Capítulo 1



 


Capítulo Um

 


 


 


 


 


Eu odeio acordar cedo. Onde já se viu? Ter que acordar cedo para aulas completamente entediantes e chatas ao invés de ficar dormindo. A única coisa que salva durante a semana é a sexta. A perspectiva de um final de semana inteiro de festas e a possibilidade de dormir mais um pouco agrada todo mundo. Sem exceções.


 


Se bem que... ultimamente eu ando apreciando um pouco essa idéia de acordar cedo. Não pelas aulas, obviamente, mas para pegar ônibus.


 


Faz poucos meses que eu me mudei, conseqüentemente, o ônibus que eu pego para ir para a faculdade também mudou. E toda vez, quando o ônibus está chegando em um determinado ponto, eu a vejo. Uma linda ruiva de olhos verdes, mas tão verdes que lembram esmeraldas.


 


Nunca tive a oportunidade de conversar com ela. O nosso ônibus é cheio, então, quando chega ao ponto dela, a maior parte das cadeiras estão ocupadas e nunca há uma cadeira vaga ao meu lado.


 


Eu já a observei às vezes, sentada lá atrás. Sempre olhando para algum livro em seu colo, com as bochechas rosadas devido ao vento que entra pela janela, que ela deixa aberta.


 


Droga! Quem manda eu ficar andando devagar quando penso nela? Perdi o ônibus. Quem sabe se eu correr, eu consigo chega ao próximo ponto? Quem sabe se eu passar pela rua daquele restaurante italiano que minha mãe tava falando, eu não consiga cortar o caminho?


 


Boa! Cheguei ao ponto poucos segundo antes do ônibus. O ruim é que eu estou sem nada para beber agora. Estou morrendo de sede e... opa! Tem uma cadeira vaga ao lado dela! Nunca apreciei tanto o fato de nosso ônibus ser tão cheio como agora.


 


Me sentei ao seu lado, e seu perfume floral me deixou aturdido. Será que ela vai me achar muito fedido? Estou todo suado. Estou com nojo de mim mesmo.


 


Ok. Eu não consigo mexer um músculo. Não consigo abrir a boca para falar um “oi”, ou um “bom dia”, ou até mesmo “parece que hoje vai ser um dia quente!”. Sorte minha. Se eu soltar uma dessa, ela vai me achar o maior babaca da face da Terra. A olhei algumas vezes, mas ela estava concentrada olhando através da janela, passando a mão nos cabelos, provavelmente desembaraçando-os.


 


Ela está tão distraída que não falou um “a”. Ou será que ela não queria era falar comigo?


 


De repente, ela se levantou e puxou a cordinha.


 


-Com licença. – ela me pediu.


 


Me levantei e a  deixei passar. A voz dela é muito doce, quase musical.


 


-Obrigada.


 


-De nada.


 


Sim, eu sei ser educado. O chato foi que, como eu estava nervoso – mesmo tendo falado apenas cordialidades do dia-a-dia – minha voz saiu mais rouca do que o costume. E olha que ela já é rouca!


 


Droga! O meu dia hoje não está sendo um dos melhores. Eu me mostrei o mais covarde dos seres vivos. A única coisa que salva foi a viagem de ônibus ao lado dela.


 


O ponto em frente à universidade já estava chegando. Me levantei e puxei a cordinha.


 


Já estava colocando os fones do ipod no ouvido quando Sirius chegou.


 


-E aí Prongs?


 


-Fala Padfoot! Cadê o Moony? Pensei que você fosse pegar uma carona com ele hoje.


 


-Foi procurar uma vaga. As próximas da entrada já estavam ocupadas. Eu digo pra ele: “Moony, acorda cedo cara. Eu não quero chegar atrasado na faculdade. Eu tenho que ser um médico responsável desde agora.”


 


-Como se você realmente me dissesse isso. Sou eu quem tenho que passar meia hora te acordando quando vou te buscar. – o Moony chegou do nada com a mochila nas costas. – Hey James!


 


-Remus!


 


-Só para me informar. Qual é a sua primeira aula?


 


-Cálculo III na área 3, bloco E, sala 302. Mais alguma coisa? Quer o CEP da universidade também?


 


-Não, obrigado. Mas é que eu acabei de ver seu professor indo para a sala.


 


-CARAMBA! – e saí correndo.


 


Ainda pude ouvir Remus gritar:


 


-Não esqueça que vamos almoçar no shopping hoje!


 


Beleza! Tinha esquecido. E eu ainda tinha aula de Desenho Técnico III de tarde.


 


Depois da aula – que passou incrivelmente rápido, já que eu só conseguia imaginar um par de olhos esmeraldas me encarando e falando “Com licença.” – fui até o carro de Remus esperar que ele saísse de sua aula. E esperar o Sirius parar de se admirar no espelho.


 


Quando enfim chegamos ao bendito shopping, minha barriga se revirava e se digeria de fome. Pegamos nosso lanche no McDonald’s mesmo e nos sentamos numa mesa qualquer. Tudo para comer mais rápido. Daqui a pouco os alunos do ensino médio das escolas próximas estão saindo de suas aulas e vindo comer aqui.


 


Meu sanduíche estava começando a se digerir quando a vi na fila do Bob’s com uma amiga, conversando animadamente. Meu estômago se remecheu.


 


-O que foi? – o Remus sempre teve que ser o mais atento de nós.


 


-É a Garota do ônibus. – eu falei. Obviamente meus amigos já sabiam dela. Eles sempre sabem de tudo sobre mim.


 


-Onde? – perguntou Sirius curioso.


 


Indiquei a mesa onde ela havia se sentado com a amiga e na qual outra garota se sentava no momento.


 


-Epa! Não é a Lene não, é?


 


-Quem?


 


-Você sabe! A garota com quem eu fiquei naquela festa que você não foi porque tava viajando com seus pais.


 


-Ela é a ruiva?


 


-Não...


 


-Então não é não. – olhei para elas discretamente. A ruiva em questão estava tendo um ataque de tosse. – Vocês conhecem as amigas dela. Ótimo! Vocês vão tentar fazer com que nós nos conheçamos.


 


Remus pareceu ponderar um pouco sobre o assunto, mas como Sirius era um cara de ação, logo se pôs em pé. E meus dois amigos foram em direção à mesa dela.


 


É... hoje o dia está ficando bom. Graças ao meu atraso, me sentei ao lado dela e pude ouvir nada mais, nada menos do que três palavras saindo de sua boca. E agora, pode ser que eu descubra seu nome, e até converse com ela depois.

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