Forever Summer



/ Narrado por Sirius Black, o bonitão das tapiocas/


Eu devia ter oito anos quando a vi pela primeira vez, ela era uma criança linda, angelical. Ainda sim, a primeira coisa que fiz ao vê-la foi jogar areia em seu rosto. Não foi a coisa mais legal a se fazer, mas dá um tempo! Eu só tinha oito anos e as coisas mais importantes para mim eram: Brincar escondido com a bola de basquete do meu pai e irritar os outros.


Voltando ao assunto principal... Quando joguei areia em seu rosto, ao invés de ir chorar na saia da mãe, ela pegou outro punhado de areia e jogou em mim. A garota era ousada e não tinha medo de ninguém, nem mesmo de um garoto que com o dobro de seu tamanho.


Cara, nunca até então tinha conhecido uma menina como ela. Todas as garotas da minha idade eram umas chatas, choronas, bobonas, que viviam brincando com umas bonecas estranhas de plástico que alguns chamam de ‘barbie’, eu chamo de lixo inútil. Parece que alguém está voltando a sua infância... Sinto-me novamente com oito anos...


Ela não gostava do lixo inútil, vulgo, barbie. Seu passatempo favorito era ficar na praia fazendo castelinhos de areia. Acho que foi por isso que me aproximei dela, porque além de ser diferente, ela fazia castelos de areia muito bem e naquele ano iria ter um concurso para escolher o castelo de areia mais bonito da praia. O prêmio era uma semana de sorvete grátis, qual criança do mundo não aprecia sorvete? Ok, me aproximei dela por causa do sorvete, mas o que conta é o resultado. Ele não podia ter sido melhor, ganhei uma amiga para o resto do verão e de quebra ganhei o prêmio do concurso de castelos de areia.


Ok, foi ela que ganhou o tal concurso, mas como eu estava registrado como um dos produtores do castelo, acabei ganhando também. Não importa como, mais ganhei, concordam?


Ela foi minha amiga por todo aquele verão, até em dias em que São Pedro resolvia agir e mandar uma chuvinha para terra, nós ficávamos juntos. Nossos pais até diziam que eu gostava dela e ela de mim. Aliás, sempre que um menino e uma menina tornam-se amigos, todos ficam dizendo que eles que se gostam, que no futuro vão namorar e toda essa baboseira. Eu lidava com isso naturalmente, afinal, sabia que no fim do dia nós ainda estaríamos falando de desenhos animados e não de beijo na boca. Aliás, nós dois na época achávamos super nojento quando os adultos se beijavam.


Nada dura para sempre, era isso que minha mãe sempre dizia. Com aquele verão não foi diferente. Quando estamos felizes não sentimos o tempo passar, por isso não estava preparado para ir embora, para deixar Marlene. Confesso que tive medo de nunca mais vê-la, nunca mais poder brincar com ela, e tenho certeza que foi recíproco.


Eu, em minha inocência infantil, achei que fugir era a nossa melhor opção. Então, Marlene e eu fugimos. Nós realmente acreditávamos que ninguém nunca ia nos achar, e que iríamos sobreviver com apenas três maçãs e um pacote de bolacha recheada. Nós nos escondemos na floresta na esperança de achar uma família de macacos disposta a nos criar, que nem a família do Tarzan.


Esperamos horas pela tal família de macacos, mas nenhum animal sequer apareceu. Estávamos exaustos, com sede, sujos e sem esperanças. Então, segurei a mão de Marlene e a levei até a praia. Eu conhecia um atalho que nos fez chegar muito mais rápido.

O sol estava se pondo, levando com ele todas as esperanças que ainda restavam. Era inevitável, nós dois iríamos partir e sabe se lá quando iríamos nos ver novamente. Talvez quando nos víssemos, não reconheceríamos um ao outro.


Naquele belo cenário fiz algo que nenhum garoto na minha idade faria, eu a beijei. Marlene ficou surpresa com o repentino toque de nossos lábios. Não diria que aquilo foi um beijo, e sim um gesto de amor. Um amor que nem eu, nem ela entendíamos, algo que ia além de nossa compreensão infantil.


Nossos lábios ficaram unidos por uma eternidade, pelo menos foi o que pareceu para mim. Um momento eterno. Até que nossos pais chegaram e nos separaram. Eles começaram a nos abraçar e perguntar se nós estávamos bem; depois começaram a gritar e a perguntar se sabíamos o quão grave era o que tínhamos feito. Não prestei atenção em nada do que eles falaram, só conseguia pensar em quão vazios seriam meus dias sem ela. Minha melhor a amiga. Minha Marlene.


Meus pais tiveram que me arrastar dali, pois me recusei a ir. Quando percebi que estava me afastando dela, uma lágrima caiu de meu rosto. Uma única lágrima.


Assim que cheguei em casa fui para o meu quarto e me tranquei lá. No dia seguinte iria embora, e deixar o verão mais perfeito de minha curta vida para trás. Peguei no sono rapidamente, pois minhas forças estavam esgotadas. Eu era uma criança, que queria desesperadamente crescer logo, só para ter o poder de decidir o que fazer de sua vida. Se tivesse esse poder, jamais iria embora.


Agora estou com 20 anos. Um homem, muitos diriam. Mas ainda sou aquele menino cheio de vida e belos sonhos. Só uma coisa falta em minha vida, e o nome dessa coisa é Marlene. Depois da tarde em que fugimos nunca mais a vi. Até voltei a nossa praia algumas vezes e perguntei por ela, mas ninguém a conhecia ou se lembrava dela. Então, eu desisti. Um amor de infância que vai durar a vida toda.


Eu até amei outras garotas, mas não foi um amor tão forte e puro quanto o que eu sinto por ela. Ás vezes até acho que a uso como desculpa para não amar alguém por inteiro, mas aí me lembro do nosso último dia juntos e vejo que ela não é só uma desculpa para não amar. Ela é a razão para amar.


O incrível é que lembro cada segundo que passei ao lado dela. Olha que faz 12 anos desde que a vi pela última vez. Fico me perguntando se eu a reconheceria se a visse agora. Quando tinha 15 anos me perguntava se ela era uma boa aluna, uma boa garota, uma boa pessoa... Agora com 20, me pergunto se ela me deixaria amá-la.


Ela pode ser qualquer uma. Nada a distinguiria de outra garota, tudo que era aos sete anos, não é mais. A dúvida me mata e não me deixa esquecê-la. Ás vezes só queria tirar tudo que sinto por ela de mim. Amar um ser invisível, um ser sobre o qual você não sabe muito, é ruim. Dói muito mais do que deveria doer.


Agora o sol está se pondo. Um belo espetáculo para muitos, mas para mim o pôr do sol não lembra coisas felizes... Foi ele que presenciou o primeiro e único beijo que dei em Marlene, o pôr do sol é a única prova concreta de que ela esteve aqui. Ele é meu único aliado.


Queria que o pôr do sol tivesse o poder de trazer a minha garotinha para mim.


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/Narrado por Marlene, a garotinha fantasma/


Não devia ter dito ‘não’. Amo James, quero dizer, acho. Isso não importa, o que está em pauta agora é o fato de eu ter dito ‘não’ quando ele me pediu em casamento. Quer dizer, ao lado dele eu teria tudo com o qual sonhei. Teria uma família estruturada, uma boa casa, uma vida equilibrada, segura. Quem pode querer mais que isso hoje em dia?


Eu posso. Aparentemente só quero uma coisa: o garoto que conquistou meu coração quando esse negócio de amar era fácil e sem complicação alguma. Amar era um gesto natural para nós, o nosso amor infantil era inocente, bonito de se ver. Eu gostava de estar ao lado dele, ele me passava segurança, até quando tinha medo. Sirius nunca deixou que nada me machucasse, era o meu protetor, como se eu fosse à princesa em apuros e ele o príncipe destemido que faria tudo para salvar a tal princesa.


Sirius Black me fez voltar a sorrir, quando eu achava que o mundo já não valia à pena. Tudo bem, ‘achar que o mundo não vale à pena’ com sete anos é meio estranho, mas naquela época o meu mundo estava desabando. Meus pais estavam quase se separando, as brigas entre eles eram cada vez mais constantes e já nem se preocupavam se eu presenciava ou não essas brigas. Ir para Sunset Beach foi uma ultima tentativa deles. Claro que foi uma tentativa em vão, mas pelo menos puderam dizer que tentaram.


 Não que tenham tentado por mim, só o fizeram por causa das convenções sociais.


Eu não conseguia entender a amplitude do que estava acontecendo em minha vida, não queria entender. Queria ficar quieta no meu canto, mas ele não deixou. Agradeço todo dia por ele tê-lo feito. O garoto me fez lembrar de que eu era uma criança e que a briga dos adultos não tinha nada haver comigo. Ele me fez voltar a agir como uma criança e foi tão bom.


No começo eu era algo que o faria ganhar o concurso de castelos de areia, mas depois virei sua melhor amiga. Nenhuma criança da minha idade me fazia tão bem quanto ele, nenhuma era tão especial ou linda para mim. Costumo brincar dizendo que ele me ganhou assim que jogou terra no meu rosto. Pois, com esse gesto esqueci todos os meus problemas, a única coisa em que pensava era em revidar. E eu o fiz.


Ele tinha os olhos mais bonitos e profundos que já tive o prazer de apreciar. Seus olhos misturavam várias tonalidades de azul, uma mistura perfeitamente equilibrada. Como aqueles olhos me fascinavam! Não conseguia mais passar um dia sem olhar para aqueles belos olhos, sem poder brincar com meu príncipe encantado.


Quando o fim do verão se aproximou senti que algo iria ser tirado de mim. Ele. Aquele verão foi inesquecível, magnífico, fascinante, especial...


Foi a época mais feliz da minha vida. Quando ele disse para mim que queria fugir comigo, pois nós não podíamos nos separar, eu aceitei. Fi-lo por ser ingênua demais, por não querer que aquilo acabasse nunca. Queria tê-lo ao meu lado eternamente.


No dia marcado disse a minha mãe que iria a praia, para olhá-la por uma última vez. E sai. Ela não notou a trouxinha de roupas que levava comigo, nem muito menos que eu tinha pegado algumas maçãs. Se notou, não achou estranho.


Encontrei-me com Sirius no começo da trilha, ele parecia tão esperançoso que acabei tendo certeza de que tudo daria certo. Eu me senti segura, pois ele jamais deixaria algo ruim acontecer comigo.


Comecei então a crer que ninguém nunca nós acharia. Quanto mais dentro da mata ficávamos, mais segura me sentia. Nada podia nos parar. Ninguém podia nós impedir de ficar juntos para sempre. Quantas vezes disse para sempre nesses últimos dois minutos? Não faço a mínima idéia, toda vez que penso nele e no que aconteceu fico desnorteada. De qualquer forma...


Andamos por horas e nada. Não encontramos a família de macacos que cuidou do Tarzan, ela era nossa única esperança. Imagina que sonho seria ser criado por uma família de macacos igual a do Tarzan! Nós éramos crianças que tinham belos sonhos e muitas esperanças. Ás vezes queria voltar a me sentir do mesmo jeito que me sentia aos sete anos. Era tão bom ter esperanças e sonhos. Crescer. Essa palavra soa suja, imunda. Crescer só te faz aprender a sofrer. Pelo menos crescer só me ensinou a suportar certas dores em silêncio. Não acrescentou nada, só me fez chorar mais.


Estava começando a ficar cansada, com sede e suja. Nossa aventura estava chegando ao fim. Olhei para Sirius e ele conseguiu captar a mensagem, entendeu que não adiantava mais tentar lutar contra o destino. Nós tínhamos que voltar.


Ele segurou minha mão e me levou por um caminho que eu não conhecia. Chegamos rapidamente à praia, aquele devia ser algum tipo de atalho... O sol estava se pondo, uma das coisas mais lindas que já vi. Claro que já tinha visto o sol se pôr outras vezes, mas aparentemente nunca o tinha olhado com tanta atenção. Era perfeito demais, não dá para descrevê-lo com palavras, pois elas não farão justiça ao que vi.

Sirius começou a chegar perto de mim. No começo achei que queria falar algo em meu ouvido, para que fosse nosso segredo. Ou algo do tipo. Aquele garotinho me surpreendeu. Sirius Black me beijou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Meu primeiro beijo. Foi tão mágico, senti meu estomago revirar e tudo mais. No começo estranhei aquilo, pois nunca tinha sentido algo parecido. Depois de alguns segundos, comecei a apreciar aquela sensação. Era tão boa. Tão diferente.


Não existiam segundas intenções. Foi puro, delicado e perfeito. O melhor beijo.  O único que dei que me fez sentir completa. Nossos pais nos separaram. Não sei como, mas eles conseguiram nos achar. Senti como se tivesse levado um soco no estomago. Nunca mais iria ver Sirius. Nunca mais.


Era tão... tão... tão... triste. Não queria deixar o meu garoto dos olhos azuis vibrantes. Queria que ele ficasse comigo para sempre, mas não era possível. Os adultos gritavam, choravam. Estavam histéricos, mas eu me não importava. Só queria continuar olhando ele, para poder gravar cada linha de seu rosto. Quando virou as costas para mim, desabei.


Fiquei sem animo para nada por dias. Não queria comer nem sair da cama. Só chorava.


Aquela foi a primeira grande perda da minha vida.


Anos se passaram e ainda choro a noite pensando nele. Choro por querer tê-lo ao meu lado, por não saber se ele ainda está vivo, por não conhecer ‘quem ele é’ agora, por simplesmente estar com saudades. Talvez se o reencontrasse agora, ele me achasse uma idiota por amá-lo. Ou talvez me amasse de volta. Só mais um sonho implantado com a função de suprir uma dor...


Não deveria estar aqui mais uma vez, Sunset Beach é Sirius e somente Sirius. Devia estar em algum lugar que fosse James, para que pudesse pensar com clareza no próximo passo. Aceitar e viver o sonho americano ou recusar e virar uma mulher ressentida mergulhada em um passado irreal. Incrivelmente as duas opções têm o mesmo peso, a mesma conseqüência, a mesma quantidade de lágrimas. Um caminho para a danação eterna.


O sol começa a se por e mais lembranças me inundam. Um beijo, uma promessa proferida no silencio de um olhar, lágrimas... Queria ter o poder de mudar o passado, se o tivesse apagaria Sirius de minha vida e tentaria viver com o vazio que provavelmente sentiria. Qualquer situação é mais certa do que essa. Sem ele, o amando, chorando por ele, vivendo por uma ilusão infantil.


Algumas lágrimas caem do meu rosto. Devo, finalmente, parecer tão quebrada quanto minha alma. Depressão, desilusão, raiva, dor, saudade. Tudo que me atormenta desde que ele se foi. Minha escuridão. A única cura que vejo para ela está demasiadamente distante. Sirius, Sirius, Sirius, Sirius, Sirius, Sirius.


-Você está bem, moça?- uma voz grave se faz presente, pensei que ninguém vinha aqui. É a parte mais remota da praia, nada que turistas desavisados possam conhecer. Profanaram meu santuário. Sinto-me ultrajada, aqui é meu lugar e de Sirius, mais ninguém. Ninguém.


-Estarei melhor assim que você sair daqui. – falo secamente. Meu olhar se prende ao dele e é impossível. Esses olhos, não. Não pode ser, não é. Provavelmente é uma ilusão criada por meu coração despedaçado para que me sinta melhor por instante. Esse azul. Poderia me afogar nele. Não Marlene! Pare agora.


-Quem é você para estabelecer onde devo ficar? Só estava querendo ajudá-la, mas você obviamente não precisa. – ele vai se afastando enraivecido. Existe uma chance em um milhão, um bilhão, dois trilhões.


-Sirius?- grito com toda a força que consigo, mas ele não parece ouvir. – SIRIUS?- estava errada, não é ele. Provavelmente estou beirando a loucura, vendo-o em todos os lugares, em todos os rostos.


O estranho parece vacilar por um instante e volta. Deve achar que estou delirando e preciso ser levada a um hospital. Essas boas almas de hoje em dia são difíceis de acreditar.


-Como você sabe?- ele parece assustado e eu devo estar lívida. Isso não é um filme, coisas assim não acontecem, principalmente quando você precisa que elas aconteçam. Se eu fechar os olhos, ele vai desaparecer e novamente estarei sozinha com minhas dores. –Repito minha pergunta, como você sabe meu nome?- abro os olhos e ele ainda está ali. Suponho que se morresse agora, morreria com a alma serena e sorridente. Tudo ainda parece incrivelmente irreal.


-Eu conheci um garoto há um tempo, ele tinha olhos que eram uma mistura perfeita de todos os azuis conhecidos e os que ainda irão ser descobertos. Ele era meu príncipe e eu sua desajeitada princesa. Ele me protegia de tudo que pudesse me quebrar e eu o amava. E como em um ciclo doentio, o amarei até o fim dos tempos. – um misto de surpresa e felicidade habita o rosto dele. É ele. Sinto-me como em filme, onde no fim tudo dá certo, o mocinho encontra a mocinha e eles são felizes juntos. Um conto de fadas praticamente. Bela ironia.


-Senti tanto sua falta, minha pequena fada dos castelos de areia... – ele me abraça e me sinto novamente com sete anos. Tudo que estava quebrado se conserta. A vida me é devolvida por um simples abraço.


-Sirius, nunca mais me deixe, nunca, nunca, nunca. – ele se inclina para me beijar e fecho os olhos para esperar o inevitável encontro de nossos lábios. Ao invés disso, recebo um punhado de areia na cara. Um novo ciclo se inicia no momento em que eu revido e saio correndo atrás dele. Simplesmente não poderia ser de outra forma, afinal é verão. Nosso verão.


 



N\A: Essa fic é a primeira do projeto estações. Era para ser leve, livre e feliz, mas saiu isso aí. Ah, nem sei mais o que falar. Até Winter, pessoas^^


P.S: Nath, obrigada por ler isso antes de todo mundo e me incentivar a continuar o projeto estações. É para você, guria^^
P.S: A capa de madrugada, VALEU MINHA LARISSA*-*
P.S: Chega de PS.


 

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