O primeiro fora
31 de agosto de 1976 – Sábado – 8 horas da manhã – Meu quarto
O.k. Eu estou ansiosa. Muito ansiosa. Depois de cinco anos, aqui estou, patética e imersa em pura aflição, roendo os restos de unha que sobraram das férias e me alimentando como uma vaca leiteira. Contar os segundos para ver a estação King’s Cross e livrar meu pobre gato das garras da chata da minha irmã são minhas maiores preocupações nesse momento. Petúnia devia saber que não colabora nem um pouco com a minha paz de espírito ao perseguir Miau - essa certamente parece ser a adorável idéia que ela tem de diversão - durante todas as férias como um gato persegue um rato, mesmo que nesse caso Miau seja o gato e ela a porcaria do rato. Um rato feio, irritante e estressante, por sinal.
É claro que o fato de minhas amigas me mandarem cartas praticamente todos os dias e eu sentir uma saudade, no mínimo doentia de Hogwarts, também possam servir de explicação pra tanta aflição e quantidades alarmantes de chocolates e biscoitos sendo ingeridos incessantemente.
Mas definitivamente, o que acabou de vez com qualquer bom humor que eu pudesse ter hoje é o fato de Potter ter me mandado uma carta, que “incrivelmente” se transformou em minúsculos pedaços de pergaminhos que estão onde merecem estar: no lixo!
Não estando satisfeito em apenas importunar minha vida em Hogwarts, com suas doses diárias de idiotice, Potter fez o favor de mandar uma coruja à minha casa às quatro da manhã pra atrapalhar o meu sono. Não, nem longe ele consegue me deixar em paz! Eu me arrependo profundamente por ter descontado toda minha raiva na pobre coruja que o fez esse favor, mas se eu não fizesse isso, talvez tivesse tido um ataque nervoso - o que acho ter tido mesmo assim, só que numa proporção bem menor do que teria se não tivesse manifestado toda minha fúria diante do pobre e indefeso animal.
Depois de ler a tal carta, que ressaltava mais uma vez sua insistência em conversar comigo eu fiz o grande “favor” de respondê-lo. Eu gostaria de acrescentar, que amaria descobrir o que ele pretende com isso...
Carta de Potter
Oi Evans!
Espero que reconsidere o pedido que lhe fiz há alguns dias (eu adoraria poder dizer que esta é a primeira carta que Potter me manda para torrar minha paciência, mas infelizmente eu já poderia fazer coleção se quisesse). Pare de me tratar como um lixo e deixe de ser tão orgulhosa. Quem vive de passado é museu! Esqueça tudo que aconteceu e me ouça!
Por Tiago Potter
Obs: Nunca vi letra mais horrorosa que a de Potter. Tenho que recomendá-lo um curso de caligrafia urgentemente, já que é mais fácil decifrar as receitas de médicos trouxas, que os garranchos que ele provavelmente denomina de letras. Minha nossa. Parecem mais códigos daquelas sociedades secretas de filmes americanos. Além disso, perguntar a ele onde diabos anda aprendendo ditados trouxas, também não seria uma má idéia. “Quem vive de passado é museu”? Ele certamente me assusta às vezes.
E ele disse reconsiderar? Reconsiderar? Não tenho absolutamente nada pra reconsiderar. Quem esse garoto pensa que é? O Elvis Presley? Então quer dizer que ele espera que eu o perdoe por tudo que fez comigo e ainda por cima finja gostar dele!? Por favor, não quero ser hipócrita. Não é por que Potter, de repente começou a me tratar diferente, ou melhor, me tratar como um ser humano com o mínimo de decência deve ser tratado, que eu vou passar a amá-lo e entrar pro seu fã-clube. Não é por que ele é bajulado por todos que eu simplesmente vou fingir que nada aconteceu e se tornar sua “amiguinha”, com claras segundas intenções, por que sinceramente, qual das amigas de Potter nunca saiu com ele? Eu não imagino o que o leva a acreditar que eu tenho que atura-lo e que acredito nessa mudança repentina. E pelo amor de Deus, eu converso mais com Potter do que com qualquer outra pessoa daquela escola. Não por que eu me sinto a vontade, claro, mas por que ele não larga do meu pé um instante e ao invés de me torturar como antes, quando eu era o alvo de suas travessuras, agora ele me tortura mentalmente com aquelas conversas idiotas e intermináveis. É claro que na maioria das vezes eu não presto a mínima atenção, mas sempre, sem exceções, ele consegue me fazer explodir de raiva. E pode ter certeza, Potter não sossega antes que consiga! É irritante... Aí agora ele vem com essa de conversa às sós, séria... Desde o fim do ano passado ele insiste nisso, mas eu garanto que não vou concordar. Potter vai pagar por tudo que fez comigo...
A minha resposta
Não. Não existe nada que possa reconsiderar. Pare de me mandar cartas e deixe de ser tão idiota. E eu realmente te trato como um lixo pelo simples fato de você SER UM LIXO POTTER!
E não importa o que aconteça, eu NUNCA vou esquecer o que você fez comigo. E prometo me vingar!
Por Lílian Evans
Espero que a coruja não tenha batido as botas no caminho. Minha vida realmente depende dessa carta. Talvez o “Senhor Idiota” perceba que faria minha vida bem mais feliz se não ousasse aparecer na minha frente e se não lembrasse que eu sou um ser vivo, que tipo assim, existe. Além de que preciso mesmo pedir desculpas ao pobre animal - ou me culparei pro resto da vida - que não tem nada a ver com a minha aversão a seu dono. Eu realmente gosto de animais. Ainda mais dos que voam.
Mesmo dia – Oito da noite – Meu quarto
Eu sei que não pareço ser uma pessoa muito sã, e o fato de eu ter horários certos para contar minha vida a um diário deixa isso bem claro. É uma mania exótica, eu sei, mas o número oito me parece tão bonito. Se minhas amigas soubessem disso, obviamente me internariam.
O tal Válter, namorado da minha irmã perseguidora de gatos, está na sala de estar nesse momento. Eu preferi subir pro meu quarto, por que presenciar as cenas melosas e irritantes daqueles dois juntos é intolerável. Aqueles beijos não são nada recomendáveis pra quem está apresentando o namorado pra família. Eles querem o quê, se engolir no meio da sala de estar? Mamãe me chamou na cozinha agora a pouco e disse:
- Eu não aprovo esse namoro! Olha o comportamento desses dois.
Eu apenas ri e peguei um pacote de biscoitos no armário.
- Seu pai não pode aceitar isso. Eles já pensam até em noivar! São tão jovens! – continuou mamãe, enquanto fazia a comida do jantar.
- Coloque veneno na comida dele! – exclamei rindo e saindo rapidamente da cozinha e subindo as escadas para não ter que ouvir uma bronca. Além de mamãe levar minhas brincadeiras muito a sério - o que me parece uma grande bobagem, por que eu estou longe, bem longe de mandar uma pessoa realmente matar a outra envenenada -, ela odeia aqueles biscoitos em que sou viciada, e se fosse por ela os meus deliciosos biscoitos não entrariam em casa, mas alguém chamado Jim, que por acaso é meu pai, faz questão de trazer uma sacola de supermercado cheia dos rivais de minha mãe pra mim toda semana. Uhu. Ponto pro meu pai.
E falando no papai, ele com toda certeza não está gostando nem um pouco dessa história de noivado. Mas pra mim seria ótimo se Petúnia se casasse logo com esse rapaz, que combina tanto com ela como eu combino com o Elvis Presley (grande amor da minha vida). Dois idiotas juntos se entenderiam perfeitamente, e teriam um idiotinha, que mimariam até o fim da vida. E o melhor: Petúnia pararia de se importar tanto com a minha vida e eu não teria mais que ouvir sua voz irritante me chamando de aberração, e nem ao menos ia ter que vê-la todos os dias das férias de verão. Até Miau seria mais feliz sem a minha irmã por perto, por que ela simplesmente tenta acabar com a vida do meu gato em todas as férias, alegando ser um bruxo das trevas em forma de gato que está aqui pra azucrinar sua vida. Depois sou eu a louca dessa casa...
01 de setembro de 1976 – Domingo - Mesmo horário de sempre - Carro
Estou no carro. E meus pais estão discutindo a relação de minha irmã. Mas o que tento fazer agora é parar de prestar atenção no que eles falam ou enlouqueço. Desde ontem eu escuto as mesmas coisas sobre as mesmas pessoas, e na verdade, eu preciso me concentrar e relaxar. Preciso me preparar psicologicamente pra não dá um soco em Potter hoje no trem, por que eu sinceramente, não posso fazer escândalo antes mesmo de chegar à Hogwarts, além de eu ser MONITORA, claro!
Eu sei que a primeira coisa que aquele imbecil vai fazer é ir atrás de mim na hora em que o trem partir. Isso acontece todos os anos, e eu tenho a absoluta certeza de que esse ano não será diferente. Paciência. Eu tenho que ter PACIÊNCIA! Nada mais que isso. O único problema é que não existe nenhum ser no mundo que consiga ficar paciente perto daquele energúmeno, por que ele tem o poder de acabar com qualquer vestígio de paciência e tranqüilidade de alguém.
Acabei de encontrar uma carta de Sirius aqui na minha bolsa. Eu na verdade pensei que tinha perdido essa carta. Nem a li antes de desaparecer.
Foguinho, eu estou com muita saudade de você, da Poneyzinho e das outras meninas. Estou passando as férias na casa do Pontas e peço que ouça o que ele tem a dizer. Não entendo por que conseguiu me perdoar e agora somos tão amigos, mas com Tiago foi diferente. Ele está arrependido. Será que não dá pra pensar nisso?
Ouve esse cachorro que gosta de você. Pode confiar Lílian Evans. Ainda vai me agradecer por eu estar fazendo isso. Beijos do mais gato de Hogwarts.
Sirius Black
Sirius, Sirius... Por que eu fui arrumar logo o melhor amigo do Potter pra ser o meu também?
Nunca vi pessoa tão absurdamente alto-astral como Sirius! Ele é um conquistador barato e tem uma confiança ridícula. Sempre me faz rir das histórias e das piadas que conta e tem uma legião de fãs onde quer que passe. Ele, em si, já é uma piada, na verdade. E se há algo impossível neste mundo é se ter uma conversa com Sirius a qual ele não te cause crises incontroláveis de riso. Mas a melhor parte da nossa amizade é que eu confio totalmente nele e sei tudo que faz e fez na vida – dificilmente encontrarei tanta franqueza numa só pessoa. Só queria ter podido respondê-lo. Eu diria que ele já tinha repetido isso inúmeras vezes e já sabia a resposta: Não. Potter não tem chance de ter minha amizade.
Obs: Poneyzinho não é um animal, nem um urso de pelúcia. É a minha amiga, Ashley, que saiu várias vezes com Sirius no quinto ano. Eles, na minha opinião, foram feitos um para o outro, mas brigam como cão e gato. Na última briga que tiveram “romperam relações”, mas não darei nem um mês pros dois estarem atracados novamente.
Já o meu apelido “carinhoso”, que considero totalmente horrível foi colocado por Sophia no trem, quando estávamos prestes a iniciar o primeiro ano. É bem estranho quando uma garota te para no meio do corredor, fala coisas incompreensíveis e te coloca um apelido, sendo que é a primeira vez que ela te vê na vida. Desde então eu tomei conhecimento da anormalidade de Soph.
Chegamos à estação. Até mais diário.
Mesmo dia – Oito da noite - Dormitório
Eu sabia! Eu realmente vou ser a responsável pela demissão da professora de Adivinhação. Não é possível que eu imagine como as coisas vão acontecer e tudo aconteça como pensei.
Depois que desci do carro e me despedi dos meus pais, entrei no trem quase morrendo com o peso do malão. Esse é um outro problema meu. Tenho que trazer, no mínimo, metade da minha casa pra escola todos os anos (isso, é claro, se não considerarmos que a escola é minha verdadeira casa)... Miau, na sua gaiola, miava como um louco ao ver que estava entrando no expresso de Hogwarts. E enquanto eu ficava com a cara roxa - resultante da força que estava fazendo pra conseguir andar com o malão, a gaiola, meu diário e mais uma bolsa cheia de livros - alguém ria satisfeito ao ver aquela cena.
Tentei respirar fundo e não olhar pra pessoa que eu já sabia quem era. O riso, o riso idiota e 1.70m de puro sarcasmo.
Sorte: Uma coisa que com toda certeza eu não tenho! Ele não podia escolher outra hora menos sufocante pra rir da minha cara? Não, acho que não. Continuava rindo zombador e eu o olhei com vontade de soltar todas aquelas coisas e voar em cima dele e o encher de tapas e socos, mas eu realmente pensei em toda minha preparação psicológica dentro do carro e segui em frente.
Potter, ao ver meu olhar, sorriu satisfeito. É isso que ele mais anseia: Atentar minha vida, torrar minha paciência insuficiente! Eu respondi a seu sorriso com a pior cara que pude fazer, rezando pra passar uma expressão de serial – killer a ele. Mas me entristeci ao perceber que ele parecia sorrir ainda mais, como se tivesse adorando aquela cena. É incrível como nada consegue alterar o bom humor desse estúpido. Continuei andando, mas ele parou na minha frente e simplesmente bloqueou a passagem.
- Puxa, fico tão triste em te ver carregando essas coisas sozinha, mas minhas mãos estão todas duas cortadas. Um acidente com uma invenção minha e de Sirius – fingiu mostrando as mãos que ele acabara de enfaixar com um feitiço.
- Oh, é claro! – falei fingindo pena e olhando para as suas mãos triste – Que pena... QUE NÃO CAÍRAM AS DUAS!
- Quero falar com você! É sério Evans! Acredite em mim! – disse fazendo cara de coitadinho, como se eu não tivesse acabado de deixar claro que eu queria que ele não tivesse mãos. A capacidade dele de mudar de assunto e surpreender as pessoas com seu alto grau de anormalidade é chocante.
- Não me peça o impossível Potter. – ironizei rolando os olhos.
- Experimente! Se estiver mentindo te darei todo o direito de nunca mais olhar na minha cara! – apelou, parecendo, SÓ PARECENDO sério, por que Potter não fica sério. Ele parece ter sido feito pra sorrir com aqueles dentes extremamente brancos e retos, que parecem te constranger, já que o sorriso dele é uma espécie de zombaria, como se ele sorrisse pensando: “Eu sou o máximo” ou “Eu me acho e eu posso”. Mas melhor seria algo como: “Eu sou um imprestável que tem uma droga de um sorriso irritante e feio”!
- Não preciso de sua autorização pra isso! – ri sarcástica, tentando passar.
- Por favor, Evans – ele pediu cínico. O olhar mais cínico já visto no Universo é justamente o de Tiago James Potter, o que mostra que ele é um falso, dissimulado.
Mas peraí, “Por favor”?
Aquelas palavras não poderiam ter saído da boca de Tiago Potter... Talvez sua mãe tenha lhe ensinado bons modos nas férias. Pelo menos isso.
- Não – respondi impaciente, tentando tirá-lo do caminho, pra poder procurar o vagão onde minhas amigas estavam.
Ele continuou a me olhar com um sorriso fraco no rosto, parecendo mais um pateta que qualquer outra coisa. Será por isso que o rosto de Potter é tão lindo, por que ele movimenta incessantemente os músculos do rosto e não para de rir um segundo? É azucrinante. Qual na verdade era a graça ali, eu tenho cara de palhaça ou o quê? Ei, espera aí, eu falei que o rosto dele é lindo? EU FALEI ISSO?
- Você não vai passar enquanto não me der uma explicação. – chantageou bloqueando mais ainda minha passagem. E o incrível é que ninguém decidiu vagar pelo corredor pra me salvar. Como nem um ser humano teve vontade de sair da porcaria do vagão e eu estava a sós com Potter no corredor? COMO? E o melhor de tudo é que agora, não sei por que, ele achava que eu o devia explicações.
- Não lhe devo explicações Potter!
- Ou explica ou não passa – sorriu maldoso segurando meu braço direito.
- Eu acho que até alguns minutos atrás essas suas mãos não serviam pra nada – falei aborrecida.
Ele ignorou o que eu disse.
- O que é isso? – perguntou olhando meu diário na minha mão esquerda. Agora minha mala estava no chão, ao lado da gaiola de Miau (eu sei, é estranho imaginar um gato dentro de uma gaiola, mas ver Miau bagunçar, não sei como, praticamente todo o carrinho de doces no ano passado, tinha sido mais estranho que isso) e da mochila.
- Não-te-interessa – ressaltei cada palavra.
Ele fez uma careta de deboche.
- É claro que interessa! Tudo que envolve Lílian Evans me interessa!
- Me larga seu idiota! Pára com isso! – gritei tentando fazer com que ele me soltasse, mas não obtendo nenhum sucesso.
- Eu não te solto até me dá uma justificativa aceitável pra não querer ter uma simples conversa comigo.
- Nós já estamos conversando! Me solta! – falei ficando vermelha de raiva. Eu sempre sei quando isso acontece. Eu sinto meu rosto arder, como se fosse pegar fogo e todos param pra me olhar, como se eu fosse um vulcão que poderia, a qualquer momento, entrar em erupção.
- Você chama isso de conversa Evans? – perguntou Potter rindo alto.
- Sim! Se pra você não é, problema seu!
- Não seja grossa ruiva (Ruiva? Eu ouvi mesmo isso?)! Me dê apenas dois minutos pra conversar com você! – disse me olhando sério! SÉRIO!
Fiquei chocada com aquela cena. E meu corpo tomou decisão própria (o que lamentavelmente é muito comum), e quando eu vi já tinha assentido pra Tiago, e ele me olhava perplexo e desconfiado, pensando que a qualquer hora eu cortaria realmente suas mãos com algum feitiço enquanto ele estivesse distraído e fugiria levando minhas coisas.
- Vamos! – disse ele andando e carregando todas as minhas coisas.
Eu não deveria. Eu não poderia. Mas não me contive. Comecei a rir de Potter carregando minhas coisas. Mesmo que ele tenha a força de um jogador de quadribol parecia, ali, tão desengonçado quanto um gigante. E um diário rosa em sua mão estragaria sua reputação de 5 anos no colégio se alguém presenciasse aquilo.
Eu continuei o acompanhando. Entramos em uma cabine vazia, no fim do trem.
Jogando minhas coisas num assento em frente ao que eu já tinha me acomodado ele sentou-se e respirou fundo.
- Vamos, agora diga de vez o quer! – falei olhando a paisagem fora do trem.
- Bem... É que eu quero sair com você! – falou me olhando apreensivo, num sorriso calmo. Não aquele "Sorriso Perseguidor" e debochado.
- Não... Espere aí, eu acho que eu não ouvi direito – falei, num sorriso descrente – Você disse que quer sair comigo? – perguntei apontando o dedo indicador pra mim.
- Sim, foi o que eu disse! – afirmou Potter assentindo. Agora com um sorriso largo, como se alguém tivesse acabado de dizer que ele tinha ganhado 100 galeões.
- Acha que eu tenho cara de imbecil? Acha mesmo que vou acreditar nisso? – perguntei séria, começando a me irritar. Olhei pras montanhas, além das janelas, pra não voar em cima dele. Eu queria MATAR ele! Quer dizer que Potter tinha feito toda aquela cena pra tirar com a minha cara?
- É verdade – insistiu. Eu olhei Potter fixa e séria, tentando analisá-lo. Ele tirou os olhos de mim, e fixou o olhar pro exterior do trem. E o que me assustou foi que Potter estava sério novamente. Aquilo não podia ser uma brincadeira! Ao perceber realmente que aquele absurdo era verdade tive um ataque de risos na sua frente. Sonhe Potter... Sonhe!
Ele é o quê, perturbado? Não basta chamá-lo de lixo? Não basta metade da escola saber que eu o odeio e o acho a pessoa menos interessante do universo? E por que tudo isso? Toda aquela insistência. Aquela coisa de conversa séria, seria isso, só ISSO? Tinha me chamado até lá só pra ouvir a palavra não emanar da minha boca? Puxa, dessa vez Potter conseguiu me surpreender!
- Louco! Você só pode está louco! É claro que eu NUNCA sairia com você Potter! – continuei entre risos. Nunca pensei que algum dia ele me faria rir tanto. Era, no mínimo, ridículo demais.
Ele adotou uma expressão estranha. Desconfio que até aquele momento nunca tivesse levado um fora na vida.
- Por quê? – perguntou interessado e curioso, com o “Sorriso Perseguidor” estampado no rosto.
- Por que você é um idiota Potter! Nunca deixei isso claro? – perguntei ainda rindo. Aquilo parecia uma comédia. Era maravilhoso, fantástico poder dá uma baixada no ego do "eu me acho o cara".
Mas o que achei que mudaria a expressão de Tiago não mudou qualquer coisa. Ele continuou com aquele sorriso cínico no rosto e passou a mão enfaixada nos cabelos rebeldes. Ah, como odeio essas duas marcas registradas do Potter!
- Nunca saiu comigo pra saber – argumentou galanteador, com uma cara TOTALMENTE convencida.
- Não preciso. Toda a escola sabe disso!
- Não é isso que ouço por aí – falou balançando a cabeça negativamente.
- Não interessa o que ouve por aí. Você pediu a mim, não aos outros.
- Tem certeza do que está falando Evans? Olha que você pode se arrepender. – disse insinuante, erguendo as sobrancelhas e esboçando um sorriso largo.
Eu ri novamente! Aquilo estava sendo uma diversão. O que o levava a achar que eu aceitaria sair com ele? Como ele tem coragem, depois de tudo que fez? Eu podia sentir meu ego dá pulos de alegria. Isso sim parecia justo. Dá um fora em Potter, o garoto indispensável.
- Nem morta eu saio com você Potter! – falei satisfeita, com as mãos firmes no meu diário.
- Pare de se fazer de difícil Evans! Eu sei que está louca pra aceitar!
Piada, só podia ser!
- Não se preocupe. Estou fora da sua lista de fãs! Não pense que por que todas as meninas da escola são loucas por você, eu vou ser também. Nesse sentido, eu sou normal.
Tiago me fitou inexpressivo.
- Deixe de ser orgulhosa! - falou rindo fraco.
- E você, deixe de ser insistente. Eu nunca te darei chance Potter! - eu pegava agora no meu cordão da sorte. Ele olhou rápido pra minha mão firme no pingente. A maioria das pessoas já percebeu essa minha mania.
- Por que me trata tão mal Evans? – falou se ajeitando no assento e me olhando fixo e sério.
- Porque alguém já me tratou assim e farei o mesmo com essa pessoa. – disse levantando-me pra pegar minhas coisas e sair da cabine.
Mas Potter me segurou e chegou mais perto de mim.
- Sempre vingativa e orgulhosa não é Evans? – falou se aproximando mais ainda, me olhando nos olhos e murmurando em meu ouvido – Eu sei que me ama! – disse, enfim, sorrindo e me soltando.
- Não vou ser mais uma pra sua coleção, imbecil! – disse pegando minhas coisas e saindo rápido, deixando-o sozinho.
Realmente nunca conheci pessoa mais prepotente e convencida. Como pôde supor que eu poderia dizer “sim”? Então quer dizer que toda aquela chateação, aquela história de carta se resumia a isso? Interessante. Rsrs.
Comecei a procurar o vagão onde minhas amigas estavam quando encontrei Sirius no corredor.
- Lílian! – disse ele surpreso ao me ver e pegando meu malão e minha mochila. – Onde estava? Não estava no vagão das meninas – disse se referindo às nossas amigas.
- Bem, eu estava conversando com uma pessoa.
- Ah, obrigada por esconder quem é essa pessoa – falou ele colocando o braço no meu pescoço – Vamos ver... Será um tal de Tiago Potter?
Eu olhei-o incrédula, então percebi que Potter tinha contado a ele o que iria fazer. É claro, como pude pensar que Sirius não sabia. Ele sempre sabe de tudo.
- Ah, então você sabe não é?
- Foguinho, eu sei cada passo que meu amigo Pontas dá. E saiba que eu fui o responsável por não aparecer ninguém no corredor enquanto brigavam! – falou rindo cínico.
- Ah não! – eu exclamei – Seu cachorro! Até você!
- Você ainda vai me agradecer por tudo que estou fazendo agora Lílian Evans! Imagina, meus dois melhores amigos juntos! É meu sonho. – brincou sorrindo e me dando um beijo no rosto. Eu quase vomitei ao imaginar a cena.
- Vou atrás do veado. Sabe como é que é né? Consolá-lo nesse momento tão difícil! É o primeiro fora que leva na vida! Talvez tente se matar. – continuou rindo.
- Ei, como você sabe que ele levou um fora? – perguntei divertida.
- Ah, isso todos já sabiam que ia acontecer.
- E se eu não tiver dado um fora nele? – tentei parecer misteriosa.
- Não tente me enganar. Eu te conheço! – disse me entregando o malão e a mochila. A gaiola de Miau já estava na minha mão, juntamente com o diário.
- Ainda bem que sabe! – falei, por fim, pegando minhas coisas.
- As meninas estão aqui! – apontou para a cabine que estávamos em frente – Tchau. Até daqui a pouco Foguinho.
- Até – respondi lhe mandando um beijo com a mão.
Entrei na cabine onde minhas amigas estavam, rindo feito uma boba.
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