Único
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Snow
24 de dezembro de 2009
Eu não acreditei no que eu vi de primeira. Que bagunça era aquela? Parecia uma lata de sardinha! Eu duvido que vou precisar do meu agasalho para entrar aqui.
Respirei fundo antes de entrar no supermercado lotado. Realmente, a idéia mais idiota que eu já tive foi tentar comprar alguma comida decente para minha celebração solitária de natal em plena manhã de 24 de dezembro.
Genial.
Mas já que eu estou aqui eu vou entrar, não é? Porque não, afinal, não deve estar assim tão ruim.
Prendi a respiração e entrei – como se eu realmente fosse precisar prender a respiração. O mercado estava seriamente entupido, devem ter umas duzentas pessoas aqui para um espaço que cabe oitenta.
Estava tocando ‘We wish you a Merry Christmas’, mas poderia realmente estar tocando uma música de savana ou aquela de quando o tubarão está chegando perto, aí combinaria perfeitamente com o cenário.
Eu estava perante uma guerra, uma guerra entre mães de família furiosas atrás do próximo faisão ou seja-lá-oquê-for para por na mesa.
Isso me dava medo. E ainda me lembrava que eu tinha que correr para não ficar comendo sucrilhos no natal, sozinha.
O fato é que eu já iria passar o natal sozinha. Eu passei os últimos dois natais sozinha, desde que Remus terminou comigo.
Triste, mas verdade. E eu ainda tenho que correr para conseguir alguma comida digna.
E cozinhar realmente é uma obra de arte, eu poderia fazer isso o tempo inteiro, e só ficar olhando para a comida depois. Pena que minha comida é MUITO boa e eu não posso só ficar olhando-a.
E o Remus... gostava tanto da minha comida, ele dizia que podia ficar décadas e décadas só comendo, que cada refeição ele queria repetir e no fim reclamava que engordava. E ele era tão lindo quando estava comendo...
Mas eu preciso comprar a massa das tortas. O chester e os doces, fora o vinho. Vai realmente estar uma delícia, pena que minha família está em Londres e eu não posso visitá-los. Principalmente porque nessa época do ano as passagens ficam muito caras, e sair de San Francisco para Londres não é muito genial.
Que droga, porque eu vim fazer gastronomia nos Estados Unidos mesmo? Eu tinha que ser uma bosta de uma crítica de uma revista famosinha? Eu devia estar em Londres com meus pais, eles sempre gostavam quando eu cozinhava para eles. E o Remus me fazia companhia aqui, e nós sempre celebrávamos o natal juntos...
Mas ano que vem eu vou comprar uma passagem só de ida para Londres e vou finalmente voltar para lá. Mendiguei cada centavo – menos nos dias de Ação de Graças que eu fazia um manjar dos deuses para a galera da revista, e no Natal que eu fazia uma deliciosa mesa para nós (Eu e Remus) comemorarmos sozinhos. Só que agora eu comemoro sozinha (com a comida, lógico) e acho que engordei, no mínimo quatro quilos no último ano e poucos meses sem ele.
Foco, foco. Droga, eu odeio ficar remoendo meu relacionamento com o Remus, ele realmente era perfeito demais para ser verdade.
Perfeito demais para ficar comigo, na verdade.
Foco. Foco. Foco. Isso, o último chester! YES. Vou levá-lo na mão que vai ser melhor do que tentar passar por esse trânsito de carrinhos de compra.
Vinho, hum, ah que pena, do ano passado, não deve estar aquela maravilha, mas vai ser esse. Pelo menos Lílian vai ter alguma coisa para encontrar amanhã pela manhã. Quando ela vem ver se eu ainda estou viva e no caso me encontra bêbada caída do chão da sala todo dia 25.
Ok, ok eu não me orgulho disso, mas eu preciso. É tão confortante. A bebida, digo.
Eu comecei a beber mais desde que, bem, o Remus me deixou, confesso. Foi em uma tarde horrível que aquilo aconteceu e eu me afoguei na primeira coisa que eu vi na minha frente – no caso, a garrafa de vinho francês que Lílian esqueceu no dia de ação de graças.
James – o marido dela – quase me enforcou quando descobriu que eu tinha furtado o resto do precioso vinho deles. Lílian e James trabalhavam na mesma revista que eu, só que ela fazia as entrevistas e James trabalhava na parte da economia...
O que me lembra que Remus trabalha em um banco, fazendo alguma porcaria que eu nunca soube o que era, ele sempre achou o seu trabalho meio careta mas eu sempre o consolava, falando que ele ficava maravilhoso naqueles ternos.
- Ei mocinha, você poderia nos dar licença? Tem gente aqui querendo passar – uma tia falou comigo, ela estava vestida de vermelho e verde e tinha uma cara bondosa. Olhei para trás vagarosamente. Ai eu percebi o que eu estava fazendo.
Tinha acabado de parar no meio do trânsito de carrinhos! Droga!
- Me desculpe senhora. – saí vencida e derrotada para o corredor das massas.
Peguei um cestinho e depositei o meu vinho e meu chester (YES! Consegui um em pleno 24 de dezembro!) e continuei procurando os ingredientes na minha maravilhosa ceia solitária.
E pensando melhor, eu já esqueci o Remus! Quer dizer, eu parei de me embebedar desde abril deste ano, isso já é um progresso, fora que eu não tive nenhuma recaída com aquelas novelas melosas que tinham lindos casais que ficavam juntos no final.
Eu realmente tenho que ligar para Lílian para ela saber que eu realmente não precisarei dos cuidados dela na próxima manhã, dia vinte e cinco, porque eu não sou mais uma bêbada.
E nem precisei entrar para o AA.
Fui andando reluzente pelo resto do supermercado para pegar todos os ingredientes da minha ceia, hoje eu não ficaria bêbada! YES. Isso é uma predição, ninguém pode retirá-la.
Pelo menos, fiquei reluzente até chegar na fila, que na verdade estava lá atrás perto da comida de cachorro, eu realmente assustei, mas acho que demora no máximo meia hora, certo?
Errado. Fiquei umas duas horas na fila. Metade das pessoas pareciam que compraram suprimento para cinco anos, será que vai acontecer alguma catástrofe da natureza e já estão arrumando os abrigos?
Claro que não.
Fui feliz com o as minhas duas sacolas marrons para o estacionamento e depois de uma tentativa falha de tirar a chave do carro da bolsa eu vi que tinha que colocar minhas delícias não prontas no chão para poder revirar a bolsa.
Celular.
4 ligações não atendidas? Será...
Lílian – chamando...
- Fala ruiva desmiolada – eu ri. Era só a Lílian. Eu odeio ficar na expectativa toda vez que o telefone toca, o Remus me ligava tanto...
Foco, foco. Ele já está medianamente esquecido, lembra?
- Quero te lembrar nessa linda tarde de quinta-feira que eu não quero te encontrar bêbada e morta no chão da sala. – Oi pra você também mamãe-lily. Será que eu vou ter que falar para ela de novo que eu não bebo desde abril? Pelo menos, não para entrar em coma alcoólico?
- Ok Lily, respira. Eu disse que desde abril eu não bebo igual um cidadão do bar, então pode ficar tranqüila e não precisa ir lá em casa.
- Você está doida? Você está até parecendo melhor. Mas eu prefiro ir checar para ver se você está viva a ler uma notícia no jornal falando ‘Mulher corta os próprios pulsos’ ou ‘Mais uma vítima por cirrose’ e ainda mais ‘morre Dorcas Meadowes, 26 anos, por não receber um fígado a tempo’...
- Você é tão otimista que me emociona, sabia? Onde você vai passar o natal? – droga, eu até agora não achei as malditas chaves.
- Eu vou passar aqui na minha casa com James e a família dele vai vir. – ela disse, mal contendo a animação. Achei as chaves!
- Entendo, eu vou passar sozinha de novo – ouvi ela resmungar do outro lado do telefone – mas é o último, porque eu juntei dinheiro o suficiente para pagar uma passagem só de ida para Londres.
- Acorda Dorcas, passagens são baratas – para ela, que agora tem a grana dos Potter e não tem um cartão de crédito estourado no próprio nome.
Infelizmente, gastar também foi minha terapia em tempos, er, difíceis.
- Eu tenho um cartão de crédito totalmente estourado no meu nome – eu reclamei, agachando e pegando uma compra de cada vez e colocando no banco do passageiro de trás. – Fora que eu tive que juntar dinheiro para não chegar lá de mãos abanando, não sei em quanto tempo eu vou arranjar um emprego.
- Eu vou morrer de saudades de você, sabia? Vou morrer mesmo. Mas se te faz melhor, eu realmente prefiro, depois eu passo lá e te visito, ok? Beijos gata, até amanhã de manhã, juízo.
- Meu nome do meio – eu disse e desliguei. Lily adorava me vigiar e eu não a deixaria perder essa oportunidade.
A porta do meu carro abriu. AIMEUDEUS, É LADRÃO. ACUDA! ACUDA! TEM UM CARA ESTRANHO ENTRANDO NO MEU CARRO E, E...
Parei de respirar por um momento.
Era Remus. Na sua perfeição escultural, devo acrescentar.
Aqueles olhos, eles me puxavam, eu sempre amei o jeito com que ele olhava para mim, tão apaixonado... E aquela boca, ela era tão delicada, tão selvagem, tão, tudo...
E aquele sorriso torto, meu sorriso torto, o sorriso que ele dava quando inventava alguma desculpa esfarrapada, quando queria me chamar para sair, quando falava ‘eu te amo’.
AI MEU DEUS. Droga, eu achei que ele já estava superado e um pouco esquecido!
É esse o efeito que ele me causa. Principalmente depois dele ter me chutado.
Uma vez ele estava correndo e eu me escondi atrás de uma lata de lixo! Isso não foi nem um pouco digno. Foi logo em Janeiro de 2008, já tínhamos terminado e eu estava agindo igual a uma adolescente.
Também pudera! Ele terminou comigo e dois meses depois ele estava rindo feliz da vida, malhando enquanto eu afogava as mágoas em chocolate...
- Dorcas? – ai, a voz dele. Eu lembro que na primeira vez que eu ouvi essa voz eu fiquei totalmente perdida, viajando nesse tom, ai, como ele pode ser tão perfeito?
Firme e forte Dorcas! Ele terminou com você! ELE. Ele deve saber o que está perdendo, para ele ver.
- Remus? – tentei parecer o mais normal que pude, mas eu realmente estava assustada por vê-lo. Depois que ele terminou comigo ele nem quis me ver. Eu me lembro bem. Ele terminou comigo na praça, no dia de neve mais lindo que eu já vi.
Eu passei a odiar a neve desde então.
Porque ele veio falar comigo? Eu já estava aprendendo a conviver com a neve! Isso é totalmente ridículo.
- Olha aqui... – eu comecei, mas ele me interrompeu tampando minha a boca com o dedo e me encarando nos olhos. Com aqueles lindos olhos azuis...
Ai meu Deus.
- Dorcas, eu aprendi, nesses anos, er, bem, olha aqui, eu vou te encontrar hoje, na sua ceia, pode ser? – ele pediu, ainda me encarando nos olhos e parecendo meio ansioso.
Não, não e não. Fez uma vez, vai fazer de novo. Não importa o quão sexy ele é nem o quanto aqueles olhos azuis me fazem mal por negar um pedido desses...
- Não sei se você vai caber lá em casa – minta, minta e minta!- não acho que eu tenha algum lugar para mais um convidado.
Pronto. Falei. Mesmo sendo mentira, eu falei e estou sentindo bem comigo mesma agora.
Ele me encarou, incrédulo, com a boca meio aberta, totalmente voltado para mim. Dorcas no volante, perigo constante. Remus ao lado? Perigo dobrado.
Devolvi o olhar, tentando parecer firme.
- Você passou os dois últimos natais sozinha – ele começou, revirando os olhos – e sua família está em Londres! Como você quer que eu acredite no que você acabou de me dizer?
Porque Senhor, porque não me destes a tão útil arte de mentir?
- Não significa que eu vá passar este sozinha – continuei a encarar aqueles grandes olhos azuis. Eu não agüentava ficar tão perto, é insuportável resistir à vontade de beijá-lo.
Ai meu Deus, estou pensando nisso de novo.
- Dorcas, por favor.
Estômago embrulhou. Frio na barriga. Acho que estou suando frio e aposto que minha respiração está mais pesada.
- Me dê um bom motivo – vamos menina! Isso! Você consegue! Ligue a chave de uma vez para ver se ele vai embora, isso.
- Porque eu quero conversar com você e quero passar o natal com você – ele disse decidido, dando aquele sorriso.
Aquele sorriso.
Não vou agüentar. Não vou agüentar.
- O que me diz? – ok, ele está forçando a barra. Mas eu vou ter que aceitar.
- Tudo bem Remus, esteja na minha casa...
- Às sete horas, eu sei. – ele sorriu, me deu um beijo demorado no rosto e saiu, com um sorriso de orelha à outra.
Ainda fiquei parada encarando o volante por uns cinco minutos. Será que eu tinha sonhado? Ficado doida? Tenho que ligar para Lily, eu achei que tinha ficado melhor, mas estou alucinando.
Ok, ok Dorcas, não foi uma alucinação, nem uma miragem, nem uma ilusão de ótica e muito menos um fantasma. Remus esteve realmente aqui a exatos sete minutos e pediu para passar o natal com você. O que fazer, o que fazer?
Meu lado diabólico e maquiavélico está me mandando usar um vestido vermelho fatal, com salto alto e pagar o vizinho para ser meu namorado...
Mas meu lado bondoso e misericordioso está me falando que se eu amo Remus talvez eu deva dar uma chance para ele ou pelo menos ouvir o que ele tem a dizer.
A vingança parece tão deliciosa.
Mas eu não posso fazer isso com ele, tudo bem que ele me deixou na rua da amargura – não exagere Dorcas! – sem rumo e alcoólatra, mas ele deve querer falar algo realmente importante, já que sempre que nos encontrávamos depois de ter terminado (quando eu não conseguia fugir) a maior coisa que rolava entre nós era um ‘oi’ formal, ou ‘estou atrasada’. (Sendo este último a minha melhor desculpa).
Vou enfrentar o meu destino, vou fazer uma ceia de dar inveja! (Igual eu sempre faço). Não, eu não vou fazer uma ceia maravilhosa e perfeita só por causa do Remus, eu sempre faço belas ceias.
Será que dá tempo de voltar no supermercado?
Encarei o relógio. Já era uma hora! Eu tinha que me arrumar e fazer a comida! E ligar para Lílian para falar do Remus!
Não, é melhor eu nem comentar isso. Principalmente porque James é amigo do Remus e ele já deve estar sabendo disso, então...
É melhor eu ir para casa mesmo.
Trabalho, trabalho, trabalho. Vamos, vai ficar tudo perfeito!
Não que eu esteja fazendo tudo ficar perfeito para o Remus, eu só quero comer o que eu sempre como na ceia de natal, só que agora eu tenho convidado.
Suspirei. Os biscoitos estavam prontos, as mini-tortas, o chester estava assando e a mesa já estava posta, para dois lugares. E eu estava em uma ponta da mesa e ele em outra totalmente oposta.
É minha nova tática para não-paixão-eminente-por-Remus.
Ok, estou sendo idiota. Ele é só meu amigo.
Se bem que, bem, ele disse que queria falar algo comigo, certo? Pode ser algo estranho como ‘quero voltar com você’, eu posso sonhar, não posso?
Na verdade não. Eu estava criando esperanças, eu não POSSO criar esperanças, o Remus é um cafajeste, eu aposto que quando ele terminou comigo ele foi correndo receber o consolo da vizinha, aquela loira pomposa com vinte e um anos.
Ok, ele nem deve ter feito isso mesmo, eu só estou insinuando/confabulando por que ele terminou comigo, quando eu realmente não sabia o porquê disso.
Eu podia escrever um livro, sobre uma história de amor que não deu certo, ao invés de ficar pensando abobrinhas sobre o Remus e seus supostos relacionamentos.
Afinal, ele era livre certo? Não era problema meu se ele estava na cama com a vizinha e...
Será que ele está mesmo?
AI MEU DEUS. Será? E o que ele veio fazer aqui? Se redimir? Jogar isso na minha cara? Era essa a conversa? Algo como ‘A Denise(Leia-se: vizinha boazuda) está grávida, e eu gostaria de saber quando você volta para Londres, sabe, eu não quero nem chegar perto.’
Ok, eu preciso escrever esse livro realmente URGENTE. Porque daqui a pouco a Lílian vai ter outro real motivo não só para checar se eu estou viva pela manhã como para me mandar direto para uma clínica psiquiátrica.
Mas eu vou superar. Eu sempre superei da última certo? Certo. Bem, são cinco horas eu vou me arrumar e depois vou terminar de arrumar os preparativos para ceia.
E minha árvore de natal só tinha um presente... O meu. Sim, eu comprei presente para mim mesma, e eu me pergunto se devia comprar um...
Se bem que eu tenho um. Um bem especial, um para lembrar a ele o dia que nós nos conhecemos, mas, primeiro teria que ter certeza sobre o quê ele queria comigo.
Deixa pra lá, é melhor eu ir tomar o meu banho.
Depois do banho me encarei no espelho algumas vezes. Solto ou preso? Trança? Coque? Rabo-de-cavalo? Eu nunca sei. Mas vai ser solto.
Dei uma olhada em mim mesma. Estava vestida como se fosse para uma festa! Com um vestido preto e salto fino. Droga, eu estou em casa!
Tirei o vestido e o salto fino, e vasculhei por uma calça jeans, e uma blusa branca, depois pegando o embrulho mais recente embaixo da minha árvore e abrindo-o, colocando o suéter que minha mãe havia feito para mim.
Andei para o quarto e coloquei os embrulhos embaixo da cama. Dei uma última olhada para o espelho, estava perfeito, faltando...
Uma presilha de papai-noel na cabeça. Agora eu sou oficialmente uma criança e oficialmente Dorcas Meadowes. Não vou vestir de quem eu não conheço. E bem, a presilha de Papai Noel meu irmão me deu e mandou junto com o último suéter da mamãe, no Natal passado.
Mamãe sempre me manda suéteres animados, e eu os adoro. São quentinhos e delicadinhos, e não são feios e estranhos.
E eu realmente acho que ela deveria vendê-los por mais, e parar de distribuí-los por aí.
Respirei fundo, seria isso, queimado?
AI MEU DEUS, O CHESTER!
E, senhoras e senhores, tenho o orgulho de lhes dizer que O CHESTER ESTÁ VIVO. Sim, sim, o chester está vivo. Nunca pensei que ia lamentar a falta de um chester.
Coloquei a mesa, e ela estava realmente de invejar. Eu amo minhas habilidades culinárias, eu realmente devia sair da revista e virar chef de cozinha.
Eu poderia até virar, eu iria para Londres mesmo.
E este, era o meu orgulho. Meus preciosos. Meu Buffet. Minha santa ceia. Tudo meu, hó. Se bem que hoje eu vou dividir, com o Remus.
Onde será que ele está? Já são sete e cinco...
Ok, antes de me matarem por algo o Remus NUNCA está atrasado, NUNCA. Acho que é por causa da profissão dele sei lá.
Ai ele não vem! Ele não vem!
Ok, eu já devia ter previsto que aquilo que apareceu no meu carro foi uma ilusão de ótica e/ou derivados.
Ding Dong
A campainha tocou e eu quase dei um pulo de alegria. Yes, ele realmente veio. Fui atender a porta – e depois eu reparei que estava de pantufas de renas, mas vai assim mesmo – e não pude conter minha decepção.
Um monte de criancinhas estavam acompanhadas por uma velhinha sorridente, que susurrou para elas começarem e elas cantaram: ‘jingle Bells, jingle Bells, jingle all the way’. Elas terminaram de cantar e eu ofereci um suco de caixinha para todas e dei dez dólares para a senhora, que agradeceu com os olhos brilhando.
Fechei a porta e apoiei de costas nela. Droga, droga, eu sou tão tola.
Ding Dong
Abri a porta, quase falando para a velhinha que eu não tinha mais nenhum dinheiro disponível para doar para o coral, quando dei de cara com o Remus.
‘jingle Bells, jingle Bells, jingle all the way’ eu ouvi o coral cantar para o vizinho do lado, que parecia entediado.
Não que eu realmente tivesse muito tempo de olhar para ele com o Remus na minha frente.
Ai Remus, porque você faz isso comigo?
- Desculpe, estou atrasado – ele disse, checando o relógio – Está nevando bastante sabe.
Neve... o que me lembra o dia que nos conhecemos. Foi bem clichê, para falar a verdade, mas eu acho que lembrar a tanto tempo me faz ninja.
“A neve estava grudando insuportavelmente no meu cabelo, e eu tinha que tirar flocos toda hora. Estava nevando pouco, mas eu havia esquecido a minha touca. Fora que eu estava com o cabelo alisado e desmanchável. Ele até treme por causa da maldita neve.
Pedi para Lílian pela milésima vez a boina dela emprestada e ela negou, falou que eu era muito viajada e devia aprender com meus erros e blábláblá – o blábláblá significa que eu parei de prestar atenção no que ela dizia.
Parei para olhar uma loja de sapatos do outro lado da rua e antes que eu pudesse pensar qualquer coisa já estava encarando dois olhos azuis.
- Er, me desculpe – ele disse, corando – Eu realmente não te vi.
Na verdade a culpa foi minha. Me distraí com os sapatos e acabei pisando na neve, escorregando e levando quem estava na minha frente. Eu estava caída no chão e alguém em cima de mim, literalmente. Eu me assustei um pouco, mas nem cheguei a mexer. Eu ainda estava meio abobada por num minuto ver sapatos e no outro ver, alguém em cima de mim.
Fora que nós caímos para o lado do parque - coberto de neve - e eu devo ter afundando uns vinte centímetros na neve, e estava frio.
- Remus Lupin.- ele sorriu. Eu lembro dele! Fez faculdade com o James e acho que nós já comparecemos em alguns almoços juntos(quanto Lílian me obrigava a ir). Sempre reparei nele e em como ele era bonito e educado, mas nunca cheguei a conversar.
- Dorcas, Dorcas Meadowes – consegui falar, ainda morrendo de frio.
- Vocês não acham meio impróprio conversar agora? Digo, a Dorcas está quase soterrada e as pessoas da rua estão começando a olhar – ela apontou com a cabeça para o outro lado da rua, onde várias pessoas pararam curiosas para saber o que estava acontecendo.
- Sim, desculpe. – ele se levantou e me puxou pela mão. Sorrindo. – Me desculpe.
- Tudo bem, foi, minha culpa – estava tirando a neve de toda minha roupa, estava completamente suja e molhada.
Algo puxou meu cabelo e eu virei com rapidez para olhar e estava a alguns centímetros do rosto dele, esbugalhei os olhos por alguns momentos, e me afastei um pouco. Ele sorriu.
- Só um pouco de neve no seu cabelo.
Eu tinha que lembrar de agradecer à neve por isso.’’
- Dorcas? Não me chamar para entrar?
Não? Sim? Um tempo para pensar?
- Ah sim, desculpe.Entre por favor, me dê seu casaco – tirei o casaco de suas próprias costas. Eu costumava fazer isso quando estávamos...
Eu tenho que parar com isso. Digo, de assimilar. Não é nem um pouco saudável. Principalmente que estamos em um encontro de amigos totalmente, casual.
- Vamos comer? – ofereci. Comemos em silêncio, uma vez ou outra eu perguntava se estava bom, se ele queria mais vinho e que se ele não estivesse agüentando, não precisava comer, eu levaria o que sobrasse para o abrigo.
Passaram-se mais ou menos dez minutos, e nada. Já estava começando a ficar constrangedor. Qualquer conversa não durava mais de três minutos.
- Vou buscar o vinho – eu disse, levantando e segui olhando baixo para a cozinha.
Futriquei a geladeira. Droga, eu tinha certeza que o vinho estava por aqui! CADÊ O VINHO? Um brinde não é um brinde sem vinho ou suco de uva, mas, eu tinha tanta certeza que tinha comprado...
- Er, Remus, eu, bem estou sem vinho mas,nós podemos brindar com outra coisa. Suco, ou refrigerante, acho que uma lata de cerveja não vai dar porque é só o que eu tenho e ainda...
- Tudo bem, vamos procurar um lugar aberto – ele disse rápido, sorrindo.
- Ok... – eu disse, desconfiada. Será que ele iria me levar para um beco e me assaltar? Eu mal tenho dinheiro! – Isso por...?
- Eu acho mais fácil conversar com você enquanto estou me movimentando, acho que fico menos nervoso – OK, eu não poderia descrever minha cara no momento porque eu realmente não tenho palavras.
- Ok, eu, eu... Só vou calçar minhas botas e já venho.
Voltei para meu quarto e coloquei as minhas botas. Peguei minha bolsa, as chaves, o celular e fui com Remus comprar a tal bebida – duvido que vamos achar algum lugar aberto.
Eu senti o sol batendo no meu rosto mas não estava com muita vontade de me levantar. Ai meu Deus, que dor de cabeça, será que eu bebi de novo?
Os acontecimentos foram voltando à minha memória e, sim, eu bebi. Droga, eu não acredito que eu bebi de novo.
E ainda não consigo lembrar de nada do que eu fiz ontem à noite, só lembro mesmo do Remus chegando e...
Senti algo mexer do meu lado. Ai meu Deus! Ai meu Deus!
Abri um pouco os olhos e espiei o que tinha do meu lado. Prendi a respiração. Remus estava do meu lado, na cama! O que está acontecendo? Ai minha cabeça.
Depois de ver que Remus está do meu lado eu já tenho certeza que uma parte da história que eu achava que era sonho não é sonho.
Fechei os olhos com força, forçando a memória para voltar na noite passada.
Não tinha bebida, eu calcei minhas botas e fui com o Remus comprar. Ele aparentava estar muito nervoso e eu não perguntei de início.
Ficamos andando na neve, calados, um silêncio bem constrangedor para variar.
Estávamos voltando depois de ter achado uma padaria aberta e comprado cerveja e vinho. Estávamos chegando quando Remus soltou a bomba.
“Dorcas, eu terminei com você porque eu,bem... estava tendo um caso, por assim dizer, com a vizinha, a Marian...” ele disse olhando para o chão e eu quase deixei minha bolsa cair.
Ainda bem que ele estava com as sacolas.
“Eu sabia” murmurei baixo, sentindo a tristeza me pegar.Não estava acreditando.
Remus que filho da mãe! Eu sabia que ele tinha me traído com aquela loirona malhada. Ai, que dor de cabeça.
Estou ouvindo vozes lá dentro, ai, será que é? Ah, sim, a Lílian. Deve estar falando para o James da minha não-recuperação.
Porque o meu cabelo está cacheado? Porque meu cabelo está úmido?????????
Concentre-se Dorcas. Onde eu estava? Ah, sim, ele disse que me traiu e depois...
Eu me lembro de revirar a sacola de compras e pegar o vinho. Epa. O abri na hora e comecei a beber no bico, enquanto caminhava. Mesmo começando a beber naquela hora eu já conseguia sentir um pouco de tonteira.
Nunca fui muito forte com bebida, eu sempre fico bêbada muito fácil.
Pude ouvir Remus abrindo uma cerveja e reparei que ele me olhava, esperando uma reação.
Ai, que dor de cabeça. Não lembro mais nada daí... Agora o que eu lembro é, bem, quando já estamos na minha casa. Afinal, porque ele voltou para minha casa?
“Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém está ligando para mim!” resmunguei enquanto tomava outro gole de vinho. Droga, por que o Remus deixou eu ficar tomando aquilo?
Estávamos sentados no chão da sala, eu a essa altura sem sapatos e já havia tomado metade da garrafa.
“Calma Dorcas, não é bem assim... ” ele começou “Eu vim aqui porque eu te amo, porque eu queria voltar e...”
“Volta, ic, pra sua vizinha” eu disse. E ficou tudo embaçado de novo. Não me lembro de mais nada que ocorreu nessa hora.
Essa dor de cabeça está me matando...
Abri um pouco os olhos. Minhas roupas estavam espalhadas – pelo menos as de ontem – eu estava com um pijama e tinha uns cinco copos de água em cima da cabeceira, fora três caixas de remédios. O Remus está tão tonto quanto eu – acho – será que ele conseguiu carregar esses copos para cá?
Rolei um pouco para o lado e vi uma bolsa preta que não era minha.
Ah, a Lílian.
Nem quero imaginar a cara dela quando chegou no quarto e viu roupas espalhadas e o Remus na minha cama.
Não quero pensar nisso. Voltando para noite passada...
Remus estava me consolando, ele tinha acabado de derramar cerveja no tapete. Ele estava muito tonto também.
Foi então que chegou a proximidade máxima para eu suportar. Cheguei mais perto e o beijei, com as mãos entrelaçadas em seu pescoço.
Não demorou muito para ele me corresponder.
Eu estava me sentindo muito bem, muito bem. Mas um tanto idiota.
Mas estava com uma sensação ótima, alegre.
Remus me pegou no colo e rodopiou, comigo, logo após me deitando no sofá.
- Você está me desvirtuando? – eu ri, enquanto ficava sentada e sentia o mundo girar.
- Sempre. – ele disse, sentando no sofá e me puxando mais para perto.
- Eu não estou me sentindo bem... – eu comecei a falar, e vomitei.
Pelo menos não foi em cima dele.
Ai, meu Deus. Bati a mão contra a testa. Eu fiz isso mesmo? Nossa, que idiota. Eu não estou acreditando até agora que eu fiz isso. Suspirei. E tentei ‘voltar’ à noite passada, mas eu não lembrava de nada, estava tudo, embaçado.
Decidi que já era hora de levantar.
As maçaneta girou e Lílian entrou, percebendo que eu estava acordada ela pegou o copo e me entregou, sentando do meu lado rindo.
- Nem vou comentar – e ela apontou com a cabeça para Remus.
Ele estava parado, dormindo de lado. Mexeu um pouco e abriu os olhos. Ele piscou com força algumas vezes e levou a mão para cabeça, que provavelmente está doendo muito.
- Doidos – Lílian disse, revirando os olhos, e entregando uma pílula para cada um de nós, e um copo de água. – Espero que Dorcas não tenha que tomar nada abortivo, porque bêbados iguais vocês estavam ontem à única coisa que eu consigo imaginar...
- Não, nós não... er... – comecei.
- Não pense isso Lílian, não fizemos nada ontem. Dorcas passou mal e eu a coloquei para dormir. Depois eu passei mal e vim dormir também, estava bêbado e...
- Ok, ok, já entendi – ela riu, levantando e tirando o celular do bolso. – Curtam sua ressaca, vou ligar para o James me pegar aqui.
Ok, e agora eu quero condenar a neve do dia que nos encontramos de novo. Foi tudo por culpa dele. Se ela não estivesse lá e eu caísse eu nunca teria conhecido e me apaixonado pelo Remus – porque fala sério, eu nunca conversava naqueles jantares, a não ser com a Lily – e não teria sofrido, virado alcoólatra e não teria bebido feito uma idiota, agarrado o Remus, quase vomitado em cima dele e ainda ter que ser cuidada por ele.
Acho que estou sendo um pouco dramática demais.
Minha cabeça está doendo muito, muito, muito. Ai, como dói. Onde estão os remédios milagrosos? Acho que vou aderir à seita que coloca pó de café no bolso para não ficar de ressaca.
- Você pode se tornar bem depressiva quando bebe, sabia disso? – Remus disse, rindo do meu lado. Me virei para ele e me peguei encarando aqueles dois olhões azuis.
Dei uma risada envergonhada. Infelizmente eu sabia diso.
- Você chegou a dizer que ninguém te ama, que você era sozinha, que sua vida era uma merda e um bando de bobagens. – ele revirou os olhos.
- E depois eu te agarrei... – murmurei, relembrando com desgosto a cena. Ai, a carne é tão fraca...
- É mesmo! – Ai meu pai, ele ouviu! – Você me beijou e depois vomitou no sofá! – ah sim, o vômito, todos sempre se lembram dele...
- Ai que dor de cabeça – ele disse, cobrindo os olhos com as mãos. – Também bebi demais, mas eu pelo menos consegui te dar um banho e te colocar para dormir... Você não estava nem um pouco bem.
- É, eu sei. Você me traiu com a vizinha... Por isso terminou comigo? – eu o encarei e vi o sorriso e sua animação desaparecerem.
- Eu não sabia como te contar e me fazia mal te ver feliz sendo que eu tinha te traído. Me desculpe, eu errei feio. Eu percebi com esse tempo que te amo, mas vou entender perfeitamente se você não quiser nada comigo e...
- Você devia ficar calado um pouco – eu ri para ele. Eu sempre odiei aquela vizinha, mas estou realmente considerando reconciliar. – Talvez sim, Remus, mas se me trair de novo eu vou te castrar! – ri mais. Rir estava me dando uma séria dor de cabeça.
- Opa! Palavra proibida! – ouvi uma voz dizer e era James que estava ao lado de Lily, rindo. Vocês dois são dois vagabundos, esse quarto está em um estado totalmente lamentável, e olha só o cheiro disso! Quantas vezes vocês vomitaram?
Estava me sentindo como se uma cadeira tivesse batido na minha cabeça.
- Ai, meu Deus, nunca mais vou beber....- resmunguei, colocando a mão na cabeça.
- Está doida? O ano novo vem aí! Ano novo, vida nova e Dorcas de namorado novo... ou velho, mas vai ser um novo namorado de acordo com o tempo e... – encarei Lílian secamente – a, você entendeu.
Bom, eu teria realmente que agradecer à neve por me fazer cair naquele dia.
N/a: ain, eu gostei, e vocês? *o*. Eu realmente achei que ficou muuito grande, meu Deus, eu queria separar em parte um e parte dois, mas é capítulo único então vai ser capítulo único. Espero que não tenha sido uma leitura cansativa, eu realmente gostei muito de escrever.
Own, Dorcas boba apaixonada e Remus cafageste. Está bem meloso no início, mas no final ficou menos, USHAUSHAUHS.
Cara, obrigada pelos comentários!
Comentem mais. XD
Se ficou ruim, por favor, mintam[?]. Beijos beijos, obrigada ♥
PS: antes que a falta de vergonha me pegue, eu queria agradecer a uma ajuda especialíssima, sem a ajuda dela, minha fic nem ia ter fim. USHAUSHAUSHAUHS, Flora Gondim valeuzãaaao pelo final, sem você ia ficar uma porcaria minha visão de bêbada ♥ Valeu mesmo, agora toda vez que eu precisar de um final para fic eu vou correr em você. SUHAUSHUAHS, beijos, obrigada flor *-*
N/B: grande chelga? Ficou do tamanho certo, ta ótimo, amei :9 UAHSUAHSUAHS, sou suspeita, mas realmente ficou linda demais amoré *-* Hahá, se eu fosse a Dorcas e tivesse percebido que nada tinha rolado com o Remus na noite passada eu fazia rolar na manhã seguinte, falei :* adorei, ta linda demais amiga *-* e vocês comentem heein.
Beijos, Vanessa <3
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