say yes.
Suspirei pesadamente, apenas para acentuar ainda mais meu desagrado em estar ali. Era uma porcaria, mesmo. Noite de sábado e eu presa em um jipe idiota com um idiota dirigindo. Simplesmente ótimo. O pior é que às vezes o jipe balança por causa da estrada e os cabelos negros dele caem sobre seus olhos, fazendo com que ele os tire do rosto com aquele movimento estúpido de cabeça para o lado. E eu luto para não suspirar por ele, apenas por ter feito aquele gesto.
- Eu também não estou muito contente de estar aqui, se quer saber – ele comentou ironicamente, espreitando os olhos no horizonte. Estava realmente escuro lá fora.
Maldita Escócia sem sinalização. Maldita Alice por ter escolhido uma casa de inverno tão longe de lugares civilizados onde tem sinalização. Maldito Sirius por demorar tanto pra sair da porra do hotel em Glasgow e deixar escurecer, pra gente se perder nessas ruas igualmente malditas. Maldita eu por ter aceitado pegar carona com ele.
- Humpf. – eu fiz só pra responder qualquer coisa.
Segurei a cabeça com uma mão, o cotovelo encostado no vidro da janela, tentando me lembrar que raios eu estava pensando quando disse a James por telefone que tudo bem se eles não podiam passar lá porque teria que fazer um enorme desvio, eu iria com Sirius Black. Sete horas de viagem até uma casa na encosta de qualquer morro num cenário lindo de filme. Engraçado como à noite parecia mais um breu estúpido do que qualquer cenário.
Então, eu me lembrei. Eu havia pensado que pudesse ter qualquer possibilidade remota de nos resolvermos. Aquela nossa briga furiosa um mês atrás no saguão do hotel australiano rendeu um bom tablóide, mas pior que isso: me fez desmoronar. Eu sabia, desde o começo, o quanto ele era galinha. O quanto eu poderia me enganar naquele relacionamento e, Deus!, como me avisaram sobre isso. Até mesmo James, o melhor amigo dele, me puxou de lado e me falou:
- Lene, eu sei que eu estou sendo o maior amigo filha da puta por estar te falando isso, mas eu sou seu amigo também e, olha, você conhece o Sirius. Eu acho melhor você prestar atenção, tomar cuidado. Se bem que eu nunca vi o cara tão bobo por uma mulher antes, então tenho minhas suspeitas de que dessa vez é pra valer mesmo. Ele diz que ama você.
Aquilo só serviu para amolecer meu coração por completo e me fazer esquecer da primeira parte da fala dele. Ah, James, o que você tinha dito mesmo? Diabo. Depois eu vi Sirius piscando, galante, praquela mulher de cabelos falsos nas nossas férias combinadas e explodi completamente. E ele ainda havia dito que estava coçando-o-olho! Revoltas e desconfianças à parte, agora eu já estava cansada de ficar longe dele. Já tinha perdido a graça. Apesar de cachorro, ele era o meu Six, com quem eu dormia abraçada todos os dias da semana, que fazia um café-da-manhã delicioso e que era desastrosamente romântico, mas fazia o seu possível. Eu nunca deixaria de sentir o que eu sinto por ele, em hipótese alguma. Mas eu não posso dizer o mesmo dele. Mesmo sabendo que ele não saíra com nenhuma mulher durante o mês inteiro e que vivia na casa de James tendo longas conversas sobre mim – segundo Lil conseguira ouvir.
E o pior foi considerar que podíamos reatar o namoro hoje. Hm, que bela estúpida eu sou.
Desviei o olhar da frente para o meu lado da janela, disfarçando as lágrimas que encheram meus olhos, e tentei me concentrar em alguma coisa lá fora. Nada. Só borrões e silhuetas de morros. Às vezes tinha um barulho de cachoeira distante.
- Sabe, você não tem que ficar tão estressada – ele estava dizendo de repente. Me virei para olhá-lo.
Droga, lá estava aquela expressão de quem estava dando o braço a torcer e odiava isso. As bochechas dele estavam coradas e as sobrancelhas franzidas nervosamente. Quase me derreti.
- Eu não estou estressada. – respondi, tentando ser menos bruta – Estou cansada.
- Como tem passado esses dias?
Eu tive vontade de rir. Na fossa? Seria a resposta certa.
- Hm, bem. E você?
- Mais ou menos.
Ah, céus, Sirius Black, não me deixe criar mais falsas esperanças pra esta noite! Passei as mãos pelos cabelos.
- Como está Aslam? – era o border collie preto com branco dele.
- Ele sente sua falta.
- Ele falou isso pra você?
- Eu só sei.
Por um instante fiquei pensando no que aquilo significava. Mas não tinha idéia do que Sirius queria dizer. Suspirei, irritada pela conversa sem pé nem cabeça, e comecei a mexer no rádio tentando sintonizar qualquer estação perdida por aí, mas não achei nada. Às vezes os ruídos modificavam, mas nada parecido com vozes ou música. Merda.
- Não pega, já tentei – ele murmurou rapidamente com a voz rouca.
Continuei tentando só para não desistir porque ele falara pra eu fazer isso.
- Larga de ser teimosa, mulher.
Dei um soco no rádio e afundei no banco, mais irritada ainda. Eu podia sentir cada poro da minha pele implorando para que Sirius me tocasse. Sentia tanta falta do toque quente dele. Merlin... eu só queria saber no que diabos ele estava pensando. Se estava sentindo o mesmo que eu.
Em outros tempos, nós estaríamos muito mais perdidos do que hoje, mas bêbados e parando a cada sinal de inexistência de civilização para se beijar e esquecer o resto do mundo todo. Os sinais de civilização haviam sumido há muito tempo. Eu sabia que ele não ia parar, e isso não me deixava exatamente satisfeita. Na verdade aumentava a minha irritação – ficar perdida com ele significava outra coisa antes... ah, droga.
Arrisquei um olhar para o lado, tentando mexer o mínimo possível da cabeça para que ele não percebesse. Os músculos sobressalentes nos braços dele prenderam totalmente minha atenção, ainda mais quando ele fez uma curva para a esquerda e destacou-os ainda mais. A camiseta azul marinho não era exatamente larga e marcava suavemente os músculos das costas também. Meus dedos formigaram. Eu me lembrava do que acontecia quando aquela pele, quente, entrava em contato com o meu corpo. Parecia pegar fogo.
Mordi o lábio inferior com força e forcei meu olhar para frente – mas nada ajudava, pois não havia mais nada interessante para olhar. Embora eu suspeitasse de que mesmo se tivesse dia e todo aquele cenário estupidamente lindo estivesse iluminado, nada seria tão interessante quanto ele.
- Então – comecei a falar, antes que tornasse a olhá-lo e a coisa ficasse feia – Sabe se Remo vai vir?
- Acho que não. Parece que Dora não estava se sentindo bem ou alguma coisa, eles desistiram de última hora.
- E o Peter?
- Também não. Foi difícil contatá-lo.
- Ele anda bem sumidinho.
Sirius deu uma risada pelo nariz, balançando a cabeça negativamente. Eu senti a tensão dissipar dos meus ombros – embora a outra tensão não tivesse se dissipado nada, nada.
- Ele disse que ia pra alguma parte da Pensilvânia, sabe como ele é esquisito.
- Sei.
- A última vez em que o vimos foi no casamento de James, lembra?
- Claro que lembro! Ele levou aquela mulher super alta e estranha que o chamava de Pietro e não parecia entender nada do que a gente falava.
Sirius riu.
- Ela levou horas para perceber que estávamos oferecendo um pedaço de bolo para ela comer, e não segurar. – continuei. Eu gostava de fazê-lo sorrir. Sorri também, mas mais pelo efeito daquele sorriso maravilhoso em mim do que pela graça do que eu estava contando.
- Ela dançava como se fosse epilética sob o efeito de anfetaminas. – ele ajudou, me fazendo rir.
A mulher devia estar sentindo a orelha quente agora, ou a mão coçar, que fosse. A gente não fazia por mal.
- Um dragãozinho, velho. – ele completou depois.
Ok, talvez Sirius fizesse um pouquinho por mal, mas bem pouquinho. A intenção era mesmo para que a gente descontraísse. Isso me fez lembrar das tantas milhares de conversas que a gente tinha antes de tudo cair à nossa volta. Há tempos mesmo que não nos falávamos. Meu Merlin, eu estava com saudade dele por inteiro.
- Eu sinto falta daquele tempo. – eu soltei.
- Eu também – ele concordou quase no mesmo instante.
- Oh, meu Deus! Olha! – eu o assustei com o meu próprio susto. Ele fez um som de desagrado enquanto virava pra frente.
- Mas que raios...?
- Uma conveniência! – comemorei, sorrindo – Podemos comprar lanternas e pedir ajuda!
- Marlene, não precisamos de nenhuma lanterna ou de ajud...
- Você está de brincadeira, não é? – perguntei, decididamente sarcástica.
Sirius olhou pra mim e depois suspirou, fazendo uma careta de desaprovação enquanto movia o carro na direção das luzes. Virei pra frente, contente pela conversa ter acabado naquele início de momento sentimental, e tentando ignorar o nervosismo dele por rebaixar-se a ponto de pedir ajuda. Homens.
Ele estacionou o jipe perto de uma árvore grande. O lugar tinha luzes vermelhas que brilhavam loucamente “Aberto 24 horas” com janelas grandes de grade e uma porta vai-vem com muitos adesivos.
- Vou comprar lanternas e pedir orientações. Fique no carro. – ele foi falando enquanto pegava a carteira no porta-luvas (passando o braço por cima de mim pra isso, e prendi a respiração).
Nem tive tempo de protestar, porque ele abriu a porta e fechou-a com uma força desmesurada. Fiquei encarando as costas dele até que desaparecesse dentro da loja, a sua silhueta fundindo-se com as de vários armários ali. Apertei os olhos e vi um balcão de bebidas. Então, me fazendo assustar, saíram duas mulheres abraçadas uma de cada lado de um homem gordo, e eu entendi tudo. Ah, droga.
Saltei do carro e bati a porta com força. O homem gordo e suas duas mulheres estavam se aproximando do jipe e cantando alguma música escocesa que não fazia sentido algum pra mim. Dei de ombros e abracei meus próprios braços, empurrando a porta com o ombro.
Bem, não era um puteiro, como eu havia pensado. Era um bar com uma conveniência. Suspirei de alívio e procurei por Sirius entre as prateleiras, mas ele não estava em nenhuma parte. O homem por trás do balcão acenou para mim e disse algo que não entendi.
- Inglesa – sorri, apontando pra mim mesma.
Ele fez um gesto brando e sinais de que eu me aproximasse. Serviu alguma coisa em um copinho pequeno e me incentivava a virar o conteúdo.
- Desculpe, senhor, não quero.
E ele continuou a dizer coisas rápidas. Hught, eu sempre havia desconfiado que os escoceses eram meio doidos.
- Senhor? Eu não...
Alguém disse algo atrás de mim super rápido que foi entendido pelo homem do balcão. Não era o Sirius, era uma voz grave que me arrepiou. Virei para agradecer e me surpreendi: era um cara de ombros largos, cabelos loiros meio arrepiados e jaqueta de couro. Tinha todo o ar de motoqueiro pé na estrada do mundo. Sorri.
- Obrigada – falei.
- Por nada, senhora... – ele segurou a minha mão e puxou-a para beijá-la. O-ou. Cordial demais pra um beira de estrada.
- McKinnon. – murmurei, puxando a mão rapidamente, sem explicar que eu não era senhora coisa nenhuma.
- Posso te pagar uma bebida? – ele pediu já se sentando do meu lado.
Senti aquela sensação de que deveria me afastar. Ah, que raio, onde Sirius havia se metido?
- Obrigada, mas na verdade tudo o que eu quero agora é encontrar o caminho de casa.
- Mora aqui por perto? Estranho. Eu poderia jurar que não há residências em raios de quilômetros.
- Hm, na verdade, não moro. É só um lugar pra onde estou indo.
- Um lugar? Parece legal. – ok, aquele comentário foi realmente estranho.
Assenti com a cabeça e continuei procurando o homem que estava tirando o meu sossego de verdade.
- Não quer me dizer? Talvez eu saiba e te leve lá.
- Na verdade eu estou acompanhada.
- Jura? É engraçado, porque eu não estou vendo ninguém aqui.
Olhei para os lados, aflita. Só então percebi que tinha outro cara com jaqueta de motoqueiro sentado em uma das mesinhas na parede, olhando pra gente com um sorrisinho zombeteiro. Malditos. Novamente veio o arrepio de perigo e eu pulei do banquinho.
- Hm, acho que eu já vou...
- Pra quê a pressa, querida? – ele pulou do banquinho junto comigo, e veio segurando meu braço. Bem, agora a coisa estava realmente feia.
- Eu tenho que ir embora. – falei pateticamente.
O homem no balcão começou a falar coisas rápidas demais, gritando com o homem que me segurava. Eu não entendia nada, mas a mensagem era clara: deixe a mulher em paz. O homem na jaqueta gritou outras coisas de volta em tom ameaçador, e o dono do bar entrou por uma portinha pra um lugar que parecia ser a cozinha.
- Agora... – ele veio se aproximando perigosamente de mim.
E então tudo aconteceu tão rápido que eu mesma precisei de alguns instantes para entender. Quando o homem estava tão perto que me fazia querer vomitar na cara dele, alguém me puxou pra trás, fazendo com que o outro me soltasse, e desferiu um golpe no rosto dele que fez um barulho muito assustador de algo se quebrando. Então eu distingui Sirius olhando de costas para o homem deitado inconsciente no chão, provavelmente com o nariz quebrado. Arregalei os olhos para a barra de ferro que o balconista havia ido buscar e pensei na confusão que eu havia causado por sair do carro.
Sirius pagou a lanterna e me puxou pelo braço.
- Ah, graças a Deus você apareceu, Sirius, eu não sei o q...
- O que eu falei pra você antes de sair do carro? – ele me interrompeu bruscamente. Olhei pra ele assustada, encostada no jipe.
- Pra eu ficar. Mas você sabia que eu não agüentaria um segundo aqui sozinha no escuro.
As narinas de Sirius estavam infladas. Ele estava com raiva.
- Além de tudo, teria sido muito pior se eu tivesse ficado aqui. Quem sabe ele teria me estuprado antes de você aparecer, huh?
- Não fale uma coisa dessas! – ele segurou meu braço, aumentando o tom da voz.
- Ah, não me venha com isso agora. Quer dizer que foi minha culpa se o cara era um psicopata pervertido?
- Foi sua culpa ter descido do carro!
- Foi minha culpa ter nascido inquieta?
- Foi!
Levei um susto por causa do grito dele, e até mesmo ele pareceu surpreso. Me aproximei mais dele e murmurei perto do seu rosto:
- Você é o homem mais grosso que eu já tive o desprazer de conhecer.
Me afastei e dei a volta no carro. Bati a porta com força quando entrei, porque sabia o quanto ele prezava aquele veículo. Ignorante de uma figa. Ele demorou um minuto para entrar e jogou a lanterna no banco de trás antes de começar a dar ré com o jipe.
- Me desculpe por gritar – ele murmurou baixinho, tão baixinho que eu quase não escutei. Ele tinha algum tipo de problemas para pedir desculpas, assim como eu.
Então percebi o quanto eu tinha sido grossa. Afinal, Sirius havia me livrado de qualquer coisa que aquele homem estivesse disposto a fazer. Suspirei e me virei pra ele:
- De qualquer maneira, obrigada, ok? Por me salvar.
Ele suspirou pesadamente, os ombros relaxando um pouco, mas não respondeu nada. Ficamos em silêncio por alguns segundos até eu perceber uma coisa.
- Você não pediu informações. Vamos voltar.
Sirius deu uma risada irônica.
- Até parece que vamos voltar, Marlene.
- Oras, e você por acaso sabe pra onde a gente está indo?
- Quer confiar em mim?
- Você é muito orgulhoso, Sirius. Qual é o problema de pedir informaç...
- Eu não vou pedir informações, ok?
- Você não pode dar meia volta por um instante e perguntar?
- Não, não posso!
- Ótimo, então vamos parar na puta que pariu dessa porra de país, mesmo!
- Isso mesmo! Satisfeita?
- Como nunca estive em toda a minha vida!
- Ótimo!
Passei as mãos pelos cabelos, me segurando para não arrancá-los. Aquele homem me fazia subir pelas paredes. Aquela porra de briga só serviu pra me lembrar das milhares de vezes em que brigávamos e tudo acabava com um beijo para o qual ele me puxava com força, e então com as nossas roupas no chão e o mundo inteiro em outra dimensão.
- Droga, eu não acredito que Alice chamou você pra vir pra casa de inverno, e muito menos James, ou Frank, era pra serem umas férias de garotas e voc...
Sirius freou o carro de repente, fazendo o pneu derrapar um pouco na estrada de terra. Parei de falar no mesmo instante, e fiquei vendo enquanto ele saltava do carro e começava a chutar o chão, xingando entre grunhidos. Então ele chutou o pneu e fiquei indignada. Estiquei-me para fora da janela, sentando no batente, e consegui ver metade da cabeça dele, apoiada no braço e no jipe ao mesmo tempo.
- Que porra é essa, Sirius? – perguntei, sem me conter.
Ele ergueu os olhos cinzas pra mim no escuro e suspirou. Estava meio iluminado pelas luzes do carro. Pra mim, ele parecia um anjo rebelde. A raiva diminuiu até não sobrar nada nos olhos lindos dele, e eu perguntei mais cuidadosamente:
- Está mesmo nervoso assim por causa daquele idiota do bar?
- O pneu furou, Marlene.
- Oh, não! – eu saltei da janela e dei a volta no carro para conferir. Não conseguia ver nada, mas ele disse que estava furado, quem era eu pra não acreditar? – E agora?
Ele agachou bem perto das minhas pernas, dando uns apertões no pneu traseiro.
- Vai buscar a lanterna pra eu dar uma olhada. Acho que eu posso trocar.
Pulei no banco do motorista e me estiquei pra pegar a lanterna no banco traseiro. Dei uma olhada rápida quando uma sombra se projetou no vidro e consegui perceber rapidamente a olhada que ele lançou no meu corpo, enfiando as mãos nos bolsos da calça. Hum, aquilo era bom. Empinei mais o corpo e estiquei o braço até conseguisse pegar. Ainda bem que eu lembrei de comprar lanternas, afinal.
Voltei apertando o botão vermelho para acendê-la. Não funcionou.
- Acho que está quebrada, Sirius.
- Tem certeza? Eu acabei de comprar com pilhas novas. – ele havia se abaixado de novo, esperando a luz no pneu.
- Não está ligando. – continuei clicando sem parar.
- Vê se tem algo errado aí dentro.
Rosquiei a tampa do fundo da lanterna e um objeto saltou na minha mão. Não era a pilha, muito menos a tampa. Era um anel. Um anel lindo estava obstruindo o caminho da pilha, e eu olhei confusa do anel para Sirius, que continuava agachado, dessa vez com uma expressão completamente diferente.
- O que...
Então a minha voz falhou e a lanterna deslizou pro chão quando eu entendi. Devagar, mas entendi. Ele havia colocado ali. Era um anel de noivado. Fiquei boquiaberta enquanto fitava o brilho do anel na palma da minha mão, delicado e perfeito.
- Oh, meu Deus, Sirius. – murmurei baixinho.
Ele se levantou e ficou muito perto de mim. Suas mãos encontraram as minhas e ele encaixou o anel no meu dedo, fazendo questão de acariciá-lo devagar. Fiquei por um bom tempo sem saber o que pensar ou falar. Ele viu a minha confusão e ajeitou meu cabelo atrás da orelha, depois percorreu meu maxilar com as costas do indicador. Quando consegui falar alguma coisa, foi a mais estúpida de todas:
- Mas você não acredita em casamento.
Ele riu pelo nariz e pareceu ficar mais perto. Talvez tenham sido apenas seus olhos me entorpecendo, tamanha profundidade no olhar. Pisquei os meus, sentindo-os arderem.
- Eu não acredito, mas se essa é a única maneira que ficamos juntos e bem, então eu faço isso por você.
Eu não soube o que dizer. Meu coração batia tão rápido, tão rápido, que eu poderia mesmo ter pensado estar com alguma doença cardíaca. Hm, pensando bem, eu estava doente sim, dele. Eu precisava de Sirius, e lá estava ele com a sua cara de cachorro abandonado que quer fazer de tudo para ficar comigo. Abri a boca, mas não saiu nada, então tornei a fechá-la. Ele segurou minhas mãos novamente e pediu:
- Marlene McKinnon, você deseja ser minha mulher, não brigar mais comigo por qualquer bobagem, confiar em mim cegamente, não me acusar de traição, ouvir minhas desc...
- Hei! Eu entendi – minha fala finalmente destravou e eu sorri devagar – É claro que eu aceito, idiota de uma figa.
Sirius riu e me abraçou. Fechei os olhos com força, agarrando-me à ele como esperei poder fazer toda a noite. Todo o mês. Enfiei os dedos por dentro do seu cabelo e cheirei, deliciada com o perfume, sentindo falta daquela embriaguez constante. As mãos dele desceram das minhas costas para a minha cintura e eu suspirei com o toque quente.
- Eu estava guardando isso desde a Austrália – ele contou com a boca no meu cabelo – Até que você pirou totalmente por causa de uma coisa estúpida e...
- Hm, o que você tinha dito sobre não brigar?
- Mas eu não estou brigando, Lene. – ele se defendeu fofamente, usando o apelido pela primeira vez em semanas.
Sorri para aquilo e percorri o pescoço dele com o nariz.
- Então não me provoque, Six. – devolvi, e mordi o lóbulo da orelha dele devagar.
- Absolutamente, não mais, querida – ele riu baixinho e me ergueu pelas pernas, fazendo com que eu as enlaçasse em seu quadril ao mesmo tempo em que me apoiava no carro.
Eu ri e me deliciei com os beijos que ele depositou em meu pescoço, e toda a minha pele se arrepiou gostosamente com aquilo, como há muito não fazia. Ah, sim, aquele homem me fazia subir pelas paredes literal-mente.
Depois de muitos minutos ali, quando ele já estava sem aquela maldita camiseta azul e eu explorava cada cantinho de sua pele com meus dedos, assim como ele tentava fazer comigo enquanto eu ainda estava de blusa, quando eu já não estava exatamente respondendo por mim e o sangue corria loucamente por minhas veias, me fazendo sentir mais viva do que nunca – quando os beijos dele estavam descendo para além do meu decote e eu agarrara o cabelo dele, puxando e gemendo baixinho seu nome, quando a gente de alguma forma já havia ido parar no banco traseiro do jipe, uma desgraça aconteceu.
- SIRIUS? MARLENE? HEE-EI!
Sirius parou de me beijar, ofegante. Fez um grunhido de impaciência e permaneceu calado, me olhando com as bochechas coradas. Pela visão periférica eu vi luzes se acenderem em algum lugar não muito longe, adiante na rua.
- Não vai me dizer que você sabia que era aqui. – eu murmurei pra ele, sem acreditar.
- Droga! É quase uma hora da manhã, como eu poderia...
- VOCÊS ESTÃO AÍ? – era a voz de James que gritava – VENHAM PRA CÁ, OTÁRIOS!
- Burro. Você é muito burro.
- Marlene, qual é, depois a gente vai pra casa da Alice e...
- Não mesmo! Vamos continuar isso depois, com certeza.
Eu fiz com que ele se sentasse e ajeitei minha blusa.
- O quê?! – ele perguntou, indignado. Tipo, realmente indignado. Eu não podia culpá-lo.
- Não mandei você parar aqui na frente, Sirius. Como você sabia, com essa escuridão?
- Eu simplesmente sabia, ok? Eu estava enrolando pra conseguir te pedir em casamento, se você não lembra – ele me seguiu para o banco da frente, procurando pela camiseta – Mas que droga, está vendo? Já estamos brigando de novo.
- Você é quem está brigando comigo, amor. Eu prometi nunca mais brigar com você, lembra? – segurei o rosto dele entre as mãos e beijei seus lábios rapidamente. Então saltei do carro pra buscar minhas malas atrás.
- Mas Marlene, qual é o problema de continuar aqui numa boa? Depois falamos com eles o que houve e...
- Eu não estou mais escutando você – brinquei do lado de fora do carro – Desculpe! Estou indo pra uma cama fofa lá dentro, vai ficar aí?
Fui arrastando a mala até a casa, que ficava na encosta de um morro, cercada por campos escuros que bem podiam ser jardins. Lily estava na varanda de roupão, James ao seu lado e Alice acabava de abrir a porta com os olhos inchados e uma careta de sono. Quando cheguei perto deles, olhei para trás.
Sirius estava encostado no jipe, as mãos entrelaçadas como se ele estivesse rezando apoiadas no carro. Olhava pra mim fixamente e, mesmo de longe, eu reconheci aquele brilho naqueles olhos acinzentados. Sorri maliciosamente. Hum, talvez eu fizesse Sirius Black subir um pouco pelas paredes, também.
n.a: oi gente :) eu vou confessar que não gostei muito não, cara. achei que ficaria melhor. só que eu amo demais esse shipper pra deixar sem postar, então comentem! mesmo que tenha ficado bem chatinha :P hahaha e sim, me inspirei numa música que ninguém conhece e em um episódio fofo de True Blood (fofo assim, no começo, porque alguns epis depois você descobre que na verdade o cara que pediu a mulher em casamento era o assassino, então já viu; quem assiste? o René era tãão lindo com aquele sotaque forçado, biiisho, mascaração!). quanto à música, bem, eu estava vendo citações do One Tree Hill daí numa comunidade deu o maior rolo pra saber quem tinha sido o compositor da música e pá.. enfim. virou isso. SM é o que há, fato. beijo, amores! comentem, sim? :*
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