Tempos sombrios



Capítulo 13


 Tempos sombrios


 


Senti meus olhos encherem-se de lágrimas quando abracei Elizabeth.


Ela e o irmão Jason, juntamente com sua noiva, haviam decidido se mudar. Iriam para a Itália por algum tempo até todas as coisas por aqui se acalmarem.


— Não acredito que você vai nos deixar — queixei-me novamente, tentando disfarçar minhas lágrimas. Ela sorriu.


— Não estou deixando vocês totalmente, Ari. Eu prometo que, quando tudo isso terminar, eu volto.


— Promete?


— Prometo.


Então a abracei de novo, mais animada.


— Ah, sim, e quando descobrir quem é o dono das cartas misteriosas, me escreva!


— Pode deixar — sorri.


Eu havia contado a Elizabeth sobre as cartas que estava recebendo no último mês, assim como também tinha escrito para Lily e Louise, contando a mais maluca novidade. Assim como Elizabeth, minhas amigas estavam ansiosas para saber quem poderia ser esse novo amigo. Bem, elas não eram as únicas.


— Que cartas misteriosas? — Arktos perguntou de cenho franzido.


— Coisas de mulher — Elizabeth falou, piscando-me um olho. — Ah, e antes que eu me esqueça.


Ela tirou um pacote de dentro de sua bolsa, entregando-o a mim.


— Feliz aniversário adiantado, Ari.


— Eliza, não precisava.


— Uma coisa para você se lembrar de mim.


— Como se pudéssemos esquecer você, Lizzy — Arktos falou, tão curioso quanto eu para saber o que era o presente.


Fiquei emocionada quando vi do que se tratava.


— Lizzy...


— Aos nossos dias no parque.


O presente era um globo, cujo interior mostrava um pequeno banco onde uma mulher estava sentada e outra deitada em seu colo, enquanto um rapaz nadava no lago. O globo precisava ser segurado com as duas mãos devido ao seu tamanho e peso. Olhei mais atentamente e consegui perceber que a moça sentada era Elizabeth e era eu quem estava deitada em seu colo lendo um de meus inúmeros livros, enquanto Arktos nadava no rio.


— É lindo, Lizzy!


— Um feitiço simples, sabe? — ela falou. Vi que seus olhos estavam cheio de lágrimas contidas. — Vai mudar com as estações. Assim é verão. No outono, o Arktos sairá do lago, é claro, e no inverno, patinaremos.


— Na primavera?


Elizabeth então sorriu maliciosa.


— Na primavera você verá.


Ela logo foi embora. Fiquei sentada no sofá, apreciando meu presente, enquanto Arktos preparava nosso jantar.


— Sabe em que eu estava pensando?


Eu apenas soltei um resmungo como resposta. Ele sentou-se ao meu lado, oferecendo o sanduíche que fizera para mim.


— Em seu aniversário. Vai querer alguma comemoração?


Fiz uma careta com os lábios, pensativa.


— Não — respondi por fim, olhando-o. — Mas gostaria de ir com você, mesmo ao Beco Diagonal, tomar um sorvete.


— Tem certeza?


— Tenho. Vou escrever para Lily e Louise, para ver se elas podem ir também.


— E aquela sua outra amiga? Clair, não é?


— Ela está nos Estados Unidos.


— E Severus?


— Não sei se ele estará disponível.


— E posso saber o que ele anda fazendo para te deixar tão irritada? — Arktos perguntou, voltando à cozinha para buscar o suco que ele havia esquecido.


— Com certeza se afogando em livros — resmunguei. Porém, pensava em outra coisa bem mais sombria que meu primo poderia estar fazendo.


— Ele não virá esse verão?


— Não sei — dei de ombros. — Eu o convidei, mas ele nem me escreveu.


— Escreva você, então. — Arktos sentou-se ao meu lado. — Convide-o para ir ao Beco conosco.


— Vou fazer isso.


— Então, tudo bem.


Custei dormir àquela noite, pensando em quê Severus estaria fazendo.


Por mais que meu primo se mostrasse decidido a seguir o caminho errado quando saísse da escola, eu não conseguia deixar de me preocupar. E também não queria ficar cogitando a hipótese de que, agora que estava sem o rastreador do Ministério da Magia para menores de idade, Severus poderia fazer qualquer tipo de magia sem ser detectado imediatamente. Até mesmo a maldição da morte.


Virei-me na cama, angustiada. No entanto, meu humor mudou totalmente quando notei a coruja amarelada em minha janela.


 


Oi, Ari.


Sabe que sua resposta foi muito bem-vinda? Não esperava algo tão cedo. Mas foi bom. Isso mostra que você não é tão reservada quanto eu pensava. Ou tão cabeça-dura. Brincadeira...


Eu já sabia que seu irmão era auror, o que não me intimida, uma vez que é o que eu desejo ser também quando sair da escola. Afinal, nosso mundo vai precisar de todo auror disponível futuramente.


Porém não vou falar de assuntos sombrios nesta carta, a não ser que você queira.


Vou ficando por aqui, pois meu vizinho está me chamando para jantar.


Até a próxima carta.


 


— Hoje não tem resposta — falei para a coruja, que esperava por algo. — Mas, se você quiser descansar antes de ir, não há problema.


Não que eu não quisesse responder ao meu amigo – se é que eu posso chamar essa pessoa anônima de amigo. A questão era que sua citação sobre os fatos sombrios que vinham ocorrendo na sociedade bruxa fizeram me lembrar de Severus.


Adormeci, segurando a carta em minhas mãos.


Os dias seguintes passaram rapidamente, e as resposta de Lily e Louise chegaram no dia anterior ao meu aniversário. Ambas apareceriam no Beco Diagonal, e nos encontraríamos em frente a sorveteria de Florean Fortescue após o almoço. Severus, em contrapartida, não me respondera. Comecei a pensar que meu primo já estava ficando perdido para mim.


Quando fui dormir, mais uma vez minha cabeça estava repleta de pensamentos sombrios sobre Severus. E isso não me fez bem.


No meio da noite, acordei aos gritos. Arktos não demorou mais que dois minutos para chegar ao meu quarto, com a varinha na mão pronto para duelar com quem quer que estivesse ali dentro. Meu irmão apenas lançou um rápido olhar para mim antes de correr até a janela. Porém, é claro, não havia nada lá fora.


— Dina, o que foi?


Assim que ele sentou-se ao meu lado, o abracei como se dependesse dele minha salvação. Meu corpo inteiro tremia e as lágrimas já molhavam meu rosto com abundância.


— O abajur — murmurei fracamente.


— O quê?


— O abajur. Acende, Ark.


A luz do quarto não serviu muito para me acalmar. Eu ainda conseguia ver aqueles olhos arroxeados me encarando, parecendo me levar para um lugar sombrio, cheio de morte e dor.


— Dina, o que aconteceu?


— Aquilo. Aconteceu de novo. — Eu o abracei mais forte e senti meu irmão também estremecer. — Ark, o que está havendo comigo? Será que eu estou ficando louca?


Olhei para meu irmão, vendo-o preocupado. Meu medo aumentou.


— Ark...


— Eu não sei o que é, Dina. Porém, eu prometo que vou descobrir o que está acontecendo com você.


Eu apenas movi a cabeça em assentimento.


— Agora, deite-se, sim?


Obedeci meu irmão, contudo, agarrei-me ao seu braço.


— Fica aqui. Dorme comigo, hoje, Ark.


— Tudo bem.


A cama era espaçosa o bastante para nos acomodarmos, porém, me agarrei a Arktos tão logo ele se deitou. E sentir o braço de meu irmão me abraçando permitiu que meu coração se acalmasse um pouco. Em minutos ouvi Arktos ressonar baixinho. Meus olhos estavam quase se fechando quando vislumbrei a coruja amarela. Desvencilhei-me de meu irmão, acordando-o.


— O que foi?


— Nada, só... Ahm...


Por um momento, senti-me constrangida por Arktos descobrir que eu me correspondia com uma pessoa que eu nem sequer conhecia.


— É a tal carta anônima? — ele perguntou, sentando-se.


— É.


Fui para a janela, abrindo-a e permitindo que a coruja voasse até minha cama. Dessa vez ela estava realmente cansada, pois, além da carta, carregava um pacote. Franzi as sobrancelhas enquanto lia a carta. Arktos levou a coruja para a mesinha ao lado do abajur.


 


Pensei em você no momento em que vi a bailarina dançando. Sabe por quê? Porque ela demonstrava uma tranquilidade que eu raramente te vi sentir, mas que a deixa linda.


Você sabia que a irritação enfeia as pessoas? Pois é... Mas, por incrível que pareça, não acontece com você. Na verdade, pensando agora, não sei por que a associei à bailarina. Talvez seja apenas pela suavidade dos movimentos. Afinal, mesmo quando você está irritada ou reticente, acaba tornando seus movimentos suaves. E digo isso por experiência própria.


Espero muito que goste.


Feliz aniversário, Ari.


Te vejo por aí.


 


— Te vejo por aí?


— Arktos! — assustei-me. Meu irmão estava lendo a carta ao mesmo tempo em que eu. — É feio bisbilhotar, sabia?


— Tem certeza que você quer dar esse sermão para mim?


Rolei os olhos. Notei que ele segurava meu presente.


— Me dê. — Eu praticamente tomei o presente das mãos dele.


Quando vi do que se tratava, não consegui conter um sorriso. Ele me enviara uma caixinha de música com uma melodia calmante; a bailarina fazia movimentos suaves que eu sabia não possuir, mas, mesmo assim, adorei a associação que ele fez.


— Lindo, não é?


— De muito bom gosto, devo admitir. Quem é esse cara, Dina?


— Não sei. Ele diz que me conhece de Hogwarts, mas não se identificou.


— Sei... Deve ser um tarado.


Eu ri. A coruja, que ainda estava onde Arktos a tinha deixado, piou, parecendo indignada.


Coloquei a caixinha de música aberta ao lado da cama. Eu poderia ficar ouvindo aquela música a noite toda. Deitei-me e agarrei o braço de meu irmão novamente.


— A propósito, Dina. Feliz aniversário.


Sorri, finalmente sentindo meu coração se acalmar. Consegui dormir a noite toda, sem nenhum pesadelo me atormentando.


Quando acordei no dia seguinte, Arktos não estava mais comigo e a caixinha de música estava fechada. Abri-a novamente e me deitei, olhando para o teto e ouvindo a música. Minha mente praticamente rodou por toda Hogwarts, pensando em quem poderia ter me enviado aquilo. Será que era Paul? Bom, ele me conhecia bem e, com certeza, já tinha me visto irritada, calma e reticente, como dizia a carta.


Peguei todas as cartas que havia recebido e que estavam dentro da gaveta da mesinha do abajur e as li novamente. Suspirei. Aquela não era a letra de Paul. Além disso, Paul não fazia o tipo rebelde e que fugia de casa. Esse tipo de reação era mais a cara do Potter e do Black. Eu então ri ao associar a carta aos dois. Era só o que me faltava: ter um daqueles dois imbecis me mandando cartas anônimas.


Estudei a carta que meu amigo anônimo contava sobre ter ido embora de casa. Por um momento, pensei novamente que era Black o autor daquelas cartas. Eu tinha fundamentos para isso, embora não gostasse. Ele havia me perseguido na escola, me beijado à força, se aproximado de mim de uma maneira um tanto maluca. Por que ele não seria maluco o bastante para mandar essas cartas anônimas?


Levantei-me, exasperada, e joguei a carta em cima da cama como se me queimasse as mãos. Não, Black não seria tão despretensioso assim. Obviamente ele assinaria a carta. E não gastaria tanto dinheiro com uma caixinha de músicas. Afinal de contas, Lily concordando ou não comigo, as ações de Black em relação a mim eram apenas para irritar Severus. Nada mais.


Mandando esse pensamento para um canto da minha mente, o qual ficaria bem escondido e esquecido, tratei de me arrumar. Logo, eu e Arktos saímos para o Beco Diagonal.


O lugar estava cheio. Aproveitando que estávamos ali, Arktos comprou o que eu precisaria para meu último ano em Hogwarts, como livros e ingredientes para poções. No entanto, quando entramos na Floreios e Borrões, minha alegria por estar passando aquele dia com meu irmão diminuiu um pouco. Ao menos o motivo do meu desagrado já estava de saída, contudo, o Prof. Donne ainda acenou para Arktos e eu. Apenas respondi com uma feição nada bonita ou educada.


— Imbecil — resmunguei.


— Você o conhece?


Olhei para Arktos, franzindo o cenho.


— Lógico. É meu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.


Arktos olhou para a porta da loja, como se quisesse ver meu professor ainda ali, porém ele já havia ido embora. Meu irmão parecia um pouco preocupado.


— Posso saber por que você está assim? É apenas um professor...


— Philip Donne nunca será apenas um professor.


— Como assim?


— Depois conversamos. Seus livros, primeiro, Dina.


Eu ia retorquir, mas Arktos apontou a atendente da loja que nos olhava como se censurando nossa demora em pedir. Saímos da loja em quinze minutos. Eu não me aguentava de ansiedade. Assim que nos sentamos na Florean Fortescue, já questionava meu irmão:


— De onde você conhece o Prof. Donne, Ark?


— Do Ministério.


— E o que ele fazia lá? — perguntei, minha descrença latente na voz.


— Era auror. Na verdade, foi meu chefe nos primeiros seis meses que comecei a trabalhar por lá.


— E por que ele saiu? Está velho demais?


— Muito pelo contrário. Donne parece ter mais de sessenta, mas não chegou nem nos cinquenta, ainda. — Arktos suspirou, olhando para os lados. Então continuou: — Ele queria crescer no Ministério, porém tentava fazer isso de uma maneira um tanto torta, por assim dizer. Os bruxos que ele capturava e que tinha grandes indícios de estarem ligados à Magia Negra custavam prestar depoimento quando passavam por ele. Isso, quando Donne os deixavam vivos.


Fiquei horrorizada ao ouvir aquilo. E mais horrorizada ainda por Dumbledore permitir um professor daquele nível na escola. Arktos pensou o mesmo que eu.


— Será que Dumbledore não sabe sobre Donne? — ele perguntou.


Apenas dei de ombros. Então, lembrei-me da carta que Arktos havia enviado à escola, dois anos atrás.


— E posso saber por que você enviou então aquela carta ao Donne?


— Que carta?


— Em resposta pelo que ele tinha te enviado.


— A única carta que me enviaram de Hogwarts veio de seu professor, Horace Slughorn.


— Não. Foi o Donne quem escreveu.


— A assinatura era Slughorn. Tenho certeza. Ele é o diretor da Slytherin, não é?


— Isso mesmo. Mas foi o Donne quem escreveu. E sua resposta foi muito utilizada por ele, devo ressaltar.


— O que ele fez a você? — A feição de Arktos mudou de desentendida para irritada rapidamente. E eu percebi que falei demais.


— Nada que eu não conseguisse lidar.


— Dina, o que...?


— Ari!


Respirei aliviada por Lily e Louise terem chegado finalmente. Eu não gostaria que Arktos fosse até Dumbledore tomar satisfações por algo que eu já havia esquecido. Ter meu irmão e um professor trocando farpas não seria nada interessante, além de ser um prato cheio para o Prof. Donne.


Eu havia sentido muita saudade de minhas amigas, então, logo o assunto sobre aquele professor também havia sido esquecido.


Conversamos sobre nenhum assunto específico. Sobre a irmã estranha de Lily que se casaria no próximo verão, a viagem de Louise para a Irlanda na casa de uma tia e até mesmo os livros que usaríamos em Hogwarts. Arktos ficava calado na maioria do tempo, mas sempre tinha um comentário sobre algo. A parte que eu achei mais engraçada foi quando Lily falou com ele, parecendo um pouco desesperada:


— Eu não aguento mais aquele noivo da minha irmã, sabe? Se eu transformá-lo em alguma coisa, vou para Azkaban?


Arktos riu.


— Não acho que você chegue a ir para lá, Lily. Porém, você responderia um processo que te deixaria com uma enorme dor de cabeça. Enfeitiçar um trouxa não é bem visto, sabe?


— Mesmo se for um trouxa bem trouxa? — Louise perguntou.


— Mesmo assim.


— Que pena, Lily. Você vai ter que conviver com um porco mal feito — falei, parecendo muito chateada.


— O pior é que eu não posso nem culpar a natureza. Vernon ficou no meio do caminho, e não sei se é para ficar entre nós ou entre os de sua espécie. Acho que ele está mais para o Patinho Feio.


— Pato? Mas ele não se parece com um porco? — Louise perguntou.


— Um conto trouxa. — Lily então nos explicou.


Neste momento, Arktos se levantou, dizendo que iria pagar os sorvetes. Foi a deixa para o assunto mudar rapidamente.


— E então? — Louise perguntou afoita, curvando-se um pouco na mesa. — E as cartas?


— Já tem remetente certo?


Sorri. Olhei para trás, percebendo que Arktos, na verdade, também estava nos dando um tempo sozinhas.


— Ainda não. E ele me mandou um presente ontem à noite. Uma caixinha de música linda, com uma bailarina dançando. Ele disse que quando viu a bailarina dançando, lembrou-se de mim.


— Mas desde quando você dança? — Lily perguntou sarcasticamente.


— Eu não danço mesmo. Porém, segundo ele, tenho movimentos suaves — retorqui cheia de mim.


Minhas amigas riram, porém, como se gostassem do que eu havia contado.


— Você não conseguiu pensar em ninguém? — Lily recomeçou.


— Eu pensei em Paul, mas a letra não é dele — dei de ombros.


— Que coisa... Nenhum fato importante, nada que possamos pensar? — foi a vez de Louise.


— Nada. — Franzi o cenho. — Ele disse que saiu de casa nesse verão. Não aguentava os vizinhos, acho. Eram má companhia. Agora está morando em Gales, e até janta na casa dos novos vizinhos.


— Saiu de casa? — Lily retorquiu. — Como assim? Ele fugiu?


— Parece que sim.


— Você desconfia de alguém, Lily? — Louise perguntou ao notar o olhar pensativo de minha amiga.


— Não sei... Seria uma coincidência muito estranha, mas não sem fundamentos. — O olhar de Lily então focalizou algo atrás de mim e a vi corar um pouco, porém também sorria. — Pelo visto, o alvo de meus pensamentos está aqui também. Mais uma coincidência?


Quando olhei para trás, vi Black e Potter se aproximando.


— Obviamente não, Lily — retorqui. Minha amiga sorriu, mas ainda tinha as bochechas coradas.


— Vamos, garotas? — Arktos havia chegado.


— Com certeza — falei. Não estava gostando da rápida aproximação daqueles dois.


— Eu prefiro contar até cinco — Louise falou, mordaz.


— Boa tarde, pessoal. Oi, Lily.


— Oh, só alcancei o três.


Tive vontade de bater em Louise e tirar aquele sorriso do rosto dela.


— Olá, Potter.


— Que coincidência ver vocês aqui — Black falou.


— Será que é mesmo? — Louise retorquiu.


— E por que não seria? — Potter perguntou. — Por acaso alguém disse para um de nós dois que viria para cá?


Lily e Louise olharam para mim. Eu fiz minha melhor cara como se dissesse que elas haviam enlouquecido.


— Se é coincidência ou não, já estamos de saída — falei.


— Tudo bem, não precisam ficar só por nossa causa. — Olhei para Black, estranhando toda aquela educação. — É que, como vimos vocês aqui, decidimos vir para lhe parabenizar, Ariadne.


Mordi o interior de minha boca. Minha vontade era mandar Black às favas, juntamente daquele sorrisinho sarcástico que ele tentava disfarçar.


— Obrigada. — Se Arktos estava percebendo esse jogo de palavras e atos, não demonstrou. Porém, achei melhor entrar no joguinho de Black para ver se saía de lá mais rápido.


— Você é James Potter? Filho de Richard?


— Sim.


— Sou Arktos, irmão de Ariadne. Trabalho com seu pai no Ministério.


Potter pareceu demonstrar que reconhecia o nome. Ele sorriu, simpático. Isso, claro, se ele conseguia realmente agir dessa maneira.


— Ele já me falou de você.


— Vamos, Ark? — perguntei, cortando aquela conversa desnecessária. Eu me sentia em uma cena medíocre de um filme ruim. — Nos vemos em Hogwarts, garotos.


— Claro. Feliz aniversário, Lakerdos.


Sorri para Potter em agradecimento, tão irônica quanto seu desejo de felicidades. Olhei para Black e não gostei muito do que vi. Ele parecia prestes a fazer algo realmente constrangedor. Algo como um abraço. Disfarçadamente, dei um passo para trás e estiquei o braço, dando-lhe apenas minha mão. Ele sorriu.


— Só isso, depois de tudo?


— Não force a barra, Black.


— Justo. Feliz aniversário, Ariadne.


— Obrigada.


O sarcasmo então saiu de seu rosto, parecendo deixá-lo mais bonito. Senti que estava corando. Retirei minha mão da de Black e cruzei os braços.


— Te vejo por aí — Black falou. Finalmente ele e Potter se afastaram, deixando-nos.


Despedi-me de minhas amigas minutos depois para que Arktos e eu fôssemos embora. Meu irmão pareceu esperar apenas o momento de estarmos sozinhos para falar.


— Então? É aquele garoto quem lhe escreve?


— Quem?


— O amigo do filho do Richard.


— E por que Sirius Black me escreveria?


— Me responda você, Dina.


Olhei para Arktos de sobrancelhas erguidas, não acreditando naquela conversa. Ele apenas olhava para frente. Eram nesses momentos, quando Arktos gostava de agir como irmão mais velho e preocupado, que eu amaldiçoava sua mania em dirigir. No começo era por eu não poder aparatar; agora, era mais uma mania dele.


— Black é um idiota. Tanto quanto o Potter é — falei.


— Mas mesmo assim ele te escreve?


— Black não me manda carta alguma! — irritei-me. — Posso saber por que você está me perguntando isso? O que te faz pensar que é o Black meu correspondente anônimo?


— Não sei. Instinto, talvez. — Rolei os olhos, aborrecida. Arktos continuou: — O filho de Richard não pode ser, uma vez que ele gosta da Lily.


— Ah, tá... Se algum dia James Potter gostar de alguém que não seja ele, com certeza será um dia a se comemorar.


— Por que você não gosta deles?


— Porque eles são imbecis. Potter é um prepotente que se acha por ser bom em quadribol, além de sempre se exibir. Já o Black só não é mais arrogante por falta de espaço.


Arktos riu.


— Posso saber de onde você tirou tanta lorota, Ark? — perguntei depois de um tempo em silêncio.


— Como eu disse, acho que é instinto. Anos observando as pessoas. Quando se é auror, temos instantes para estudar o adversário para que possamos agir com certeza e justiça, saber se é um inimigo ou não.


— Com certeza Potter e Black são inimigos. Sabe os garotos que vivem incomodando Severus? Bem, são esses dois.


Como Arktos não me respondeu, decidi pensar que ele havia entendido o quão imbecil seria Black ser meu correspondente anônimo e Potter gostar de Lily. Para mim, o assunto estava terminado.


No entanto, eu ainda teria notícias de Potter ao meio da noite.


O que me acordou foi o som de passos e vozes alteradas. Havia alguém em casa. Apanhei minha varinha ao lado da cama e saí do quarto. Arktos estava parado, parecendo prestes a bater na porta.


— Ark, o que está havendo? — perguntei, passando por ele e saindo para o corredor.


— Eu preciso sair. Estava indo te avisar agora.


— O que aconteceu? É...é outro ataque? De Voldemort?


— Parece que sim.


Eu não estava gostando nada da expressão do rosto de Arktos.


— Quem foi? Nós conhecemos?


— Ainda não tenho certeza, mas...


— Arktos, temos de ir.


Olhei para trás querendo mandar calar a boca quem quer que tivesse nos interrompido. Reconheci Willy Rogers, o chefe de meu irmão. No entanto, Arktos falou primeiro.


— Já estou indo, senhor. Dina, depois conversamos.


Ele seguiu para a porta. Eu praticamente o segui. Antes que meu irmão saísse, segurei-lhe o braço.


— Tome cuidado.


Arktos me olhou para em seguida abaixar-se e beijar minha testa. Depois, desaparatou dos jardins. Eu fiquei no sofá, esperando. Por fim acabei cochilando, e literalmente pulei do sofá quando ouvi a porta se fechando. Meu irmão havia voltado.


A expressão de Arktos me paralisou. Meus olhos foram para suas mãos um pouco sujas e ensanguentadas e depois para seu rosto mais uma vez. Não consegui dizer nada até que ele se sentasse ao meu lado.


— Ark...


— Eu ainda me lembro — meu irmão falou com a voz embargada, não me permitindo prosseguir — quando comecei a trabalhar no Ministério da Magia. Richard sempre me ajudou com suas dicas, sua experiência... E agora aqueles desgraçados fazem isso. De uma maneira tão covarde! — Arktos se levantou, agitado. — Disseram que foram cinco. Cinco Comensais, Dina! E eles o pegaram desprevenido, dormindo!


Arktos jogou-se novamente no sofá, sentando-se. Aproveitei seu silêncio para satisfazer a mórbida curiosidade que se formava dentro de mim.


— Ark, quando você diz Richard, você quer dizer Richard Potter?


Embora estivesse segurando a cabeça com as mãos, consegui ver a confirmação de Arktos. Minha espinha gelou.


— A esposa e...e o filho dele? Aconteceu algo?


— Não. Não sei qual foi o motivo, mas os comensais trancaram os garotos no quarto e invadiram apenas o quarto do casal. — Arktos encostou-se no sofá; havia desprezo em seu rosto. — Talvez para eles tenha sido engraçado ouvir os meninos esmurrarem a porta, trancados, enquanto eles torturavam Richard e Helen, para em seguida... — Ele suspirou. — Helen está no Saint Mungus, mas ficará bem.


— E você?


— O que tem eu?


— Ficará bem?


Arktos sorriu para mim, no entanto com algum esforço. Em seguida, respirou fundo, o sorriso sumindo do rosto.


— Vou ficar, Dina. Só preciso de um banho. Vá dormir.


— Já estou indo.


Permaneci no sofá, e só depois de alguns segundos minha mente processou devidamente o que meu irmão havia dito. Ele estava no último andar da escada quando eu o chamei.


— Arktos? — Ele parou e me olhou. — Quando você diz meninos, o que quer dizer? Os Potter não tinham apenas um filho? O James?


— Sim, é apenas um. Mas parece que um amigo do James estava na casa, morando lá há algumas semanas. O mesmo que apareceu hoje à tarde, no Beco Diagonal. Sirius Black.


Meneei a cabeça e voltei a deitar no sofá. Embora não me simpatizasse com James Potter e Sirius Black, não conseguia impedir que meu coração se ressentisse por tudo que havia acontecido. Eu não gostaria de imaginar caso a situação acontecesse comigo: se comensais me prendessem em meu quarto e matassem meu irmão.


Querendo que esse pensamento me deixasse, subi para meu quarto rapidamente. Quando entrei, a coruja de meu amigo estava esperando, impaciente. Sorri, embora ainda não conseguisse sentir o prazer de sempre ao ler a carta.


 


Hoje eu a vi no Beco Diagonal. O “Feliz aniversário” que eu pensei em lhe dar, infelizmente terá que ser para outro aniversário. No entanto, fico feliz em pensar que a verei em poucas semanas.


Quem sabe até lá me seja permitido demonstrar em público o que realmente anseio?


OK, vou parar com os clichês. Está tarde, e meus vizinhos parecem querer que eu vá dormir.


Te vejo por aí.


 


— Por que ele não se aproximou? — perguntei, recebendo apenas um pio da coruja amarela como resposta. Vê-la me deu uma ideia. — Espere, pois hoje terá resposta.


Sentei-me na mesa perto da janela e escrevi.


 


Olá!


É realmente uma pena você não ter conseguido se aproximar de mim. Espero realmente que você se identifique em Hogwarts. Gostaria muito de descobrir quem é meu “amigo anônimo”.


Você disse que ficaria para mim a decisão de falar sobre assuntos sombrios e, bem, eu gostaria muito de dividir com você um sentimento.


Hoje meu irmão foi chamado para atender um local onde bruxos, chamados Comensais da Morte, atacaram. Seria um ataque típico (isso se pudermos chamar de típico algo tão repugnante!), se não tivesse acontecido na casa de um auror. Esse auror era um grande amigo de meu irmão, e Arktos o adorava. Nunca vi tanta impotência e raiva nos olhos dele.


O ataque foi tão cruel que eu não sei como o filho do auror está. Eu o conheço, e com certeza você também, pois ele estuda em Hogwarts. O nome dele é James Potter. Eu não sou a maior fã do Potter, mas essa notícia me deixou muito abalada. Não simpatizar com ele é uma coisa, só que saber da morte do pai dele é algo que me faz sentir pena. Se eu soubesse o que aconteceria com ele essa noite, não teria sido tão grosseira quando o vi no Beco Diagonal.


Ah, na casa dos Potter também estava Sirius Black. Parece que ele estava morando lá, pois fugiu de casa. Pelo visto vocês têm a mesma mente rebelde.


Mas vou ficando por aqui. Quero ver se meu irmão está dormindo, se está bem.


Nos falamos.


A.L.


 


Dobrei a carta e em seguida a enrolei para amarrar na pata da coruja, que voou assim que terminei de atar-lhe a carta. Em seguida fui até o quarto de Arktos. Abri a porta devagar e vi que ele estava sentado em uma poltrona, perdido em pensamentos. Decidida a não incomodá-lo, voltei para o meu quarto e tentei dormir. Somente quando o sol estava nascendo que, finalmente, conseguir adormecer.


 


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N/B: Ah, vai ser obtusa assim lá em Hogwarts, mesmo! Como ela ainda não percebeu quem é o carinha das cartas??? E aliás, precisava matar o pai do James assim, dona Lívia???? Por Merlin!!!! Bom, espero o próximo. Bjks


 


N/A: Olá! Espero que, quem quer que tenha me lido, tenha gostado... Vocês favoritam, mas não deixam comentário! *ficwriter frustrada*. Mas, enfim...


Respondendo à minha beta e a quem interessar possa...rsrs:


- Sim, foi necessário matar o pai do James. As personagens precisam amadurecer, e esse choque foi necessário.


- Quanto a Ari não saber que é o Sirius, seu “amigo anônimo”... Já ouviram falar no ditado: O pior cego é o que não quer ver. Mas logo ela abrirá os olhos, e vem novidades por aí. =D


E falando em novidades, todos já se cadastraram no site Pottermore? Não sei vocês, mas mais essa espera sobre Harry Potter só me deixa ansiosa! Algo mais sobre o Harry para nos deixarmos roendo unhas..rsrs... Como se a espera do filme não fosse o bastante..hehe.


Enfim...


Beijos a todos!


E até o próximo capítulo.


Livinha.

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