O Anel
Ginny estacou no caminho, sem se incomodar com a impaciência estampada no rosto dele.
— Eu não quero um anel de noivado!
Harry voltou até onde ela estava e agarrou-lhe o braço.
— Não grite assim no meio da rua! — disse, zangado.
— E o que esperava que eu fizesse? O senhor estava lá longe!
— Apenas porque você ficou para trás de propósito. Que diabos está acontecendo com você? Não percebe que precisa usar um anel de noivado? Todo mundo vai ficar de olho nele, especialmente esta noite.
— Eu não quero anel nenhum e também não quero sair esta noite. Não me incomodo de fingir no escritório, mas não quero dar espetáculo para os seus amigos grã-finos!
— Você diz e faz coisas ridículas. É impetuosa demais! Mas é um problema da idade. E os meus amigos não caçoarão de você, só acharão estranho se não estiver usando um anel de noivado. Não quero mais discutir sobre isso. Já telefonei ao joalheiro e pedi que deixasse pronta uma coleção de anéis para você escolher um. — Deu uma olhada no relógio. — Ele deve estar nos esperando agora.
— Claro que ele vai esperar por um cliente tão importante como o senhor. Imagino que seja onde sempre compra jóias para suas mulheres...
— E se for verdade? O que você tem com isso?
Aquilo foi como um banho frio.
— E... não tenho nada com isso...
— Então, está certo. Vamos!
— Por favor! — pediu segurando lhe o braço
— Não me obrigue a fazer isso!
Harry levantou a cabeça. Sua expressão não podia ser mais severa. Ali estava um homem muito duro quando contrariado, e que impunha temor.
Ela mesma estava amedrontada.
— Será que tenho de ficar repetindo quem foi que começou tudo?
— Mas será que tem de se aproveitar o tempo todo disso? — seus olhos imploravam.
— Tenho. Mas é a última vez que vamos discutir esse assunto. Daqui para a frente, você vai fazer o que eu disser, e não quero que se repita aquele episódio lá do escritório.
Por fim andavam lado a lado. Ginny olhou inocente para ele e perguntou:
— O que foi que eu fiz? — Mas sabia muito bem a que ele se referia.
— Aquele seu comportamento comigo era perfeitamente desnecessário. Avisei que não queria demonstrações excessivas de afeto.
— Oh, não era bem isso!
— Mas deu toda a impressão.
— Fui beijada primeiro.
— Admito que sim, mas não foi nada em comparação com o que você fez. — Parou na frente da joalheria. — Não quero nada parecido; apenas uma afeição normal, própria de um casal de noivos.
— Eu o detesto! — exclamou, furiosa.
Harry olhou-a, enigmático, e Ginny teve uma estranha palpitação ao senti-lo tão atraente e tão másculo.
— Vamos deixar as coisas no pé em que estão, está bem? — ele retrucou, mais calmo. — No começo, não nego que fiquei curioso para saber por que você tinha feito aquilo, e cheguei a pensar até em chantagem; mas depois de dar uma olhada na sua ficha pessoal e descobrir a sua idade e tudo o mais, achei que o mais provável é que tivesse ficado apaixonada por mim.
— De jeito nenhum! — Ginny sabia que, no começo, havia sido aquilo mesmo; mas depois ela ficou com raiva dele, quando ouviu sua opinião sobre as mulheres. Por causa disso é que acabou tomando aquela atitude. As mulheres deviam cair por ele às dezenas e ela jamais seria uma delas, não senhor...
— Por que tanta veemência? Não seria a primeira vez que uma garota você se apaixona por seu chefe, mais velho. Sei de algumas que até tomaram a iniciativa, ao perceberem que não eram notadas.
— Como disse antes, eu não!
Então, a "coitadinha" agiu mesmo por vingança... Ela percebeu que ele a provocava e manteve-se firme.
— Será que não podemos resolver logo isso tudo? Tenho que voltar dentro de quarenta minutos.
Os olhos dele brilharam de raiva.
— Eu não disse a você que tirasse duas horas de almoço?
— Disse — confirmou ela, fingindo um grande interesse na vitrine da joalheria.
— Então, por que não fez isso?
— Simplesmente porque não sou a dona da firma e não posso ir tirando duas horas de almoço sempre que quero! — respondeu, sacudindo a cabeça, os cabelos brilhando ao sol.
— Mas é noiva do dono, o que é a mesma coisa.
— Eu imaginaria que, por isso mesmo, não devo abusar da situação. E Olhe, há ali um homenzinho que não pára de olhar para nós dois.
- Então, já que você tem tão pouco tempo, é melhor irmos entrando.
O joalheiro obviamente já conhecia Harry Potter e o recebeu cheio de mesuras.
— Que ótimo voltar a vê-lo, senhor, e também conhecer a sua noiva!, disse ele, todo meloso. Sorriu para Ginny e continuou: — Fico satisfeitíssimo que tenha escolhido o nosso estabelecimento para comprar o seu anel, srta. Weasley. Harry deu o segundo sorriso do dia e disse:
— Claro, Olivaras, sua loja é a melhor da cidade.
— É muita bondade sua, senhor. E posso dizer que concordo com sua decisão de não incluir safiras nos anéis que pediu. Os olhos da srta. Weasleys são mesmo mais violetas que azuis.
— Posso ver os anéis? — perguntou Harry, meio seco. — Temos pouco tempo.
Ginny esperou até ficarem sozinhos, antes de comentar:
— Não percebi que tinha reparado na cor dos meus olhos...
— Não reparei. É que estava em sua ficha.
— Sua secretária não achou estranho quando pediu a minha ficha?
— Ela não é paga para analisar a minha vida pessoal
— Tenho certeza de que na minha ficha não há referência à cor dos meus olhos.
— Talvez não, mas não vamos discutir sobre isso. — E endireitou-se ao ver que o joalheiro chegava com as jóias. Eram anéis lindos: chuveiros, solitários, esmeraldas e rubis rodeados de diamantes!
E todos devem custar uma fortuna, pensou Ginny, os olhos brilhando, com medo de tocá-los. Tinha os dedos longos e as pedras pequenas não ficavam tão bem em suas mãos. Finalmente pediu ajuda a Harry.
— Qual escolheria? — perguntou.
Sem hesitação ele escolheu um solitário grande, num fino aro de ouro; e, antes que Ginny tivesse tempo de protestar, colocou-o no dedo dela.
— É esse mesmo — disse, satisfeito.
Ginny pôde perceber, pelo sorriso do joalheiro, que aquele era um dos mais caros. Tentou tirá-lo, mas a mão morena de Harry a impediu.
— Fique com ele no dedo. A medida é certa.
— Oh, mas...
O joalheiro já se retirava para guardar os outros anéis e Harry aproveitou para avisá-la:
— Por favor, Ginny, não vamos discutir aqui.
— Mas este anel é caro demais.
— Isso é comigo. É esse o anel que quero que use.
— Mas vou ficar apavorada de perdê-lo.
— Vou fazer um seguro — disse ele, como quem não ligava.
— Sim, mas...
— Fique com ele, Ginny — ordenou Harry, ao perceber que o dono da loja voltava.
Ginny queria muito saber o valor da jóia, mas não era de bom-tom ficar ouvindo a conversa dos dois; por isso afastou-se para olhar outras jóias expostas.
Ao saírem, Harry estendeu-lhe uma caixa e disse-lhe que abrisse. Um brilhante em forma de gota, numa fina corrente de ouro, e um par de brincos cintilavam no veludo azul da caixa. Eram maravilhosos!
Ginny devolveu-lhe a caixa.
— Não posso aceitá-los. — Lembrava-se muito bem do que ele dissera sobre mulheres e jóias. — Sei que vou ter de usar o anel até tudo isto terminar, mas não quero aceitar mais nada do senhor.
Harry Potter ignorou a caixa estendida em sua direção.
— São para você usar hoje à noite.
— Está bem, está bem. Mas só se eu puder devolvê-los assim que essa fantasia terminar.
— Não seja criança!
— Não quero guardá-los! Não vai poder me obrigar — afirmou.
— Como você é teimosa! Está bem, eu os guardo para você. Agora iremos até uma loja, quero comprar-lhe um vestido.
— Tenho minhas próprias roupas!
— Sei que tem, mas quero que vá com um vestido novo.
— Tenho minhas roupas — insistiu ela, os dentes cerrados. Por coincidência tinha mesmo um vestido apropriado para sair com aquele homem sofisticado. Uma vez resolvera comprá-lo para impressionar um namorado, mas acabara brigando com o rapaz antes de usar.
— Será que tem que discutir sobre tudo? — perguntou ele, irritado.
— Sim, enquanto eu tiver que preservar a minha identidade!
— Oh, Deus! Você é impossível! — Fez sinal a um táxi que passava; entraram. — Assim não continuamos a discutir na rua.
— É que o senhor é muito dominador. Harry acabou rindo, o que o fez ficar com um ar mais jovem.
— Eu, dominador? Como, se é você quem está organizando a minha vida neste momento?
Voltaram para o escritório, ele desceu antes e abriu a porta para ela, dizendo:
— Pego você às oito e meia.
— Mas não sabe onde eu... Ah, sim, a ficha pessoal...
— É, tem o seu endereço, apesar de não dizer muito mais que isso.
— Eu te vejo mais tarde. — E voltou ao táxi.
Era tarde demais quando Ginny percebeu que continuava segurando a caixa com a corrente e os brincos. Teria que ficar com ela; amedrontada, enfiou-a no fundo da bolsa, antes de voltar para a sua mesa.
Estava tão sem jeito com o tamanho do brilhante que tinha no dedo que durante a primeira meia hora, manteve a mão escondida; mas Jean acabou percebendo e, ao ver o anel, exclamou encantada:
— Você ainda não me contou como foi que tudo isso aconteceu. Hoje cedo mesmo eu comentava com você que achava o Sr. Potter frio e impessoal e você sabia que isso não era verdade.
— É você estava errada — admitiu Ginny. Jean sorria sonhadora.
— Parece uma história de fadas! Noiva do fabuloso Harry Potter. Mas que sorte!
Seria sorte mesmo? Ginny não pensava assim mais tarde, enquanto se arrumava para a festa de Simas Finigam. Se todos os amigos de Harry fossem como Luna Longbotton, só haveria gente sofisticada por lá.
Seu vestido era de seda, cor de ferrugem, e combinava bem com o azul de seus olhos. O tecido macio marcava o busto e os quadris, a gola alta e as mangas compridas eram o toque especial. Ginny nunca tivera um vestido que lhe caísse tão bem.
Tinha lavado a cabeça e escovou os cabelos até que brilhassem. Aplicou pintura nos olhos e um batom nos lábios. E, depois de pôr o colar e os brincos, achou que estava vestida mais do que adequadamente.
Os olhos verdes de Harry brilharam quando ela lhe abriu a porta de seu pequeno apartamento. Ele estava mais elegante ainda, com calça preta, camisa de seda branca e paletó de veludo cinza, da mesma cor que seus olhos. Carregava uma caixa grande debaixo do braço e Ginny não conseguiu disfarçar a curiosidade.
Jarrod deu um passo atrás, para observá-la melhor.
— Está muito bem! — disse ele, colocando a caixa sobre a mesa.
— Obrigada. Escute, hoje... por favor, não me deixe muito tempo sozinha, está bem? Eu... eu não conheço ninguém que vai estar lá.
— Conhece Simas.
— Não conheço Simas — disse, rindo. — Já o vi algumas vezes quando esteve no escritório, só isso.
— Mas logo vai conhecê-lo bem. Aposto como Simas não vai perder tempo... Mas não se esqueça de que é minha noiva.
— Seria muito difícil esquecer, com esta rocha no dedo! — respondeu, aborrecida por ele ter imaginado que ela pudesse querer paquerar um de seus amigos. — E você nem se preocupou em perguntar se eu gostava deste anel. Eu podia não ter gostado...
— Isso não tem importância.
— Basta apenas que pareça bem, não é? ironizou Ginny. — Está se divertindo bastante, não é, Sr. Potter? Está se divertindo com o fato de eu ter feito a bobagem que fiz.
— Está muito enganada, Ginny. Não estou me divertindo com isso, mas não tenho escolha, por isso acho que devo fazer o melhor que posso, deveria fazer o mesmo. Você negou que estava apaixonada, portanto só pode estar querendo fazer chantagem.
— Foi apenas vingança!
— De qualquer modo, se resolver vender as jóias que agora são suas, vai conseguir um bom dinheiro, o que vai fazê-la suportar melhor o fato de ficar noiva de um homem que você odeia. Não sei por que as mulheres gostam tanto de jóias!
— As jóias não são minhas e não pretendo vendê-las! — protestou, briosa. — No fim da festa devolverei a corrente e os brincos, e o anel também, quando resolvermos de vez este assunto. Pense o que quiser de mim, mas nunca me passou pela cabeça fazer chantagem. Eu até imaginei...
— O quê?
Ginny sacudiu a cabeça.
O que adiantava dizer que um dia pensou apaixonada por ele? Provavelmente ia rir dela.
— Não é nada. Acho que já é tarde, não é melhor a gente ir?
— É, sim. — Apanhou a caixa e entregou-a a Ginny. — Para uma Ocasião tão especial, deveria ser uma pele, mas decidi-me por algo diferente.
Ginny olhou para ele sem entender. Ao abrir a caixa encontrou uma belíssima capa de veludo branco. É linda! — exclamou.
— Ótimo — disse ele, colocando a capa sobre os ombros dela. — É melhor irmos agora.
Harry Potter tinha uma Ferrari verde-escura, e para Ginny parecia impossível estar sentada lá dentro, desfrutando todo aquele luxo.
A casa de Simas Finigam ficava fora de Londres. Ao chegarem já havia vários carros estacionados e a casa estava toda iluminada. Ouvia-se uma música suave e Ginny sentiu-se, de novo, preocupada e ansiosa.
Assim que entraram, Harry perguntou: Você não quer ir retocar a maquilagem?
— Quero, sim.
— É logo ali — disse Harry, apontando à esquerda. — Eu vou pegar uma bebida. — Oh, mas...
— Não tenha medo. A gente se vê logo mais.
Ginny levantou o queixo, e entrou no toalete. Escovava os cabelos em frente ao espelho, quando uma loira alta comentou com outra garota:
— Harry ainda não chegou!
— Mas ele vem. Simas disse que o convidou.
— Mal posso esperar — disse a loira, aplicando batom. Ginny ficou parada onde estava, ouvindo a conversa das duas. Eram muito bonitas e talvez fossem ex-namoradas de Harry.
— Você já viu a moça? — perguntou uma delas.
— Não, e parece que ninguém sabe quem é. Ele manteve a maior discrição sobre ela...
— Mas Luna não vai ficar muito feliz comentou a loira com ironia. — Ela pensou que o tivesse fisgado.
— Mas foi para a cama com ele várias vezes,..
— Será que chegaram a esse ponto?
— Neville é um boboca, não tem o menor controle sobre Luna. E ela queria Harry, todo mundo sabe disso!
— Mas eu não imaginava que ele pudesse...
— Ora, afinal ele é homem, e Luna é muito bonita. E se quer mesmo saber estou achando esse noivado repentino muito esquisito.
A outra garota não entendeu.
— O que está querendo dizer?
— Bem, pode ser de mentira, não acha? Harry pode ter convencido essa coitada de que está apaixonado por ela e, com o noivado, Neville nunca iria desconfiar do caso entre ele e Luna.
— É, pode ser. Fizeram tanta fofoca que provavelmente Neville ficou sabendo.
— Entendeu, agora, o que eu disse? Aposto como essa garota de Harry não passa de uma pobre coitada.
Ao ouvir tais palavras, Ginny ficou chocada; mas, antes que pudesse dizer alguma coisa, as duas saíram do toalete.
Então era esse o jogo de Harry! Cretino! Ele a estava usando para encobrir seu caso com uma mulher casada! Como se atreveu a tanto? Como podia ser tão desprezível? Fazia-se de vítima, e tirava proveito em benefício próprio! Por isso é que Luna fora correndo ao escritório, naquela manhã!
Mas o que Ginny podia fazer? Não havia como pôr fim àquele noivado absurdo sem criar problemas. Por outro lado, Harry tinha deixado bem claro que não ia desfazer tão cedo o noivado, e agora ela sabia o verdadeiro motivo.
Mas Ginny não iria permitir que ele continuasse com essa farsa. E também não precisaria mais se sentir culpada...
Ela encontrou Harry conversando com alguns convidados, pois sua altura o fazia sobressair-se. Foi depressa a seu encontro.
Ao notar que ela estava vermelha, perguntou: — O que aconteceu? Pensei que tivesse se perdido. Ginny pegou uma taça de champanhe que estava sendo servida e, ignorando os olhares curiosos à sua volta, levantou a cabeça e respondeu, calma:
— Acho que você não ia ficar muito preocupado com isso.
— O que é que houve? Ginny olhava para ele desafiadoramente.
— Por quê? Não há nada, estive apenas ajeitando o cabelo. Por quinze minutos?
— É, eu tenho muito cabelo...
— Escute aqui, Ginny... — Interrompeu-se ao ver que Simas Finigam se aproximava.
— Então ela resolveu vir? — perguntou, rindo e estendendo a mão para Ginny. — Muito prazer!
Ela sorriu, tímida, retribuindo-lhe o cumprimento. — Obrigada...
- Mas ela é linda, Harry! Você tem que ficar de olho nela, no meio desse bando de lobos! — Sorriu novamente para Ginny. — Com Harry, você está a salvo...
— Só se ele continuar a meu lado... — brincou ela. Harry apertou o braço de Ginny e acrescentou, sorrindo:
— E para onde mais eu iria?
— Não sei — respondeu ela baixinho.
— Será que eu já não a vi antes? — perguntou Simas, sem perceber a tensão entre os dois.
— Provavelmente. Eu trabalho na firma.
Harry apertou-lhe o braço ainda mais forte e ela quase gemeu.
— Verdade?
— Sim, sou recepcionista.
— E não é que é mesmo?! — concordou. — Você é terrível, Harry! E conseguiu mantê-la escondida!
— Harry gosta de segredos... — comentou Ginny timidamente.
— Não de você, minha querida — observou ele. Ginny insistiu:
— Até mesmo de mim...
— De você com certeza que não — disse Simas. - Ele é uma outra pessoa, afinal, está noivo. Levei o maior susto hoje de manhã, quando li a notícia no jornal.
— Aposto como o choque de Harry foi maior - observou Ginny.
— É verdade, ele parecia meio atrapalhado quando falou comigo.
— E sem dúvida estava mesmo... - confirmou ela.
— Não era para ser anunciado tão cedo, mas você sabe como é jornalista...
— Claro que sim! — Simas pediu licença e foi conversar com uma moça do outro lado da sala.
Ginny tomava seu champanhe vagarosamente, fingindo ignorar a presença de Harry.
— Mas, afinal, o que está acontecendo com você? — perguntou, tenso.
— Estou ótima.
— Não foi isso o que perguntei; quero saber o que houve. Está... está diferente, mais...
— Mais segura? E por que não? Afinal, você é um homem tão especial, como dizem. Chega a ser mesmo desagradável! E pensar que eu me sentia culpada! Você merece tudo isso, e muito mais!
— O que você está dizendo?
— Você sabe muito bem e deixe de bancar o inocente. Nunca pensei que pudesse chegar a tal ponto!
— Harry!
Ginny nem precisou se virar para descobrir quem o chamava. Luna Longbotton! Aproximou-se sorrindo e pendurou-se no braço de Harry. Agora não precisavam mais se preocupar com as más línguas!
Oh, como é humilhante ser usada desse jeito!, pensou.
Durante algum tempo foi ignorada por ambos, até que Luna dirigiu-se a ela.
— Então nos encontramos novamente, hein, Ginny? — Seus olhos a analisaram de alto a baixo. — Tenho certeza de que você não imaginou que isso fosse acontecer tão cedo.
— Está absolutamente certa, sra. Longbotton - respondeu, seca.
— Por favor, me chame de Luna. Como noiva de Harry, vamos nos encontrar muito, não é?
— É mesmo?
— Oh, sim. Harry e eu somos grandes amigos.
— E de seu marido? Não podemos nos esquecer dele. Onde é que ele está? perguntou Ginny.
— Na Europa.
— Que conveniente!
— Como?
— Eu disse: que pena! — corrigiu Ginny.
— É mesmo — concordou Luna, olhando apaixonada para Harry. — Mais os amigos sempre ajudam a suportar a solidão. Harry tem sido um grande amigo na ausência de Neville.
— Não duvido, só que daqui para a frente ele vai ficar bastante ocupado com os preparativos para o casamento. — Ginny sorriu apaixonadamente para Harry, esquecendo o seu mau humor. — A gente tem de fazer tanta coisa, não é, meu bem? Você mesma deve saber isto, pois é casada.
— E para quando é o casamento? — perguntou Luna.
— Nós...
— Oh, vai ser logo — interveio Ginny. — Não há por que esperar. Harry está ansioso para que aconteça logo, não é, meu amor?
Ele estava a ponto de explodir e Ginny sabia o que lhe esperava assim que estivessem sozinhos. Luna já não parecia tão confiante e olhava incerta para eles.
— Não imaginei que fosse acontecer assim tão depressa. Ficaram noivos agora...
— O noivado é uma mera formalidade. A gente se casa no próximo mês.
Harry mal conseguia disfarçar o espanto.
— Ginny, nós combinamos não contar nada para as pessoas, por enquanto — fingiu ele.
— Mas a sra. Longbotton é uma amiga tão íntima, que não vejo problema algum. Além disso, logo vamos começar a enviar os convites e eu não gostaria que ela ficasse chocada ao receber o dela, não é verdade?
Luna Longbotton deixou patente a sua irritação.
— Eu apareço amanhã, Harry. Adeus, Ginny.
— Oh, mas claro que não é adeus — Ginny corrigiu-a com doçura. Como você disse, vamos nos ver muito...
Luna lançou-lhe um olhar gelado e afastou-se. Ginny tomou um pouco de champanhe e comentou com doçura:
— Ela é realmente linda!
Harry agarrou-lhe o braço, apertando-o com força.
— A beleza de Luna não me interessa agora — resmungou.
— É mesmo? Pois hoje cedo parecia interessá-lo!
— Hoje cedo? — perguntou ele, franzindo o cenho.
— O senhor não tinha um encontro com ela?
— Ora, esqueça isso. Por que você lhe disse que íamos casar no mês que vem? O que é que você está aprontando agora?
— Não estou aprontando nada, Sr. Potter. É que não gosto de ser usada.
— Usada? Ué, eu pensei que fosse exatamente o contrário.
— Eu também pensei, e cheguei a me sentir culpada, mas isso acabou. Você me enoja.
— Engraçado, você ficou assim depois que saiu do toalete. O que aconteceu lá dentro?
— Como você é esperto! — Sorriu-lhe. — Havia lá duas amigas suas, conversando sobre você, e eu fiquei sabendo de certas coisas...
— A gente fala sobre isso quando estivermos sozinhos. Espere aqui enquanto me despeço.
— Prefiro esperar lá fora.
— Eu disse para esperar aqui...
— Vou ficar lá fora! — Ginny teimou, escapando dele antes que pudesse impedi-la. Podia bem imaginar o que os amigos de Harry pensariam quando os vissem sair tão cedo! Que pensassem o que quisessem, não havia nada entre eles!
Tinha conseguido atrapalhar o caso dele com Luna e isso era o bastante; sentia-se vingada. Harry certamente arranjaria uma desculpa, mas que Luna ia protestar, disso ela tinha certeza.
— Por que você é tão teimosa? — perguntou Harry no caminho de volta.
— Não sou teimosa, é que não gosto de ser provocada.
— Mas, afinal, o que é que as minhas amigas disseram? Parece que foi essa a causa de seu mau humor.
— Falavam de seu caso com a sra. Longbotton, e eu ouvi tudo. — Fez um esforço para não encará-lo.
— Meu caso com Luna?
— É.
— E foi por isso que você disse a ela que nos casaríamos no mês que vem?
— Foi, sim, e notei que ela ficou bastante preocupada quando soube da novidade — respondeu Ginny, satisfeita.
— E eu também. Nunca conheci uma mulher tão impetuosa quanto você. Não entendo como ainda não se meteu numa grande encrenca por isso. Será que você se deu conta de que amanhã Londres inteira já estará sabendo do casamento?
Ginny olhou para ele, espantada.
— Não está querendo dizer que a sra. Longbotton...
— Não, ela não diria nada, mas você falou tão alto que outras pessoas devem ter ouvido. Pode não me acreditar, mas amanhã muita gente já estará esperando convite...
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