Azkaban



Cap. 1 – Azkaban



O lugar era escuro, uma escuridão que dava medo, sons estranhos invadiam o vazio, eriçando os pêlos da nuca de um jovem garoto. Seus cabelos loiros, que necessitavam de um corte, caíam nos olhos, e seu corpo magro precisava de alimento. Ele sentia frio, a névoa embaçava sua visão, impedia-o de ver mais adiante, para além daquela cela suja e indesejável.


O frio era intenso, e o som da respiração rouca e seca se um ser não ajudava. Ele sentia medo, temia aquela mão podre do dementador sobre a sua pele pálida, aquele toque de quando fora trazido à prisão. O rosto sem fase expulsara a esperança de dentro dele, agora o garoto sentia um vazio corroer seu corpo, sentia falta da felicidade.


Nem depois de terem se passado seis meses que estava ali, não se acostumara com aquela presença infeliz do dementador, sugando a mínima felicidade de todos os seus poros.


Ele era feliz e não sabia, nunca imaginara o quão precioso era a liberdade, tinha um nome, tinha riquezas, tinha dignidade. E agora não era nada além de um criminoso e um prisioneiro, cumprindo sua sentença. Uma cruel sentença.


A sensação de incômodo voltara, corroendo suas entranhas junto com o frio e levando o pouco que restara de sua antiga vida. Então ele vira, mais uma vez, aquela cena. Um velho de barbas e cabelos platinados, não pedindo clemência, mas dando a ele a redenção. O perdão prévio por uma missão malsucedida. O olhar de pena por aquele destino humilhante.


Encolhera-se mais a um canto da cela, lembrando-se dos seus dias em Hogwarts, o modo como sempre tratou Potter e seus amigos grifinórios. Sentiu inveja deles. Estavam livres, sendo bem tratados, tinham uma vida. Até mesmo os sangue-ruins estavam bem agora, e percebeu que seu sangue-puro de nada servia agora.


Quis chorar, mas registrou que não possuía mais lágrimas. Sentia pena de si mesmo. E de quem era a culpa? Lucius? Snape? Não... Era de Voldemort. Ele amaldiçoara sua vida e sua família por simplesmente terem falhado. Mas será que nunca havia uma segunda chance? Pessoas cometem erros e são perdoadas, outras oportunidades lhes são oferecidas e encontram a felicidade, mesmo que tardia. E ele? E sua família? Deveriam sempre ser punidos porque falharam uma vez? Por que fizeram uma escolha errada teriam que pagar pelo resto da vida nessa prisão suja?


Era tudo culpa do lorde das trevas. Jurou vingança, mas percebeu que de nada adiantaria. Voldemort já estava morto, destruído. De nada valia sua promessa de vingança.


Sentia raiva e levantou-se, chutou um prato velho e a comida malcheirosa caiu no chão do cubículo. Foi até as janelas gradeadas e viu a lua, era lua cheia. Nunca vira uma lua tão linda quanto naquela noite. Mas talvez ele que nunca apreciara aquela beleza. O sentimento de impotência, de fraqueza se abateu sobre ele, mais uma vez. Ainda sentia raiva. Muita raiva. “Por quê?” Perguntou a si mesmo e pensou no quanto popular e mimado costumava ser. Seria esse seu carma? Terminar seus dias nessa prisão horrível?


Encostou suas costas largas na parede, foi então que de relance viu dois aurores levando um corpo numa maca. “Mais um prisioneiro morrera”. O garoto pensou e viu o lençol púrpuro deslizar devagar e uma cabeleira clara apareceu. Um cabelo familiar. O choque o atravessou quando o lençol caiu mais um pouco e ele vira o rosto do preso. Raiva. Medo. Angústia. Ele já não saberia dizer o que sentia quando finalmente as lágrimas vieram aos seus olhos cinzentos.


Deslizou pela parede e deixou seu corpo cair no chão, encolhendo-se como uma criança. Como a criança medrosa que sempre fora. Talvez seu destino fosse morrer ali dentro, como ele. Quanto tempo teria ainda até sua sanidade se perder ou seu corpo não resistir àquele inferno?


Queria que seu dia chegasse logo. Antes que enlouquecesse.


:::  :::


Um auror de aparência abatida e cansada abrira a porta da cela, empurrou um jovem para dentro da cela e tornou a fechar o portal. Olhara com superioridade o prisioneiro e reparara em outro preso a um canto, quieto, com o olhar vidrado em um ponto fixo. Resmungou algo como “louco” e voltara a seguir seu caminho.


O jovem que caíra no chão levantara os olhos e percebeu outra pessoa na cela. Sua aparência era deprimente. Seus cabelos loiros estavam sujos, sua face era de alguém triste, em depressão.


Mas pouco se importou com ele. Não queria se preocupar com problemas de outros quando ele mesmo deveria pensar nos próprios problemas. Não queria passar muito tempo em Azkaban. Teria que pensar em um modo de fugir. Mas por enquanto teria que se acostumar com aquilo e dar uma de psicólogo para aquele preso depressivo. Até que pudesse começar a executar seus planos.


-Ei, amigo, por que está aqui? – perguntara encostando as costas na parede fria. – matou alguém? – perguntou sem se afetar.


-Não exatamente. – Draco respondera numa voz fraca.


-Ow, eu sei quem você é... – o estranho dissera prestando atenção nas feições do outro – você é Draco Malfoy. Comensal da morte.


-EU NÃO SOU UM COMENSAL! – Draco gritara como se pudesse tornar reais suas palavras.


-E eu sou Merlin... – o estranho respondera e fitara várias edições do Profeta Diário jogadas no chão.


Seus olhos castanhos passaram pelas manchetes. Ele estendeu a mão para um dos jornais e leu, as palavras eram indiferentes a ele, mas por causa delas, entendeu o que afligia Draco Malfoy.


-Sinto muito. – dissera por fim, levantando seus olhos para o loiro, embora não sentisse nada. – É horrível perder uma pessoa... Surge um aperto no coração, um buraco na alma. – falara, mesmo que nunca tivesse sentido nada do que mencionara. – E ainda por cima, você está aqui. Preso, penso que nem ao menos deixaram você ir ao enterro se despedir...


-Pare... Por favor – Draco suplicara – pare de falar. – tampara os ouvidos com as mãos, numa atitude infantil, mas já não se importava com o efeito que causava as pessoas.


-Me ouça, Malfoy – o estranho aproximara-se, tirando-lhe as mãos dos ouvidos e fazendo-o ouvir. – o mundo não acaba ainda. Você ainda tem uma chance. Então pare de agir como um fracassado!


-Mas é isso que eu sou!


“Mas de que ajuda você precisa, Narcisa? Se você imagina que eu posso persuadir o Lorde das Trevas a mudar de opinião, eu receio que não haja esperança. Nenhuma mesmo.”


-Não, Malfoy, você não é, apenas age como um!


“Severo”


-Não, eu sempre fui. Mesmo com um voto perpétuo me protegendo eu tinha medo. Mesmo que a glória eterna estivesse em meus olhos, eu não conseguia alcançá-la.


 “Meu filho... Meu único filho...”


-Sabe, você tem razão, você é fraco. Um fracassado, nunca serviria para cumprir uma missão, por mais fácil que fosse. – disse cruelmente com sua voz cortante, machucando-o.


“É por isso que ele escolheu o Draco, não é? Para punir o Lucius?”


-Tudo dependia de você, e o que faz? Você falha. – continuo a dizer, andando em volta do loiro como se o estivesse mantendo em uma armadilha.


“Se o Draco tiver sucesso, ele será honrado acima de todos os outros.” 


-Por causa de você seu papaizinho está morto, e sua mamãe vai pro mesmo caminho.


-Não...


 “Então eu estou certa, ele escolheu o Draco por vingança!”


-E você vai vê-los morrer, vai enlouquecer aqui dentro. E em alguns meses irá se juntar a eles. Como um prisioneiro nojento. Um ninguém, com o nome sujo. Um Malfoy traidor e fracassado.


“Ele não quer que ele consiga, ele quer que ele morra tentando!” 


-Não... eu não quero isso. – Draco resmungara com a voz falhando e caíra ajoelhado no chão frio.


 “Você deveria estar orgulhosa! Se eu tivesse filhos, eu estaria feliz em vê-los a serviço do Lorde das Trevas!”


Imagens desconexas de sua vida passavam em sua mente, parecia que fora em outra vida que ele frequentara Hogwarts. Lembrou-se de sua primeira vassoura, o brilho infantil em seus olhos, o desejo inocente... Nada mais disso restava.


“Pode ser possível… Que eu ajude Draco.”


-Você ainda pode ter sua vida de vota, Draco, sei que pode. – sua voz mudara, agora falava em um tom calmo.


 “Se você estiver lá para protegê-lo... Severo, você juraria? Você faria o voto perpétuo?”


-Tudo que lhe foi tirado ainda pode ser seu.


Draco escutava ao longe alguém falar, uma voz calorosa, palavras acolhedoras. Mas pouco se importava em prestar atenção agora que os detalhes da sua vida passavam por sua cabeça, lentas, dolorosas. Lembranças alegres e às vezes tristes. Mas ainda sim, eram memórias de uma vida.


 “Irá você, Severo, cuidar do meu filho Draco ao satisfazer os pedidos do Lorde das Trevas?” 


“Eu irei.”


Draco ainda ouvia a voz distante murmurar algo como poder, talvez ouvira também riqueza... Mas estava mais interessado em ser feliz. Em viver uma vida.


“E irá você, com o melhor de suas habilidades, protegê-lo do perigo?” 


“Eu irei.”


A voz de Dumbledore invadiu seus tímpanos, estava de volta à torre de Astronomia, segurava uma varinha, fitava o olhar penetrante do diretor, tão velho, tão vulnerável, mas até mesmo no fim de sua vida, glorioso. Oferecendo a redenção a ele. Sentira-se tentado a isso. A simplesmente deixar de ser o filho dos comensais. Não. De ser um comensal.


“E, devo prová-lo necessário... Se você sentir que Draco irá falhar... irá você carregar o fardo que o Lorde das Trevas ordenou a Draco cumprir?”


“Eu irei.” 


Lembrou-se do fogo queimando sua pele alva, da tatuagem negra sendo feita. Da marca que sabia que iria carregar pelo resto da vida, da vida deixando os olhos azuis de Alvo Dumbledore.


-Você pode ter tudo que quiser. – a voz do estranho era calma, persuasiva e Draco não sabia se podia acreditar nela.


:::  :::


Draco estava deitado em sua cama velha, sabia que era cedo, amanheceria logo, mas não estava preocupado com isso. As palavras do estranho ainda dançavam à sua frente, tentadoras. Durante seis meses desejara uma oportunidade para recomeçar e não seria essa sua chance? Levantou-se e olhou de relance um jornal velho jogado no chão.


 “Lucius Malfoy morre em Azkaban”


 Já fazia duas semanas que a notícia havia sido publicada. Duas semanas turbulentas que precederam a chegada desse prisioneiro no lado oposto da cela. Fitara o rosto do outro e percebera suas feições robustas, seus cabelos eram negros e curtos, e embora seus olhos estivessem fechados, Draco sabia que eram castanhos escuros. Lembrava-se de alguém quando o via, mas não fazia ideia de quem. Desviara seus olhos fitando a parede escura e alguns minutos depois o outro acordara.


-Vai me dizer seu nome? – o loiro perguntara.


-Andrew. – ele respondera automaticamente e dissera depois de um breve tempo – Andrew Williams.


-De onde você é? O que fez para estar aqui? – o loiro perguntou curioso.


-Morei em vários lugares... França, Inglaterra, Albânia, Bulgária... – respondeu indiferente – mas não me pergunte sobre minha vida... Quem são meus pais, quem me criou... E também não queira saber as coisas que já fiz, principalmente para estar aqui.


-E como eu posso confiar em você? – questionou debochado.


-Não precisa confiar em mim, só precisa me ajudar... sou sua única chance de sair daqui e você sabe disso.


-E como pretende me tirar dessa vida? – perguntou agressivo, numa raiva repentina.


-Primeiro vai ter que aceitar cumprir uma missão.


-Como é que é? – Draco exclamou irritado – não sei se percebeu, mas eu estou nessa maldita prisão por causa de uma missão!


-Essa é diferente... Você não precisa tatuar nada, nem matar um velho idiota. É tão simples Draco... E você não tem o que perder, pois já perdeu tudo, você só tem a ganhar.


-Sinceramente, não sei. – respondera com raiva da calma de Andrew, do quão paciente e persuasivo era.


-Uma simples missão, é tudo o que terá de fazer...


Draco deitou-se novamente em sua cama e olhou o teto da prisão, o frio ainda o incomodava, bem como aquele desconforto, como se nada pudesse dar certo, nem a felicidade pudesse penetrar seus poros novamente. Mas de algum modo a voz daquele estranho, aquele jovem, não muito mais velho do que ele, o anestesiava, fazia-o esquecer o mal estar e a vontade de findar com sua própria vida.


-E o que faz você acreditar que eu possa cumpri-la, eu já falhei em missões, por que eu? – perguntou amargurado.


-Porque você é o único que pode me ajudar, sei que quer uma nova vida, sei os seus desejos, seus temores, essa é sua chance.


Vozes longínquas ainda estavam em sua cabeça, murmurando palavras indeterminados, sibilando com firmeza e energia... Mas ele não queria ouvi-las. Eram lembranças de um passado já enterrado, distante e inacessível. Surpreendera-se ao lembrar-se de festas em sua mansão, do quanto seu pai o excluía diante de seus convidados e o menino sempre acabava indo parar perto de sua mãe. Talvez tudo o que lhe acontecera fora apenas uma provação. Draco sempre quisera a aceitação do pai, e se fosse igual a ele, poderia deixá-lo orgulhoso.


No entanto, tudo saíra diferente do que imaginara e estava fadado a passar seus dias em Azkaban. A não ser que aceitasse a missão do desconhecido.  


Andrew dera um passo em sua direção e sentara-se na cama também. Sua expressão era leve, cuidadosa e sua calma tão controlada irritava o loiro. Como ele podia estar tão tranqüilo sabendo que estava preso em Azkaban? No entanto sua voz saíra firme, imperiosa:


-Já ouviu o conto dos Três Irmãos?


-Quando eu era pequeno sim – respondeu confuso com a repentina mudança de assunto – mas o que tem a ver?


-O que cada irmão pediu à morte? – perguntou ainda sem fitá-lo nos olhos.


-Não lembro direito... – disse sincero, remoendo em suas memórias de infância a resposta – era uma varinha, uma pedra e uma capa, não é?


-A Varinha das Varinhas, a Pedra da Ressurreição e a Capa da invisibilidade. – Andrew disse e Draco pensou ter visto uma sombra negra perpassar seus olhos.


-Tá, e daí? – sua impaciência era óbvia e não estava muito preocupado em escondê-la. Na verdade, conversar com aquele rapaz que nunca vira na vida estava levando-o para longe da indiferença, e quanto mais falava, mais se surpreendia por ser capaz de demonstrar algum sentimento, mesmo que fosse impaciência e raiva. 


-Essas são as relíquias da Morte, juntas tornam seu possuidor o senhor da morte.


-Por que está me falando dessas relíquias? – Draco perguntara e de repente a consciência se fez presente. Ele sabia a resposta. Andrew queria as relíquias.


-Vamos voltar no tempo, Draco. Exatamente para 1996, seu sexto ano em Hogwarts. Vamos voltar para o tempo em que você não era um comensal.


-Mas se voltarmos, Voldemort ainda vai estar vivo. – contra-argumentou, mas estava tentado com aquela proposta.


-E aí entra as relíquias, vamos reuni-las e destruir as horcruxes de Voldemort novamente. Ele não será páreo às relíquias, estará fraco e instável pela perda da alma, o derrotaríamos até mesmo sem as relíquias.


Voltar no tempo... Mudar o fato que era um comensal. Destruir Voldemort. Reunir relíquias.


Qualquer um que propusesse isso a ele seria respondido com gargalhadas, Draco o chamaria de insano. Mas nesse caso se tratava de Andrew. Um estranho, que embora tivesse sua idade, tinha certeza de suas palavras, tinha firmeza em sua fala e expressão e somente pelo fato de oferecer-lhe uma segunda chance, merecia que Draco aceitasse aquela missão.


E no outro segundo ele viu o rosto bondoso de Dumbledore, sua voz calorosa, seu olhar penetrante. 


“Draco, você não é um assassino”


“Como você sabe?”


Sua voz soara infantil, medrosa. Mas afinal, ele sentira medo, pois sabia que não conseguiria matar o diretor, e talvez, não conseguisse findar com a vida de ninguém. Mesmo que estivesse ali, naquela prisão.


“Você não sabe do que sou capaz”


Seria ele capaz mesmo de algo? Sua chance estava a sua frente. O poder lhe fora oferecido. Um recomeço. era tudo o que ele queria. Draco seria fraco novamente? Com medo de tentar viver de novo naquela guerra entre bruxos?


-Você não perde nada, Malfoy, em alguns meses, ou talvez anos, você irá morrer. Pode até ser que olhará para trás pensando no que já foi, ou nas chances que perdeu.


Andrew tinha razão. Sua chance era aquela. Sua vida seria diferente. Seu pai estaria


Vivo. Sua mãe a salvo. Voldemort iria cair. Novamente.


-E então, Malfoy? Você aceita a missão?


:::  :::


N/a: Eis o primeiro capítulo, espero que tenham gostado... O que será que acontece agora?? Curiosos? Comentem e terão o próximo cap. em breve... ;D


Enquanto isso... convido todos a lerem minha outra fic, Por Culpa do Destino http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=31783


O estilo é um pouco diferente, já que é minha primeira fic, mas tenho certeza que irão gostar...


Resposta aos comentários


Isa Malfoy - Obrigada, vou tentar escrever essa fic o melhor que eu puder, serão muitas emoções no decorrer da história e espero que goste dela. Continue comentando... Bjos


Alexis Dellamare - Pode apostar na fic, tenho certeza que ela vai ter futuro... E sabe de uma coisa? Eu também amo Draco e Hermione...ushuhsuhs. Que bom que gostou do resumo, agora quero sua opinião sobre o cap. Bjos


Comentem&Votem


Gabi Ravenclaw


 


 

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