O que mais pode dar errado
— Esperando por mim?
— Exatamente. — Levantou-se e aproximou-se dela. — Seus olhos passaram a noite toda prometendo coisas que eu não desejaria que fossem dadas para nenhum outro homem.
— Prometendo coisas? — Ginny perguntou, segurando a toalha que ameaçou cair. — Você... você está enganado!
— Não acho. — Tocou-lhe de leve o rosto pálido. — O que foi? Não está se sentindo bem?
— Não — respondeu, nervosa com a proximidade dele.
— Está de ressaca ou coisa parecida? Você bebeu demais!
— Estou perfeitamente bem.
— Então por que essa palidez?
— Não tenho nada, estou apenas com dor de cabeça — disse ela, afastando-se. Ouviu Harry rir e virou-se para ver o que era. — O que há de tão engraçado?
— É a desculpa clássica... — Seus olhos brilhavam. Ginny sentiu uma coisa estranha na boca do estômago.
— Desculpa? Como assim?
— Para não fazer amor — disse ele abertamente. — É por isso que o seu namorado não está aqui agora?
— Dino não é o meu namorado. E eu, quando não quero fazer amor, digo apenas não! — Continuava enrolada na toalha que mal escondia seu corpo.
Harry estava atrás dela e Ginny sentiu o seu hálito quente no pescoço.
— Eu não estou a fim de levar um não de você hoje — disse ele, passando-lhe os braços pela cintura. — Hoje é para valer, Ginny.
— Você está enganado — disse ela, esquivando-se. — O que aconteceu com a sua amante?
— Luna? Deve estar em casa com o marido.
— Será que ele sabe que vocês saíram juntos esta noite?
— Claro que sabe. — Começou então a roçar os lábios no pescoço dela.
— Será que ele gosta tanto assim da mulher a ponto de permitir que ela tenha amantes? — perguntou, agressiva.
— Isso não me diz respeito. Aliás, Neville estava com a gente, só que provavelmente você nem reparou. Éramos oito na mesa.
Cada vez que os lábios de Harry a tocavam, Ginny sentia o coração pulsar mais forte; mas mesmo assim estava conseguindo controlar-se.
— Um grupo de oito... E quem era o seu par?
— Uma garota oriental chamada Cho.
— Mas se você não está com a sua amante, por que não está com a tal Cho?
— Ora, Ginny, o que é isso? Eu a conheci hoje.
— Você me surpreende!
— Também acho — disse ele, rindo. — Gosto do seu cabelo desse jeito, você fica com um ar maroto... — Puxou a fita que os prendia e os cabelos caíram-lhe pelos ombros. — Você parecia uma menininha com o cabelo preso, e hoje não é isso o que eu quero.
Harry estava com o corpo colado ao dela e não escondia sua excitação.
— Mas, Harry, eu sou jovem, não adianta.
— Esqueça o que eu disse... Só quero você — disse ele, beijando-a suavemente.
Ginny não conseguiu reprimir seu desejo. Levantou os braços e abraçou Harry com paixão.
— Isso foi bom — disse ele. — Era disso que eu precisava... E você também, admita.
— Eu...
— Admita, Ginny!
— Eu também precisava.
Ele riu triunfante, mas assim que largou Ginny a toalha caiu no chão. Ela quis pegá-la depressa, mas Harry a impediu.
— Deixe — disse ele com os olhos fixos nela. — Oh, Deus! Você é muito mais bonita do que eu imaginava. — Segurou-lhe a mão e levou-a até a cama. Ginny começou a se sentir mal.
— Harry, por favor, deixe-me vestir alguma coisa — implorou.
— Oh, não... Se quiser pode entrar debaixo das cobertas, mas agora que chegamos a esse ponto não pretendo voltar atrás.
Ela obedeceu depressa e ficou olhando Harry se despir. Logo ele estava a seu lado, mas Ginny ainda resistia.
— Não está certo, Harry.
— Mas o que é que pode estar mais certo do que isso, Ginny? Você pode negar que me deseja?
— Não, mas eu...
— Então tudo bem — disse ele, abraçando-a e beijando-a apaixonadamente.
Quando estavam prestes a fazer amor, a campainha tocou. Continuou tocando até que, afinal, Harry olhou para ela e perguntou:
— Está esperando alguém?
— Não — respondeu, confusa.
— Então quem é que poderia ser? — Disse um palavrão quando a campainha voltou a tocar. Levantou-se, vestiu as calças e foi ver quem estava batendo.
Ginny continuou deitada, esperando por ele e espantada com a sua própria reação.
Escutou um murmúrio de vozes na sala e ficou imaginando com quem ele poderia estar falando. Saiu da cama, foi ao banheiro e vestiu o robe antes de ir ver o que se passava. David estava na porta e Harry aproximou-se de Ginny, abraçando-a protetoramente.
Ela notou que os dois estavam pálidos.
— O que aconteceu? O que houve de errado? Harry estava transtornado.
— Meu pai teve um ataque cardíaco e eu tenho de ir para o hospital imediatamente. Espere aqui enquanto eu me visto — disse ao irmão, e saiu da sala.
— Desculpe por ter chegado desse modo — disse David, meio sem jeito.
— Seu pai vai ficar bom? — perguntou Ginny, ansiosa.
— Os médicos acreditam que sim, mas ainda não têm certeza. Achei que devia avisar Harry.
— Claro, e fico agradecida por você ter vindo aqui.
— Fui primeiro ao apartamento dele, depois à boate da qual é um dos donos. Havia acabado de sair, então voltei de novo ao apartamento dele e não o encontrei. Deduzi que só podia estar aqui. Harry me disse que costuma passar as noites aqui.
— É verdade — concordou Ginny. — Com licença, David, mas preciso falar com Harry.
— Olhe, eu não quis ofendê-la, você sabe. Eu estava apenas explicando por que achei que ele podia estar aqui.
— Está bem, mas agora com licença.
— Esteja à vontade.
— Eu nunca escondi de você o que eu sentia por Harry.
— De fato. Sinto muito se causei problemas entre vocês dois ontem à noite.
Harry já estava quase vestido quando Brooke voltou para o quarto. Correu para ele e abraçou-o pela cintura, encostando o rosto em seu peito. Harry estava agoniado.
— Ah, meu Deus, que coisa!
Ginny olhou então para ele.
— Seu pai vai ficar bom, fique tranqüilo.
— Você acha mesmo?
Ginny acariciou-o com ternura e percebeu, pela primeira vez, uma incerteza em seu rosto.
— Estou certa, Harry. Ele é um homem forte e vai superar a crise.
— Gostaria de ser otimista como você.
— Você me telefona assim que souber de alguma coisa?
— A qualquer hora do dia ou da noite?
— Mas é lógico, Harry!
— Olhe, isso não pode ser assim tão importante para você. — Enfiou a jaqueta, pronto para sair. — Nem minha família nem eu valemos nada para você.
— Harry!
— Está bem, está bem... Eu telefono.
Saiu do quarto sem dizer mais uma palavra e, quando Ginny voltou à sala, ele e David já tinham saído. Afundou-se no sofá, imaginando se voltaria a ver Harry. Era estranho pensar que, naquela noite, ele teria conseguido o que tanto queria se não fossem interrompidos. Agora achava que talvez não voltasse mais a vê-lo.
Cochilou no sofá, à espera do telefonema. Não tinha sequer lembrado de perguntar o nome do hospital!
O dia seguinte, inteiro, passou sem notícias. Às onze da noite Ginny estava exausta, sem sono e sem apetite. Resolveu ir dormir, pois no dia seguinte teria que trabalhar.
A cama parecia estranhamente vazia sem Harry e foi difícil pegar no sono. Por fim adormeceu profundamente, mas acordou no meio da noite com o peso de um braço sobre a sua cintura. Era Harry.
— Harry? — perguntou, sonolenta. — Tudo bem?
— Tudo bem.
Ginny adormeceu de novo, aliviada, pois ele não viria se o pai estivesse passando mal.
Ao acordar, pela manhã, Ginny não estava mais a seu lado.
Não acreditou e foi até o banheiro. Não havia ninguém! Será que tinha sonhado?
Estava pálida e abatida quando chegou ao trabalho. Além do mais, a dor de cabeça persistia.
— Não precisa dizer nada — pediu, antes que Jean abrisse a boca. — Sei que estou com uma aparência horrível.
— Você não quer uma xícara de café?
— Seria ótimo! Só assim vou acordar de vez.
Jean voltou com uma xícara fumegante e perguntou:
— Você deve ter tido um fim de semana péssimo. Ginny engoliu duas aspirinas.
— Já soube?
— Sobre o Sr. Potter? — Jean fez que sim com a cabeça. — Deu no rádio.
— Foi terrível!
— O chefe estava muito abatido quando chegou — disse Jean.
— Harry já chegou?
— Faz uns quinze minutos.
— Oh!
— Mas acho que não vai demorar; estava de roupa esporte e imagino que tenha vindo apenas ler a correspondência.
— Provavelmente. — Ginny levantou o rosto ao ver que uma das datilógrafas entrava na sala. — Olá, Maureen, aconteceu alguma coisa? — perguntou, ao ver o ar surpreso da moça.
— Bem, é que... — Maureen estava confusa. — Fui chamada para substituir você — explicou.
— Eu? Mas por quê?
— Sr. Potter telefonou avisando que você não viria hoje e eu pensei que fosse por causa da doença do pai dele.
Antes que Ginny pudesse protestar, Jean interveio:
— É uma ótima idéia. Por que não vai para casa e dorme um pouco, Ginny? Você está precisando!
— Não, está tudo bem.
— Você sabe que não é verdade — insistiu Jean.
De fato, sentia o corpo pesado e a cabeça latejando. Mas não entendeu por que Ginny tinha avisado que ela não trabalharia naquele dia. Como podia saber o que ela estava sentindo?
— Vá, Ginny, aproveite. Você vai... — Jean interrompeu o que dizia para atender ao telefone. — Sim? Sim, senhor. — Deu uma olhada para Ginny. — Imediatamente. Até logo. — E desligou. — Agora não tem escolha. O Sr. Potter ficou sabendo que você chegou e quer que suba até a sala dele.
Ginny quis protestar, mas percebeu que Maureen estava atenta demais. Então, para evitar maiores fofocas, apanhou o casaco e a bolsa e subiu pelo elevador privativo.
Parvati Patil tratou-a com toda a consideração; bem diferente da última vez em que estivera ali! Apertou o botão do interfone e anunciou-a:
— Sr. Potter, sua noiva está aqui.
— Mande-a entrar — disse ele.
— Posso ir sozinha, não é? — perguntou Ginny timidamente.
— Claro! — Parvati sorriu, simpática.
Ginny bateu à porta e entrou. Harry estava com uma aparência terrível, o rosto pálido, olheiras e o cabelo em desalinho. Usava calça e jaqueta de brim, como Jean havia dito.
Ele olhou para Ginny enquanto separava algumas cartas.
— Não imaginei que viesse trabalhar hoje.
— Percebi. Esperei ontem o dia todo um telefonema seu.
Ele recostou-se com um suspiro, sem conseguir se concentrar no que fazia.
— Já era muito tarde quando meu pai venceu a crise e eu não quis perturbá-la às duas horas da manhã. Você poderia se assustar.
— Harry, eu não ia me incomodar. Eu queria tanto saber...
— Eu sabia disso, por isso fui até o seu apartamento. Ginny começou a tremer.
— Você... foi?
— Fui — confirmou. — Eram umas três horas da manhã. Você estava dormindo, mas tinha deixado a porta aberta.
— Eu... deixei? — Agora tinha a certeza de que não sonhara com Harry dormindo a seu lado.
— É. E eu fui entrando... — Harry sorriu.
— Entrou? Eu não ouvi nada... — Mas Ginny não conseguia encará-lo.
— Claro, você dormia profundamente. Ainda bem que eu não era um ladrão; tudo o que queria era uma cama. Você ainda estava dormindo quando eu saí, às sete e meia.
— Eu... eu acordei uma vez, durante a noite, mas pensei que fosse sonho...
— E queria que não fosse?
— Não, mas... não conseguia entender como é que você podia estar ali na minha cama, no meu quarto.
— Eu já expliquei, você deixou a porta aberta.
— Isso não vai acontecer mais!
— Por quê? Eu estava cansado demais para ir para casa. — Olhou-a de frente. — E você estava linda, ali, adormecida. Dormir com você pode se tornar um hábito...
— Enquanto você estiver pensando apenas em dormir... — brincou, mas Harry olhou sério para ela.
— Isso eu não posso garantir. — Fechou a pasta com a correspondência. — Está pronta para ir embora?
— Eu ia mesmo para casa, já que me arranjou uma substituta.
— Pensei que você estivesse cansada. Só quis ser gentil.
— Eu tinha que vir trabalhar.
— Ainda sou o dono da empresa e achei que você não estava em condições. Além disso, tenho planos para você.
— E que planos são esses?
— Meu pai quer ver você. — Pegou a pasta e prosseguiu: — Vou deixar a correspondência com Parvati, para que ela possa encaminhá-la ainda hoje.
— Seu pai quer me ver? — Ginny não conseguiu esconder sua surpresa.
— Já disse que sim. Vamos, Ginny. Eu só vim para ver a correspondência. Quero voltar imediatamente para o hospital. David tem que sair às dez horas e minha mãe e Angie estão sozinhas lá.
— Está bem. — E ficou à espera dele enquanto dava as últimas instruções para a secretária. O rosto de Harry estava tenso, fazendo com que realmente aparentasse seus trinta e sete anos.
Ginny sentiu pena dele, teve vontade de confortá-lo, mas ele tinha sido muito claro quando disse que não queria saber mais dela.
Foram em carros separados até a casa de Ginny. Lá deixaram o dela e seguiram no de Harry. Antes de saírem, ele lhe disse:
— Onde está o seu anel? Vá pegá-lo.
Ginny ficou irritada com o tom dele e respondeu:
— Não estou mais noiva de você e ia devolver o anel e os outros presentes na primeira oportunidade.
Harry debruçou-se sobre o volante e pediu:
— Pegue o anel, Ginny. Nossa briga pessoal pode esperar até mais tarde. Minha família ainda pensa que vamos nos casar.
— Não disse que brigamos?
— Não tive chance.
— Está bem, eu já volto.
— Eu não pretendia mesmo ir sem você — retrucou, seco.
Ginny não disse nada. Estavam ambos tensos e não adiantava discutir. Pegou o anel no fundo da gaveta e voltou correndo.
Quando Ginny entrou no carro, ele olhou para a mão dela, satisfeito, mas não fez nenhum comentário.
— É apenas temporário. Assim que voltarmos, vou devolvê-lo a você.
— Você vai usá-lo até que meu pai se recupere.
— Eu...
— Você vai usá-lo. Ginny. Você pode ser fácil e mesmo desonesta, mas, se meu pai souber disso, não vai ajudar em nada. Ele gosta de você — acrescentou, amargo.
— Eu também gosto dele — disse ela com os olhos cheios d'água.
— Então faça isso por ele, por favor. Ele está fraco demais para saber a verdade. É só por algumas semanas. Os médicos me preveniram de que ele não pode ter qualquer contrariedade. — Harry estacionou perto do hospital. — E ele iria ficar chocado com o nosso rompimento. Pensa que nos amamos de verdade e não esconde a alegria com a possibilidade de vir a ser avô.
— Eu disse desde o começo que era bobagem envolver sua família. Já era difícil fingir para os seus amigos, mas...
— Mas havia uma razão para isso — interrompeu-a abruptamente.
— Oh, eu sei. O seu imenso orgulho! Eu "aprontei" uma para você, e ninguém faz isso impunemente.
— É exatamente isso. — Harry saiu do carro e abriu a porta para ela. — Agora esqueça os seus problemas e finja ser uma noiva amorosa.
— Impossível! — disse ela. Como podia fingir se tudo era verdade?
— Tente não se retrair quando eu a tocar.
— Vou me empenhar.
Quando chegaram ao apartamento de James, no hospital, Harry disse à mãe e à irmã que fossem para a casa tomar um banho e descansar um pouco. Lilly hesitou, mas Harry insistiu e ela acabou concordando.
Ginny ficou impressionada com a aparência de James. Sua pele estava acinzentada, os olhos fundos e o corpo parecia menor, encolhido. A alegria dele era evidente quando os viu entrar.
Depois de cumprimentá-lo, sentaram-se e Harry começou a conversar com o pai. Ginny limitou-se a ouvi-los.
James virou-se então para ela e sorriu.
— Ginny, você está muito quieta. Não se preocupe desse jeito — disse, apontando os aparelhos ligados a seu corpo. — São apenas enfeites...
Ela sabia que não eram, mas retribuiu-lhe o sorriso.
— Estou contente por ver que está se sentindo melhor, Sr. Potter.
— Estou tão bem que não vai precisar adiar o seu casamento, querida. Claro que não vou poder ir à cerimônia, mas a recepção pode ser em nossa casa, assim estarei presente.
— Oh, mas...
O olhar de Harry silenciou-a.
— Claro, papai. Sabíamos que você estava preocupado, por isso resolvemos não adiar o casamento.
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