O ROUBO
Draco Malfoy sentiu suas pálpebras pesarem enquanto assistia aula. Aos poucos a voz da professora ficou longe e seus pensamentos começaram a divagar.
O corredor era longo, escuro e feito de pedra. Quanto mais ele corria, mais perto sentia uma respiração em sua nuca. Algo o perseguia e ele sentia o desespero cada vez mais próximo. Foi então que uma mão ensangüentada o agarrou pelo ombro. Quando ele se virou para o encarar viu a si mesmo, completamente machucado. Seus olhos estavam roxos, inchados. Os ossos da sua mão direita estavam quebrados e o pulso exibia uma terrível fratura exposta. O homem dilacerado encarava Draco com desespero nos olhos, indicando um caminho a esquerda. Sem pensar duas vezes, ele entrou onde era indicado. A cena não poderia ser mais macabra: Dez corpos de jovens, entre homens e mulheres, estavam dependurados de cabeça para baixo pelos pulsos e pés, como uma cruz invertida. Todos estavam de boca aberta, como em um grito eterno. Todos tinham a pele do peito queimada com símbolos pagãos. Foi então que ele sentiu uma mão forte tapar sua boca. E logo em seguida, o cheiro de carne chamuscada no ar e a dor nas costas. Ele gritou. E gritou mais uma vez. E quando abriu os olhos, estava no meio da sala de aula com quarenta e três pares de olhos o encarando.
Sem pensar duas vezes arrumou suas coisas, jogou a mochila nas costas e saiu sem dizer uma palavra. Passou na porta da sala de Gina, mas não a encontrou. Sentiu seu coração bater apressado. Apertou os passos, enquanto a preocupação tomava conta até da ponta dos seus dedos. Correu. Correu até seus músculos doerem. Bateu na porta do dormitório de Gina. Uma. Duas. Três vezes. Quando decidiu derrubá-la Gina a escancarou, usando apenas short e camiseta e uma toalha enrolada na cabeça. O cheiro forte de lavanda que indicava que ela tinha acabado de sair do banho. Draco se atirou em cima dela e a abraçou apertado.
— Querido.... – ela sussurrou em seu ouvido – o que houve?
— Eu vi Gina!! – A respiração dele estava acelerada – Eu vi todas aquelas pessoas mortas, e todo aquele sangue...
— Venha. – Ela o pegou pela mão e ambos entraram em seu quarto.
Ela trancou a porta e fez com que ele se sentasse.
— Gin, eu acho que dormi na aula, na verdade eu não sei, de repente foi apenas uma alucinação. Mas eu vi. As pessoas mortas, um mundo destruído, governado por Seth. Tudo banhado em sangue. – Ele estava a ponto de perder o controle. Ela sentou em seu colo e o abraçou. O cheiro fresco dela, os cabelos molhados e os braços em torno do seu pescoço fizeram com que ele se acalmasse.
— Eu não sei o que está acontecendo conosco. – Ela o beijou levemente na testa. – Talvez devêssemos sair dessa escola. - Ele a olhou horrorizado. – Se alguma coisa tiver que acontecer vai acontecer. Independente de estarmos aqui em Bruxelas, na Inglaterra ou em Marte.
— Sei disso Gin. – Ele suspirou derrotado – mas é que o plano era ficarmos até termos provas do que aconteceu. Por enquanto as provas estão apenas em nossas cabeças.
— E estão nos perseguindo, diga-se de passagem.
Um curto silêncio seguido de um alto sinal sonoro fez com que os dois se levantassem. Babete os olhou com uma cara de surpresa.
— Draco... – ergueu as sobrancelhas – Gina?!! – Ela parecia confusa. Não esperava encontrá-los... juntos.
— É o que nós estamos juntos. – Draco disse abraçando Gina pela cintura e em seguida a beijou na testa.
— É que eu não esperava que você fosse namorar tão rápido depois de... você sabe. – Ela ficou sem graça – Deixa para lá, eu só vim trocar os livros para as aulas da tarde. – Ela ando até a escrivaninha, pegou alguns livros e papéis e saiu do quarto em seguida.
— Eu perdi alguma coisa? – Gina perguntou ciumenta.
— Ela e minha ex são amigas.
— Eu não sabia disso.
— Há muitas coisas das quais não sabemos, querida – Ele disse acariciando seu rosto. – Você leu as anotações que passei hoje de manhã?
— Claro! Estão ali na escrivaninha. Inclusive, tive uma idéia, aliás, não é uma idéia, é mais uma teoria sobre o Livro dos Mortos.
— Sou todo ouvidos. – Ele a largou, sentou-se na cama e cruzou as pernas.
Ela levantou-se de frente para ele e o olhou com olhos brilhantes. A partir daí começou a contar o que pensava. Começou dizendo que pelas anotações de Draco apenas quem estava morto poderia ler o livro. Em seguida, explicou que Myers obviamente não estava morto, o que significava que não apenas mortos poderiam ler o livro. E sim escolhidos. E ela era uma escolhida, usaram o seu sangue em Seth. Provavelmente, ela poderia usar o livro.
— O que? – Draco se levantou espantado – Você ficou louca Gin? Lembra o que aconteceu comigo ontem?
— Claro que lembro1 e você lembra o que têm acontecido conosco?
— Mas eu não sei se vale a pena você se arriscar por isso querida. – Ele a acariciou levemente – Não quero que nada de mal te aconteça.
— Estou preocupada com nós dois. Vimos coisas que não eram pra serem vistas. Escutamos o que não devia ser escutado. Se a resposta para esse quebra-cabeça está no livro dos mortos... – ela o encarou – Eu vou procurá-la.
Draco a olhou mais uma vez e balançou a cabeça, derrotado. Nada convenceria Virgínia Weasley a não ler o Livro dos Mortos. Nem mesmo ele.
— Gin... – ele disse e em seguida ficou longos segundos em silêncio – e se você não puder ler o livro? Quero dizer, e se virar um monstro?
— Draco! – ela disse sorrindo de forma marota – Você é um bruxo ou um pé de alface? Basta tirar o livro das minhas mãos. – ela frisou – Mas obviamente sem danificá-lo.
Gina o olhou e ele parecia um cachorrinho que tinha caído do caminhão da mudança. Ela sentou na cama ao seu lado e eles se deitaram, lado a lado. Ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ela o impediu.
— Só me abrace. Mais nada.
Quando Gina acordou Draco não estava mais em seu quarto. O relógio marcava pouco mais das 5 da tarde. Ela olhou ao redor, procurando um bilhete qualquer. Se levantou e sentiu a cabeça girar. Provavelmente fome. Foi então que duas corujas pousaram em sua janela. Edwiges trazia a triste carta de Harry. Ela leu e releu, sentindo seu coração se despedaçar. A outra tinha apenas uma palavra rabiscada.
Ficou tensa. Será que alguém além do psicopata do Myers sabia que eles estavam investigando a pirâmide? Impossível.
Enquanto dividia sua atenção entre a triste carta de Harry e preocupada com o que faria com o bilhete, escutou alguém esmurrando a porta do seu quarto. Ela a escancarou. Draco estava ali, olhos arregalados e a respiração descompassada.
— Sumiu. – Sussurrou – O Livro dos Mortos desapareceu.
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