Epílogo



N/A: Todas as notas ao final, ok?
Boa leitura!



Epílogo
Sob diferentes pontos de vista II: Considerações Finais



“Está calor e o dia reina bastante claro. Daqui não consigo ver muito bem através da janela, mas pela intensidade da luz que enche completamente nossa cabine, o sol deve estar alto. Talvez exatamente no meio do céu, indicando que já passa do meio-dia. Gratamente eu já me livrei do pesado uniforme de Hogwarts e estou usando uma de minhas roupas de verão, mas ainda assim a parte de trás da minha blusa leve de algodão ainda insiste em grudar no encosto do assento, úmida. Estou suando. E ouso dizer que nem preciso da ajuda da Trelawney para prever que a estação vai ser bastante quente... Não que a professora charlatona saberia prever alguma coisa que não fosse desgraça, de qualquer maneira.

Bom, mas o calor do dia e os raios dourados insistentes nunca serão suficientes para que eu me sente de modo correto e afaste minha bochecha do ombro dele. Se é esse o propósito, querido sol, sinto informar que você pode baixar a bola e desistir, porque você não vai me convencer. Eu sou teimosa, eu tenho personalidade forte, eu sou a caçula de sete irmãos e eu já enfrentei até mesmo Fred e Jorge, saindo vitoriosa se alguém me perguntar. O fato então, é que eu não desisto assim tão fácil, porque, afinal de contas, eu sou uma Weasley.

Está confortável aqui, não importa o quanto a pele de meu rosto esteja começando a umedecer o ombro da camiseta dele também. O braço dele está timidamente envolvendo minha cintura e eu sei que o “timidamente” é graças à presença indesejada do meu querido irmão, já que o Harry pode ser muito, er, desinibido, quando estamos à sós. Então obrigada por isso, Rony, muito obrigada!

Rony.

Eu sei que isso vai ser um choque e ninguém nunca vai ouvir essas palavras se materializarem fora da minha boca, mas meu irmão cresceu. Não no tamanho, o qual ele sempre foi bem adiantado e eu bem desconfio que Fred e Jorge podem ter um dedo ou outro nisso, já que adoravam praticar feitiços variados na gente, mas Rony cresceu como pessoa.

Difícil acreditar??

Oh, muito! Imagine para mim, que olho para o banco à frente e não consigo mais pegar nem mesmo um sinal daquele garoto extra grande com cérebro atrofiado tamanho “P” que eu conheço desde que me lembro de abrir os olhos pela primeira vez de dentro do meu berço na Toca. Esse é um trauma que eu posso não superar nunca mais em minha vida, sabia?! Mas eu tenho que dar o braço a torcer e confessar que essa figura que eu conheço desde que nasci e que agora está praticamente babando olhando para a garota deitada em seu colo, amadureceu. Tudo na vida tem um jeito, isso é certo. Se o Rony amadureceu, daqui a pouco as nuvens vão ser de açúcar, a luz do sol cheirará caramelo e a chuva vai ter gosto de sorvete. Não duvido de mais nada...

Mas apesar de não ser charmoso como o Gui, esperto como o Carlinhos, engraçado como os gêmeos, ambicioso como o Percy (graças à Merlim ele não é!) e a genialidade dele não se comparar à minha, Rony é um Weasley. E a característica maior da nossa família não é o cabelo ruivo, as sardas, nem nada parecido. A característica principal de um Weasley é o tamanho do nosso coração. E definitivamente, o coração do Rony é o maior que eu já conheci. Extra grande também, até para os nossos padrões. Exatamente por esse motivo, Rony sempre vai ser meu preferido. Sempre vai ser o especial. E o melhor da festa é que a pessoa que mais importa parece entender isso perfeitamente. Grande surpresa!... Hermione sempre entende tudo.

Hermione.

Essa é outra que mudou. Só que ao contrário do meu irmão, Hermione não amadureceu, ela relaxou. Será que é a alma de Weasley começando a se manifestar dentro dela? Não sei, mas o fato é que Hermione parece ter se libertado de algo que a impedia de viver plenamente, algo que prendia os pés dela no chão e não a deixava abrir as asas e voar. Enquanto Rony cruzou a linha para o mundo adulto, Hermione encontrou a estrada que a levava diretamente para a criança que sempre esteve perdida dentro dela. Ele cresceu, ela aprendeu a viver sem complicar e talvez seja justamente por isso que eles se completem. Se balanceiem. Se amem.

Mas já chega desse tópico. Não é muito agradável pensar na vida amorosa de seu irmão e a situação fica um pouco pior quando o par nas agora constantes trocas de saliva com ele é sua melhor amiga. Irmãos deveriam manter-se sempre castos aos nossos olhos, pois é repugnante pensar nisso! Acho que até meio que entendo o sentimento deles ao pensarem em mim do mesmo modo quando o assunto é o sexo oposto... Entendo, mas não perdôo. Porque se não fosse por essa besteira toda e o Rony não estivesse aqui, tenho certeza que o Harry e eu poderíamos estar fazendo coisas muito mais interessantes. Muito, muito mais, eu diria.

Harry.

Meu herói de infância, meu amigo, meu namorado, meu pirata com mão de gancho e cicatriz de raio... É impressionante como só a presença dele faz o meu mundo se entorpecer e as coisas se esvaírem de uma vez de minha cabeça. Ele me faz esquecer do universo, mas nem mesmo o universo inteiro seria capaz de fazer com que eu o esquecesse. Não que eu não tenha tentado nunca, porque eu tentei. Inúmeras e incontáveis vezes eu ignorei meus sentimentos e segui com a vida. Mas falhei nesse intuito e nem mesmo minha perseverança Weasley me ajudou com essa tarefa. E graças à Merlim que ela não ajudou ou hoje Harry não estaria aqui, deslizando os dedos de modo suave e secreto na pele quente da minha cintura, fazendo-me arrepiar e sustentando o peso da minha cabeça em seu ombro.

Eu nunca consegui esquecê-lo devido a teimosia do meu coração e a insistência da minha mente nas idéias de que a esperança é a ponte que leva o sonho à realidade, que sonhar nunca é demais e que o único fracasso é não tentar.

E como num passe de mágica, num belo dia ele me beijou, provando a veracidade de cada uma das minhas idéias. Bem, não num dia muito belo se formos pensar, porque o céu estava escuro e estávamos fugindo de uma tempestade, mas mesmo assim. Nem em meus sonhos mais loucos eu teria imaginado meu primeiro beijo com o Harry naquela situação. Eu posso ser forte e tudo o mais, mas eu sou uma garota e como toda garota que se preze eu sonhava com um beijo no meio de um jardim ensolarado, com o som de pássaros cantando ao redor e os raios de sol banhando nossas faces. E o que tive foi um beijo no meio de uma poça de lama, com o som de uma tempestade estrondeando ao redor e pingos de chuva e barro banhando nossas faces. Mas ainda assim, a sensação foi a melhor da minha vida. Simplesmente porque o garoto era Harry. E isso era realmente o que importava e o que sempre vai importar.

Entretanto, analisando bem a situação, não é uma surpresa que as circunstâncias do nosso primeiro beijo tenham sido tão às avessas. As coisas para mim sempre foram um pouco assim. Por exemplo, eu tive apenas dois heróis em minha vida, mas ambos meio “tortos”, ou seja, às avessas. O primeiro, obviamente, se chama Arthur Weasley e será sempre meu eterno herói. Falando sério, quem mais conseguiria criar sete filhos ganhando o que ele ganha, driblaria frequentemente a fúria explosiva de mamãe, seria sempre honesto e leal e ainda arranjaria tempo para colecionar tomadas? Só papai tem essa capacidade! Juro, não estou brincando! Mas o mundo não reconhece essa grandiosidade e meu primeiro grande herói é meio às avessas exatamente por isso: ele é um herói anônimo, particular. Nem por isso menos especial, claro.

O segundo grande herói da minha vida é um tanto óbvio também. Ele é bem reconhecido, ao contrário do primeiro, embora odeie sua fama. Com um ano de idade ele derrotou o bruxo mais poderoso e maléfico que já pisou na Terra. Ele cresceu órfão e sendo torturado por parentes horríveis. Ele protegeu a Pedra Filosofal, me salvou da Câmara Secreta, ajudou o padrinho escapar voando nas costas de um hipogrifo roubado, viu o mal ressurgir e retornar diante dos seus olhos. Ele perdeu esse mesmo padrinho numa batalha e nesse ano, mesmo ferido enfrentou Você-Sabe-Quem novamente e resgatou meu irmão e minha melhor amiga. Mas mesmo com todos esses atos nobres e feitos valentes, Harry Potter também é, para mim, um herói às avessas.

Por quê?

Simplesmente porque Harry não é meu herói por nenhuma das coisas maravilhosamente perigosas que eu citei há pouco. Eu o admiro muito por isso e, quando uma pequena criança, o idolatrava pelos mesmos motivos que todos no mundo bruxo. Na ocasião ele não era um herói às avessas para mim, mas hoje é. Porque ninguém pode ser considerado herói por cometer um crime, certo? E Harry é meu herói exatamente por isso. Ele cometeu um crime ao entrar no meu campo de visão quando eu tinha apenas dez anos: Harry roubou.

Roubou e se apossou do meu coração. Para sempre.”

Gina Weasley


*****



“Paz.

É meio esquisito pensar que no meio de uma guerra essa palavra seja a única que defina exatamente como estou me sentindo no momento. Mas tudo parece tão calmo, tranqüilo e as coisas parecem estar nos lugares que sempre deveriam ter estado. Assim, é impossível negar essa sensação de calmaria que toma conta de todo meu corpo...

Ela é falsa, eu sei. Eu sei que em algum lugar desse mundo tem um bruxo maníaco que assassinou meus pais, destruiu lares, vidas e que agora sonha em colocar as mãos brancas e gélidas em cima de mim e disseminar o terror por toda parte. Eu sei que Voldemort deve estar nesse mesmo momento planejando seu próximo passo, sem se importar com dores, conseqüências ou sofrimento. Esperando por isso, aliás. E eu também sei que em determinado lugar do futuro, longínquo ou não, uma batalha final estará à espreita. À minha espreita. E o mais estranho de tudo, é que ainda assim eu não temo. Ainda assim estou tranqüilo e, ouso dizer, estou feliz.

Foi um longo ano letivo esse que passou. Mistérios, batalhas, pesadelos premonitórios e, como sempre, algumas novas tentativas e planos para acabarem comigo. Até aí normal, pelo menos quando se trata de mim. Mas certas coisas caminharam de um jeito diferente. Muito mudou. E uma grande prova disso está há menos de um metro de distância de mim, no banco à minha frente, sob a forma de meus melhores amigos.

Ergo a cabeça devagar para observá-los. Rony está correndo os dedos devagar pelos cabelos de uma adormecida Hermione, seus olhos nunca deixando o rosto dela. Sorrindo, ele passa o polegar na bochecha dela com tal cuidado que é como se tivesse medo de quebrá-la ou estragá-la. Hermione suspira felizmente em seu sono e eu desvio o olhar, envergonhado por estar me intrometendo num momento tão íntimo dos dois.

Os dois. Esse não é mais apenas um modo de dizer, pois agora eles são realmente, verdadeiramente “os dois”. E é inútil negar que às vezes ainda acho estranho saber disso. Aliás, o estranho é presenciar isso, pois saber acho que eu já sei desde quando Hermione irrompeu pela porta dessa mesma cabine há quase seis anos atrás, falando de sapos e livros e deixando o Rony com o mesmo brilho no olhar que surge até hoje sempre que ele olha para ela ou simplesmente ouve o seu nome. À partir daquele momento acho que “Rony & Hermione” passou a ser algo inevitável...

Depois que nos tornamos amigos, nós sempre fomos vistos por todos como um trio. Mas o que é mais engraçado e o que acho que ninguém sabe é que antes mesmo de sermos um trio, Rony e Hermione já eram os dois. Premeditados um ao outro eu quero dizer, significados a terminarem seus caminhos num mesmo ponto.

Hoje eu vejo que quando os olhares desses teimosos se encontraram pela primeira vez foi como se um fogo desgovernado surgisse de algum lugar primitivo dentro deles e viesse à tona para simbolizar alguma coisa nova e irremediável. Nenhuma maravilha que o Rony não tenha notado antes, ele sempre foi um pouco lento com essas coisas... O que me intriga é que alguém tão inteligente quanto Hermione tenha levado tanto tempo para descobrir isso. E foi exatamente essa descoberta que mudou tudo.

Os anos se passaram e essa mesma cabine desse mesmo trem hoje abriga algumas das mesmas pessoas, mas ainda assim nada é igual. Um buraco formou-se no estofado de um dos bancos e um pequeno estalo agora marca o canto esquerdo do vidro da porta. A pequena Hermione daquela época deu lugar à outra com uma bagagem bem maior que livros e feitiços decorados. O Rony com sujeira no nariz há muito ficou para trás. E o despreparado Harry Potter de onze anos ainda continua despreparado, mas agora tem quase dezessete, está apaixonado e tem a chance de presenciar a celebração do amor bem diante de seus olhos. Mas não me peçam para ficar olhando, por favor.

A vida é um enigma para mim. Acho que se eu fosse como Hermione e sempre quisesse achar uma explicação viável e uma resposta para tudo, eu enlouqueceria antes mesmo de começar a pensar. Algumas vezes parece que tudo já foi rigorosamente traçado, cada passo, cada tropeço, cada erro e cada acerto. Parece que todos nós somos meros fantoches destinados a viver aquilo que nos foi reservado e trilhar os caminhos que nos foram impostos. Esse é um pensamento que me deprime. Por essa razão, eu gosto mesmo é de acreditar na teoria de que nós temos escolhas. Nós temos nossos caminhos predestinados, mas ainda assim podemos escolher como e com quem trilhá-lhos. E isso faz toda a diferença.

A vida me tirou meus pais, mas me deu Rony e Hermione. Eles são para mim o que os Dursley nunca conseguiram ou mesmo tentaram ser: a família que nunca tive. Mais do que melhores amigos, Rony e Hermione são os irmãos que escolhi para percorrer a estrada comigo...

E Gina?

Bem, Gina não é a família que nunca tive. Não. Gina é a peça principal da construção da família que um dia eu sonho em ter. Quando tudo passar. Quando os maus tempos se forem e a sensação de paz de nossos corações não for apenas aparente. Esse dia vai chegar, eu sei. Simplesmente porque todos nós temos nossas próprias razões para lutar por ele.

De forma cautelosa eu levanto os olhos para frente uma vez mais. A óbvia razão de Rony continua dormindo serenamente em seu colo e ele agora acaricia os lábios dela com a ponta do polegar. O toque dele é tão suave que chega a me espantar o fato de que alguém tão estabanado quanto o meu amigo possa ser também tão gentil e cuidadoso em certas ações.

Oh oh. Eu acabo de ser pego. De algum jeito o Rony pareceu sentir meu olhar sobre eles e ergueu um pouco a cabeça para o meu lado em tempo de me pegar espiando. Um sorriso lento e preguiçoso começa a estampar seu rosto sardento no mesmo momento em que uma vermelhidão apressa-se a esparramar por suas orelhas e pescoço. Rony tem um vislumbre tímido em seus olhos, mas o envergonhado na verdade sou eu, que não deveria ficar encarando meus amigos nem nada.

Tentando fazer as coisas um pouco melhores e menos desajeitadas para nós dois, eu devolvo o sorriso, lutando para parecer cúmplice ao invés de culpado.

Não deu certo. Rony agora está carranqueando ligeiramente. Seguindo a direção do olhar dele eu finalmente percebo o porquê: o estúpido está com a sua atenção voltada para a minha mão. Na cintura da irmã dele. Por baixo da blusa.

Eu afasto meus dedos depressa da pele morna da Gina e é a minha vez de sentir meu rosto se esquentando em embaraço. Meu olhar é apologético agora, mas pelo que parece Rony já não está mais atento às minhas ações ou mesmo à minha presença, porque Hermione resmungou algo em seu sono e o mínimo som emitido por ela pareceu puxar o Cabeça-Vermelha de volta para a dimensão particular dos dois. Argh! Isso está ficando um tanto enjoativo, realmente...

Um pequeno movimento sobre o meu ombro me distrai e eu observo para ver Gina me encarando. Seus grandes (e encantadores) olhos castanhos estão perfurando os meus de modo inquisitivo e cheios de curiosidade. Ela silenciosamente quer saber por que eu soltei sua cintura. Mas eu sei que não preciso responder quando ela lança um clarão de morte na direção do irmão e bufa como um adorável gato irritado. Meu adorável gato irritado.

Meus interiores dão um remelexo engraçado quando um sorriso perverso e desafiador cruza as feições de Gina e ela puxa meu braço novamente para sua cintura. Arriscando um relance nervoso ao Rony, eu suspiro aliviado ao perceber que ele continua vidrado na garota ressonando sobre seu colo. E já que ele está tão distraído...

Com um movimento calculado, porém decidido, eu levo minha mão livre para a bochecha macia de Gina e puxo seu rosto para cima, na direção do meu. Nossos olhos se fecham e eu não vejo, mas sinto um sorriso se formando nos lábios dela quando eles se encontram com os meus num beijo leve, mas intenso. Tudo é intenso com Gina. Aliás, tudo parece ser intenso na minha vida.

As perdas são sempre avassaladoras, as tristezas são sempre as mais terríveis e mesmo meu maior inimigo é o pior ser vivente dessa Terra. Mas nem só de desgraças vive Harry Potter. Eu também tenho os melhores amigos do mundo e a garota mais perfeita para mim. Amigos que se sacrificariam por mim sem qualquer segundo pensamento e uma garota que me faz querer viver. Por eles eu morreria quantas vidas eu tivesse, mas ao mesmo tempo, é unicamente a existência dessas pessoas que me impulsiona à frente, que acende meu desejo de atravessar toda essa guerra e sair vivo do outro lado.

E é isso a vida. Assim como esse trem tem seu caminho e segue para King’s Cross, todos nós temos caminhos a seguir, estações a alcançar. Eu não sei qual o meu caminho, mas tenho certeza de que ele vai dar num único lugar: dentro do coração de Gina e ao lado de Rony e Hermione.

Porque apesar da guerra, dos perigos, das dificuldades e de tudo que está por vir, nós estamos juntos nessa. E estamos ligados por laços inquebráveis de forças extremas como amizade e amor. Afinal de contas, como Dumbledore sempre disse, amar é a capacidade que me diferencia de Voldemort, e, mais do que isso, acho que amor é sempre o segredo que cada um, trouxa ou bruxo, deveria seguir para fazer seu próprio caminho. Eu estou fazendo o meu com a convicção de que todos os caminhos são mágicos, desde que nos levem direto rumo aos nossos sonhos.”

Harry Potter


*****



“Tão malditamente macios.

Tão assustadoramente suaves.

Mas rebeldes. E decididamente selvagens.

Como é que uma coisa só consegue reunir tantas qualidades diferentes? A Hermione é mesmo empolgante, fala a verdade. Até os CABELOS dela são únicos, gostosos de se tocar e brincar, mas indomáveis ao ponto de prender meus dedos dentro deles por uma vida inteira. Não que eu queira desembaraçar minha mão daqui, de qualquer maneira.

Mas como eu ia dizendo, a Hermione é empolgante. Olhando para ela agora, linda em sua camiseta branca modesta e jeans, as bochechas rosadas com o calor e o cabelo esparramado sobre as minhas pernas, tudo o que eu posso fazer é respirar fundo, engolir com força e sorrir como o idiota apaixonado que eu sou.

Quem a vê assim, adormecida e parecendo tão tranquila, nunca apostaria no poder assustador que mora dentro dela, no fogo fervente, na paixão sem medida. Hermione é como uma bomba prestes a explodir ou como um vulcão que muitos julgam inativo mas na verdade tem um poder em potencial tão grande que a qualquer minuto pode entrar em erupção. E nessas horas, quando a bomba explode ou o vulcão acorda, as labaredas que acendem nos olhos dela são muito maiores do que as dos fogos de artifício do Dr. Filibusteiro e muito mais explosivas do que todos aqueles Explosivins sangrentos do Hagrid juntos.

O olhar dela me aquece por dentro, mas me queima por fora, fazendo meus interiores torcerem, minha cabeça girar e a pele do meu corpo todo latejar. Mas eu não sei bem explicar, nunca fui bom com palavras mesmo. Hermione é que é. Ela é brilhante em tudo. A propósito, eu já mencionei que ela é empolgante?

Resmungando um pouco, Hermione remexe-se ligeiramente e sua cabeça rola de leve sobre meu colo. O rosto dela agora está meio escondido pela maré de cachos castanhos e eu não resisto a tirar uma mecha particularmente teimosa da frente de seus olhos fechados e empurrá-la atrás de sua orelha pequena. O movimento faz minha namorada (uau, minha NAMORADA! Ouviram isso? NA-MO-RA-DA! Ahá!) suspirar baixo e sua testa enrugar-se de um modo tão “hermionesco” que eu tenho que sorrir outra vez. Não tem jeito, eu vou ter que confessar que essa garota me transformou num completo babão.

Eu seria capaz de ficar horas, dias, meses, apenas encarando seus traços suaves e feições, sua boca vermelha, a pele pálida de seu pescoço, seu corpo cheio de curvas malditamente bem definidas...

Er... melhor parar.

Acho que deu para entender o essencial. A essas alturas todos já devem ter entendido que essa bruxa é realmente a minha ruína. E quando me lembro dos acontecimentos de ontem à noite naquele baile (Merlim abençoe os bailes!), posso afirmar com toda a certeza que além de ser minha ruína, ela é muito mais.

Só as recordações de como ela parecia assustada em dar um passo a mais na nossa relação faz meu coração inchar e eu tenho vontade de grudar nossos corpos juntos para sugar dela qualquer medo e ao mesmo tempo protegê-la de tudo. E as lembranças de tudo que aconteceu depois, da emoção crua na voz dela, de como ela me puxou para um beijo depois de me indicar o caminho para a Terra do Nunca, dos beijos incríveis que nós trocamos, ah, isso só me faz acreditar que a partir daquele momento a felicidade para mim não é mais uma palavra de dez letras e sim uma com oito. Querem saber qual é?

HERMIONE.

Minha
Hermione. E como isso soa bom aos ouvidos...

Eu sei que vocês devem estar pensando que eu sou um babaca desmiolado que precisa de um babador, mas inferno, o que eu posso fazer? Não dá para tirar Hermione um segundo sequer dos meus pensamentos. Não quando essa garota mudou minha vida no instante em que notou que eu tinha sujeira no nariz na primeira vez em que nos vimos, nessa mesma cabine, por sinal.

Mas isso foi há tanto tempo. Nós éramos então duas crianças, uma pequena Sabe-Tudo e um Sem-Pista desajeitado. Não que isso tenha mudado muito, mas nós dois precisávamos crescer. Naquela ocasião, quando ela tirou sarro do meu feitiço e da sujeira no meu nariz, eu também pensei nela como uma mandona irritante, mas hoje eu posso confessar que tinha uma parte do meu cérebro que só conseguia pensar no quão bonitos os olhos dela eram.

Bom, acho que é até meio idiota contar que Hermione me ensinou muito, não é? Vocês já devem ter chegado a essa conclusão sozinhos, mas como ela sempre diz que eu sou uma mula insofrível e teimosa, eu vou dizer mesmo assim. Com tantos anos de amizade, de brigas, de gostar calado e de não ser grifinório o bastante para demonstrar isso, posso dizer que aprendi demais com essa mandona irremediável.

Qual a grande surpresa disso, vendo que ela é a bruxa mais inteligente da Grã-Bretanha?

Bem, Hermione não me ensinou só coisas escolares inúteis do tipo dessas que existem aos montes em “Hogwarts, Uma História”. Ela me ensinou lições que nem a vida era capaz de me fazer entender. Por exemplo, antes quando eu pegava uma vassoura e me lançava para o alto, sentindo a brisa fresca no meu rosto e cabelos, eu acreditava que estava voando. Mas com a Hermione eu aprendi que não. Com ela eu aprendi que quando eu fazia isso, eu não estava fazendo nada mais do que pairando sobre o ar sobre um pedaço de madeira.

Voar é algo bem diferente. Voar é mágico, é enlouquecedor, é excitante. E é só junto da Hermione que eu estou voando. Quando ela me lança aquele olhar que é direcionado só para mim e para mais ninguém. Quando ela sorri aquele sorriso ardiloso. Quando ela me beija e pressiona as unhas quase dolorosamente na parte de trás da minha cabeça. Caramba, e só pensar na força que isso tem sobre mim é algo assustador. Hermione é assustadora. Mas brilhante, claro.

Falando em assustador, me lembrei de outra coisa agora. Será que vocês já estão cansados das minhas ladainhas para saberem mais essa? Bom, se tiverem, vão caçar Chifradores Bofudos com a Luna e o Colin ao invés e não prossigam, porque eu vou falar.

Quando eu era bem pequeno, Fred e Jorge eram a grande desgraça da minha vida. Chocados? Eu não ficaria, se fosse vocês... E eu disse ERAM? Nah, eu quis dizer SÃO. Mas de qualquer maneira, quando eu era criança isso era bem pior. Os gêmeos me assustavam até a morte, eu juro. Eles praticavam feitiços experimentais de todos os tipos em mim, me faziam entrar em cada cilada que até Merlim duvidaria e muitas vezes colocavam minha própria vida realmente em risco. E isso só começou a mudar depois que eles quase exterminaram a raça Rony Weasley de vez, transformando meu ursinho em uma aranha peluda nojenta e me deixando à beira de um ataque do coração. Foi bem feito para eles os gritos ensurdecedores da mamãe e a raríssima demonstração de ira do papai. Aqueles dois sangrentos ficaram com os traseiros ardendo semanas... Ha ha...

Mas depois desse lamentável episódio, os gêmeos mudaram sua postura. Eles não podiam tentar nada muito direto contra mim mais, então os ataques deles passaram a ser sutis. E os dois resolveram me chatear com palavras.

Tudo ficou ainda pior depois de um dia de verão que nós fomos dar uma volta nos arredores de Ottery St. Catchpole e uma garota trouxa cismou comigo. Ela não parava de nos seguir e eu queria me enfiar atrás do primeiro arbusto que encontrasse, enquanto os gêmeos riam de se acabar. Mas por Merlim, o que mais eu poderia fazer? Eu tinha oito anos!

Bem, mas esse acontecimento foi um prato cheio para os estúpidos Fred e Jorge. A partir daí eles me arreliavam o tempo todo falando sobre garotas e o quanto elas poderiam ser terríveis quando se apaixonam. Diziam que as meninas bruxas eram ainda piores e que eu estaria perdido quando fosse para Hogwarts, porque com a sorte que eu tinha, logo a mais assustadora delas iria cair de amores por mim. Uma garota tão estranha ao ponto de não gostar de Quadribol e quase não comer doces. Uma menina maluca que teria como passatempo favorito ficar horas estudando e fazendo lição de casa. E que ela me obrigaria a estudar e pegaria no meu pé todo o tempo, gritando e me assustando do último fio de cabelo até as pontas dos pés...

Merlim, vocês podem apenas imaginar o quanto eu tinha medo disso? E quem diria que aqueles dois tontos estariam tão certos... Hermione se encaixa muito nessa descrição traumática feita pelos gêmeos. Bem, pelo menos em parte. Ela não ama Quadribol, mas ela ainda está lá em todos os jogos, nos apoiando e torcendo, mesmo quando certamente ela preferiria algumas horas quietas para estudar. Ela quase não come doces, mas isso é pelo fato de seus pais serem dentistas. E está certo que ela estuda além da conta, fala demais e me obriga a fazer minhas lições de casa, mas suponho que esse é um pequeno preço que eu posso pagar sorrindo.

Então acho que Fred e Jorge deveriam praticar Adivinhação, já que obviamente têm talento. São melhores do que a Morcega-Velha, ao que parece. Preciso me lembrar de dizer isso a eles depois...

Mas os gêmeos erraram em alguns pontos. Ou quem sabe só deixaram de mencionar, vai saber. O fato é que nenhum deles nunca disse que essa garota assustadora do meu futuro seria também a mais linda e a mais brilhante. Nem que eu também seria tão apaixonado por ela. Porque falando sério, podem existir muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas basta apenas um para amá-la. E eu amo a Hermione. Ponto final.

Vocês provavelmente estão se perguntando: E o que alguém como Rony Weasley entende sobre amor?

Não entendo nada, realmente. Eu apenas sei que minha missão no mundo é fazer a Hermione sorrir. Sei que sou a pessoa certa para aborrecê-la com besteiras, protegê-la dos males e importuná-la quando ela estiver sendo mandona. Eu sou o cara certo para se orgulhar da inteligência dela e sou eu quem sempre vai animá-la quando ela estiver chateada. Não o albatroz de sobrancelhas grossas do Krum, o sangrento do Boot ou qualquer outro. Eu. Esse é o meu trabalho e sempre será.

E eu não posso prometer ser menos estúpido ou teimoso, nem posso dizer que serei mais tolerante ou menos ciumento, mas posso jurar com meu coração que amo a Hermione e pertenço completamente a ela. E isso nunca vai mudar.

Um pequeno som de um suspiro me tira dos meus pensamentos e me faz lembrar brevemente que Hermione não é a única pessoa nessa cabine além de mim. Olhando para a frente, eu vejo meu melhor amigo encarando minha irmãzinha de um jeito que me deixa feliz. Feliz por saber que eu não sou o único babão por aqui. Harry provavelmente não sabe, mas há tempos eu já abençoei a relação dos dois. Meus olhares de censura são apenas parte do papel de irmão mais velho. E olhando bem para a Gina, eu não vejo mais aquela menininha ruiva com duas trancinhas e olhar travesso de antes, eu vejo uma mulher forte e decidida, muito digna do menino-que-sobreviveu. Não que ela vá saber disso, lógico.

Só que agora chega de tantos pensamentos. Está muito calor e minha cabeça está se tornando pesada e confusa. Mas antes de me render ao sono, eu observo abaixo uma última vez e sinto como se meus ossos derretessem ao perceber os olhos chocolate de Hermione bem abertos e aquele sorriso tímido dedicado só para mim iluminando todo o rosto dela. Eu acaricio sua bochecha suada novamente e retribuo o sorriso. Só então minhas pálpebras se fecham e o último pensamento que brota do fundo da minha cabeça é de como a vida é engraçada e o quanto o destino é cheio de gracinhas, pois meu melhor amigo é o menino-que-sobreviveu e minha garota é a menina-que-retornou... E sabe, se vocês me perguntarem o que eu sou, eu já sei exatamente o que responder. Eu sou o menino-que-teve-sorte.

Sorte do quê?

Bom, isso é um tanto óbvio, não? Sorte de há quase seis anos atrás, nessa mesma cabine, ter encontrado os dois no meu caminho.”

Rony Weasley


*****



“Eu ainda estou dormindo? Por favor, que isso não seja só mais um sonho. Que eu realmente esteja aqui, tão confortável no colo do Ron. Do meu Ron. Que isso seja real. Por favor, por favor, por favor...

Certo, Hermione, você só precisa tentar outra vez. Pisque com força e depois abra os olhos bem lentamente. Assim, devagar...

Não é um sonho. Definitivamente tudo isso está acontecendo de verdade na minha vida e esse ruivo maravilhoso cochilando acima de mim é a prova mais concreta disso. Oh, e ele não fica fofo com essa carinha de sono?

Francamente, Hermione. Você perdeu totalmente o juízo. Você não é uma dessas menininhas bobas que ficam suspirando toda vez que -

Ai, que gracinha! Ele acaba de me premiar com aquele sorriso inclinado único, fazendo um milhão de borboletas se agitarem dentro do meu estômago. Hum... e os dedos dele estão tocando meu rosto de um jeito tão... tão... enlouquecedor. Sério, a sensação da pele do Rony sobre a minha não é algo que possa ser classificado como normal. Não mesmo. É como se cada pedacinho do corpo dele fosse feito de um material que se atrai irremediavelmente para o meu, como se fôssemos pólos positivo e negativo. Ou melhor, Rony e eu somos como dois líquidos inflamáveis super potentes e tudo que nós precisamos é de um minúsculo toque para atirar uma faísca e causar uma combustão de proporções gigantescas.

E analisando bem, de um jeito ou de outro, isso sempre foi assim. Antes, quando ainda não tínhamos conseguido cruzar a linha da amizade para o algo mais, um pontinho único de discórdia era a faísca necessária para causar labaredas de discussões explosivas. Mas hoje encontramos outras maneiras... Agora a faísca pode ser um sorriso morno, um olhar cheio de palavras não ditas, um toque macio. E a combustão não é mais na forma de brigas destemperadas, lágrimas ou gritos. Desde ontem à noite Ron e eu temos um acordo subentendido de libertarmos nossos fogos com beijos arrebatadores, com abraços asfixiantes. Nós entramos em combustão juntos e as chamas da explosão ardem sem realmente nos queimar, nos aquecendo ao invés, da cabeça aos pés.

Ele está dormindo agora. E mesmo na profundidade de seu sono, sua mão direita ainda descansa na minha bochecha, enquanto a esquerda não saiu um segundo sequer de dentro do meu cabelo. Se bem que ele não conseguiria tirá-la nem se quisesse, minhas mechas estão embaraçadas numa bagunça pior do que um ninho de rato. Não que rato tenha ninho, já que é um mamífero e ninhos são palavras designadas para aves, mas bom, isso não vem ao caso. O assunto em questão e que enche cada centímetro do meu cérebro é a grandiosidade de todos os acontecimentos mais recentes da minha vida. Por Jesus, Merlim e todas as entidades mágicas que existem, eu ainda não consigo acreditar em tudo que me aconteceu nesses últimos tempos. Não realmente.

Mas nada vai mudar, não importa o quão forte eu feche meus olhos e volte a abri-los para espiar ao redor. Eu não vou acordar repentinamente, não interessa que meus braços já estejam até doloridos dos meus próprios beliscões que eu insisto em continuar aplicando para ver se tudo não passa de mais um sonho. É tudo real. E com isso, a Hermione Granger racional, a Hermione Granger que sempre entende tudo, desaparece. Em seu lugar fica a garotinha Hermione de onze anos de idade, confusa, com uma carta apertada na mão e com os olhos vidrados na coruja que a entregou, temor, choque e felicidade batalhando por controle dentro do coração.

Eu me sinto exatamente igual àquela garotinha dos cabelos felpudos que eu fui há seis anos atrás. Mas ao mesmo tempo, me sinto há milhas de distância dela. E isso não faz sentido algum.

Como a Hermione de onze anos, eu estou estupidamente feliz, mas anormalmente paralisada com o choque das mudanças. A Hermione do passado tinha uma carta que a fazia se sentir assim. Uma carta que explicava todo o inexplicável, que fazia as peças faltantes de fatos de sua infância finalmente se encaixarem. Aquela menininha tinha uma carta que abria uma infinidade de possibilidades para o seu futuro e, exatamente por isso, a assustava tanto.

Já a Hermione de hoje não tem uma carta apertada na mão, mas tem um amor cravado profundamente dentro do coração. Marcado na pele, impregnado em todo o ser, tatuado na alma. Um amor que também é inexplicável em sua extensão ou intensidade. Um amor que da mesma forma, chegou para ajudar a completar o quebra-cabeça da minha vida, trazendo a última peça e com certeza a mais importante: Rony.

Ele é a peça que faltava para mim. A peça curinga, premiada. E falando a verdade, como tudo que é especial, essa também foi a peça mais difícil de se conseguir. Há tempos ela estava bem na minha frente, mas quem diria que seria tão complicado reivindicá-la? Mas tudo bem, valeu o esforço. Eu morreria por isso. Aliás, eu morri. Não que eu tenha tido escolha, mas se tivesse seria igual. Eu morreria por tudo que acredito, mas nunca abriria mão de uma vida inteira com Ron. Contraditório, não?

Esse ano foi mesmo impressionante para mim, mas isso não é tão espantoso, já que minha vida toda parece ser feita de ciclos. Por exemplo, aos dois anos de idade eu falei pela primeira vez. Aos cinco, eu aprendi a ler. Aos seis, eu entendi que se você não for como as pessoas exigem que você seja, elas podem ser cruéis com você, mesmo as crianças. Com onze anos eu descobri que era uma bruxa. Com doze, eu fiz amigos para a vida inteira. Eu tinha quinze anos quando meu corpo declarou oficialmente que eu era uma mulher, mas só agora, aos dezessete, eu consegui amadurecer. E eu precisei até morrer para isso.

Rebecca ficaria orgulhosa de mim. Tenho certeza de que de onde ela estiver, ela está se sentindo realizada com o quanto ela pôde me ensinar em tão pouco tempo. Hoje, quando eu sair desse trem e me olhar num espelho, eu não irei mais procurar pela garota que eu fui, mas sim sorrir à mulher que eu sou. Eu irei me despedir com carinho da pequena Hermione mandona que ficou para trás, mas deixá-la de lado porque ela agora me atrapalha e seu mundo infantil já não me interessa. Eu sorrirei e me orgulharei de todo o caminho percorrido, mesmo dos meus erros e contradições. É bom me sentir livre e até um pouco rebelde. É bom viver sem ter tantas obrigações e não sentir um desassossego permanente causado pela pressão de sempre correr atrás de tantos sonhos. Afinal de contas, meu maior sonho é uma realidade agora. E ele está nesse mesmíssimo momento roncando acima de mim, apoiado no encosto do nosso banco.

Harry e Gina riem alto dos roncos do Rony e eu lhes dou um olhar bem pontudo. Qual a grande graça nisso? Honestamente, Ron está cansado! E com razão, a nossa noite de ontem foi longa. E tão maravilhosa... Ei, não me entendam mal, por favor. Não aconteceu nada disso. Pelo menos não ainda, ele é meu namorado só há algumas horas, pelo amor de Deus!

Mas vamos voltar a tópicos menos embaraçosos... Onde é que eu estava mesmo??? Ah sim, estava contando sobre como esse último ano mudou minha vida. Não só por toda essa coisa de menina-que-retornou (aliás, eu realmente ODEIO esse apelido ridículo, francamente), mas por cada detalhe que eu vivi e cada pequena coisa que aprendi e que levarei comigo para sempre daqui por diante, não importa aonde eu vá.

Eu descobri muito sobre as pessoas e especialmente, sobre mim mesma. Descobri que não sou uma princesa e que apesar de pertencer ao mundo da magia, a vida não é um lindo conto de fadas. Descobri que o garoto dos nossos sonhos não precisa vir num cavalo branco e vestido de príncipe para nos fazer feliz, você pode simplesmente encontrá-lo numa cabine de trem e com sujeira no nariz, por exemplo. Descobri que o nosso primeiro beijo não precisa ser numa noite de luar, com querubins tocando harpas ao redor, se for com a pessoa certa, pode ser no lugar mais não convencional possível, como numa Ala Hospitalar. Descobri o ser humano sensível que sou, com minhas misérias e falhas, mas também com uma grande força interior. Descobri que posso sim me permitir o luxo de não ser perfeita, de estar cheia de defeitos, de ter fraquezas e erros, de me enganar, fazer coisas indevidas e até mesmo de não responder as expectativas dos outros. Eu aprendi que não preciso provar nada para ninguém. E, apesar de tudo isso, eu aprendi algo mais que valioso: a gostar de mim.

Mas não é porque sua vida não é um conto de fadas que você não possa transformá-la em um. Tudo depende de nós. Rebecca certa vez me deu um conselho muito valioso: “Siga seu coração.” E é isso que eu estou fazendo. Preciso pensar menos e sentir mais. Suponho que não será tão difícil, vendo que eu estou predestinada a ser uma Weasley, não é? E juro que não existe no mundo inteiro, mágico ou não, uma família mais coração do que essa.

E o meu próprio conto de fadas está acontecendo. Está sendo escrito. Ou seria conto de bruxas?? Bem, não importa, desde que como eu disse para a Gina ontem antes do baile, tudo termine com um: “e eles foram felizes para sempre”. Pois no final das contas, o Bem vai vencer o Mal, simplesmente porque é assim que deve ser.

Eu já estou preparada para tudo o que vier nesse tempo de calmaria: carreira, casamento, família, filhos, netos e sobrinhos (inclusive os filhos da Gina com o Harry, que estará bem vivo para vê-los crescerem). Um futuro com Ron me espera, tenho certeza. Um futuro com todos aqueles que eu amo.

Como o próprio Ron diz, eu sou meio maluca. Algumas vezes tenho plena consciência disso. Mas gosto de sonhar. Gosto de acreditar nesses sonhos. E de alguma forma, no fundo do meu coração há a certeza de que, um dia, eu estarei bem velhinha, usando óculos para leitura, sentada numa cadeira de balanço, com um neto bem ruivo no colo e com o Ron de pé atrás de nós, nos olhando todo bobo. E eu mesmo sei exatamente a história que eu irei contar para essa preciosa criança:

'Era uma vez um menino e uma menina e eles se conheceram num trem. Eles se odiaram. Eles se implicaram. Eles brigaram.
Mas eles tornaram-se amigos.

Era uma vez um jovem e uma jovem e eles se apaixonaram num trem. Eles se assustaram. Eles se magoaram. Eles negaram.
Mas eles renderam-se.

Era uma vez um homem e uma mulher e eles mudaram as vidas um do outro num trem. Porque lá eles se conheceram, se odiaram, se implicaram. Mas lá, no momento em que o olhar de um cruzou com os olhos do outro, eles se amaram. E depois de tudo, eles descobriram que o ENCANTAMENTO maior do universo é nada mais nada menos do que um só: o amor.'”

Hermione Granger



*****



“If I had to live my life without you near me
the days would all be empty
the nights would seem so long
With you I see forever, oh so clearly
I might have been in love before
but never felt this strong
Our dreams are young and we both know,
they’ll take us were we want to go
Hold me now, touch me now
I don’t want to live without you

Se eu tivesse de viver minha vida sem você perto de mim,
os dias seriam todos vazios,
as noites pareceriam tão longas.
Com você eu vejo a eternidade, ah tão claramente.
Eu posso ter estado apaixonado antes,
Mas nunca pareceu tão forte.
Nossos sonhos são jovens e ambos sabemos,
eles nos levarão onde nós desejamos ir.
Segure-me agora, toque-me agora,
Eu não quero viver sem você.



Nothing’s gonna change my love for you
you ought to know by now how much I love you
One thing you can be sure of
I’ll never ask for more than your love
Nothing’s gonna change my love for you
you ought to know by now how much I love you
The world may change my whole life through
but nothing’s gonna change my love for you

Nada vai mudar meu amor por você,
você deve saber por agora o quanto eu te amo.
De uma coisa você pode ter certeza:
Eu nunca pedirei mais do que o seu amor.
Nada vai mudar meu amor por você,
você deve saber por agora o quanto eu te amo.
O mundo pode mudar minha vida toda completamente,
mas nada vai mudar meu amor por você.



If the road ahead is not so easy
our love will lead a way for us
like a guiding star
I’ll be there for you if you should need me
You don’t have to change a thing
I love you just the way you are
So come with me and share the view,
I’ll help you see forever too
Hold me now, touch me now
I don’t want to live without you

Se a estrada adiante não for tão fácil,
nosso amor mostrará um caminho para nós,
como uma estrela guia.
Eu estarei lá por você se precisar de mim.
Você não precisa mudar nada,
eu te amo apenas do jeito que você é.
Então venha comigo e compartilhe da paisagem,
eu te ajudarei a ver a eternidade também.
Segure-me agora, toque-me agora,
eu não quero viver sem você.



Nothing’s gonna change my love for you
you ought to know by now how much I love you
One thing you can be sure of
I’ll never ask for more than your love
Nothing’s gonna change my love for you
you ought to know by now how much I love you
The world may change my whole life through
but nothing’s gonna change my love
nothing’s gonna change my love for you

Nada vai mudar meu amor por você,
você deve saber por agora o quanto eu te amo.
De uma coisa você pode ter certeza:
Eu nunca pedirei mais do que o seu amor.
Nada vai mudar meu amor por você,
você deve saber por agora o quanto eu te amo.
O mundo pode mudar minha vida toda completamente,
mas nada vai mudar meu amor,
nada vai mudar meu amor por você.


(Nothing's Gonna Change My Love For You – Air Supply)


***** FIM *****


N/A: Bom, é com muito orgulho e com uma pequena pontinha de tristeza que eu escrevi essa palavrinha de três letras acima: “FIM”.

A sensação de dever cumprido se mescla com uma dorzinha funda no coração por saber que “O Encantamento das Almas” finalmente acabou de verdade. Foram meses a fio escrevendo essa história e tenho certeza que de um jeito ou de outro ela fez parte da vida de muita gente e não só da minha.

Através dessa história conheci pessoas maravilhosas, fiz amizades para a vida toda e tive certeza de que vale a pena se arriscar um pouquinho e botar o talento da gente à prova.

Muita coisa aconteceu do dia em que comecei a escrever OEDA até o dia de hoje, muita coisa mudou. Eu passei por muitos altos e baixos em minha vida pessoal, foram infindáveis meses de demora em algumas atualizações e só agora consigo concluir essa fanfic que tanto bem fez à mim.

Meus agradecimentos são para tantas pessoas que eu me negarei a citar qualquer nome. Vocês sabem quem são e eu não quero pecar em omitir ninguém. Sintam-se abraçados todos aqueles que acompanharam desde o início, mas também os que começaram a ler bem depois. Sintam-se cumprimentados todos que ofereceram um minuto que fosse de suas vidas para OEDA. Todos os leitores que sempre deixaram comentários (enormes ou minúsculos), aqueles que comentaram uma única vez e até aqueles que nunca se manifestaram, muito obrigada. Membros da comunidade da fic no Orkut, vocês são demais! Cada pessoínha que me mandou scrap, e-mail ou um simples alô sobre a fic, um super beijo muito agradecido.

Mas dizem que quem prova do mel quer mais é se lambuzar, então eu peço as opiniões e comentários de todos também sobre o Epílogo, ok? Eu já havia dito inúmeras vezes que ele seria bem pequeno e no modelo do primeiro capítulo, assim espero não ter decepcionado ninguém.

Escrever para mim é um vício, hoje sei disso. Portanto, tem fic nova à caminho. Estou escrevendo uma nova série de short fics pós livro 7 chamada "Nineteen Years". Fiquem com um olho atento, eu vou querer todos vocês por lá também.
=)

Quero terminar essa nota enorme agradecendo novamente a TODOS que me incentivaram a continuar escrevendo, mesmo nos muitos momentos em que eu pensei em desistir. Existem muitas formas de incentivo e vocês me deram várias demonstrações disso. É por isso que vocês realmente são responsáveis pelo sucesso de OEDA.

Um milhão de “obrigadas” e um super beijo. Que a vida de todos vocês seja um “Encantamento”!

Roberta Nunes





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Comentários (8)

  • Andréa Martins da Silva

    Das fics que eu li, essa foi a melhor, sem dúvida. Foi muito bom, ao final de tudo, ter conhecimento dos pensamentos e sentimentos de cada um. Sinto uma pontinha de tristeza por saber que não haverá um filme dessa fic tão maravilhosa. Mas vou me animar relendo ela outras vezes e indicando para outras pessoas. Mais uma vez agradeço pela emocionante viagem por capítulos tão bem escritos. Parabéns. Um abraço.

    2013-11-10
  • Lana Silva

    Nossa acho que o Epilogo foi muito emocionante e lindo.É legal saber a opinião dos quatro sobre um assunto ou algo do tipoLindo ameiii *-----------------------*Bjoos flr! 

    2012-03-10
  • Karolline Weasley

    lindooo =D uma das minhas fics preferidas, concerteza =D mt lindoo mesmoo sua historia é mt legal,e td parabens continue a escrever ou melhor, me diz quais sao as suas outras fanfics =**** quero continuaçao dessa pensa nisso, tah e faça a felicidade de suas fãs HAHAHAHA =**

    2011-07-25
  • Nanda Grint

    Nunca canso de reler essa fic! É  minha fic preferida! Espero que um dia vc volte a escrever algo tão lindo!² AMEI DE PAIXÃO !!!!!! escreva agora eles com 17 anos por favor,se eu fosse você traduziria a fic pra inglês e tentava mandar pra warner bros quem sabe eles possam publicar.

    2011-06-28
  • Nanda Grint

    Nunca canso de reler essa fic! É  minha fic preferida! Espero que um dia vc volte a escrever algo tão lindo!² AMEI DE PAIXÃO !!!!!! escreva agora eles com 17 anos por favor,se eu fosse você traduziria a fic pra inglês e tentava mandar pra warner bros quem sabe eles possam publicar.

    2011-06-28
  • Nanda Grint

    Nunca canso de reler essa fic! É  minha fic preferida! Espero que um dia vc volte a escrever algo tão lindo!² AMEI DE PAIXÃO !!!!!! escreva agora eles com 17 anos por favor,se eu fosse você traduziria a fic pra inglês e tentava mandar pra warner bros quem sabe eles possam publicar.

    2011-06-28
  • luana karen de almeida

    Nunca canso de reler essa fic! É  minha fic preferida! Espero que um dia vc volte a escrever algo tão lindo

    2011-05-06
  • Edson da Rocha Teixeira

    Eu gostei muito da história, eu queria que vc escrevesse outra fic sobre rony e hermione dando continuação a essa fic sua, falando da batalha contra voldemort, sobre harry e a gina e sobre o amor do rony e da hermione e tudo mais que possa sair de sua mente

    2011-03-08
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