Feliz Natal



- Neville! – chamou Harry. – Por acaso viu Luna por aí?


- Não vi não, Harry. – respondeu o garoto, que estava vestido de garçom e carregando uma bandeja. – Aceita cerveja amanteigada?


- Ah, não obrigado, Neville. – recusou o garoto, deixando o amigo para trás.


Onde foi que ela se meteu?, pensou Harry passando por entre o aglomerado de pessoas dentro da sala enfeitada.


Estavam na Festa de Natal que o Professor Slughorn estava promovendo, tendo como convidados alguns poucos alunos (os seus preferidos apenas), os professores e seus pares. Todos estavam elegantemente vestidos, em uma sala do quarto andar que tinha sido preparada para a festa. Harry naquele momento procurava por seu par, Luna Lovegood, que simplesmente sumira havia um tempinho.


Mas que droga, desse jeito a Romilda Vane vem grudar em mim de novo..., praguejava interiormente Harry, certo de que Romilda Vane, a mais nova garota perdidamente apaixonada por ele, viria se atirar para cima dele de novo se não encontrasse logo Luna. Pelo menos se estivesse com um par, talvez ela tivesse um pouquinho mais de respeito.


Já atravessara toda a sala e nada de Luna. Recostou-se próximo da lareira quando, de repente, uma mão saiu de trás da cortina preta que cobria a janela mais próxima arrastando-o para lá.


- Mas que...? – começou Harry, quando uma grossa camada de poeira proveniente da cortina cobriu a superfície dos seus óculos. – Mione, que deu em você?


Hermione (como Harry, também uma das preferidas de Sloghorn) estava ali atrás, vestida em um lindo vestido preto que acompanhava as curvas do seu corpo. O cabelo estava preso em um coque frouxo atrás da cabeça, apenas com um cacho bem definido caindo por trás da orelha direita. Estava linda, mas a expressão que tinha no rosto não era de muita felicidade.


- Eu não aguento mais o McLaggen!


Córmaco McLaggen era o par de Hermione. Não era um garoto dos mais inteligentes e nem dos mais simpáticos. Não tinha boa conversa e não era assim absurdamente bonito. Mesmo assim Hermione o convidara para acompanhá-la e fizera isso por um só motivo: para colocar ciúmes em Rony.


Harry ergueu as sobrancelhas e coçou o queixo, depois de limpar o óculos. Semanas atrás, durante o teste de goleiros de quadribol para o time da Grifinória, Hermione confundira McLaggen com um feitiço para que ele errasse e garantisse, assim, a vaga de goleiro à Rony. Acontece que durante o primeiro jogo Rony jogara espetacularmente bem e, durante a comemoração no Salão Comunal, empolgara-se e se atracara com Lilá Brown, na frente de todo mundo. Aliás, não foi só aquele dia, pois durante os intervalos de aula e os horários livres era possível facilmente pegar os dois se agarrando pelos corredores desde então.


Para Harry não fazia a menor diferença, exceto pelo fato de se privar um pouco da companhia do amigo e também porque Rony destruia o coração de Hermione agindo daquele jeito, parecendo nem se importar. Querendo dar o troco, Hermione convidou McLaggen para ser seu par, já que ouvira boatos de que o garoto estava a fim dela. Agora, olhando nos olhos da amiga, Herry podia ver ali estampado um arrependimento vivo.


- Ele é muito chato, não tem papo e fica tentando me beijar o tempo todo! – esbravejou baixinho Hermione.


- Eu disse pra você não fazer isso, não disse? – cutucou o garoto, com olhar severo.


- Ah, ta bom, Harry! Eu sei que você disse, mas agora eu já entendi que eu não deveria ter feito isso, ok? – Hermione cuspiu as palavras, como marimbondos. – O que eu faço agora?


- E eu é que vou saber? – disse Harry. – Dá um jeito de se livrar dele, oras!


- Como? – questionou Hermione – Eu já fui pra todo lado, já comecei conversa com todo mundo e ele fica atrás de mim feito um cachorro!


- Bem vinda à minha festa de natal então Hermione, porque eu estou fugindo da Romilda Vane desde a hora que eu cheguei! – reclamou Harry, olhando por trás da cortina para o salão. – E pra ajudar a Luna ainda some, me deixando sozinho com aquela...


- O que? Você também está fugindo? – Hermione parecia surpresa.


- Lembra que você me disse que a Romilda Vane estava tentando me dar a Poção do Amor? – começou Harry, Hermione assentiu. – Pois bem, curiosamente ela não larga do meu pé desde a hora que eu cheguei e fica tentando me empurrar suco de abóbora o tempo todo.


- É, pelo menos o McLaggen não apela pra esse tipo de coisa... Ah, Harry! Já sei! E se a gente fingisse que somos um o par do outro? Aposto que afasta os dois.


- É... mas e a Luna?


- Você não disse que ela sumiu? Aposto que não volta mais...


Harry ponderou por um instante. Se Luna aparecesse...


- Ah, tudo bem, vai. – Harry aceitou, assim que pensou em Romilda Vane grudada nele de novo.


Assim os dois saíram discretamente de trás da cortina, Hermione agarrada no braço de Harry. Caminharam um pouco pelo salão e beberam cervejas amanteigadas tranquilos. Nem Luna voltou, nem McLaggen ou Romilda Vane apareceram. Harry não sabia porque, mas desde que saíra de trás daquela cortina, a festa parecia mais divertida. Talvez fosse porque tivesse livrado-se de Vane ou porque estava com alguém cuja companhia realmente lhe fizesse bem. Conversaram com o Professor Slughorn por um tempo, mas este logo deixou ambos ali em frente a lareira, alegando que tinha que resolver um problema que surgira nos banheiros. Harry e Hermione estavam ali, de mãos dadas, conversando tranquilos quando de repente McLaggen surgiu do meio da multidão.


- Hermione, estava te proc... – começou ele, mas parou no meio da frase observando as mãos enlaçadas dos dois.


O sorriso em seu rosto desapareceu aos poucos e ele vociferou:


- O que significa isso?


- Estou curtindo a festa com meu par, Córmaco, algum problema? – tornou Hermione sorrindo, nervosa, e apertando a mão de Harry.


- Eu sou seu par, esqueceu? – esbravejou o garoto para ela. Virou-se para Harry - Potter, qual o seu problema heim? Primeiro escolhe seu amiguinho para goleiro mesmo sabendo que eu sou o melhor e depois vem roubar a minha garota?


Harry sentiu Hermione apertar a sua mão e dar um passo a frente.


- Sua garota? Quem disse que eu sou a “sua garota”, heim?


- Eu sou o seu par, Granger, logo você é a minha garota! – explicou Córmaco, como quem explica que dois mais dois são quatro.


- Eu não sou o seu par, McLaggen e muito menos a sua garota. – finalizou Hermione.


- Mas você me chamou pra vir com você! – acusou McLaggen, sem terminar.


Antes que Hermione pudesse retrucar, Romilda Vane surgiu do meio do aglomerado de gente e disse:


- Harry Potter, o que você está fazendo de mãos dadas com essa garota?!


- Ela é meu par, Vane, qual o problema? – tornou Harry, com cara de saco cheio.


- Não, senhor! O seu par é Luna Lovegood e te deixou aqui de bom grado quando eu disse pra ela que tinha um ninho de Naguilés na Torre de Astronomia! – ela retrucou, vermelha de raiva.


- Então vocês dois resolveram trocar de par, é isso? – esbravejou McLaggen.


- Ah, quer saber? Chega! – começou Hermione, em tom de voz alto. – Vocês estão certos, Luna era o par de Harry e você, seu verme, era sim o meu par!


Harry não estava entendendo o que Hermione estava fazendo. McLaggen estufou o peito com cara de “eu disse” e Romilda Vane sorriu, presunçosa. Harry  entendeu menos ainda quando ela virou-se de frente para ele, olhando-o com olhar carinhoso.


- Amor, acho que já está na hora de todo mundo ficar sabendo mesmo.


Assim que terminou a frase, Hermione jogou os braços no pescoço do amigo e lhe deu um beijo. Surpreso, Harry ficou meio imóvel, mas aos poucos, sentindo os lábios de Hermione junto aos seus, ele se deixou levar. Passou as mãos pela cintura da garota e retribuiu o beijo, sem pensar nas consequências. A princípio era para ser fingimento, mas aquele beijo ultrapassou sutilmente a linha da farsa para a realidade. Porém, assim que isso aconteceu, Hermione puxou a cabeça para trás e abriu os olhos, abraçando Harry.


Harry imitou-a, sentindo as costelas doerem de tão forte que seu coração batia. Meramente observou sem atenção um estupefato McLaggen que deixava a festa com promessas de dar o troco em Harry depois e uma chorosa Romilda Vane que esgueirava-se para o banheiro. Ouvia, igualmente desatento, murmúrios a sua volta que tinham em comum as palavras “namorados”, “Harry” e “Hermione” e também um tom de questionamento. A única coisa de que tinha consciência era de que Hermione estava em seus braços e de que seu gosto estava em sua boca.


Hermione afastou-se um pouco e encarou Harry nos olhos. A confusão dos dois era evidente e o rosto dela estava vermelho.


- Harry, eu... acho melhor a gente ir...


- Ah... ok... tudo bem. – Harry assentiu, observando a vergonha nos olhos da amiga.


Saíram de mãos dadas, sob olhares curiosos, e caminharam em silêncio até o Salão Comunal. Harry deixou Hermione na escadaria do dormitório feminino, onde ela o olhou nos olhos e simplesmente murmurou um “boa noite” antes de se virar e subir para o quarto. Harry observou-a entrar no dormitório e em seguida fez o mesmo, subindo para o dormitório masculino.

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