O recomeço
Dois dias depois da batalha de Hogwarts
...
Hermione abriu os olhos e levou um tempo para reconhecer o local em que estava.
Quando finalmente sua íris se acostumou com a claridade que inundava o ambiente, maneou a cabeça lentamente para a direita e pôde ver Gina dormindo tranquilamente na cama ao lado.
Sorriu para si mesma ao lembrar-se que tudo tinha finalmente acabado.
Embora as perdas tivessem sido inevitáveis, a guerra não existia mais. Tudo que tinham a fazer agora era juntar os pedaços e recomeçar.
Como se fosse fácil esquecer todas as coisas terríveis pelas quais haviam passado. Constatou amargurada.
Hermione lembrou-se de Fred e sentiu os olhos lacrimejarem.
“E se tivesse sido Rony?” Ela fechou os olhos lentamente e as lágrimas caíram silenciosas.
Mas não havia sido Rony. E ela agradecia intimamente por isso.
Suspirou pesadamente e sentiu vergonha de si mesma. Como poderia estar feliz enquanto tantas pessoas estavam sofrendo desesperadamente?!
Teve vontade de ir até o quarto de Rony e beijá-lo até não ter mais forças. Ainda tinha o gosto dele impregnado nos seus lábios e isso era deliberadamente maravilhoso.
De repente se deu conta de que uma pergunta martelava insistentemente em sua cabeça:
“Como seriam as coisas entre eles agora? O que diriam um ao outro?”
Teve tanto medo de perdê-lo. Teve medo de jamais sentir o gosto dele outra vez, medo de nunca poder dizer tudo o que sentia; de poder dizer o quanto ele era corajoso, leal, amigo, o quanto era especial.
Agora eles teriam tempo, mas ela ainda tinha muitos receios e dúvidas. E se Ron não gostasse dela? Se não quisesse ficar com ela? E se aquele beijo não tivesse significado nada?
Se mexeu inquieta na cama, o sono havia definitivamente a abandonado por completo. Levantou-se, tomou um banho rápido, vestiu a única roupa que tinha ali, uma calça jeans e uma blusa azul escuro de mangas longas, e desceu. Parou no último degrau e olhou atentamente para todos os detalhes daquele lugar.
A casa era humilde, realmente muito simples, mas era confortável e aconchegante. Como deveria ser uma casa habitada por Weasleys.
O cheiro de pão recém saído do forno invadiu suas narinas. Seu estômago se manifestou roncando alto. Ela estava mesmo com fome. Não se alimentava bem há meses.
Chegou à cozinha e encontrou a mesa posta. Além de pão novinho, havia manteiga, geleias, panquecas e, é claro, ovos com bacon.
- Bom dia querida, dormiu bem? Perguntou bondosamente a senhora.
- Sim, muito bem Sra. Weasley.
Percebeu que a mulher tinha os olhos vermelhos e o rosto inchado. Sentiu um aperto forte no peito. As coisas definitivamente não seriam fáceis, certamente levaria muito tempo até que todas as feridas deixadas pela guerra cicatrizassem.
- Onde está a Gina, Hermione, ainda dormindo?
- Ela estava acordando quando saí do banho, já deve estar descendo.
- Vamos lá querida, sirva-se, sirva-se. Molly sorriu e colocou mais suco de abobora na mesa, mas era um sorriso triste, carregado de dor.
Quando Hermione estava servindo suco ouviu barulho nas escadas, virou-se e viu Harry e Rony descendo com caras de sono.
Ainda era estranho pensar que tudo estava acabado, era estranho saber que não teriam que fugir a qualquer momento. Harry estava livre. Olhou para o amigo e percebeu que ele parecia abatido, triste. Na verdade, todos estavam abatidos e tristes.
O enterro de Lupim, Tonks e Fred havia sido no dia anterior. Fazia apenas dois dias que tudo havia acabado. As marcas e os horrores daquela loucura toda ainda estavam vivas demais, presentes demais.
Rony permanecera calado durante toda a cerimônia e assim que chegaram na Toca foi direto para o quarto sem falar com ninguém.
O ruivo também tinha os olhos vermelhos e inchados. O que Hermione achou estranho, afinal não o tinha visto chorar durante todo o enterro.
Rony não olhou para ninguém ao sentar-se na mesa. Serviu um pouco de suco, encheu o prato com ovos e comeu em silêncio.
Ninguém parecia realmente disposto a falar.
Jorge não quis descer para o café. Na verdade, passou o dia todo trancado no quarto, e todos respeitaram sua decisão. Sabiam o quanto estava sendo difícil para ele.
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O dia estava ensolarado e a temperatura muito agradável. Hermione sentou-se perto da entrada da Toca e ficou olhando o céu azul.
A paisagem ali era realmente bonita. De onde estava podia ver Harry e Gina sentados à sombra de uma árvore. Eles não sorriam e nem mesmo falavam, mas ela tinha impressão de que reconfortavam um ao outro com olhares e carinhos discretos.
Suspirou profundamente e voltou a olhar o céu incrivelmente azul. Uma brisa suave tocou seu rosto e ela fechou os olhos aproveitando toda aquela sensação de liberdade.
Abriu os olhos depressa quando ouviu barulho de passos. Rony estava vindo em sua direção de cabeça baixa e com as mãos no bolso.
Sentou-se ao lado dela sem dizer nada. Hermione o olhou e sentiu seu peito se aquecer.
Era algo realmente inexplicável, mas a simples presença de Rony parecia preencher qualquer vazio dentro dela.
Os dois se mantiveram em silêncio por um longo tempo...
- Hermione? - Rony tinha um tom de voz baixo e triste.
- Sim.
- Você... hum... quer dar um volta?
Rony agora olhava para ela. Hermione sentiu uma fisgada e um aperto forte no peito. Havia tanta dor nos olhos dele, teve vontade de abraçá-lo, de dizer que tudo estava bem agora.
- Quero sim.
O ruivo se levantou e, sem que Hermione esperasse, pegou na sua mão, entrelaçou os dedos nos seus e apertou gentilmente. Aquele toque foi mais que suficiente para que o corpo dela reagisse, sentiu um frio percorrer sua espinha e ao mesmo tempo uma onda de calor aquecer seu coração.
Seguiram andando em silêncio, e quando chegaram ao alto de uma colina, onde o gramado era baixo e havia algumas poucas árvores, Rony sugeriu que sentassem. As mãos permaneceram unidas e Hermione as olhava com adoração.
A temperatura ali era mais baixa, mas o sol que os banhava impedia que sentissem frio.
Normalmente o silêncio entre eles era assustador para Hermione, mas hoje era quase acolhedor, reconfortante. Eles finalmente pareciam ter ultrapassado aquela barreira.
- Hermione, como vai ser agora? Minha mãe... ela... meu pai, eles não vão suportar essa perda. E o que vai ser do Jorge?! - disparou Rony de repente, a voz embargada.
Hermione o encarou pesarosa, percebeu que nunca havia visto tanta dor e desespero nos olhos dele.
Ela engoliu em seco e sentiu a garganta doer. Não tinha respostas para Rony.
Nada do que ela dissesse iria realmente confortá-lo, e na falta de palavras achou que a única coisa sensata a fazer era abraçá-lo. Jogou os braços em volta do pescoço de Ron e o abraçou o mais forte que pode.
Apesar das mortes, das feridas, eles tinham um ao outro. Rony fechou os olhos e deixou que as lágrimas caíssem. Estava tão feliz de ter Hermione em seus braços. Ela estava viva, ele podia sentir o calor que emanava do corpo dela, o cheiro, a pele macia.
- Obrigado Hermione. - Ele disse ainda a abraçando forte.
- Pelo que Ron? - Perguntou baixinho, bem perto do ouvido do ruivo.
- Por existir!
Hermione sorriu e se aninhou no peito de Rony, que ficou alisando seus cabelos, enquanto permaneciam sentados em silêncio observando o horizonte.
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N/A.: Críticas esugestões são sempre bem-vindas!
Aguardo os comentários de vcs. Obrigada a todos que leram, e um super agradecimento a Viviane Barreda pela betagem.
Bjs!!!
Comentários (11)
eu adoreii!
2011-03-11