Antes que o Sol se Ponha



ANTES QUE O SOL SE PONHA


 


Heaven can wait, we're only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?”


Forever Young – Youth Group.


 


O sol de final de primavera aquecia os amplos jardins de Hogwarts. A luz amarelada de uma tarde que está quase no final parecia misturar-se com o cheiro verde que emanava da Floresta Proibida e formavam, juntos, um clima quase palpável de uma calma plenitude aparentemente imutável sobre os terrenos da escola, que tornava impossível para qualquer um que contemplasse aquele quadro não se sentir contagiado com tal serenidade.


Harry e Gina haviam passado toda a tarde ali, sentados à beira do lago, sob a sombra de uma das antiqüíssimas árvores do local. Era uma das primeiras vezes, desde a noite em que a Grifinória havia ganhado a Copa das Casas, em que eles conseguiam ficar sozinhos – graças à perspicácia de Hermione, que, com um sorrisinho maroto, arrastou Rony para a Sala Comunal depois do almoço, a fim de mostrar-lhe os novos planos que queria colocar em ação na FALE:


- Mas, Mione, você é a presidente e sempre está certa. Além disso, sabe que eu não vou dar nenhuma idéia útil, e que mesmo se desse, você não ia usar – Rony tentou reagir, enfiando a colher em mais um pedaço de pudim de passas e caramelo.


- Não me interessa. Eu quero que você veja, Ronald – ela retrucou, puxando Rony pelo braço e levando-o com colher e tudo para fora.


Gina, vendo a chance de ficar um pouco a sós com o namorado, longe dos olhares censuradores do irmão, levantou-se também e, sussurrando um apressado “vamos, antes que aquele glutão venha buscar mais um pedaço de pudim”, saiu do salão com Harry.


A garota agora estava sentada entre as pernas de Harry, encostado em uma árvore. Ele não se sentia bem assim há tempos, mas não conseguia deixar de sentir um pouco de remorso por estar ocupando uma das raras tardes livres de Gina, que ela deveria estar perdendo estudando para os seus Níveis Ordinários em Magia.


- Você não deveria estar estudando para os NOM’s?


- Por que? Você quer que eu vá? – retorquiu ela, com um leve tom de provocação na voz.


- Ah, não. É claro que não – ele respondeu, sentindo as bochechas corarem – Só não quero te atrapalhar, eu lembro muito bem de quando Fred e Jorge não conseguiram tantos NOM’s quanto a sua mãe esperava. Ela passou o verão inteiro zangada com eles, não quero que ela fique brava com você também.


Gina olhou nos olhos dele e respondeu, sorrindo:


- Você nunca me atrapalha. E eu estou estudando nesse exato momento – a garota apontou a varinha para uma pequena folha que acabara de cair da árvore sob a qual estavam sentados, e transformou-a em uma borboletinha multicolorida – Transfiguração.


Harry riu. Era verdade. A menina havia passado a tarde toda transformando folhas e gravetos em borboletas, louva-deus e joaninhas, todos muito coloridos, que logo depois ela transfigurava novamente à forma original.


- Eu nunca fui muito bom em Transfiguração, sabe. É sempre a Mione quem tem que me ensinar tudo antes das provas.


- Mas você conseguiu o NOM. E é muito melhor do que qualquer outro aluno da escola em Defesa Contra as Artes das Trevas – havia um quê de orgulho carinhoso na voz de Gina, e Harry sentiu o peito inflar de orgulho por causar a admiração da garota – Conseguiu me ensinar a fazer um Patrono decente, e eu nunca tinha conseguido fazer nem uma mísera fumacinha sair da ponta da varinha.


- É, mas aquela sua azaração do bicho-papão é muito melhor do que a minha, meu feitiço-escudo quase rachou quando você me azarou na AD, e olha que eu estava pronto quando você me atacou... Eu tenho pena de qualquer Comensal da Morte que passe perto de você se você estiver com a sua varinha, Gina.


Harry disse tudo isso muito rápido e sério, e ela não conseguiu reprimir uma gostosa gargalhada. Entretanto, se calou logo. O garoto enterrou o nariz nos cabelos da namorada e fechou os olhos – cabelos tão macios, tão sedosos, tão perfumados, ele tinha certeza de já ter sentido aquele cheiro em outro lugar, talvez na sala de Slughorn, ou em algum lugar no último verão...


- Harry – ela disse baixinho, encarando-o - , você acha que as coisas vão chegar ao ponto em que estiveram da última vez?


- Depende. Quais coisas?


Gina estava muito séria. Como era bonita quando ficava assim, com o cenho franzido, mordendo levemente os lábios, pensou Harry.


- Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. Você acha que haverá guerra? Que as coisas vão ser ruins como antes? Que muitas pessoas irão... irão morrer?


Ele sentiu o estômago congelar e despencar dentro da barriga. Não havia nem lembrado de Voldemort e de tudo de ruim que estava associado ao nome dele naquela tarde: parecia-lhe infame pensar em coisas que não fossem belas e mornas – como aquela tarde tão maravilhosa, como Gina – quando estava tão feliz. Ele se sentiu perdido. Não queria mentir, mas também não queria preocupá-la. Se ela fosse qualquer outra pessoa, ele simplesmente desconversaria. Mas não podia fazer isso com ela.


- Eu não sei. Eu não acho que ele vá simplesmente sumir, ou que não teremos que lutar, mas não quero acreditar que as coisas serão como antes. Não podem ser.


Ficaram ambos calados por um bom tempo. Gina apertava a mão de Harry em sua pequena mão com força, quase machucando-o, não querendo considerar qualquer possibilidade de que pudesse existir algo forte o bastante para tirá-lo dela. Harry mal conseguiu pensar por alguns minutos – todos os pensamentos se misturavam dentro dele. De repente, como se acordasse de um transe, ele se deu conta de que a menina apertava a sua mão, e não pôde deixar de notar que os olhos dela brilhavam, cheios de lágrimas.


- Não se preocupe. Eu estou aqui. Não posso prometer que tudo vai ser perfeito, mas juro que vou fazer tudo o que puder para que as coisas não sejam como foram da última vez. Para que você não sofra.


Harry olhou o horizonte, com a cabeça cheia e o coração pesado. O sol se punha agora, e o céu havia se tornado tão vermelho quanto os cabelos de sua namorada. Não, ele não deixaria nada acontecer. Nem com ela, nem com seus amigos, nem ninguém. Faria qualquer sacrifício para mantê-la segura. Suspirou e a abraçou pela última vez naquela tarde que já se tornava noite.


___________________________________________________________________________________________________


N/A: gente, essa fanfic foi publicada em 18/08/2007 no meu perfil do fanfiction.net com o nome de "Antes do Pôr do Sol". Como já havia uma fanfic com esse nome aqui na F&B, tive que mudar o título.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.