Mortes



Capítulo 30


 Mortes


 


Os dias viraram semanas sem que eu me desse conta. Tive poucas notícias de Alexey, que havia me escrito apenas para dizer que eu continuasse com atenção em qualquer lugar que eu fosse, pois ainda não havia tido nenhum sinal de Sebastian. Isso eu já imaginava, pois nem mesmo em meus pesadelos ele havia aparecido. Ao menos não propositalmente. Vez ou outra eu tinha sonhos envolvendo Sebastian, mas eu sabia que esses eram apenas fruto do meu estresse, e não uma visão imposta como frequentemente acontecera. Assim como eu, Alexey também se preocupava com esse silêncio. O vampiro não era disso, ele gostava de atormentar, perseguir, rondar, até que sua vítima chegasse ao ponto de se entregar apenas para acabar com o sofrimento iminente. A única coisa que nos consolava e, de certo modo, tranquilizava, era que a Arma de Belial continuava muito bem guardada em meu sótão.


Eu também havia recebido uma carta de Lily. As poucas linhas que mal preenchiam duas páginas diziam menos sobre a ansiedade dela e de James e mais sobre Harry. Seus dentes estavam nascendo, e ele queria morder tudo que suas mãos alcançavam - principalmente os óculos do pai. Já a outra novidade era que James e ele se tornaram peritos em rolar de um lado para o outro, o que, curiosamente, era muito engraçado. Então, apesar do medo que rondava os adultos, Harry conseguia transformar as horas de insegurança em um parque de diversões particular.


Então, quando teve a reunião da Ordem da Fênix, numa noite de fim de inverno, eu não precisava ficar questionando Clair disfarçadamente.


Como se tornara costume desde que começamos a nos relacionar - pois eu me recusava a dizer a palavra “namoro” -, Fabian havia ido para minha casa após seu trabalho no Ministério da Magia. Esperamos pouco mais de duas horas até que pudéssemos aparatar na rua trouxa que ficava a casa da tia de Jones. Como das últimas vezes, o combinado era chegarmos por último, embora àquela noite em especial Pettigrew tivesse chegado quase bufando atrás de nós.


— Desculpem o atraso — disse. Suas bochechas estavam coradas e ele também ofegava. Perguntei-me em qual maratona ele havia corrido para chegar naquele estado.


Mal Pettigrew se sentou, Dumbledore pediu que todos ali falassem o que sabiam. As duplas que vigiavam na casa de Comensais da Morte já confirmados, e que ainda estavam livres de Azkaban, diziam que não havia muita novidade. Os Comensais tinham o condão de sair de fininho, deixando seus vigias frustrados cada vez mais. Os ataques aos trouxas, mestiços e bruxos que tentavam ajudar quem quer que fosse atacado haviam aumentado de maneira desesperadora. Era como se o apogeu daquela guerra estivesse sendo alcançado, e não havia nada que ainda pudesse deter Voldemort.


Remus também não havia sido de muita valia. Estava difícil de conseguir a confiança dos lobisomens, que estavam do lado do Lorde das Trevas, pois ele não participava de nenhuma reunião prévia de ataque, aparecendo apenas para colher informações na Travessa do Tranco. Havia espiões de ambos os lados, e todos sabiam disso. Então, falar com estranhos era algo que ninguém estava fazendo.


Mais uma vez a reunião terminou com Dumbledore pedindo cautela a todos nós, e também que trabalhássemos com mais afinco, se fosse possível. Eu sabia que ele apenas queria terminar com todo aquele terror que rondava a todos no mundo bruxo, mas eu me questionei se ele não estava sendo utópico demais. Como conseguiríamos parar um bruxo que escapava como fumaça por entre os dedos e cujos Comensais da Morte estavam cada vez mais espertos? Além disso, todos sabiam que Voldemort tinha espiões dentro do Ministério da Magia e em qualquer lugar que oferecesse resistência a ele.


E isso tudo só me frustrava ainda mais porque eu ainda não havia descoberto quem entregara meus amigos na noite de Natal. Nas poucas reuniões que eu havia participado no decorrer daqueles dois meses, eu não consegui detectar nenhum sinal de quem poderia ser. Todos ali demonstravam uma enorme força em acabar com a guerra, e sempre apareciam quando chamados por Dumbledore para ajudar em algum ataque - o que não acontecera poucas vezes. Era como procurar uma varinha em um amontoado sem fim de gravetos.


Enquanto Fabian e eu esperávamos nossa vez de ir embora, ouvi um trio conversando perto de nós. Eles cochichavam bem discretos, mas eu consegui discernir algumas palavras que não me agradaram: lobisomem, mentiroso, prima de comensal. Não precisei pensar muito para saber do que eles falavam e de quem desconfiavam.


Meu parentesco com Severus não era segredo, pois muitos que faziam parte da Ordem estavam em Hogwarts na mesma época que eu. No entanto, ninguém tinha a coragem de me acusar de qualquer coisa na frente de Dumbledore. Ele não permitia isso, afirmando que nos conhecia e confiava em nós. Já sobre Remus… Na primeira reunião que participei, pensei seriamente que ninguém ali se incomodava com a situação dele. Afinal, havia ali membros da Gryffindor que conviveram sete anos com Remus, acompanhando sua amizade com os Potter, as boas notas, bom comportamento, sua propensão a ajudar sempre que era necessário. Contudo, em meio àquele terror, pensar que Remus poderia entregar os próprios amigos a Voldemort não seria tão estranho assim.


Senti vontade de acabar com aquela conversa idiota. Eu confiava plenamente em Remus e não admitiria que ninguém desconfiasse dele. No entanto, antes que eu fizesse algo, a voz de Pettigrew atingiu-me como um tapa.


— Ei, Clair, como estão James e Lily?


Ele não gritara. O que fizera sua voz ser ouvida por toda a sala era que muitos ali apenas cochichavam entre si, esperando sua vez para irem embora. Estávamos apenas metade do pessoal da Ordem da Fênix e todos olharam para Pettigrew quando ele se aproximou de Remus, Clair, Sirius e Marlene, que conversavam.


Clair olhou ao redor, percebendo que, assim como eu, todos ali tinham ouvido a pergunta dirigida a ela. Seus olhos passaram por mim apenas por alguns segundos, quando falou um tom mais baixo que Pettigrew:


— Acredito que bem, na medida do possível, Peter.


— Claro. Diga que mandei lembranças, está bem?


— Idiota — murmurei entre os dentes.


— O que foi? — Fabian perguntou baixo.


— Ele sabe que não era para contar a ninguém que Lily e James estão na casa de Clair — falei baixo para que apenas Fabian me ouvisse.


— Ari, estamos na sede da Ordem, ninguém aqui sairia correndo para contar a Você-Sabe-Quem a localização dos Potter.


— Eu sei que foi alguém daqui que contou a ele onde os Potter estavam, no Natal. Você me disse que ninguém do Ministério sabia.


— Eu sei, mas…


— Mas nada, Fabian! — irritei-me. — Esse idiota vai acabar estragando tudo simplesmente porque não consegue ficar de boca fechada.


— É só conversar com ele.


— Eu não consigo. Eu me irrito só de olhar para aquela cara de coitado que ele ostenta.


Fabian não conseguiu ficar sem rir. Na verdade, até eu ri do que havia dito. Eu nunca tive algo realmente contra Pettigrew, o que me irritava nele era a expressão de garoto perdido, como se tivesse sido jogado em um ambiente inóspito onde apenas seus amigos mais chegados - James, Sirius e Remus - fossem dignos de sua confiança. Claro que eu percebia, também, que com James e Sirius alcançava alguma idolatria, mas o que esperar de alguém um tanto insignificante como ele?


— Vou pedir para o Remus conversar com ele — falei, por fim, virando-me para ir até meus amigos. Porém, enquanto eu conversava com Fabian, eles haviam ido embora. Pettigrew estava agora conversando com Sirius que, eu sabia, iria embora com Marlene. Pensei em esperar até a próxima reunião, ou então mandar uma carta para Remus, mas a situação era emergencial. Era a segurança de meus amigos que estavam em xeque devido àquela boca grande. Suspirei. — Vou conversar com Sirius.


Os olhos de Fabian foram rápidos para Sirius e depois para mim. Ele acenou.


— Vou só trocar uma ideia com a Jones, e também já vamos.


— Tudo bem.


Dei alguns passos na direção de Sirius ao mesmo tempo em que Marlene também se aproximava com um enorme sorriso em seus lábios e pegava em sua mão. Amaldiçoei aquela situação e o sorrisinho idiota que ela me dirigiu quando notou minha aproximação. Sem nem lhe dar atenção, olhei para Sirius.


— Posso conversar com você por um momento? — perguntei, soando indiferente. Sirius retorquiu minha pergunta apenas com um irritante erguer de sobrancelhas que eu conhecia muito bem. — Será rápido. Por favor?


A sombra de um sorriso perpassou por seus olhos diante do meu “por favor” ter saído entre dentes. Contudo ele não perguntou o que eu queria, apenas começou a andar em direção aos degraus que levavam para o andar superior. No entanto, querendo mais discrição - e também sabendo que Marlene não iria gostar -, eu o puxei para o nicho que havia entre a escada e a parede que dava para um armário de casacos. Fazia um bom tempo que eu não me aproximava de Sirius daquela maneira. Se eu desse apenas um passo, nossos corpos ficariam praticamente colados, e aquilo me perturbava. O cheiro de sua colônia invadiu meus sentidos, fazendo me lembrar de quando nos escondemos de Filch atrás de uma tapeçaria, em Hogwarts. Havia sido a primeira vez que eu me dera conta, inconscientemente, de que estava me apaixonando por ele.


— Então? — ele perguntou, tirando-me de meus devaneios.


— Eu quero te pedir para que você converse com o Pettigrew. — Ele olhou por sobre meu ombro, com certeza para o personagem de nossa conversa.


— Por quê? — ele perguntou com o cenho franzido.


— Peça para ele parar de ficar gritando a localização de James e Lily. Pelo que eu saiba, apenas nós e Dumbledore sabemos onde os Potter estão. E é melhor que continue assim.


— Por quê?


— Acho que temos um traidor na Ordem.


Sirius riu baixo.


— Ariadne…


— Como você acha que os descobriram no Natal, Sirius? Alguém falou.


— Voldemort tem espiões em todo lugar e...


— Exato! — falei rápido, sem dar chance de ele completar seu pensamento protetor. Baixei ainda mais minha voz. — Alguém da Ordem está jogando dos dois lados. Ou você acha que isso seria impossível? Não conhecemos o caráter de todos aqui, Sirius, por mais que Dumbledore diga que confia em todos. Além disso, Fabian me disse que apenas a Ordem sabia da localização dos Potter, e justo quando nós fomos visitá-los, eles são atacados?


Percebi que quando eu disse o nome de Fabian, foi como se uma nuvem negra caísse sobre nós. O olhar de Sirius, antes tão crente em mim, perdeu todo o brilho.


— Vou levar em consideração sua dúvida, Ariadne, mas não vou ficar censurando um amigo só porque seu namorado não confia em ninguém.


— Eu não disse isso! Só estou pedindo que…


— Sei bem o que você está pedindo. Por isso que eu vou te dizer o seguinte: ninguém da Ordem está nos traindo. Muito menos o Peter. Se ele perguntou por James e Lily é porque está preocupado, e não tentando delatar a localização de nosso melhor amigo.


Ele teve a intenção de se afastar, mas eu lhe segurei pelo braço.


— Na noite de Natal, você sabe que fomos as primeiras visitas a James e Lily — disse entre dentes. — E o Ministério da Magia não fazia ideia da localização deles, somente a Ordem.


— Eu confio em meus amigos, Ariadne — ele falou baixo, forçando-me a soltá-lo — Não somos como seu priminho, que a qualquer sinal de ganho vai correndo para as saias de Voldemort. Não somos covardes.


Magoei-me com a comparação. Embora irracional àquela conversa, eu sabia que Sirius não estava errado sobre Severus, e isso só me machucava. E ele sabia disso.


— Você não precisa ser um imbecil para defender seu amigo.


— Me desculpe. — Ele passou as mãos pelos cabelos, parecendo perturbado. Acho que todos estávamos um pouco.


— Não estou dizendo que Pettigrew não é confiável ou o próprio traidor, Sirius — falei mais calma. — O que estou dizendo é que a discrição, o segredo, é nossa melhor defesa contra Voldemort. Você sabe disso.


— Pode deixar, eu vou conversar com ele.


— Obrigada.


— Ariadne — ele me chamou quando comecei a me afastar. Parei de andar e o olhei, mas Sirius ficou em silêncio, apenas me encarando. Havia algo em seu olhar que eu não consegui identificar. Frustração, talvez. Por fim, ele meneou a cabeça. — Não é nada. Boa noite.


Fabian então me chamou e fomos embora. Mas, àquela noite, eu não consegui esquecer a feição de Sirius e o que ele queria ter me falado.


Os dias que se seguiram à reunião da Ordem da Fênix não foram melhores. Eu havia mandado uma carta a Lily, pedindo que eles ficassem atentos a qualquer coisa, mesmo que não fosse peculiar, e esperei por sua resposta que não veio tão rápida quanto eu gostaria. Eu até cheguei a pensar que minha coruja tivesse sido interceptada, mas duas semanas depois a resposta chegou com um simples “Não se preocupe. Estamos todos bem. E com saudades.”. Eu duvidava bastante que James estivesse sentindo minha falta por esses dias.


 


.oOo.


 


Recostei-me, cansada, na poltrona da biblioteca, jogando o Profeta Diário na mesa, sobre o livro que eu pegara para ler. Por mais que esse jornal quisesse esconder muitas coisas que eu sabia que acontecia, ainda carregava muitas mortes em suas páginas. Mas, naquele dia, eu estava olhando a lista de obituários. Eu me sentia vivendo naqueles filmes de terror, esperando uma morte a cada página lida como havia sido na semana anterior.


Marlene McKinnon, que morava sozinha há dois anos desde o falecimento da mãe já era viúva, havia sido atacada e morta por Comensais da Morte. Eu ainda sentia meu coração doer quando soube daquilo. E tudo só piorava com a lembrança do rosto de Sirius, sua dor e raiva tão latentes. Quando eu o abracei, despedindo-me e também para tentar confortá-lo, senti o quão desesperado ele estava. Eu queria ter ficado com ele, porém não seria certo. Sabia que eu estava abrindo um imenso buraco entre Sirius e eu com meu relacionamento com Fabian, mas eu não conseguia evitar. Parecia que eu estava fadada a estar longe dele, não importando como.


— Ariadne?


Endireitei-me na cadeira, estranhando a presença de Fabian. Instintivamente olhei para o relógio, que indicava que ainda nem eram nove horas da manhã. Ouvi a porta da frente se fechando enquanto eu saía da biblioteca, vendo Fabian em minha sala.


— O que foi? — perguntei com o cenho franzido.


— Eu… — ele hesitou.


— Fabian, o que aconteceu? — Algo viscoso desceu em meu estômago e o apertou como se fosse uma mão fria quando Fabian me encarou. Eu conhecia aquele olhar. Era o mesmo olhar que eu vira em Dumbledore e Scrimgeour três anos atrás. O mesmo olhar que Fabian sustentara quando me falou sobre Marlene, sobre seu amigo no Ministério, sobre a família de trouxas que morava a duas quadras da casa dele. — Fabian — exigi, sentindo que minha respiração queria falhar.


— Houve um ataque nesta madrugada — ele falou devagar e se aproximando. — Em Yorkshire.


— Onde, exatamente? — perguntei, embora não quisesse ouvir por sua voz o que minha mente já gritava.


— Na casa de Clair. Os Potter estão desaparecidos. — Prendi a respiração, esperando o resto de sua sentença como se fosse um carrasco a proferindo, e não Fabian. Ele engoliu a seco antes de continuar. — Sinto muito, Ariadne, mas Clair…


Eu queria me soltar de Fabian, liberar meus braços que ele segurava tão protetoramente para tapar meus ouvidos e não ouvir o que ele tanto hesitava em me dizer.


— Nós não chegamos a tempo. Os Comensais que estavam sendo vigiados não saíram de casa, outros que foram atacá-los — ele continuou, falando baixo e devagar. Somente neste momento que percebi que ele me abraçava enquanto eu chorava em seu ombro. — As proteções não foram o bastante, nem o Ministério e nem a Ordem puderam fazer nada. Sinto muito, Ari.


— Oh, Clair…


Registrei ao longe que Fabian me levava para o sofá, sem tirar seus braços de mim, como se quisesse me proteger da dor que parecia me quebrar por inteira. Mas a dor vinha de dentro, e nada que Fabian fizesse poderia impedir que ela me afogasse.


Clair, minha querida e doce amiga, a única pessoa verdadeiramente boa que eu conhecera em toda a minha vida. Depois da morte de Arktos e de Louise, pensei que tinha começado a ficar mais próxima da morte, como se ela não pudesse me atingir ou fizesse com que o mundo me engolisse, asfixiasse, apertasse cada parte de meu corpo. Mas não era assim. Cada perda era como se um ferro em brasa voltasse a torturar a mesma ferida, que eu pensava estar curada, e na verdade nem sequer cicatrizara.


Fabian passou a manhã toda comigo, me consolando. Sua presença era um conforto que eu não queria abrir mão. Meus soluços pararam, mas as lágrimas ainda caíam silenciosas. Fechei os olhos, tentando me concentrar apenas no carinho que Fabian fazia em mim. Os dedos deslizando pelo meu braço, parando ocasionalmente em minhas mãos, e depois indo para meu cabelo. Quando a dor tentava me torturar mais fortemente, eu pegava sua mão e a puxava para mim para que seu braço me envolvesse mais uma vez. E ele me abraçava, sem dizer nada, levando seus lábios para meus cabelos.


— Os pais dela estão na América do Norte — falei quase num sussurro e depois de muito tempo.


— Dumbledore se dispôs a encontrá-los.


— Então o funeral…


— Sean me dirá assim que souber. Um amigo — ele emendou quando o olhei sem entender de quem se tratava. — Ele trata desses assuntos.


Meneei a cabeça afirmativamente como resposta.


— Onde você acha que eles estão? Lily e James?


— Não fazemos ideia. Quando soubemos o que havia acontecido e fomos até Yorkshire, encontramos apenas Clair na casa.


— E ela já…?


— Sim.


Respirei fundo para que o sofrimento não voltasse a ficar latente. Fabian me abraçou.


— Eu pensei que Dumbledore fosse procurar os Potter.


— Black, Lupin e Pettigrew disseram que os procurariam.


Oh, meu Deus, Remus! Pobre Remus.


O funeral de Clair foi no dia seguinte. Dumbledore havia encontrado uma carta, que fora enviada pelos pais de Clair meses atrás, pedindo que ela fosse ao encontro deles. Na carta constava um endereço dos Estados Unidos, então não foi difícil descobri-los.


Foi um funeral simples, ao fim da tarde, com poucas pessoas. Fabian ficou o tempo todo comigo, seu braço me envolvendo protetoramente como se eu pudesse desabar a qualquer momento. A maior parte do funeral correu normal, contudo, ao fim, quando o caixão de Clair foi baixado e começaram a cobri-lo com terra, Remus decidiu se aproximar dos senhor e senhora McKennit. Eu não estava longe, então consegui ouvir tudo o que conversaram.


— Eu sinto muito, Sr. McKennit — Remus falou, erguendo a mão. Mas tanto o pai quanto a mãe de Clair ignoraram esse gesto.


— Você não a protegeu — o Sr. McKennit disse com a voz seca, os olhos vermelhos cravados no caixão da filha. — Você falhou duas vezes com ela. Primeiro não permitindo que ela viesse conosco, e depois isso. — O pai de Clair olhou para Remus e seu olhar estava carregado de desprezo. — Eu amaldiçoo o dia em que você cruzou com a vida de minha filha, lobisomem imundo.


Fiquei horrorizada com as palavras do Sr. McKennit. Eu entendia muito bem a dor que era perder alguém que amava, mas nada justificava o que ele havia falado para Remus. Os únicos culpados pela morte de Clair eram os Comensais da Morte e Voldemort. E, eu também sabia, do maldito traidor que ele enfiara entre nós.


— Vamos embora, Remus — Sirius falou, tirando o amigo dali.


Voltei meus olhos para o túmulo de Clair e joguei a rosa que ainda estava em minhas mãos. Quando ergui os olhos, senti que todo o sangue de meu rosto havia fugido. Vários metros à frente, tentando se esconder atrás de um túmulo, eu vi Severus. Por um primeiro momento, pensei em lhe lançar uma azaração de onde eu estava. No entanto, eu não queria escândalo. Não no funeral de Clair.


Fabian se virou para ir embora e eu o acompanhei apenas alguns passos para depois parar.


— O que foi?


— Eu...ahm… Eu quero visitar o túmulo de Arktos.


— Tudo bem, eu vou com você.


— Eu prefiro ir sozinha. Não é longe — falei quando ele intencionou discordar — e prometo não demorar. Só preciso de uns minutos sozinha.


— Tem certeza? — Como eu confirmei, ele se afastou, dizendo que me esperaria embaixo de uma árvore na alameda principal.


Segui diretamente para o túmulo de Arktos, a princípio, enquanto olhava para os lados procurando por Severus. Não sei se foi sorte ou ele me conhecia bem demais, mas, quando estava a poucos metros do túmulo de meu irmão, Severus apareceu por detrás de uma árvore. Ele parecia abatido com as mãos nos bolsos da calça e os ombros levemente caídos. Hesitei apenas por um momento, mas logo chegava onde ele estava.


— O que você está fazendo aqui? — perguntei mais áspera do que desejei.


— Eu queria saber como você está. Sei que gostava muito da sua amiga.


— E como você ficou sabendo da morte dela? — Cruzei os braços, sentindo raiva.


— Saiu no Profeta.


— Claro. Foi assim que você ficou sabendo — disse sarcástica. Respirei fundo; vários sentimentos de uma vez que não estavam me fazendo bem. — Eu quero que você me dê um bom motivo para eu não entregá-lo agora, Severus.


Sem desviar de meu olhar acusador, ele falou:


— Vocês têm um traidor na Ordem da Fênix.


Franzi o cenho. Eu esperava um discurso de desculpas, explicações vagas ou a repetição de que ele se preocupava comigo. Não aquilo. Nunca aquilo.


— O quê?


— Um traidor, Dina. Alguém que está passando informações ao Lorde das Trevas. Alguém da Ordem da Fênix.


— Eu sei o que é um traidor. — Dei um passo à frente, instintivamente diminuindo minha voz. — E de onde você tirou essa certeza?


— O que acha? — ele retorquiu, a voz arrastada.


— Você veio me trazer a identidade dele?


— Eu não sei quem é.


Não consegui segurar um sorriso irônico com aquilo.


— Pensei que você fosse mais íntimo de seu chefe.


As bochechas de Severus coraram levemente.


— Não seja tonta. Ninguém é íntimo dele. Não há amigos entre os Comensais da Morte, Ariadne, apenas aliados.


— Aliados de uma causa enojante.


— Eu não vim aqui para ser atacado.


— Então para quê você veio, Severus? Acha que me dizer isso já é o bastante? — Senti meus olhos começarem a arder, e não me importei. Eu queria que Severus visse o que ele fazia comigo por estar do lado errado naquela luta. Não me surpreendeu que ele não tivesse coragem de me encarar, preferindo olhar o túmulo de Arktos. Minha raiva aumentou ainda mais. — Como você tem tanta certeza sobre o traidor se nem sabe quem é?


— O Lorde das Trevas disse — falou com a voz baixa e rouca, ainda olhando para o túmulo de meu irmão. — Ele se vangloriou.


— Há quanto tempo ele tem esse traidor?


— Tudo indica que já faz um tempo.


— E quando você descobriu?


— O que isso importa? — Severus pareceu desconfortável.


Eu estava pronta para dizer que me importava muito. Eu queria entender o que levava Severus a estar na minha frente, no meio do cemitério, com a possibilidade de algum Auror vê-lo e prendê-lo, ou até mesmo matá-lo, em vez de me esperar em casa, onde poderia ser mais seguro. Contudo, nada disse. Havia algo em seus gestos que me lembrava muito o meu primo de anos atrás, quando ele passava o fim dos verões em minha casa, conosco conversando ou lendo os livros da biblioteca particular de minha família. No entanto, por mais que eu desejasse profundamente que Severus não tivesse se tornado um Comensal da Morte, ele havia feito sua escolha. E eu havia feito a minha.


— Tem alguma maneira de eu descobrir quem ele é?


— Não sei. Traidores sempre demonstram alguma coisa, mas… Sem saber por onde começar, fica difícil.


— Eu tenho por onde começar. Mas e você, Severus? Consegue descobrir? — Meu primo me olhou, embora não parecesse surpreso com minha proposta. Manti-me firme, esperando sua resposta. Severus suspirou.


— O Lorde das Trevas está resoluto em não dizer quem é este traidor. Ele disse que é o maior trunfo que conseguiu até agora, pois foi a pessoa quem o procurou, não o contrário.


— Como você — disse, lamentando. — Sev... — eu o segurei pela mão —, você tem certeza que é isso que quer? Ainda há tempo para fazer o certo. — Seus olhos não se desviaram dos meus, permitindo que eu notasse sua dúvida. Aproveitei. — Procure Dumbledore, ele saberá o que fazer. Diga sobre o traidor.


— Eu disse a você.


— Pois diga também a ele.


— Dina — ele tentou se soltar, mas não permiti.


— Por favor, Severus. Volte para mim.


Por um momento percebi que meu primo queria me dizer algo. Talvez até mesmo dizer que queria refazer seu próprio caminho. Por mais que eu conhecesse os demônios de Severus, eu também sabia que ele tinha uma parte dentro de si que não era cruel como Voldemort e muitos Comensais da Morte. E era a essa parte que eu apelava. Mais uma vez meu primo suspirou, dando um passo em minha direção e tocando meu rosto. Fazia tanto tempo que eu não o via, que tínhamos essa intimidade, que por uma fração de segundos ousei ter esperanças.


— Tome cuidado, Dina. E não confie em ninguém.


E antes que eu dissesse qualquer coisa, Severus desaparatou.


Lancei um olhar para o túmulo de Arktos, fazendo uma breve oração, e fui ao encontro de Fabian.


Durante dias aquele encontro com Severus não saiu da minha cabeça. Eu não sabia o que o motivara me procurar para dizer sobre o traidor. Não que eu não acreditasse no que ele havia dito. Nas últimas semanas, o fato de Voldemort estar à frente de nós, em determinadas situações, só fazia minhas suspeitas aumentarem. E agora era a morte de Clair e o desaparecimento dos Potter. Apenas a Ordem da Fênix soubera da localização de meus amigos - e isso graças à língua de trapo de Pettigrew. Francamente, eu não sabia como ele conseguia ser tão imbecil.


Entretanto…


Nos dois anos em que estive viajando com Alexey a procura de alguma coisa que pudesse me deixar livre de Sebastian, nós nos tornamos bons amigos. Claro que ser amiga de Alexey era um tanto quanto curioso. Seu sarcasmo, ironia e impaciência eram traços marcantes, até para mim. Porém ele tinha uma sabedoria que, contrastando com seu jeito estranho, era inteiramente paradoxal. E suas palavras sobre confiar em alguém me perseguiam desde que ele as proferira: aquele que nos trai sempre está perto de nós. Portanto, quando voltei a Londres e meus amigos começaram a ter que se esconder a todo o momento, além de alguns planos da Ordem terem dado errado, eu sabia que havia um traidor entre nós. Era muito óbvio para não imaginar isso, mesmo que ninguém gostasse ou admitisse.


E, então, Severus me apareceu no cemitério, transformando minhas suspeitas em fatos. Senti vontade de ir até Hogwarts, falar com Dumbledore sobre o encontro com meu primo, abrir-lhe os olhos. Se havia alguém que poderia encontrar o traidor, esse alguém era Dumbledore. Mas também tinha a outra face da moeda: ele não poderia acreditar, e as suspeitas poderiam recair em mim e, então, eu perderia toda a confiança que o diretor me depositara. Isso não facilitaria meus planos de encontrar o verdadeiro traidor. E ele precisava ser encontrado o mais rápido possível.


Mas com o passar dos dias, descobrir qualquer coisa estava difícil.


Severus desaparecera. Tentei enviar uma carta a ele, perguntando se decidira algo. Fui o mais evasiva possível, pois não queria que alguém desconfiasse se a carta fosse interceptada. A segurança de Severus também me preocupava. Porém não recebera resposta.


A única carta que eu havia recebido fora de Lily. Apenas algumas linhas, dizendo que eles estavam bem e que não precisava me preocupar. Como se receber aquelas poucas palavras fosse o bastante para mim… Fabian me acalmava, dizendo que, caso os Potter estivessem com problemas, Lily faria com que eu soubesse. Eu tentava acreditar nele. Mas era mais a presença de Fabian que me acalmava do que suas esperanças.


Meus dias resumiam-se a reuniões da Ordem da Fênix, vigília noturna na casa de Comensais da Morte, dias de estudo em minha casa e, ocasionalmente, almoços familiares nos Weasley.


Fabian estava praticamente me colocando dentro de sua família, como se o que eu houvesse dito sobre ir devagar em nosso relacionamento fosse irrelevante. Contudo, o que mais me incomodava nesses almoços eram os olhares de sua irmã, Molly.


Inicialmente, nós nos demos muito bem. Não era difícil se sentir à vontade na casa dos Weasley. Mas numa tarde, Molly me pediu para ajudá-la com o preparo do chá. Eu estava arrumando a bandeja com bolos e tortas quando ela veio até mim, colocando o bule na mesa.


— Por que você está com o Fabian?


— O quê? — retorqui sem entender.


— Eu vi os olhares que você e Sirius Black trocaram na semana passada. Vi vocês no funeral da Marlene e em tantas outras ocasiões. Vi como vocês conversam. Como agem quando estão no mesmo cômodo, embora tentem esconder.


O olhar de Molly era duro, o que me incomodou.


— Não há nada com que você ou Fabian — frisei — tenham com o que preocupar. Sirius é apenas um amigo, Molly.


— Espero, realmente, que eu não precise me preocupar com meu irmão — ela falou, pegando a bandeja. — Só te peço uma coisa, Ariadne: não magoe Fabian. Você não gostaria de me ter do lado errado em uma briga.


Molly não precisava me pedir cuidado. O tempo que eu ficava com Fabian havia se tornado a melhor parte do meu dia. Em alguns momentos eu até contava os minutos para vê-lo. Era como se meus problemas pudessem desaparecer pela simples presença de Fabian, como se seu sorriso tornasse o dia mais ensolarado. Eu não queria sequer imaginar que eu já sentira isso - mais forte, também, contudo não queria ficar medindo sentimentos. Eu estava gostando de Fabian cada vez mais, e sua importância em minha vida só aumentava.


E, assim como com Sirius, a sensação de que ter Fabian em minha vida era errado começou a me assombrar.


 


.oOo.


 


— Tem uma garota no seu portão.


As palavras de Fabian me tiraram do devaneio que eu estava.


— O quê? — levantei-me do sofá e peguei a caneca de chocolate-quente que ele havia preparado. Fabian estava se mostrando um ótimo preparador de bebidas quentes.


— Uma garota. Ali. — Ele apontou minha visitante, através da janela.


— É Aimèe!


Surpresa e feliz, devolvi a caneca para Fabian e corri para o portão. Minha felicidade em ter Aimèe ali era tanta que somente percebi sua tristeza quando a soltei de meu abraço.


— Aimèe, o que foi?


— Minha mãe, Dina — seus olhos encheram-se de lágrimas e o aperto de meu coração me preparou para o pior. — Ela ficou muito doente nessas últimas semanas e... Ela não resistiu.


Novamente abracei Aimèe, tentando confortá-la. Mas eu sabia que nada poderia ajudá-la, apenas o tempo. Ou, talvez, nem ele. Fabian veio ao nosso encontro, pegou a bolsa que Aimèe usava como mala e, depois que ela se sentou, trouxe uma caneca de chocolate-quente para ela. A bebida fez bem à minha prima, que logo se acalmou. Ela então me disse que os médicos não conseguiram descobrir qual doença derrubara minha tia por semanas em sua cama, apenas que afetaram seus pulmões.


— Por que você não me avisou, Aimèe? Eu poderia ir até lá, ajudar com alguma coisa.


— Ela estava melhorando — Aimèe continuou, os olhos fixos na caneca em suas mãos. — Mas piorou muito nessa semana, e ontem, quando acordei…


Olhei para Fabian, desolada, ao ver minha prima soltar um soluço que logo se transformou em lágrimas silenciosas. Tentei consolá-la o máximo que pude, e entreguei-me à minha própria tristeza somente quando consegui fazê-la dormir.


A morte estava se tornando uma personagem concreta em nossas vidas. Eu até conseguia sentir seu cheio rançoso, forte e amargo, sentir sua presença sufocadora e vê-la: feia, um sorriso bestial e malicioso. Parecia que tudo o que era bom estava morrendo, e nada restaria neste mundo. Embora minha tia tenha morrido por doença, a dor não era menor.


Arktos, Louise, Clair, tia Françoise… E tantos outros que eu não tinha ligação, mas as pessoas que eu amava sim. Perguntei-me quantos mais morreriam naquele ano. No entanto, logo meneava a cabeça, mandando essa questão para longe.


Eu precisava encontrar o traidor da Ordem da Fênix. Precisava mandar a Morte para longe dos meus amigos o maior tempo possível. Mas, por quem começar?


Aimèe não acordou muito bem no dia seguinte. Seus olhos inchados e com olheiras mostraram sua noite em claro e com muitas lágrimas. Não foi difícil eu me lembrar de como estava após a morte de Arktos, contudo, dei um jeito de devolver essas memórias para o canto da minha mente. Minha prima precisava de mim, então eu faria de tudo para reerguê-la como ela se predispôs a fazer comigo mais de dois anos atrás.


Eu reprogramei meus dias seguintes para passar mais tempo com ela, mas, em algumas noites, tive que sair com Fabian para vigiar casas de Comensais da Morte. Antes de sair, eu sempre verificava se minha prima estava dormindo depois de deixar um bilhete em minha cama, caso ela acordasse e fosse me procurar. Duas semanas depois, Aimèe já estava melhor. Fabian havia nos chamado para almoçar na casa de sua irmã, no fim de semana, e ela acabou aceitando o convite que lhe foi estendido. Foi uma tarde agradável, como todas as outras, mesmo com Molly não me tratando com a mesma deferência de sempre, mas ao menos se mostrou carinhosa com Aimée.


— Vocês têm uma bela propriedade aqui, Sra. Weasley — Aimèe falou quando bebíamos um licor que Arthur ganhara de aniversário no ano anterior.


— Obrigada, querida. Tem um rio aqui perto, também, mas a água costuma ficar boa para nadar apenas no meio do verão. Os meninos adoram.


Aimèe sorriu, olhando para os filhos de Molly, que brincavam perto da poltrona que Arthur se sentava com Ron, de pouco mais de um ano, em seu colo. Logo Ron deixaria de ser o caçula, pois mais um membro da família logo nasceria. Molly já estava com seis meses de gestação, e Gideon costumava brincar dizendo que logo o time de Quadribol Weasley estaria completo.


— É um menino? — perguntei.


— Preferimos não fazer os testes — Molly respondeu, bebericando um pouco de chá.


— Gostaríamos que fosse uma menina, mas com essa pré-disposição para garotos… — completou Arthur, sorrindo e fazendo cócegas em Ron, que riu.


— Uma menina, caçula e com seis irmãos mais velhos? Vai morrer solteira — disse Fabian, ao que todos riram.


— Você conhece o lago, Dina? — Aimèe me perguntou.


— Na verdade, sim. É um lugar muito bonito.


— Você me mostra?


— Claro.


O olhar de Aimèe dizia claramente que ela queria ficar sozinha comigo, então disse a Fabian que logo voltaríamos. Foi uma caminhada silenciosa até o lago, com apenas o som de nossos pés sobre a grama viçosa.


— Fabian é uma pessoa legal — Aimèe disse depois de um tempo. Sorri.


— Sim, ele é.


— Mas eu não entendo por que você está com ele.


Olhei para Aimèe sem entender a pergunta.


— Sei que você ainda gosta do Sirius.


— Prefiro não falar sobre isso, Aimèe.


— Porque você sabe que estou certa. Você não devia usar Fabian como um estepe, Dina.


— Quem disse que estou fazendo isso? — Parei de andar e Aimèe fez o mesmo.


— Quem disse que não está?


— Por que estamos falando sobre isso? — perguntei incomodada.


— Porque eu te conheço. Não digo que você é indiferente a Fabian, mas você não o ama e está com ele pelos motivos errados. Diga que não é verdade?


Fiquei calada, sem coragem de encarar minha prima.


— Dina, você deve dizer a ele a verdade.


— Verdade… — falei com sarcasmo. — O fato de eu amar o Sirius não me impede de me relacionar com Fabian. Na verdade, Sirius nem liga mais para mim. Enquanto eu estive fora, ele estava com outra, e tudo o que me sobrou foi solidão.


— Foi você quem escolheu isso.


— Não. Foi Sebastian, e você sabe disso. — Com a irritação e tristeza que aquele assunto me trazia, não demorou para eu falar mais alto do que deveria. — Tive que deixar Sirius para trás para que ele não morresse.


— E Fabian é descartável?


— Claro que não! — exasperei. — Mas se Sebastian descobrir sobre Fabian, sobre o que eu sinto por ele, eu não tenho receios, pois isso não o tentaria. Fabian é um amigo, companheiro, sim. Sinto um imenso carinho por ele, e o fato de eu não querer enfrentar essa guerra sozinha é o que me mantém perto dele.


— Você sente apenas carinho por ele? — Aimèe franziu o cenho. — Dina, vocês nunca… Bem… Vocês nunca fizeram sexo?


— Já — respondi, sentindo minhas bochechas esquentarem um pouco. — Faz um tempo que ele tem dormido em casa.


— E como é?


— Aimèe… — resmunguei.


— Quem sente apenas carinho não faz sexo, Dina. E se faz, não faz direito.


— E você sabe tudo a respeito, não é?


Aimèe cruzou os braços, esperando minha resposta.


— É…bom — falei, hesitante. — Eu gosto de ter Fabian comigo na cama, se é isso que quer ouvir.


— Não é isso que quero ouvir. O que quero ouvir é se você, mesmo com ele ao seu lado, pensa no Sirius.


Aconteceu apenas uma vez, e me culpei por vários dias. Mas Aimèe não precisava saber disso.


— Sabe, não estou entendendo onde você quer chegar com isso — falei.


— Eu quero saber se você vai continuar fingindo ter um namoro com Fabian ou vai correr atrás do que realmente importa.


Meneei a cabeça em negativa.


— Eu não posso — murmurei. Ela abriu a boca, pronta para argumentar, mas não permiti. — Você está certa. Com Fabian é como tampar um vazio que nunca vai ser preenchido, mas me alivia, entende? E sei que isso não vai ser tirado de mim. Mas se eu perder Sirius… Aimèe, eu não conseguiria viver em um mundo que o Sirius é apenas uma lembrança. Se chegar o dia em que eu não tiver mais a oportunidade de olhá-lo, tocá-lo, ou de estar em sua presença, não há mais motivo para viver.


— Dina…


— Não, você não entende! Eu faria de tudo, de tudo, para ter Sirius vivo. Não importa quem eu machuque, quem eu tenha que atravessar, quem eu tenha que enganar.


— Ariadne! — Aimèe me segurou pelos braços, virando-me.


Atrás de mim, a poucos passos de nós, Fabian me encarava. E pela sua postura tensa, seu olhar sofrido e olhos marejados com lágrimas corajosamente contidas, eu sabia que ele ouvira tudo o que eu nunca ousara dizer até então.


 


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NA: Eu não sei bem o que dizer desse capítulo. Ele foi um pouco difícil de escrever devido a tantas mortes e sofrimento que tive que fazer os personagens passarem, e com um fim desses que, como disse minha queria beta Priscila: PQP!!! Mas, sinceramente, espero que tenham gostado!


Coelho da Lua: eu também amo um drama!! Um de meus tipos de romance preferido!! Que bom que está gostando, isso me anima! :D Bjos.


Duda: não sei o que dizer...você é uma fofa, linda e querida! E, como eu disse no e-mail, adorei sua capa! Ela mostra bem esses últimos capítulso e os próximos que virão. Bjos. Espero muito que tenha gostado deste capítulo!


Até o próximo, queridos.


Lívia.

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