O Avô



                Era engraçado como a vida se transformava com o passar do tempo. Há alguns anos, a mera lembrança daquele vilarejo lhe trazia as piores recordações de seu passado. Agora, tantos anos depois, aquelas luzes no meio das montanhas lhe tiravam um largo sorriso. Não tinha sido tão ruim aparatar no canto errado afinal, o cheiro do campo sempre lhe fizera bem, e era delicioso ouvir o barulho que a grama sob os seus pés faziam ao passar do vento. Passou a mão nos cabelos completamente brancos e que, mesmo depois da velhice, teimavam em sem rebeldes. Mas o que isso importava? Seu maior ídolo também os tivera brancos no final da vida.


                Não estava realmente no final da vida, ele não se sentia com a idade que tinha. Claro que não dava para ter as mesmas aventuras de sua adolescência, mas a maturidade que conseguira ao longo desses anos, de certa forma compensava isso. Talvez seja o maior desejo de todas as pessoas que chegam a sua idade: a mesma maturidade no corpo de um adolescente. Formidável! Aparatou mais uma vez.


                Godric´s Hollow havia se tornado um lugar que trazia paz aos bruxos “o último vilarejo completamente bruxo” diziam. De certa forma era verdade, os únicos trouxas que moravam ali eram aqueles casados com bruxos. A Segunda Grande Guerra do mundo bruxo havia se esgotado havia muito tempo, e a vida na sociedade mágica se transformado radicalmente. Claro que ainda havia pessoas que cultivavam os antigos preconceitos, mas ele havia se empenhado pessoalmente em que a maioria dos bruxos pensasse de outra forma.


                  Olhando para aquelas casas ele se lembrava de como tinha sido dura as batalhas. Se ele soubesse que vencer Voldemort era apenas o primeiro passo de uma guerra muito maior e muito mais dura. Rezava para que nunca mais alguém tivesse a pretensão de se tornar um novo Voldemort, mas sabia que isso seria impossível. Peverell, Slytherin, Grindelwald, Voldemort. Todos eles tiveram essa pretensão em seu tempo, mas por Merlin, ele preferia morrer a ver outro desses surgir.


                Aquela casa cinza perto da praça central parecia ainda mais familiar e bonita depois desses dias fora. Podia lembrar nitidamente seus filhos brincando naquele jardim e jogando com os bruxos mais velhos na praça durante o dia. A praça estava vazia agora a noite, isso havia se tornado um hábito de uns tempos para cá, o vilarejo também envelhecera. Agora eram os netos que animavam aquele lugar, pena que demorava tanto para eles aparecerem, Hogwarts os requisitava tempo demais por ano.


                Uma coruja piou alto acima dele, e ele reconheceu imediatamente. Agripa lhe lembrava muito Edwiges, sua coruja dos tempos de escola. Fizera questão de dar uma coruja a cada neto que entra na faculdade, esperava que elas fossem para os netos o que a Edwiges significou para ele, muito mais que uma coruja, uma amiga. A coruja branca pousou em seu braço entregando a carta que vinha diretamente da Escola de Magia e Bruxaria, acariciou as penas do animal que voou até o telhado da casa. Ela não gostava muito de carinhos, tinha o mesmo gênio forte de seu dono.


                Guardou a carta no bolso, abriria mais tarde quando estivesse acolhido pela lareira de sua sala, o que mais interessava a ele agora era entrar em casa, o frio estava acabando com seus ossos. Apoiou-se no corrimão da pequena escada e a porta se abriu automaticamente ao ver que ele se aproximava. Com certeza mais um feitiço inventado por sua mulher. Gênio! Era isso que ela era!  Pendurou seu casaco preto da porta e deu uma olhada no velho relógio dos Weasley, não era o original, aquele continuava na Toca, mas Harry sempre o achou tão interessante que construiu um para os Potter.


                Já houvera muitos ponteiros naquele relógio, mas quando seus filhos saíram de casa ele achou melhor deixar apenas o dele e o de Gina ali, ele não queria “invadir a nova privacidade dos garotos” como dizia sua mulher. O ponteiro maior girara até o nome “casa”.  Ajeitou os óculos e foi até a sala, sua mulher estava sentada no sofá, os cabelos curtos e brancos escondiam seu rosto.


                - Boa noite querido – disse ela sem se virar.


                - Eu prefiro nem saber como você sabe que sou eu – ele respondeu.


                - Aquela porta só abre sozinha para você – ela fechou o livro marcando a página e se levantou para beijar o marido. Ele a acolheu em seus braços.


                - Você é mesmo impressionante, não cansa mesmo de inventar esses feitiços não é? – ele a beijou.


                - Velho não tem muito mais o que inventar não é? – ela riu e os dois sentaram no sofá. – Como foi a viajem?


                - Aqueles velhos problemas de sempre. O novo ministro não consegue entender que eu me aposentei. – ele tirou a carta do bolso – Ele ainda acha que eu quero ser ministro da magia de novo. Dumbledore enfrentou a mesma coisa com o Fudge.


                - Mas o Dumbledore nunca foi ministro.


                - Melhor ainda! Imagine, se Fudge já tinha problemas mesmo sem Dumbledore ter sonhado em ser ministro, Pride vai ter muito mais comigo que já fui durante vinte anos.


                - Isso mesmo, ele vai perceber que você enjoou disso.


                - Será mesmo que eu enjoei? – ele riu.


                - Nós já conversamos sobre isso. – a expressão dela foi de que se ele continuasse aquela conversa o tempo iria fichar naquela casa.


                - Nosso neto me mandou uma carta. – ele mostrou o envelope.


                - qual deles? – ela voltara a pegar o livro.


                - Victor.


                - O que ele diz?


                - Não sei, vou ler mais tarde, estou morto de fome. Onde está o Diddle?


                - Aqui meu senhor – um pequeno elfo doméstico apareceu detrás do sofá.


                - Já disse para você não me chamar assim! Você trabalha aqui, não é um escravo dessa casa.


                - Eu sei meu senhor, mas Diddle gosta de chamar assim.


                - Tudo bem. Tem algo que eu possa comer Diddle?


                - Claro, meu senhor, Diddle estava esperando seu retorno.


                Harry levantou e foi até a mesa do Jantar, havia algumas coisas que ele adorava comer, Diddle jamais esquecia a comida favorita de todos, e sempre que alguém estava naquela casa, podia esperar ser servido como mais apreciava. Ele examinou a carta do neto, fazia tempo que o menino não lhe escrevia, será que estava acontecendo alguma coisa e ele precisava de ajuda? Agora já tão perto do final do ano letivo? Não acreditava. Victor não era o tipo de menino que pedia ajuda. Herdara do avô o talento para descumprir as regras da escola, dele e dos dois tios Fred e Jorge. Como eram bons nisso!


                   Apesar de não ser apanhador, Victor era um excelente batedor. Mas, fora o fato de que o neto fazia parte da Grifinória, as semelhanças com os Potter e os Weasley acabavam por aí. Não fora fácil para todos eles serem filhos e netos de Harry Potter, sempre se esperava mais deles do que dos outros. O medo dessa cobrança fez o garoto se aproximar mais da família do pai, mas Harry sabia que o neto lhe amava, e não faltaram demonstrações disso e da parte do avô sempre fizera de tudo para que o neto percebesse que era tão amado por ele quanto seus primos.


                Terminou de comer e recolocou os óculos, abriu a carta ainda sentado na cadeira da mesa de jantar, por menos curiosidade que ele tivesse, aquela carta despertava seu interesse.


                  


                                Vovô,


As coisas por aqui vão bem, tenho conseguido acompanhar a matéria com tranqüilidade, apesar de estar com alguns problemas em feitiços, talvez a vovó possa me ajudar. Escreverei outra carta para ela. O Hagrid andou doente, as pessoas dizem aqui que ele está muito velho, mas eu não acredito, acho que os gigantes são meio diferentes...li isso em algum lugar. Mas não se preocupe ele está bem agora, eu o vi cuidando de alguns centauros na borda da floresta proibida.


O campeonato de Quadribol está quase acabando, a partida final vai ser contra a Lufa-Lufa, já enfrentamos mais difíceis. Estamos invictos, o Dino pegou pomos impossíveis esse ano, o diretor Longbottom disse que ele lembra muito o senhor jogando, você precisa vir ver qualquer dia. Por esses dias devem estar começando os N.O.Ms e como eu disse estou bem preparado, espero passar em tudo.


Mas vovô, eu estou mandando esta carta realmente por outro motivo, os pais do Oliver, meu amigo aqui em Hogwarts o senhor sabe quem é, se mudaram para Godric´s Hollow esse ano. Será que eu posso passar o final das férias de verão com o senhor? Mamãe disse que não se importa se eu passar uns dias com ela primeiro, meu pai disse a mesma coisa.


Com saudades,


Victor Harry Goshawk


Ele releu a carta para ter certeza que o neto não havia deixado outras conclusões que pudessem ser tiradas de sua carta. Foi até o escritório e sentou-se em sua confortável cadeira, uma das melhores aquisições, congratulou-se. O lugar era cheio de estantes e repleto de livros, haviam muitas fotos dos filhos, dos netos, de pessoas famosas, havia o seu preferido com Os Bruxos, a melhor banda de rock mágico do século. Autografada! Relíquia com certeza. Não se faz mais bandas assim nesses tempos modernos.


                Pegou um pedaço de pergaminho, molhou a pena e pensou bem no que escrever, com o Victor ele sempre tivera muito medo de errar com as palavras, poderia afastá-lo ainda mais. Não que ele tivesse sido um avô permissivo ou que mimasse os netos, mas quando precisava dar suas broncas ele sempre soubera como fazer do jeito certo, até com o Victor.


Querido neto,


Adorei receber uma carta com notícias suas, fico feliz que você esteja indo bem até em poções, eu odiava essa matéria! Tenho certeza que sua avó vai ficar muito feliz em poder ajudar você com Feitiços. Você sabe o quanto ela ama aquilo. Ainda estão usando os livros dela nas aulas? Espero que sim, são muito bons. Obrigado por me avisar sobre o Hagrid, mandarei uma carta para ele esses dias perguntando como ele está. Mas o que é que o senhor estava fazendo na floresta proibida? Cuidado filho.


Eu espero realmente que esse ano a Taça das Casas venha para a nossa mão, eu odiei saber que ano passado perdemos para a Corvinal por apenas um ponto. Vamos ganhar esse ano! O Neville me contou sobre o Dino, mas me fez enormes elogios a suas jogadas como batedor, seus tios Fred e Jorge iriam ficar encantados se soubessem que você e o Oliver aprimoraram algumas manobras que eles faziam, além de aprimorar outras coisas também que eu fiquei sabendo. O mapa está com você? Eu ri muito quando soube da última que vocês aprontaram no natal, mas isso fica entre nós dois.


Espero que você consiga passar nos seus N.O.Ms com tranqüilidade, vai ser muito bom para o seu futuro, se empenhe nisso, conselho de avô! São muito importantes para qualquer coisa que você queira fazer daqui para frente. Claro que você pode vir, eu e sua avó estamos esperando ansiosamente!


Com carinho,


Harry James Potter


 


                Dobrou a carta com cuidado e a Agripa estava prestativa na janela do escritório. Ele prendeu a carta e a coruja levantou vôo. Harry tirou os óculos e colocou sobre a mesa, não conseguia enxergar nada sem eles, mas isso não importava agora, sentou em sua cadeira e fechou os olhos. Ultimamente ele voltara a lembrar dos curtos momentos em que estivera com Dumbledore antes de derrotar Voldemort.


                Os sonhos iam e vinham, mas sempre estavam ali. No início ele não dera muita importância, mas agora ele começava a pensar no que o seu inconsciente estava querendo lhe dizer. Ele não sabia se devia se preocupar, mas só começaria a fazê-lo quando tivesse um motivo real para isso e não apenas sonhos.


 


 


 


 


 


 


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.