...não, fique tranqüila, ok? Ninguém vai saber!


 - Eu vou – me intrometi, abraçando-a de costas.


 A elfa simplesmente pulou de susto e arregalou os olhos como se eu fosse o demônio.


 - Ah, não se preocupe, é só o James, ele não conta nada.


 - Qual é o segredo? – quis saber depois que a pequena criatura tinha sumido.


 - Você já vai ver. – ela sorriu, maliciosa, e foi andando até um grande armário que revelou ser uma geladeira.


 - Por que saiu sem avisar? – perguntei – Eu fiquei procurando por você.


 - Precisava fazer uma coisa. – respondeu brevemente, ainda fuçando no armário.


 - Pode dizer o quê?


 - Morangos. – falou simplesmente. Como se fosse a coisa mais normal do mundo. Ah, ótimo – Aquela elfa me prometeu um pouco deles, que chegaram hoje, fresquinhos, se eu costurasse a touca de frio dela e dos filhos. Estavam bem rasgadinhas, sabe.


 - E você, sendo uma alma caridosa...


 - Está brincando?! Eu sou é viciada em morangos. – o sorriso dela era enorme quando se virou e revelou outro potinho semelhante ao de mais cedo.


 Não consegui esconder uma careta. Ela ficou me olhando sem entender e depois, devagar, sua expressão se modificou.


 - Você não gosta de morangos? – franzi o nariz ligeiramente e fiz que não. Ela continuou: - Por isso você correu de mim a semana toda – deduziu, espreitando-me. Eu consegui perceber a mágoa em seus olhos verdes – Você odiou me beijar por causa do gloss de morango. Ou apenas odiou o beijo.


 - Quê? – fiquei indignado que ela tivesse pensado aquilo.


 - É, eu sabia que isso podia acontecer, sabe. Por isso eu estava meio relutante de beijar você antes, mas... acho que você tinha uma expectativa muito grande de mim. – ela já estava séria e eu interrompi bem ali.


 - Não mesmo, Lil. – falei pausadamente - Eu adorei beijar você, sério, foi o melhor beijo desde... sei lá, sempre. Mas eu fiquei confuso porque eu achava que ia sentir repugnância pelo gosto, mas...


 Primeiro ela não pareceu acreditar.

 - Mas...? – ela me incentivou a continuar.


 - Mas eu não senti isso! O beijo foi muito bom, de qualquer maneira. – repeti.


 - Só por causa dos morangos? – perguntou.


 - Eu acho que os odeio e vem você me dizendo que adora.


 Lil refletiu por um instante. Eu percebi quando a dúvida dissipou devagar dos olhos dela e ela acreditou em mim. Percebi que ela tentou disfarçar o quanto estava corada, e isso só me fez sorrir mais ainda.


 Então ela começou a comer os morangos. Um atrás do outro, naquela lenta tortura que parecia apreciar ver em mim, os lábios projetados para frente, os olhos fechados de prazer. A lentidão de tudo aquilo me fez apertar forte a beirada da mesa na qual eu havia sentado.


 - Ah, não, James – ela sorriu ao me ver naquele estado – Você vai ter que experimentar.


 - Hm, na verdade, eu estou bem assim, sabe, Lil? – falei, engolindo seco novamente.


 Ela havia começado a se aproximar com um morango nos dedos e um sorriso malicioso no rosto. Passei as mãos pelos cabelos, tentando disfarçar... Qualquer coisa. Ah, ruiva, ruiva.


 - Vamos lá – ela falou, encaixando-se entre as minhas pernas intimamente na beirada da mesa e esticando os dedos – Experimente. Não é possível que ache assim tão ruim. Isso aqui é divino.


 - É divino ver você comer, ruiva – falei sem me conter.


 Ela deu uma risada pelo nariz.


 - Você já comeu por acaso?


 - Já, uma vez... Quando eu era criança. Não gostei e me lembro disso.


 - Crianças são imprevisíveis, James. Um dia elas gostam de comer uma coisa, outro dia elas odeiam.


 - Adivinha, querida? Eu não sou mais criança e sei bem o que eu quero.


 Por um instante, ficamos apenas nos encarando com aquela intensidade inigualável. Os olhos dela me prendiam como nada que eu me lembrasse. Eu queria enxergar através deles, saber o que ela estava sentindo. Então ela levantou o morango na altura da minha boca e aconchegou-se mais perto de mim, puxando minha nuca.


 - Por mim, uma mordidinha. – ela pediu docemente com um sussurro – Juro que não vai se arrepender, James.


 Ah, Lily, que porra de poder de persuasão era esse? Afastei a cabeça por impulso, mas os dedos dela fizeram uma trilha por meus cabelos e eu tornei a me aproximar da fruta.


 - Você não faria isso comigo se fosse ruim, não é? – perguntei a ela.


 Lílian riu, e seu riso soou como sinos nos meus ouvidos, tão perto. O cheiro dela era bom. Muito bom. Aquele cheiro já estava completamente impregnado em mim, então, qual era o mal?


 Me aproximei e dei uma mordida devagar, fechando os olhos com força. Eu não prestei exatamente atenção no sabor, já que quando abri os olhos percebi que os olhos da ruiva estavam na minha boca, perdidos. Neles haviam um fogo que me abrasou por dentro.


 Mastiguei devagar e ela saiu do transe, encabulada, afastando-se das minhas pernas. Mas eu fui mais rápido e a puxei para junto de mim de novo, puxando também o potinho de morangos.


 - Não é tão ruim – falei, fingindo estar pensativo.


 - Eu sei, é uma delícia, não é?


 - Também não é uma das maravilhas do mundo, mas não é ruim. Você não se importaria se eu ficasse com eles, né? – perguntei inocentemente, afastando o pote da ruiva.


 Os olhos dela faiscaram. Suas mãos se ergueram tentando alcançá-lo, mas só encontraram meus braços.


 - James, você não pode ser tão maldoso. Eu costurei por esses morangos, tem idéia? Eu odeio costurar. E ah, você nem mesmo gosta tanto assim de morangos, então...


 - Ruiva – coloquei um dedo na boca dela, fazendo-a calar a boca de uma vez por todas.


 Depois peguei um morango e o trouxe pra perto. Ela percebeu e empertigou-se.


 - Eu tenho uma idéia melhor pra esses morangos. – falei enquanto aproximava a fruta ainda mais das nossas bocas.


 - Qual? – ela quis saber, olhando esperançosa para mim e para o morango.


 - Você quer isso? – perguntei baixinho perto do rosto dela.


 Lily suspirou e fez que sim.


 - Vem buscar. – falei.


 Mordi uma metade do morango e deixei a outra pra fora da minha boca. A ruiva pareceu ficar atônita por um segundo, mas então se aproximou.


 E mordeu a fruta. Nossos lábios roçaram levemente com o movimento e vi quando ela lambeu os próprios devagar depois de mastigar com prazer. Então, eu não consegui mais controlar o impulso. Engoli o que restava da fruta e a puxei avidamente para perto.


 - Assim está bem melhor o sabor – murmurei junto de seus lábios.


 - Delicioso – ela respondeu, suas mãos pequenas subindo pelo meu peito.


 Mordi o lábio inferior dela, para começar, e Lily me beijou, enlaçando os braços pelo meu pescoço. Inclinei-me para frente e consegui passar uma mão por baixo de sua bata, sentindo sua pele quente e acariciando suas curvas enquanto correspondia ao beijo dela, mordia e sugava seus lábios com a mesma vontade que ela, talvez mais. É claro que teve gosto de morango. E foi muito, muito bom, por sinal.


 Quando faltou ar eu me inclinei mais ainda na mesa para beijar o pescoço dela. Lílian arfou e enfiou as unhas na minha camiseta, nos ombros.


 - Ah sim, isso é perfeito – ela murmurou com a respiração ofegante.


 - O que é perfeito?


 - O seu beijo. Com gosto de morango.


 Grunhi, impaciente, e a puxei para cima da mesa. Não sei como, mas eu fiz isso e antes que eu percebesse estava sentado com as pernas dela envolta de mim. Ela podia sentir a reação do meu corpo sobre o que eu achava do beijo, então dispensei qualquer comentário. Lil sorriu maliciosamente e pegou outro morango e fizemos a mesma coisa de novo, dessa vez sem esperar todo aquele tempo para o beijo. E foi intenso. Incrível. Simplesmente...


 Bom, talvez de alguma forma eu pudesse me dar bem com morangos. Bem demais até.






n/a: e essa sou eu postando de uma vez só. é a minha primeira JL, então, gente, sejam bonzinhos. eu francamente pensei em fazer uma SM com ela, maas, acho tão fofo esse casal! ;D comenteeem?

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