Para Além do Véu



Devia ser dia, mas ali nunca ficaria claro. Toda a pouca luz que ele poderia encontrar era a que estava dentro de si mesmo. A melodia do silêncio cauterizava seus ouvidos. Respirar custava muito, pois o ar fedia a nada, sem flores ou o aroma morno da chuva.


           A pele não sentia nada, fosse gélido ou cáustico, explosivo ou borbulhante... Não havia nada. Sequer o toque de piso ou paredes.


Ele sentia-se morto no vazio e fadado ao nada. Ele estava seco, sem brilho, nem som. Preso, como desde sempre estivera, um pássaro sem asas, uma mosca suculenta capturada pelas teias dissimuladas da aranha maligna... e sufocada... e perfurada pelas quelíceras venenosas... o veneno do vazio.


           Não havia olhos para fechar, nem voz para gritar, ninguém em quem se agarrar. Estava preso. Uma consciência presa em suas próprias definições. E frustrações. Tudo aquilo que ele não merecia encontrar para além do véu.

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