UM GRANDE PROBLEMA



Os dois pararam de correr . Gina olhou para Draco, que ainda segurava sua mão e sorriu.

— Acho que escapamos.

— Eu não contaria com isso. Meu sexto sentido me diz que tem alguma coisa errada nessa pirâmide.

— O seu sexto sentido? Não brinca! Os meus olhos me dizem isso. O meu olfato me diz isso. Fala sério Malfoy!

Ele soltou a mão dela e olhou ao redor. O aposento era extremamente claro. A luz do sol escaldante do deserto estava sobre eles, mas não tinha nenhuma passagem. Draco olhou para cima, procurando qualquer buraco, mas o teto estava totalmente fechado.

— Como pode? – Gina perguntou assustada.

— Já ouviu falar em magia?

— Você nasceu assim ou pratica em casa todo dia?

— Pra que? – Ele perguntou erguendo as sobrancelhas.

— Ser tão insuportável. – Ela resmungou. Deu alguns passos para a frente e observou a câmara. No teto, o desenho de um sol e da pirâmide. – Não sei por que, mas acho que estamos seguros nessa sala.

— Como viemos parar aqui? Não faz sentido.

— Nada tem feito muito sentido. Pára e pensa: o que aquele gorila estava fazendo a duas câmaras atrás? Como ele consegue viver aqui dentro?

Draco a olhou e ficou em silêncio. Sabia que precisava procurar uma saída daquele lugar. Uma saída rápida. Não tinha idéia de há quanto tempo estavam presos ali dentro. Foi então que a encarou.

— Daqui a pouco todos sentirão nossa falta. Você é a ajudante do professor Williams. – Ele sentou no chão e disse convencido – Vamos sentar e esperar que alguém venha nos resgatar.

— Ah, claro! Vamos esperar que alguém venha nos resgatar ou que algum gorila venha nos comer. Nossa, por que será que não pensei nisso antes? Nossa Malfoy, como você é esperto! – Ela escutou um barulho alto e forte – A pirâmide está se mexendo novamente, Venha!

Os dois se levantaram. Olharam ao redor. Somente duas portas na câmara: Uma que os levava para um lugar desconhecido e outra que os levaria ao encontro do gorila. Enquanto atravessavam o pequeno aposento, o chão de onde estavam subiu e o teto abriu. Eles foram empurrados para o segundo andar da pirâmide. O lugar era amplo; uma parte clara e outra escura. Draco segurou a mão de Gina e a apertou. Eles olharam em volta. Quando Gina começou a falar ele colocou o dedo na boca dela, pedindo silêncio. Ela entendeu o recado e prestou mais atenção no que ouvia. Apenas a respiração de Draco, pesada e regular, podia ser ouvida. Ela ergueu as sobrancelhas, fazendo uma pergunta muda. Ele apertou sua mão novamente e indicou o lado escuro da imensa câmara. Foi então que ela escutou um barulho fraco.

— Vamos por ali... – ele sussurrou baixinho enquanto indicava uma descida em espiral.

Gina olhou para ele e sua boca escancarou. Vários pares de olhos amarelos os encaravam. Draco olhou para trás, apertou sua mão e os dois começaram a correr sem olhar para trás.

A descida em espiral era feita de pedra. Devido ao tempo, era irregular e esburacada. Na primeira curva Draco aproveitou para olhar para trás para ver o que os perseguia. Centenas de ratos gigantes com dentes longos e afiados e olhos amarelos estavam em seus calcanhares. O pânico começou a tomar conta do seu corpo. Eles terminaram de descer e correram em linha reta.

— Uma porta! – Gina gritava – Precisamos de uma porta!

Draco não prestou atenção no que ela gritava, pois viu uma pilastra que, devido ao tempo da pirâmide, tinha caído, restando apenas um toco de aproximadamente um metro e meio. Sem pensar duas vezes subiu, levando Gina consigo. Ela o abraçou apertado, ambos se expremendo no fino toco. Os ratos começaram a rodeá-los, tentando, inutilmente, subir.

Gina olhou para baixo, horrorizada. Os ratos estavam loucos, vidrados. Não paravam de gritar: Ic! Ic! Ic! Ic!

— O que vamos fazer? Eles são muitos!

— Não sei, preciso pensar em alguma coisa.

— Esse barulho está me deixando louca!

Draco sentia sua perna tremer. Os ratos arranhavam o toco de forma obsessiva. Ele sabia que os dois não agüentariam ficar ali em cima muito tempo. Pegou sua varinha; mas os ratos eram muitos. Centenas, talvez milhares.

De repente alguns pararam de arranhar e começaram a voltar, subindo para o segundo andar novamente. Gina olhou e achou estranho. Foi então que ouviu um Olá! , vindo do andar superior. Ela cutucou Draco, que continuava olhando para os ratos.

— Tem alguém lá em cima. – Ela sussurrou.

Draco arregalou os olhos e tentou prestar atenção no que ouvia, além do Ic! Ic! doentio dos ratos. Foi então que ouviu outro Olá! Tem alguém aqui? . Ele olhou para os ratos e, sem pensar duas vezes, gritou.

— Fuja! Não sei quem está aí, mas foge!

— Draco? – A pessoa no andar de cima perguntou. – São vocês? Draco e Gina? Nossa, estávamos procurando vocês há tempos. – E foi então que Philip apareceu na primeira curva da descida. Os ratos pararam de arranhar o toco e, vagarosamente, olharam para o indefeso rapaz. Ele arregalou os olhos e encarou Draco e Gina. – O que é isso?

— Corre! – Draco gritou desesperado. - Esses animais são loucos! Corre!

Mas era tarde demais. Alguns dos ratos gigantes pularam em cima de Philip e os outros que estavam tentando pegar Draco e Gina também correram atrás dele.

— Meu Deus Draco, precisamos ajuda-lo! – Gina gritou. – Ele vai morrer!

Os ratos pularam em cima do rapaz, enquanto ele gritava e lutava desesperado para se salvar. Draco e Gina pegaram suas varinhas lançaram vários feitiços, todos em vão. Draco segurou sua mão e, silenciosamente, desceu do toco, trazendo-a atrás de si. Pé ante pé os dois se expremeram próximos a uma porta. Enquanto isso, olhavam os ratos se banquetearem com Philip. A única coisa dele que era possível ser vista era a mão. Gina abraçou Draco e escondeu o rosto para não ver, a cena era forte e chocante. Um barulho longínquo indicou que a pirâmide mais uma vez estava se movimentando. Assim que a porta se abriu os dois entraram na câmara seguinte, sem saber o que os aguardava.

Gina entrou na câmara e caiu sentada no chão, em choque. Começou a balançar para a frente e para trás enquanto balbuciava.

— Eles o mataram, eles o mataram. Temos que sair daqui, precisamos sair daqui.

Draco a abraçou e pediu que ficasse calma. Ficou tão envolvido com a menina que nem ao menos olhou em volta para saber se existia alguma coisa na câmara. Mesmo assim, não foi surpresa nenhuma quando sentiu uma respiração na sua nuca.





Ele apertou os olhos e em seguida viu o olhar aterrorizado de Gina, que continuava em choque. Pensou que com certeza não era boa coisa. Uma nova respiração, dessa vez ainda mais profunda, fez que os joelhos de Draco tremessem um pouco. Num gesto rápido e desesperado, se jogou para o lado lançando um Conjunctivitus Curse. Um animal pequeno, mas ameaçador, soltou um berro de dor enquanto esfregava os olhos desesperado. Não devia ter mais que oitenta centímetros, mas os dentes longos e afiados lhe davam uma aparência perigosa. Sem pensar duas vezes apontou a varinha novamente para o animal e lançou o Petrificus Totalus.

Sentou ao lado de Gina, que começou a se recuperar do choque. Ela o olhou apavorada e o abraçou apertado.

— Estou desesperada Draco! – Ela disse enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto - Estou desesperada! Vamos morrer! Desse jeito nós vamos morrer!

Sem pensar duas vezes no que estava fazendo, Draco a segurou e a beijou. Não sabia o por que, mas queria desesperadamente beija-la e conforta-la. Na pior das hipóteses, ela pararia de dar chilique. Enquanto os dois se beijavam e abraçavam a pirâmide voltou a se mexer. Ela o afastou gentilmente e se levantou. Ele também se levantou e deu-lhe a mão. Eram várias as portas da câmara.

— Eu escolhi todas até agora. Pode escolher. – Ele disse. Ela o olhou e sorriu. Indicou uma porta da esquerda e os dois entraram.





Draco desabou no chão. Não sabia a quanto tempo estavam andando, mas pelo cansaço das pernas devia ser muito tempo. Gina sentou ao seu lado, pegou um pergaminho dentro da mochila e começou a desenhar. Ele a olhou.

— Estamos presos em uma pirâmide e você vai desenhar?

— Vou desenhar todas as câmaras pelas quais nós passamos. Isso tudo tem que ter alguma lógica.

— Não tem lógica nenhuma! A pirâmide mexe de acordo com a vontade. Algumas vezes ela mexeu em segundos, outras vezes em minutos. Dessa vez ela pode demorar horas. Não tem lógica!

— Tem que ter! – Ela gritou - Não é possível!

Draco estendeu os braços e ela o abraçou apertado.

— Estamos cansados demais. – Ele disse – Precisamos dormir um pouco.

— Como está seu machucado? Precisamos sair daqui, se isso infeccionar você terá sérios problemas.

— Não se preocupe comigo. Deite-se aqui – ele disse oferecendo o colo – vai ficar tudo bem, eu prometo.

Ela deitou no colo dele e em poucos minutos estava dormindo. Ele a olhou e lutou bravamente contra o sono. Sabia que não podia dormir, pois caso contrário ficariam a mercê de qualquer coisa que quizesse lhes fazer mal. Ele aproveitou para olhar a câmara, parecia um lugar calmo e sem perigos. Desejou poder fechar um pouco seus olhos, apenas para descansa-los. Foi então que viu uma luz ao longe. Ele fechou os olhos e os abriu novamente. Passados alguns segundos, viu uma faísca de luz. Ele tirou o casaco e o embolou, colocando-o debaixo da cabeça de Gina.

Andou alguns passos procurando a luz que tinha visto. “Onde há luz existe uma saída” pensou. Ele olhou para Gina que dormia calmamente e suspirou. Agachou ao lado dela, passou a mão em seu rosto e sussurrou.

— Eu vou te tirar daqui.

Levantou-se novamente e correu até uma das saídas da câmara. Olhou ao redor e nem sinal de luz. Seus olhos já estavam acostumados com a escuridão do lugar, por isso ele conseguia distinguir parcialmente os objetos. De repente ouviu um barulho vindo de dentro de um dos sarcófagos. Procurou algo no chão com o qual pudesse bater e, por sorte, encontrou um bastão. Pé ante pé chegou até bem perto do barulho.

De repente, só existia a mais completa escuridão e o silêncio.





Gina acordou e, como fazia ultimamente, desejou que aquele pesadelo terminasse logo. Olhou ao redor e nem sinal de Draco. O pânico começou a tomar conta do seu corpo e cada segundo sozinha demorava uma eternidade para passar. Ela pensou em procurá-lo, mas logo desistiu. Existiam armadilhas por todo o lugar, e só de pensar em Draco entrando em um dos aposentos errados provocou um arrepio em toda a sua espinha.

Ela se levantou e resolveu checar todo o aposento onde estava, pois aquele com certeza era seguro. Na certa Draco tinha deixado algum bilhete ou um sinal, mas quanto mais ela procurava, mais tinha certeza que não tinha absolutamente nada. Ele havia desaparecido durante toda a noite. Algumas horas se passaram e logo chegou o momento em que toda a pirâmide mexia e as salas trocavam de lugar. Esse era o momento em que Gina tinha mais medo, pois como as saídas da sala mudavam alguma criatura podia aparecer repentinamente. Ela escutou um barulho de uma das portas e se preparou para lutar, mas não foi necessário. Saindo das sombras vinha Draco caminhando calmamente. Gina deu um grito, correu e o abraçou.

— Draco! Por Merlin, que susto você me deu!

— Fiquei perdido. – Ele respondeu.

Gina o soltou e o encarou desconfiada.

— O que aconteceu com você?

Ele estava diferente, sua voz, o seu tom, seu olhar e até mesmo a forma de passar a mão nos cabelos.

— Aconteceu uma coisa horrível. Fui procurar ajuda ou um modo de sair desse lugar medonho... Encontrei o Daniels.

— Onde ele está? – A esperança tinha voltado para os olhos de Gina e ela praticamente beirava o histerismo. Ela olhou para a passagem por onde Draco passara e logo veio a sua cabeça a cena de Joey tirando os dois dali sãos e salvos. – Onde ele está Draco? Onde?

— Ele está morto. – Draco a segurou pelos ombros e a olhou fixamente – Ele morreu comido por escaravelhos.

— O que? – Gina colocou as mãos na cabeça e a apertou, tinha a sensação de que se a soltasse perderia completamente o controle. Teve uma longa crise de choro e pânico enquanto balbuciava – Nunca vamos sair daqui! Nunca! Vamos morrer de fome, sede e medo!

Draco ainda a encarava fixamente e depois que ela se acalmou a abraçou.

— Nós vamos sair daqui. Eu encontrei uma passagem.

— Nós não vamos conseguir. Não vamos. Não vamos. Nós vamos morrer. – Ele a segurou pelos ombros e ela continuou – Você me ouviu? NÓS VAMOS MORRER!

Muito tempo se passou antes de Gina se acalmar por completo. Ela estava em pânico e sentia seu coração bater apressado e urgente. Depois de muitas lágrimas ela aceitou beber uma poção que Draco tinha preparado e caiu em sono profundo.





Draco Malfoy ficou sentado ao lado de Gina e a observou dormir durante alguns minutos. Afastou uma das mechas que teimava em lhe cair na boca quando ela respirava fundo e se levantou. Observou tudo ao seu redor como se procurasse alguma coisa e logo seu olhar se fixou em uma das pilastras. Uma faca majestosa, dourada com brilhantes e esmeraldas estava ali, esperando para ser apanhada. Draco a guardou com todo o cuidado em uma mochila e olhou novamente para Gina.

— Você deve ser bem pesada... – Ele sussurrou. – Pegou-a no colo, em segundos a pirâmide se mexeu novamente e as salas mudaram de lugar. Ele a olhou e entrou em uma das passagens escuras.



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