Ingratidão
CAPÍTULO V - INGRATIDÃO
Com os olhos entreabertos, ele viu a menina virar rapidamente em sua direção, assim que ele terminou de pronunciar seu sobrenome. Seus cabelos voaram para trás. E ela estava atônita, parada no mesmo lugar. Seu olhar demorou-se sobre o dela por alguns instantes, até que percebeu onde estava. - Que... Que lugar é este? - indagou após um pigarreio - O que você está fazendo aqui? Pela maneira como Snape pronunciou você, Hermione percebeu a pitada de sarcasmo que ele empregava em suas palavras. O fiozinho de felicidade que a alegrou ao ouvi-lo falar foi-se embora imediatamente e a mágoa invadiu seu olhar, que se fazia tristonho mais uma vez. Fitou-o melancolicamente por uma fração de segundo, então ergueu a cabeça e lhe falou, em tom indiferente: - Este lugar é um hospital para o qual o senhor foi mandado após ter uma decaída. Eu estou aqui porque tornei-me enfermeira voluntária após a guerra. Severo assimilou cuidadosamente as palavras da menina, ao passo que avaliava-a da cabeça aos pés, tentando se conformar com seu novo uniforme de enfermeira. Não pôde deixar de perceber o abatimento que estava à mostra nos olhos da menina. Mas com certeza isso não era de sua conta. Apenas contraiu os lábios, em resposta a suas explicações. Antes que as lágrimas lhe invadissem a face, novamente, Hermione tornou a levar as mãos ao trinco da porta e a abriu. - A-a-Aonde a Srta vai? - questionou. Não queria que Hermione a deixasse sozinho. Sem dúvida sua presença era desagradável... Mas ele ainda não sabia ao certo onde estava e quando viera parar ali. Hermione não olhou desta vez. Fingiu não o escutar e saiu do quarto, deixando Snape sozinho. Olhou para um de seus braços e percebeu estar preso ao soro. Estava deprimente... Desprezível... E vulnerável... Ainda contava com a terrível presença de sua aluna sabe-tudo, a qual tanto odiava. Precisava sair dali imediatamente. A porta se abriu novamente e por ela, Hermione entrou. Trazia em mãos um antigo exemplar do Profeta Diário. Aproximando-se de Severo, falou imparcialmente, sem olhar em seus olhos, enquanto lhe entregava o jornal. - Talvez lhe interesse saber como anda sua reputação pelo mundo bruxo, professor. - Não seja tola Hermione... Não sou mais seu professor... E você não precisa representar um papel mais patético do que o meu! - respondeu, enquanto tomava em mãos o jornal que trazia sua imagem na capa. Olhou com desdém para o exemplar e atirou-o sobre a cama de novo. - Que foi? Já havia lido este jornal? - O que a faz pensar que eu me interessaria por este tipo de reportagem, Granger? - perguntou com desprezo. Hermione engoliu um seco. Como era difícil agradá-lo... - Não sei... Quem sabe porque você está na capa... - É uma pena que você não seja mais minha aluna, Granger... - falou - Confesso que seria um imenso prazer descontar cinqüenta pontos de sua casa por não conhecer seu professor. Mas é claro... Teria de ser tolerante, não? Afinal... Fazem apenas oito anos que você me conhece... - Perdão, Severo... Mas nunca me interessei por seus gostos e sentimentos... Se é que eles existem... - retrucou a menina, tomando cuidado para não chamá-lo de professor de novo. Snape não ficou nada satisfeito em vê-la retorquindo-o daquele jeito. - Quem sabe você não resolve fazer alguma coisa útil, enfermeira voluntária, e vai chamar um médico de verdade... Como se não tivesse sido afetada, Hermione deu um leve sorriso vazio e retirou-se dali. Ao fechar a porta, parou por um instante, permitindo que a amargura lhe envolvesse completamente. Então, andou pelos corredores até encontrar Ernesto Engels. - Doutor... Doutor... O paciente da sala 54 acordou! E quer ver o senhor...
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