.:: Reason To Life For ::.
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“Para aqueles que procuram uma razão para viver por. Nunca deixem de procurar, pelo menos não até encontrar”
por kaate black
Ele se sentou naquela pedra e abaixou os olhos para o lago que pairava a sua frente. Era o último dia de aula do seu sétimo ano. Não havia mais guerra, não havia mais bem e mal, não havia mais Voldemort, nem comensais da morte, e até a Ordem da Fênix acabou por se desfazer. Seu pai estava morto, sua mãe enlouqueceu ao ver o corpo mutilado do homem que amava e acabou sendo internada no St. Mungus.
Tinha a coragem e a calma de um Rei
Os mais ferozes males enfrentou
Seus inimigos não puderam ver
Segredos da sua força contra a dor
Era inevitável ver os olhares que todos lhe lançavam em Hogwarts. O grande Draco Malfoy era apenas um órfão agora. Olhavam-no com pena e admiração. Qualquer um em seu lugar teria sucumbido ás lágrimas e até ao suicídio. Mas ele era orgulhoso demais para isso. Ele sofreu demais para isso.
Abriu alguns botões da camisa branca e viu algumas de suas cicatrizes no peito. A maioria de torturas que ele era submetido em sua própria casa. Cada uma causada pelo pai. Sorriu sarcástico ao pensar no que Hogwarts diria se soubesse que ele ainda apanhava do pai. Não só apanhava como era torturado. Seus mimos se limitavam á coisas materiais que o pai lhe dava como suborno para que ele não contasse á sua mãe.
Seus olhos liam além do amanhecer
Suas palavras transformavam leis
Todos queriam ser como ele foi
Ninguém sabia que era infeliz
Ele voltou ao semblante vazio enquanto observava o pôr-do-sol se lembrando de quando achou os arquivos com os registros dos planos e aliados de Voldemort no escritório de seu pai. Nem ele acreditava que decidiu o destino da guerra entregando aquilo á Dumbledore pedindo proteção á sua mãe.
- Grande merda ganhar uma Ordem de Merlin - Primeira Classe. Mais um lixo para guardar na mansão. – resmungou ele contrariado.
Apesar de ter sido interesseiro por somente entregar os documentos com a promessa de proteção da mãe, diziam que ele havia sido tão herói quanto o Potter. Alguns tinham até inveja do prêmio que ele havia ganhado. E não era de hoje que desejavam ser Draco Malfoy.
- Se eles soubessem como minha vida é uma merda, não iriam querer ser eu.
Sentia-se miserável no mínimo. Não tinha pai, não tinha mãe (e pelo estado crítico de Narcissa, não teria tão cedo), só tinha a maldita empresa do pai, diversas ações, bens e propriedades e sua herança. Claro, agora tinha sua tão sonhada liberdade, mas porque se sentia tão vazio?
Queria saber (queria saber)
Que faltava então?
Tinha tudo que uma pessoa poderia imaginar querer, mas se sentia vazio, como se tivesse um buraco em si que nada poderia ocupar. Abaixou os olhos para o reflexo do pôr-do-sol e melancolicamente pensou em como aquilo era bonito. Seria bom compartilhar com alguém. Mas alguém quem?
Não queria viver (não queria viver)
Essa dor no coração
Não tinha amigos, já que a maioria não voltou a Hogwarts por causa dos antigos pais comensais da morte. E os companheiros de guerra que teve nos 7 meses de guerra contra Voldemort voltaram a ser como eram antes. Desprezando-o por ser sangue-puro, slytherin, Malfoy...
Voltou a olhar a paisagem e sentiu os olhos marejarem. Todos haviam encontrado seus amores perdidos pela guerra. Potter ficou com a Weasley, o Weasley com a Granger, Longbotton com Lovegood. Menos ele. Ele não encontrou seu amor perdido pois não tinha um. Nunca amou alguém além de sua mãe. Nunca foi permitido que ele amasse. Porque Malfoy’s não tem coração e não amam.
Pois até um rei
Despeja lágrimas por não ter o seu grande amor
Com esse pensamento, ele não conseguiu conter as lágrimas e as deixou percorrer suas bochechas e caíssem na calça de linho negra que usava. Abraçou os joelhos continuando a chorar.
- Porque só eu não posso ser feliz? – murmurava entre as lágrimas. – Porque só eu mereço viver nesse vazio?
Queria saber se é bom ou ruim
Em ter uma flor tão linda assim
Com o azul do céu e o brilho do mar
E olhos de mel pra lhe iluminar
Acabou entregando-se ás lágrimas abraçado aos joelhos enquanto pensava como era amar. Amar incondicionalmente, com todo corpo e alma, entregando-se por completo. Ele percebia o brilho nos olhares dos seus colegas de escola. Era um brilho apaixonado, bobo, como se quisesse gritar o tempo inteiro que era daquela pessoa e que aquela pessoa era dela e só dela.
Tocou seus lábios e imaginou como era beijar alguém com um sentimento diferente de atração. Como seria um beijo apaixonado? Como seria o seu beijo apaixonado?
Se ajoelhou como servo pela primeira vez
Dizendo já sofrer demais
Secou as lágrimas na manga da camisa e desceu da pedra. Mas por algum motivo sentiu fraqueza e caiu de joelhos na grama, abaixando a cabeça e fazendo a franja cobrir-lhe o rosto. E entregou-se ás lágrimas de novo. Mas dessa vez o murmúrio era diferente.
- Eu não quero mais sofrer. Tudo que eu já passei não foi o suficiente?
Ele não se conformava em como ele poderia sofrer tanto. Se é que existia um Deus, sendo ele bruxo ou trouxa, porque ele não tinha a misericórdia de livrá-lo dos sofrimentos?
Saber sobre os céus e a floresta não lhe foi em vão
Sem eles, não teria a paz
Pra acreditar
Conseguir as informações sobre Voldemort, ganhar a Ordem de Merlin – Primeira Classe e virar um herói não lhe foi inútil. Ele sabia que havia ajudado, e muito, para salvar o mundo de Voldemort. Ele ajudara a instalar a paz e a esperança nas pessoas. Deviam isso á ele. Mas então porque ele não era recompensado com a mesma paz? Com a mesma esperança?
Por um momento sentiu inveja de seu padrinho. Lutou, deu tudo de si, virou espião, arriscou a vida e todo o sofrimento sozinho, assim como ele. Mas Severus Snape conseguiu a paz. Morreu realizado. Já ele continuou vivo. Para sofrer mais.
Queria saber se é bom ou ruim
Em ter uma flor tão linda assim
Com o azul do céu e o brilho do mar
E olhos de mel pra lhe iluminar
Após se recuperar, levantou, limpou o rosto na camisa e pôs-se a voltar para o castelo enquanto a lua tomava conta do céu. Lua cheia, constatou ele ao olhar para trás. Ela estava refletiva no lago. Outra paisagem linda de se compartilhar.
Virou de costas e quando passava perto de um carvalho, ouviu um choro baixo de criança. Se preocupou e foi se aproximando. Era uma menininha, tinha a pele branquíssima e cabelos negros. E seus olhos eram verdes bem claros. Sentou-se ao lado dela e a olhou.
- Você está bem?
- Não.
- O que houve?
- Eu sofro.
- Você ainda é muito pequena para saber de sofrimento, não acha?
- Não.
- O que aconteceu com você?
- Estou sozinha.
- Como assim?
- Minha família morreu. Voldemort matou eles. – o terror passou pelo rosto compreensivo de Draco e ele passou o braço pelas costas da garota que o abraçou.
- Sabe de uma coisa? Eu também sou sozinho. Minha mãe está muito doente e meu pai morreu. Toda a minha família era comensal da morte.
- Você é o Draco, né? Draco Malfoy?
- Sim. E você? Quem é?
- Amy Dellanova.
- Muito prazer. – disse ele sorrindo ao ver que ela não chorava mais.
- Igualmente. Você está se formando, né?
- Estou, tenho 18 anos. E você?
- Estou terminando o primeiro ano. Tenho 11 anos. Na verdade, tenho 12.
- Como assim?
- Hoje é meu aniversário. Ah, que legal. Então, parabéns.
- Obrigada.
- Você está morando aonde?
- Dumbledore me disse que eu vou para um orfanato bruxo. Mas eu não quero ir.
- Não tem ninguém para cuidar de você?
- Ninguém.
- Eu vou ver se posso te ajudar. Certo?
- Certo.
- Então agora vamos voltar e nos vemos amanhã. Tá? – disse ele levantando e pegando-a pela mão.
- Tá.
- Você é de que casa?
- Slytherin.
Ele sorriu com a resposta. Naquele momento sentiu afeição pela pequena Amy Dellanova. Agora reconhecia o sobrenome. Ela era irmã de Dimitri. Um amigo seu de infância. Mas a família Dellanova se recusou a se juntar aos comensais, deveria ter sido o motivo da morte de todos. Mas por algum milagre, Amy foi salva, “E agora por outro milagre, ela está me salvando” pensou ele. Algo lhe dizia que Amy o salvaria daquele sofrimento. Ele finalmente achou alguém para compartilhar paisagens e descobrir o amor.
Anos depois...
- AMY, ME AJUDA AQUI!
- JÁ ESTOU DESCENDO!
- RÁPIDO, ISSO PESA!
- Pronto, estressado. – disse ela segurando a ponta da caixa. – Coloca aonde?
- Na mesa.
A caixa foi colocada na mesa e ela abriu um sorriso para ele que sorria mais ainda pensando na reação da namorada com o presente.
- O que é isso?
- Um presente meu para você.
- Mesmo? Obrigada, Draco!
- Abre logo. Quero ver sua cara quando abrir.
Ela abriu a caixa e se deparou com um conjunto completo de pintura. Um cavalete, três telas grandes, duas médias, uma pequena e várias tintas e pincéis. Amy ficou boquiaberta e pulou em cima do namorado que ria abertamente.
- Obrigada, gatinho. Ai Merlin, é lindo!
- De nada. Sabia que ia gostar.
- Óbvio que ia!
- Mas tem outro. – ele tirou uma chave do bolso e entregou na mão dela.
- Draco, essa chave é de onde? – perguntou ela apreensiva.
- De uma BMW Z4 Roadster preta que está estacionada ali fora esperando a dona fazer um test drive.
- Você está brincando que me deu uma Z4, né?
- Claro que não. Vai lá ver!
Ela correu até a porta puxando Draco pelo pulso e ao pé da escada que dava para o jardim e a entrada de carros ela viu o carro que sempre sonhou em comprar. Amy sorriu e lágrimas começaram a escorrer pelos seus olhos. Virou-se para o namorado e o beijou.
- Obrigada, gatinho.
- Feliz aniversário, baixinha. – disse ele a abraçando.
- Você sempre foi tão bom para mim, Draco. Mesmo depois de todo esse tempo. Depois de 6 anos, você ainda é perfeito.
- Só fiz o que meu coração mandou, Amy.
- Eu te amo.
- Eu também te amo.
Ele a abraçou novamente e viu que o sol de punha atrás das árvores do jardim. Apontou para a paisagem e sorriu para Amy que olhava maravilhada. Passaram-se 6 anos desde quando se conheceram e naquele momento Draco passou a amar, assim como Amy. Porque ela também desejava alguém para compartilhar paisagens e descobrir o amor.
- Obrigada por me salvar, baixinha.
- Obrigada por me salvar também, gatinho.
- Eu finalmente encontrei uma razão para viver.
- Fico feliz de saber que você vive por mim, porque eu vivo por você também.
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