Nostalgia
Nostalgia
Em tempos pueris, caminhava pelos mesmos trilhos com alegria, olhava para as mesmas estrelas com curiosidade, e encarava a mesma noite com a liberdade que há muito não sinto.
O que mudou?
Em tempos pueris, vivia na ingenuidade, num mundo de felicidade, regido por paz e harmonia, onde o riso era o único som que se ouvia. Não choros ou lamúrias, gritos ou descomposturas.
Em tempos pueris, fui amado. Protegido pelo braço de um pai, acalentado pelo carinho de uma mãe. As lágrimas eram enxugadas por abraços. As feridas, limpas por panos, eram saradas com beijos.
No entanto, não compreendia a bruma de dor que envolvia os olhos dos adultos. Não sabia o que era a raiva, o que era o ódio, ou sequer, o que era o medo. Tudo era uma alegria, e qualquer sentimento pardo tornava-se num pequeno mistério, que todos lutavam para que eu desconhecesse o seu significado.
Eu vivia, assim, feliz na minha ingenuidade até ao dia que fui roubado do meu pequeno reino de harmonia. E foram-me apresentados o medo, a raiva, o ódio e a agonia.
O amor extinguiu-se, e já não havia um braço protector de um pai, ou o acalento do amor de uma mãe. Esses foram-me também roubados.
As feridas permaneceram abertas e as lágrimas continuaram a escorrer, lágrimas invisíveis e soluços mudos, criados para que ninguém as pudesse conhecer.
A bruma, que tanta inquietação me causara, envolveu-se na minha mente, e eu pude percorrer todos os caminhos da dor e conhecer todos os cantos da agonia.
E todas as pontas soltas uniram-se num único ponto claro, mudando para sempre a minha concepção de felicidade.
Tudo o que quis – e quero – foi voltar ao meu antigo império onírico, e viver novamente na ingenuidade, pois esta significava a felicidade.
E numa nostalgia eterna, caminhei por caminhos já anteriormente percorridos, procurando encontrar a passagem para o meu reino querido.
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