Fuga.



Tudo estava calmo, ela podia perceber.

Apenas o som de sua respiração, talvez o som dos seus soluços chamasse mais atenção. O leve sacudir de seu pequeno corpo contra a parede. As lembranças acomenteram-na e ela colocou sua mão instintivamente sobre a barriga.

Sua barriga, seu bebê.

O leve caroço que se formava ali indicava uma nova vida.

O bonito salão no qual estava situada brilhava como o sol. A luz quase cegava quem passou dias dentro da sombra.

Três dias dentro dele, sem comer, sem beber. Talvez isso prejudicasse o bebê, mas, ela já não ligava, ela estava desesperada. Ela se obrigava a respirar cada dia, um segundo após o outro. As luzes apagadas afundavam-na num desespero menor do que agora.

A sala iluminada a lembrava do sol.

E ele, Harry Potter, era o sol dela.

Seu porto seguro, seu amor, seu tudo.

Obrigou-se a levantar e mover-se até a lareira, no meio do caminho pegou uma pequena mala e uma bolsinha com seus documentos. A chave de portal que Dumbledore a cedeu depois de dias de conversa brilhava.

Uma correntinha de prata simples, que mudaria sua vida.

' - Eu ainda acho que esta não é a melhor saída Srtª Granger.


Hermione encontrava-se sentada em uma macia cadeira da sala do diretor. Os óculos de meia-lua dele no início do nariz na frente dos olhos azuis como o céu estavam molhados por pequenas lágrimas.


- É o único meio. Eu não posso mais ficar aqui.


- Deixe de bobagens, é claro que pode !


Talvez ela pudesse de qualquer foma. Mas, ela não queria.


- Não, eu não posso. Há um bebê crescendo aqui !


Seus olhos marejaram e ela entregou-se ao choro. O velho apenas cruzou as mãos em cima da mesa. Custava acreditar que Harry Potter agira daquela forma, deixara uma menina desamparada. Harry Potter, seu protegido, a quem ele amava como um filho, deixara-se cair num mar de discórdia, ele havia vencido Voldemort, ele conseguira salvar o mundo, e agora, achava que estava livre, que suas responsabilidades jamais viriam. Que ele já fizera seu bem para a humanidade. Cada dia mais ele e seu amigo Rony estavam piores, magoando mais meninas, agundo como abestalhados.

Mas, agora não fora qualquer menina, fora Hermione, a melhor aluna que aquele colégio um dia poderia ter.

Doce e cuidadosa como a mais bela flor, inteligente como jamais havia visto igual.

- Eu preciso ir ... - a voz dela se quebrara, doía demais estar ali.

- Certo. Eu te ajudarei Hermione, mas, saiba que não concordo com isto.

- Obrigada, não há nada mais que eu possa fazer neste caso.

- Há sim, conte para ele.

- Não, Harry está certo, ele passou tempo demais com responsabilidades. Este filho é meu, apenas meu. Eu cuidarei dele para que não falte nada.

- Sem terminar seus estudos ?

Era visível a preocupação do velho diretor e ela sorriu percebendo-a.

- Eu me arranjarei.

E isso era verdade.'


Ela sentira o mundo girar no instante que tocara naquela pequena corrente. Olhou em volta e respirou sentindo o leve aroma de flores e café.

Ela estava na Holanda, estava ali para montar outra vida. Para começar tudo de novo.

Para cuidar do seu filho e de si mesma.

A Inglaterra era perigosa demais para ela naquele momento.

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