Cova



Isso é tão estranho... Charles nos abandona e some com aqueles garotos! Um ato bem incompreensível, na verdade... Mas se ele acha que se livrou de nós, está errado...




Olhei para Dan, que ainda estava perplexo. Ele olhou de volta e finalmente falou alguma coisa, depois de alguns instantes.


Dan: O que fazemos agora, Nergal?


Nergal: Não podemos simplesmente deixá-los irem. Temos que prosseguir.


Dan: Mas... o que podemos fazer, Nergal?


Nergal: O Imperador tem Generais dos três elementos que não o ar. Charles definitivamente caçará Gale. E acho que Anna tentará pegá-lo antes disso. Então nossa primeira meta é Alexis.


Dan: Alexis?


Nergal: Sim. A última General. Aquela sobre quem Charles, nos falou, preocupado.


Dan: Ah, a russa. Será se temos chance contra ela?


Nergal: Temos que tentar. Não vou abandonar a causa de Charles; é minha causa também.


Dan pensou um pouco, mas não disse nada... Acho que isso significava que ele estava comigo e mesmo que fosse pelo fato de não ter muita escolha, eu me sentia grato por seu ato. Ia dizer algo mais, mas as palavras se perderam, porque do outro lado da estrada um vulto passou. Não foi sua nenhum aspecto de sua aparência ou de seu figurino que tinha me chamado a atenção. Foi uma coisa muito simples, que quase passou despercebida, mas que assim que eu vi, descobri o que era...


Em uma de suas mãos cobertas, ele carregava um papel azul petróleo. Só vira um papel daquela cor duas vezes antes. E em ambas, as mesmas palavras estavam escritas nele. Organização XXI.


Nergal: Aquele vulto – temos que seguí-lo.


Dan acenou e nós dois começamos a correr, chegando em uma pequena cidade depois de perseguir aquele ser por alguns minutos. Era tão perto da minha antiga moradia que eu deveria saber que cidade era aquela, mas eu não fazia idéia. Ele continuou andando, então eu não era mais capaz de devanear... Tinha que seguí-lo. A pessoa misteriosa entrou em um cemitério e parou ali, no meio de uma seção de tumbas luxuosas. Paramos logo na frente dela.


??????: Você não é o garoto... Ah, espero que seja útil.


Ela tirou a capa e o capuz. Em uma armadura selvagem, Alexis se revelara na nossa frente... Mas o fato de ela estar ali, sozinha fazia tudo parecer fácil. Fácil demais.


Nergal: O que vai fazer, mulher? Me matar?


Alexis: Ah, eu sei quem você é! O ex-General do Ar. O Mestre queria que eu fizesse outra coisa com você.


Percebi naquele instante o que estava errado... O cheiro de magia negra estava no ar... Magia muito, mas muito negra. Eu devia ter corrido, mas estava determinado a impedir Alexis.


Nergal: Então venha! Um duelo!


Alexis: O Grande Imperador me alertou que você me tentaria. Sinto muito, mas não tenho interesse em brincar com você, Nerguinho...


Antes que eu pudesse reagir, ela pulou por trás de mim e imobilizou meus braços com uma só mão, os colocando em minhas costas. Eu tentei chutá-la, mas ela imobilizou minhas pernas também. Ela então colocou algo na minha nuca. Algo pontudo e bem velho.


Eu nunca poderei esquecer a dor que tive naquele momento. Senti uma picada e de repente, me sentia como se alguma coisa muito boa estivesse me deixando... Comecei a ofegar, sem ar, e aí percebi o que ocorria... Ela tirava o meu dom de controle do ar... E o enviou para algum outro lugar.


Alexis: O ar é traiçoeiro. Mestre me alertou para me livrar de seu elemento.


Nergal: Então... por que você não me matou?


Alexis: O ciclo. Sempre que uma pessoa com o dom morre, ele passa para o próximo mais apto a tê-lo. O único jeito de quebrar o ciclo... A única maneira de impedir o reaparecimento do dom... é matar o possuidor com o próprio elemento que ele controla...


Dan: Isso não explica nada.


Alexis: E por que eu deveria? Logo, vocês não passarão de mais dois cadáveres no meio desse ossário...


Ela tirou a varinha e a colocou em sua mão esquerda. Tentei pegar a minha varinha, mas a perda foi grande... Eu me sentia tonto e fraco... Felizmente, Dan a desarmou antes que ela nos matasse.


Dan: Sente-se mais cooperativa agora?


Alexis: Mestre me disse tudo. Agora, vamos testar os novos amiguinhos dele...


Ela estalou os dedos. De repente, mortos começaram a reaparecer de dentro da terra... O estranho era que eles eram muito mais bem conservados do que os esqueletos padrão. Eles tinham uma aparência... quase normal. Eram bem pálidos, com olhos mortos, mas ainda tinham pele. Alguns usavam armaduras, outros túnicas e um ou dois estavam de terno. Eles não diziam nada, apenas parados esperando sua próxima ordem.


Alexis: Gostaram? Um novo experimento do Imperador. Inferi XII. Ataquem esses intrusos!


Espadas surgiram nas mãos dos mortos de armadura. Arcos nas mãos dos que usavam túnicas e para os executivos, claro, maletas. Dan tinha pegado seu machado e tentava cortar o máximo deles possível, mas aquilo não funcionava tão bem... Mortos ficavam rígidos e eram mais resistentes do que os vivos. Eu percebi que ele estava em pânico, mas podia perdoá-lo por isso. Estendi minha varinha e bradei:


Nergal: Lumos Maxima!


Os cadáveres caíram, cegos e assustados. Com isso, Dan começara a atacá-los em seu ponto mais vulnerável: o pescoço. Eu me soergui, preparado para enfrentar aquele jacaré russo que roubara meus poderes. Ela começou a fazer com que pilares de terra se levantassem, mas eu era capaz de me desviar de todos eles, não tão rapidamente quanto antes. Ela me acertou com um upper de direita quando cheguei perto demais, me jogando no chão. Assim que senti a terra, eu soube o que fazer. Alexis disse que quem fosse morto pelo elemento que controlava quebrava o ciclo, não é? Hora de testar esse mito, mocinha.


Alexis: Estupefaça!


Nergal: Protego!


Eu corri, procurando algo estritamente necessário para o meu plano até que encontrei a coisa macabra em uma seção mais simples ao leste: uma cova. Parei ali e tive que me desviar das pedras que ela me lançava. Uma delas me acertou no estômago, outra na testa e mais uma no meu pé. Eu mal conseguia me manter em pé, enquanto aquela mulher nem sequer suava. Não estaria mais fedida para o funeral.


Alexis: Uma cova, é? Já está planejando o funeral?


Nergal: Sim... mas não o meu! Petrificus Totalus!


Um truque de iniciante, tenho que admitir. Mas foi o suficiente para ela cair. Eu então tomei a varinha dela e com muito esforço joguei o corpo imóvel no fundo do buraco, o que demorou um pouco. Naquele instante, Dan chegou e vendo o meu cansaço, tampou o túmulo para mim... Aquilo era desagradável, mas estava feito. Tinha enterrado uma mulher imobilizada. Tinha a matado. E eu nem sequer sabia como alcançaríamos Charles depois daquele momento tenso...

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