DE VOLTA OUTRA VEZ
Gina esperou até ouvir os degraus rangerem enquanto sua mãe descia a escada. Levantou-se lentamente a caminhou até a janela. Ouviu o barulho da porta da frente e a viu correndo até algumas árvores procurando por Pichí. Era esse o momento. Tirou a camisola, colocou calça jeans, camiseta, botas e pegou um pesado casaco atrás da porta. Quando foi pegar a varinha em cima da cômoda viu a nova edição do Profeta Diário. Hermione devia estar lendo e acabou deixando-o ali quando ela gritou e todos vieram em seu socorro. A foto na primeira página fez seu corpo estremecer: Jack Myers sorria com seus dentes brancos e perfeitos e logo acima a manchete: “Professor é encontrado morto em caverna subterrânea” . Ela rasgou a página, guardou no bolso do casaco, pegou a varinha, e aparatou.
Draco Malfoy estava sentado em sua cama amarrando o cadarço da bota. Tinha acabado de sair do banho, usava uma calça jeans e estava com os cabelos molhados. Quase caiu da cama quando viu Gina surgir na sua frente.
— Eles o mataram. – Ela apontava a varinha em sua direção – E eu acho que também estou morrendo. Portanto, ou você me conta o que está acontecendo ou morre agora.
— É bom te ver também. – Ele disse cínico, mas tinha uma grande alegria em sua voz. Ele olhou para o rosto dela. – Em primeiro lugar, o que aconteceu com os seus olhos?
— É o que estou tentando descobrir. Mas eles o mataram.
— Quem foi que eles mataram?
— Myers. Foi encontrado morto. – Ela tirou a página do bolso e entregou a ele, ainda apontando a varinha. – Ele falou que eu estava apresentando estigmas, que queria me ajudar.
— Quando foi isso? – Draco ficou subitamente interessado.
— No dia que saí do hospital. Ele me pediu o Livro dos Mortos e eu disse que não estava mais comigo. Ele falou que precisava dele, que eu estava apresentando estigmas e que queria me ajudar. Antes de aparatar ele deixou um papel escrito imperius .
— Será que você poderia abaixar essa varinha? Estou me sentindo um pouco desconfortável com ela. E não podemos ficar aqui em casa, se meu pai te vê ele... – e parou de falar. Gina abaixou a varinha lentamente. Enquanto isso ele abriu o armário, colocou uma camisa, pegou um casaco e se aproximou da garota. – Segure o meu braço. Eu vou te contar tudo o que eu sei.
Os dois aparataram em um casebre muito velho, praticamente caindo aos pedaços. Antes que Gina pudesse soltar o braço de Draco ele a segurou pelos dois e se aproximou muito. A olhou diretamente nos olhos.
— Quando foi que seus olhos sangraram?
— Como sabe que meus olhos sangraram? – Ela se soltou dele com força e andou pro outro lado da sala - Como você sabe tanta coisa? – Ela começou a gritar - Você sabia sobre o corte, você sabia sobre o nariz! E agora, o que vai acontecer? Uma criatura gosmenta vai sair do meu estômago?
Ele chegou bem perto dela e a olhou fixamente.
— Me escute com muita atenção. Existe uma mulher, que ninguém sabe o nome ou da onde veio, que era Comensal da Morte. Entretanto, seus poderes eram tão fortes ou até mesmo maiores que o de Voldermort. Para não ser ameaçado por uma mulher e não ter que dividir seu reinado de terror, ele a prendeu em algum lugar que eu desconheço. Só que alguns seguidores preferiam essa mulher à Voldemort, acreditavam que ela era mais poderosa e poderia lhes oferecer mais coisas, e dedicaram anos de suas vidas a procurá-la. Ao que tudo indica, eles conseguiram. Essa mulher afirma que era amante de Seth na época que viveram no Egito Antigo, e de tanto acreditar nisso acabou sendo verdade. Apesar de que eu até acho que seja verdade, pois ela foi a única a encontrar uma biblioteca escondida dentro da esfinge da pirâmide onde o corpo do faraó foi sepultado. Acredita-se que essa seja a maior biblioteca com livros sobre Magia Negra do mundo. E as magias mais pesadas, daquelas inimagináveis. A maior parte delas o próprio Seth escreveu. E em um dos livros, ela encontrou uma forma de reencontrar seu amante e ressuscitá-lo.– Ele parou e ficou em silêncio alguns segundos – Eu escutei o meu pai conversando com algumas pessoas - ele parou de falar novamente, como se tomasse coragem para o que iria dizer em seguida – Meu pai falou que para ressuscitar uma pessoa é necessário sacrificar dez pessoas que afetaram seu destino de alguma forma. Não sei qual é o critério utilizado. E não sei como você pode ter afetado o destino de Seth de alguma forma.
— Myers falou que foi Voldemort quem me escolheu. – Gina sussurrou baixinho. – No segundo ano de Hogwarts ele me usou para tentar voltar ao mundo bruxo. Inclusive esse foi o motivo que me fez querer estudar História Bruxa, eu queria ir para o Egito para encontrar uma forma de me vingar daquele monstro. Mas ele acabou vencendo novamente.
— Dizem que Seth e Voldemort são a mesma pessoa, mas eu volto a dizer que não sei. Apenas juntei o que escutava pelos cantos nas reuniões do meu pai e o que eu lia nos diários dos meus avôs.
— Não são a mesma pessoa. São apenas da mesma família. O destino de um é o destino de todos. Se eu afetei o destino de Voldemort posso ter afetado o de Seth, e vice e versa.
— Preciso te contar uma coisa. Eu tinha uma missão, que era te levar até o centro da pirâmide para que fosse sacrificada. Você é a última vítima. – Ele a olhou – Eu realmente te levei para o centro da pirâmide, pois estava disposto a cumprir minha missão. Mas depois... eu não consegui. E a única coisa na qual conseguia pensar era em te tirar de lá. – Ele tentou fazer carinho no rosto dela, mas não conseguiu.
— Eu não me importo com essa história que você acabou de me contar.
— Pois deveria. Você não foi sacrificada, eles estão atrás de você. Sem o seu sangue Seth não vai acordar.
— Mas eles já tiraram o meu sangue. – Ela disse mostrando o corte que nunca tinha cicatrizado completamente. – Eu só quero que os estigmas parem.
— Como eu posso te explicar? – Draco sussurrou baixinho e começou a andar em círculos. – Gina, você sabe o que são os estigmas?
— A Hermione me explicou, mas não soube entrar em detalhes.
— Estigmas são marcas que aparecem nas pessoas que tiveram contato com algum deus. Na verdade, poucas sobrevivem a isso, mas aquelas que sobrevivem sofrem tudo aquilo que ele sofreu. As nove pessoas que foram sacrificadas na pirâmide tiveram todo o sangue “doado” ao faraó. Mas você não. Você conseguiu fugir. É como se fosse uma maldição.
— E o que eu posso fazer para esses estigmas pararem? – Ela se levantou e esfregou os olhos. – São quantos?
— Quatro. – Ele respondeu num sussurro.
— Quatro? – Ela perguntou. – Quatro??!!
— Corte no lado esquerdo do corpo para extrair as vísceras, gancho no nariz para extrair o cérebro, extração dos olhos...
— Você falou os três que eu já tive. Qual é o quarto? – Ele continuou em silêncio e nem ao menos olhou para ela. – Qual é o quarto?
— Eu não sei.
— Qual é o quarto estigma Draco? – Ela perguntou numa voz controlada.
— Quando Seth foi julgado culpado... – ele suspirou longamente, derrotado – Se você chegar ao quarto estigma suas mãos e o topo da sua cabeça vão começar a sangrar. O sangue vai escorrer por todo o seu corpo e você vai agonizar até a morte.
Ela o olhou perplexa e assustada. Então, de repente, seu olhar ficou duro.
— Voldemort escolheu a pessoa errada. Eu não vou morrer. – Estava determinada. Tinha fugido de uma pirâmide repleta de monstros, tinha fugido do tal sacrifício e não ficaria de braços cruzados esperando que sua cabeça começasse a sangrar. – Onde podemos encontrar a cura para esses estigmas?
Draco a olhou de lado sem saber o que responder. Ele não sabia o que responder. Ficou em silêncio.
— Você sabe onde fica essa esfinge? Com certeza na biblioteca poderemos encontrar a cura.
— Sei onde fica a esfinge. – Ele respondeu sem conseguir encará-la. – Mas não faço idéia de onde a biblioteca possa estar. A esfinge é muito grande.
— Conte-me onde a esfinge fica que eu procurarei pela biblioteca.
— Eu não vou te contar. – Ele a encarou – Vou com você.
— Eu não quero que você vá comigo.
Mas a verdade era que ela queria desesperadamente que ele fosse. Mas não conseguia confiar nele novamente. Acreditava em tudo que ele tinha lhe contado porque precisava acreditar. Ele era a única pessoa que parecia querer ajudá-la (principalmente depois que Myers foi morto), mas era praticamente impossível conseguir confiar nele. Depois de discutirem por muito tempo ele acabou dando um ultimato.
— Se você não permitir que eu vá com você não conto onde é a esfinge.
— Como ousa? – Ela perguntou perplexa – Então não precisa. Eu procuro sozinha.
— Até você encontrar a esfinge certa terá apresentado o último estigma. Será tarde demais. - Gina o olhou demoradamente. Ele poderia estar blefando. Mas também poderia estar dizendo a verdade. – Eu me preocupo com você Virginia Weasley. Acredite nisso ou não. – Ele estendeu o braço novamente. – Agora, se puder me acompanhar... Em alguns segundos estaremos na esfinge que guarda todos os segredos da Magia Negra.
Os incontáveis feitiços que protegiam as pirâmides e esfinges do Egito impediram que Virginia Weasley e Draco Malfoy aparatassem a menos de 500 metros de qualquer uma delas. Eles caíram sentados na areia quente e em seguida se levantaram.
— Pelo que estudei – Draco disse olhando em volta. – A esfinge que contém a biblioteca é aquela ali. – Ele apontou para uma esfinge imponente e já um pouco desgastada pelo tempo.
— Então é para lá que nós vamos. – Gina falou confiante. – E nós vamos encontrar o que procuramos naquela biblioteca.
Os dois caminharam até o lugar. O sol de 40º castigava, mas eles nem ao menos se deram conta disso. Gina estava centrada em encontrar a biblioteca, enquanto Draco procurava uma forma de entrar na esfinge. Pararam muito perto e olharam para cima.
— Ela parece ainda maior olhando assim de perto. – Gina comentou. – Como vamos entrar?
— Era exatamente nisso que eu estava pensando. – Ele respondeu. – Eu não sei onde fica a entrada desse lugar.
— Não sabe? – Gina perguntou incrédula. – Você nunca leu nada a respeito?
— Na verdade eu li. Tem um livro “Os segredos das pirâmides egípcias” que eu praticamente decorei para fazer uma prova no 2º ciclo em Bruxelas. Uma parte dele dizia: “Profundamente dentro da pirâmide, onde os blocos de pedra estão mais distantes do sol e envoltos na escuridão e na fria imobilidade dos séculos, jaz uma passagem secreta com uma porta em seu final.”
— Sem querer ser chata, mas isso não ajuda muito.
— Acredito que por trás desta porta esteja uma câmara, tão bem oculta dos olhos curiosos que só pode conter uma coisa: a passagem para a esfinge.
— Você está me dizendo que teremos que entrar novamente na pirâmide?
— Acho que não temos outra alternativa. – Ele suspirou cansado.
— Que assim seja.
Os dois contornaram a Grande Esfinge e foram até a pirâmide. Ela estava deserta e silenciosa. Assim que Gina deu o primeiro passo para entrar Draco a segurou pelo braço.
— Não sei se você deve entrar aí dentro. Talvez fosse melhor eu procurar a passagem sozinho, depois volto para te buscar.
— Draco, eu não confio em você. – Ela disse com uma voz gelada e puxou o braço – Eu vou entrar nessa pirâmide e vou encontrar a passagem para a esfinge.
— Você é quem sabe. Estou logo atrás de você.
Sem dizer mais uma palavra os dois entraram, deixando para trás o sol escaldante no deserto do Egito.
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