Capítulo único
I close both locks below the window.
I close both blinds and turn away.
Sometimes solutions aren't so simple.
Sometimes goodbye's the only way.
A manhã amanhecera fria. Era dez de janeiro, e as grandes janelas da ala hospitalar recebiam os primeiros raios de sol nascente. Ali encontravam-se duas figuras solitárias, uma delas, mulher, achava-se deitada, imóvel debaixo de inúmeros cobertores, equiparando-se com uma detalhada estatua de gesso. Já a outra, um homem de idade, encontrava-se sentado, sem conforto algum, em uma cadeira de ferro ao seu lado, segurando sua mão fria, envolvida em uma pele esbranquiçada. Colocando seu polegar no pulso dela, um peso enorme somou-se aos que já tinha em seu coração; era pouco. Era muito pouco.
And the sun will set for you,
The sun will set for you.
And the shadow of the day,
Will embrace the world in grey,
And the sun will set for you.
Não havia passaros cantando. Pareciam saber o que ocorrera. Nenhuma coruja piara durante todas as noites. Também parecia ter consciência do estado que encontravam-se ambos ali. Nos olhos azuis que costumavam cintilar, agora não tinham mais brilho algum, somente forte olheiras debaixo deles. O sorriso tranquilo de sempre, apagara-se completamente desde aquela noite. Seu rosto agora, transmitia medo. Medo de não poder ver novamente aqueles olhos abertos, aquele rosto cheio de vida, ouvir aqueles passos ritmados pelos corredores do castelo. Porque, se isso acontece-se, o sol de todos extinguir-se-ia e o mundo se tornaria cinza, sem vida, morto como ela estaria.
In cards and flowers on your window,
Your friends all plead for you to stay.
Sometimes beginnings aren't so simple.
Sometimes goodbye's the only way.
Uma lágrima escorreu pelo seu rosto, escapando por pouco de suas longas barbas prateadas, e caindo no colo que muitas outras já tinham umedecido. Ao mesmo tempo, uma pétala de uma das flores em cima da mesa ao lado da cama, caiu sobre um dos vários cartões que amigos deixaram em suas visitas. Cartões de melhoras, dizendo como queriam que ela volta-se, desperta-se e repreende-se algum aluno malcriado como tanto havia feito. "Volte logo", "Sinto muito, me desculpe", "Sei que retornará" "Não queremos que você se vá, por favor" "Nosso mundo será apagado, sem luz, cinza... pior que a noite mais gelada de inverno se você se for..."
And the sun will set for you,
The sun will set for you.
And the shadow of the day,
Will embrace the world in grey,
And the sun will set for you.
Ele arrumou melhor os edredons sobre o corpo inconsciente, e olhou com tristeza para o rosto pálido, os olhos pequenos, os lábios sem cor, todos emoldurados pelos longos cabelos negros e levemente ondulados que derramavam-se sobre o travesseiro. Mais uma vez levou o polegar ao pulso dela. Nada mudara... Passou as costas de sua mão no rosto desacordado, terminando nos longos cabelos pretos. Queria tanto ouvir sua voz de novo... Queria que ela pudesse ter ouvido todas as palavras que dissera... Carinhosas... Liberando, aos poucos, um sentimento que tivera a tolice de há muito guardar...
[Guitar solo]
Mais lágrimas caíram com tristeza. Era cruel demais! Teve uma terrível vontade de gritar para o mundo que a culpa era dele, sentiu mais uma vez um remorso junto à agonia por não ter dito o que deveria na hora que pode, nas várias oportunidades que a vida tinha lhe dado e que ignorou pensando ser apenas mais alguns minutos do seu tempo, que talvez estivesse enganado sobre o momento certo... Não acreditava. Como pudera ser tão ingênuo?
And the shadow of the day,
Will embrace the world in grey,
And the sun will set for you.
Sentou-se novamente junto dela, após um momento de reflexão. Não demorou muito até a voz de Papoula lhe surgir.
- Albus?...
Ele não lhe respondeu nem deu sinal que a notara.
- Vamos, Albus... - insistiu triste. - Saia um pouco... Já está tanto temp...
- Não irei sair daqui. - limitou-se a responder.
Ela suspirou pesarosa e adiantou-se alguns passos até ficarem lado a lado.
- Estamos fazendo o máximo que podemos... Nós dois... - ela disse baixinho. - Sabe disso... Ela ficará bem... Mas agora vamos... Precisa dar um tempo...
- Não sinto necessidade de deixá-la.
[Guitar solo]
Madame Pomfrey entristeceu-se ainda mais. Nunca vira Dumbledore daquela forma, nunca em anos... Sempre o vira calmo, energético por vezes, mas nunca... depressivo. Com lágrimas escorrendo pelo rosto em um silêncio de apertar o peito. Tinha ideia agora, observando suas ações mais recentes, como ele dava um valor especial para McGonagall e as cenas que era obrigada a ver todos os dias, lhe partiam o coração cada vez mais, hora após hora...
- Ela não gostaria de vê-lo assim... - sussurrou tristemente. - Iria quer que aja o mais natural que pudesse, mesmo ela estando... -sua voz falhou um pouco - desta maneira
Ele suspirou muito profundamente. Usara uma arma pesada demais.
And the shadow of the day,
Will embrace the world in grey,
And the sun will set for you.
Sem dizer nada, ele se ergueu e pouco antes de sair em passos sem ruídos, recusando qualquer auxílio da copeira para com ele, partindo ambos sem olhar para trás, deu um beijo na testa da subdiretora.
Quando os passos dos dois em movimento, finalmente muito se distanciaram da entrada para a ala hospitalar, um dedo, apenas um dedo da professora pálida, ergueu-se lenta e tremulamente. Depois de algum tempo, o mesmo tornou a cair sobre o lençol.
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